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A avaliação no contexto da política de ensino superior e na UFPE

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3 A AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS E PROGRAMAS NA GESTÃO PÚBLICA

2.3.1 A avaliação no contexto da política de ensino superior e na UFPE

No campo da educação superior, a avaliação, considerada como um dos eixos estruturantes das políticas educacionais no Brasil ganhou destaque, na contemporaneidade, sendo ao longo do tempo, objeto de amplo debate na comunidade acadêmica.

Segundo Rothen (2006) a trajetória da avaliação nas universidades segue duas linhas teórico-metodológicas: a da regulação e a da emancipação ou participação. A primeira, de natureza quantitativa, baseada nas ideias neoliberais defende o papel regulatório do Estado no controle de metas e gastos na avaliação das instituições educacionais.

A segunda vertente, de natureza mais qualitativa, tem como pressuposto, por um lado, a avaliação enquanto ato autônomo da universidade, em prestar contas à sociedade e, de outro, como uma das ferramentas de gerenciamento e de apoio à tomada de decisões.

No caso brasileiro, estas duas vertentes da avaliação , segundo o autor, permearam a trajetória das políticas de avaliação estatal das IES.

O período 1930-1950, foi marcado por características predominantemente quantitativas, dava ênfase na precisão dos instrumentos de medida, para mensurar resultados, efeitos ou desempenhos, através de procedimentos de base economicista.

A partir da década de 1950, também centrado na objetividade e na análise quantitativa, teve enfoque na eficiência e a eficácia da ação institucional, fundamentado na racionalidade técnica (GARDNER, 1998).

No início dos anos 1970, a partir das críticas da comunidade científica à influência positivista dominante na avaliação de natureza quantitativa, por ser eminentemente de natureza classificatória, seletiva, discriminatória, burocrática, legalista e autocrática surge a

avaliação qualitativa, valorizando o sujeito, a interação, a compreensão e a interpretação de valores e sentidos, fundamentados em enfoques fenomenológicos.

Os anos de 1980, sob a influência do contexto político do processo de redemocratização desenvolve-se a concepção de avaliação emancipatória, centrada nos conceitos básicos da democracia, cidadania consciente e crítica, da historicidade humana, emancipação, participação e valorização do processo de autoavaliação (SOUSA, 1998).

Entre o final da década de 80 e início dos anos 90, algumas universidades deram início a experiências de autoavaliação, que veio a se consolidar na criação de um espaço de interlocução entre o MEC e as instituições federais, representadas pela ANDIFES. Esse movimento subsidiou a construção que deu origem ao Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras – PAIUB, estabelecido a partir da Comissão Nacional para Avaliação das Universidades Brasileiras, criada em julho de 1993 e se legitimou como a primeira tentativa de implantação de um sistema nacional de avaliação institucional da educação superior no Brasil, que teve o apoio da SESu/MEC, de 1993 a 1994. (POLIDORI; MARINHO-ARAUJO E BARREYRO 2006).

A sistemática de avaliação do PAIUB limitava-se apenas à avaliação dos cursos de graduação, e através da valorização de indicadores da qualidade das instituições, cursos e desempenho estudantil, deu origem ao Exame Nacional de Cursos – o Provão, desenvolvido no período de 1995 a 2003.

A partir de 1995, no governo Fernando Henrique Cardoso, sob a influência da concepção eficientista, classificatória e regulatória dos organismos internacionais (Banco Mundial, BIRD), inaugura-se com o Provão, numa perspectiva mais estruturada e institucionalizada, o processo de avaliação estatal dos cursos de graduação e das IES.

No início do governo Lula, em 2003, foi instalada a Comissão Especial de Avaliação da Educação Superior (CEA), com o objetivo de elaborar uma nova sistemática de avaliação, de natureza predominantemente emancipatória / formativa, compatível com os princípios norteadores de um governo eleito sob a égide da democracia e da participação popular. Após realizar discussões com a comunidade acadêmica e com a sociedade civil organizada, foi produzido o documento intitulado "SINAES: bases para uma nova proposta de avaliação da educação superior" (POLIDORI; MARINHO-ARAUJO E BARREYRO 2006).

O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior - SINAES foi criado pela Lei n° 10.861, de 14 de abril de 2004, e regulamentado pela Portaria Ministerial nº 2.051/2004, sedimentado em três pilares básicos:

Avaliação Institucional (Autoavaliação e Avaliação Externa); Avaliação do Desempenho dos Estudantes (ENADE);

Avaliação dos Cursos de Graduação (ACG).

Constituem-se foco da avaliação do SINAES, em torno desses três pilares: o ensino, a pesquisa, a extensão, a responsabilidade social, o desempenho dos alunos, a gestão da instituição, o corpo docente, as instalações e vários outros aspectos. Os processos avaliativos são coordenados e supervisionados pela Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior (CONAES) e a operacionalização está a cargo do Instituto Nacional de estudos e pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP.

Na UFPE, o processo de avaliação, segundo diretrizes do SINAES é coordenado pela Comissão Permanente de Avaliação (CPA).

A primeira autoavaliação institucional foi realizada em 1996, a partir de um processo de avaliação externa realizada por parte de universidades europeias e dos Estados Unidos, processo que se repetiu respectivamente, nos anos de 1997, 2000 e 2002. Destas avaliações resultaram importantes recomendações para a melhoria da Instituição, dentre elas a participação da comunidade acadêmica nos processos de avaliação subsequentes (NUNES, 2008).

A administração pública, conforme vimos anteriormente não tem uma cultura avaliativa, fato que tenta explicar as resistências às iniciativas de avaliação de instituições e seus resultados.

O primeiro relatório de autoavaliação institucional da UFPE expressou esta tendência:

Não existe na UFPE uma cultura avaliativa, de amplo entendimento e intensa participação. Revela, assim, a existência de um ambiente pouco preparado e algumas vezes hostil a avaliação de uma forma geral. A hostilidade se baseia no receio de que a utilização dos resultados desta avaliação seja punitiva. Estes fatores dificultaram a discussão com a comunidade e, por isso, ainda nos encontramos em processo de discussão (Relatório de autoavaliação, 2006).

Na busca de ampliar o diálogo sobre o tema da avaliação com a comunidade acadêmica, a CPA promoveu em 2011 um seminário que contou com a participação de CPA´s de outras Universidades do país, com a temática: Avaliação Institucional: Tecendo Compreensões, Observando Experiências.

A equipe de coordenação atual da CPA/UFPE em seu relatório de autoavaliação 2011 expressa, esta iniciativa, como a principal da gestão:

por ter possibilitado a abertura de um canal de participação coletiva nas discussões que envolvem a autoavaliação, tais como: o estímulo à criação de instrumentos avaliativos nos diferentes segmentos; a promoção de sentimentos de pertencimento da Instituição; o fortalecimento de experiências de autoavaliação existentes em diversos Centros da UFPE, além de possibilitar a reflexão acerca da construção de uma cultura avaliativa como mecanismo para que os diferentes segmentos possam atuar e interagir (Relatório de Autoavaliação Institucional, 2011).

Embora a avaliação de programas institucionais não seja um indicador específico constante do SINAES, tampouco uma sistemática desenvolvida no âmbito das unidades gestoras de ações na UFPE, iniciativas de estudos e pesquisas acadêmicas, a moldes da avaliação do Programa BIA, contribuem para fortalecer a cultura avaliativa de programas no âmbito institucional.

2.4 A EDUCAÇÃO SUPERIOR PÚBLICA NO BRASIL E AS POLÍTICAS DE