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Fase 6 Análise e tratamento de dados; Fase 7 Triangulação dos dados recolhidos;

12 Tomada de posição pública sobre os despedimentos na biblioteca Municipal da Nazaré

3.3.4 A BIBLIOTECA PÚBLICA E SERVIÇOS INCLUSIVOS EXEMPLOS

Relatam-se, nos subcapítulos seguintes, alguns exemplos significativos de bibliotecas com políticas inclusivas em várias partes do mundo, o caso dos Estados Unidos da América, pela sua dimensão e pela relevante intervenção da ALA; do país vizinho Espanha, porque vive atualmente a crise económica que se faz sentir também em Portugal e a Irlanda, porque está a passar por uma crise idêntica à portuguesa e pela intervenção da Troika.

3.3.4.1 Estados Unidos da América

A crise económica e política é uma realidade a que as bibliotecas públicas ajustam os serviços para atenderem os novos públicos-alvo. Simultaneamente respondem às necessidades de sempre dos utilizadores que na biblioteca utilizam recursos de forma mais tradicional.

Em relação aos Estados Unidos da América, encontram-se alguns trabalhos sobre a recessão e o seu impacto nas bibliotecas (Guarria & Wang, 2011). Destaca-se o

137 último relatório da OCLC (2011) sobre o uso da informação, hábitos, preferências e perceções das bibliotecas, no qual foi dada particular atenção à forma como a atual crise económica afeta os comportamento na pesquisa de informação e como essas mudanças se refletem no uso e na perceção das bibliotecas. O relatório sugeriu que as alterações de consumo durante a recessão surtiram num aumento da utilização da biblioteca e dos seus recursos em linha. Os dados recolhidos mostraram que a biblioteca é considerada uma porta de entrada na comunidade. Os utilizadores recomendam às bibliotecas mais serviços em linha, porque cada vez mais cresce o número de pessoas sem acesso a recursos financeiros, ou com dificuldade de deslocação física à biblioteca, por diversos impeditivos.

Na sequência destas evidências, o relatório de 2013, da organização Pew Internet & American Life Project, faz uma análise de como as bibliotecas públicas norte- americanas trabalham com as suas comunidades, o que pensam os bibliotecários e os utilizadores sobre os serviços disponibilizados e as expetativas que têm face às novas tecnologias (Zickuhr et al., 2013). A investigação sugeriu que a maioria dos utilizadores das bibliotecas públicas inquiridos têm expetativas de que os serviços evoluíssem, mas gostariam que o serviço de empréstimo de livros impressos, o serviço de referência e o acesso a computadores e à Internet fossem mantidos porque os consideram vitais para a comunidade. Os serviços inovadores que mencionam relacionam-se com a utilização das novas tecnologias: GPS de navegação de pesquisa de recursos, dentro do espaço físico de uma biblioteca, serviços de pesquisa e recomendações nos OPACS, aplicativos diversos, máquinas de recolha de documentos em espaços físicos dispersos pela comunidade.

De acordo com o estudo referido, os utilizadores das bibliotecas norte- americanas consideram os seguintes serviços prioritários para a biblioteca: coordenar projetos com escolas (85%), serviço educativo para ajudar crianças e jovens (82%), oferecer espaços confortáveis para a leitura (59%), catálogo com oferta de ebooks (53%). Consideram que as bibliotecas que frequentam são importantes para a comunidade em geral (91%), para as suas famílias (76%) e são locais de contacto com outras pessoas (84%).

A forma de se relacionarem com as bibliotecas é variável, 53% visitam-na fisicamente, 25% visitam um sítio Web de biblioteca e 13% usam um dispositivo

138 portátil (computador, um telemóvel ou tablete) para aceder ao sítio Web da biblioteca. E 59% dos americanos têm pelo menos um destes tipos de interações nos últimos 12 meses.

A utilização do serviço de acesso gratuito à Internet nas bibliotecas é considerado muito importante para 26% da população inquirida, nomeadamente para procurar emprego e candidatar-se a novas propostas de trabalho, ou simplesmente para aceder à informação. Os afro-americanos e os hispânicos são as populações alvo para quem este serviço é fundamental, assim como na utilização dos espaços físicos para estudar, apoio dos bibliotecários de referência, participação em eventos gratuitos, acesso a computadores, etc. Esta população é a mais carenciada economicamente e portanto sente mais apoio dos serviços gratuitos e dos espaços que a biblioteca disponibiliza à comunidade. Esta investigação referiu que a população de raça branca não é tão propensa a participar e a utilizar os serviços e espaços da biblioteca.

Ainda neste relatório, os trabalhadores das bibliotecas norte-americanas expressam as suas opiniões sobre o presente e o futuro das bibliotecas e referem, em geral, que os pontos fortes das suas instituições estão particularmente associados ao papel das bibliotecas como centros comunitários e ao estabelecimento de relações que criam com as instituições locais, empresas, escolas e indivíduos. Referenciam que a biblioteca deve concentrar-se a trabalhar as literacias de todos os tipos, proporcionar espaços acolhedores onde as pessoas se possam reunir. Este último aspeto é reforçado por muitos que acreditam no papel da biblioteca como catalisador de socialização na comunidade local. Assim, a organização do espaço e a realização de eventos e atividades devem proporcionar entretenimento e estimular a criatividade, não negligenciando a biblioteca como centro social da comunidade, possuindo serviços obrigatoriamente gratuitos: ligação à Internet, empréstimo de recursos, ambiente seguro e acolhedor. Referem que uma das facetas dos pontos fortes das bibliotecas é a aposta em serviços para todas as idades, oferecendo apoio às crianças, jovens, adultos e idosos proporcionando a todos o sentido de comunidade.

Ainda sobre os trabalhadores das bibliotecas, Morillo Calero (2008) apresentou uma lista com profissionais de instituições do norte e sul da América Organizaciones de

bibliotecarios progresistas (p. 24), em que associou profissionais de bibliotecas com

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Libr.org (1998) é uma plataforma em linha de partilha de ideias e serviços para

bibliotecários que propõe uma intervenção na área da missão social da biblioteca pública e promove o conceito de responsabilidade social nas bibliotecas. A plataforma divulga pequenos projetos desenvolvidos pelas bibliotecas nesta área. No jornal em linha Information for social change70 suportado por esta plataforma, podem-se consultar artigos sobre os mais variados assuntos ligados à ação das bibliotecas nos domínios da ética, censura e liberdade.

Olmo García (2010a)relatou como as bibliotecas públicas norte-americanas, em 2010, criaram mais atividades sociais para apoiar utilizadores sem recursos, nomeadamente serviços para apoiar a procura de emprego. Dados de 2009 apontaram para a taxa de penetração da Internet de 75%, logo 25% da população não teve acesso à rede. As bibliotecas trabalharam então para esta fatia da população excluída (imigrantes, idosos, reclusos, minorias étnicas, pobres, desempregados). Paradoxalmente esta investigação identificou pessoas sem-abrigo que tinham acesso à Internet. A biblioteca foi considerada como instrumento atenuante para a diminuição da fratura digital e funcionou como elemento estabilizador. A investigadora referiu que irrompeu uma corrente progressista na classe dos profissionais das bibliotecas para a valorização da função social da biblioteca pública e para o apoio a utilizadores que são vítimas de exclusão social e digital. Constatou-se um aumento de programas de formação para este tipo de população nas bibliotecas públicas.

Com a crise económica e o aumento de desempregados sem possibilidade de consultarem a Internet, a ALA, na década de 90 do século XX, aprovou diretrizes para que as bibliotecas públicas fossem mais inclusivas com os grupos desfavorecidos.

A ALA já tinha criado um organismo interno SRRT71 (Social Responsibilities Round Table), que desde 1969, trabalhou para que a biblioteca pública assuma responsabilidades sociais. Atualmente estabelece orientações sociais para o funcionamento da biblioteca pública enquanto geradora de igualdade e construtora de uma sociedade democrática. Em 1996, foram criados grupos de trabalho para apoiar cidadãos com fome, população marginalizada, excluída e para fomentar a implantação da Diretriz 61.

70 Disponível em: http://libr.org/isc/ 71

140 A Diretriz 60, de 1990 (American Library Association Council, 2013) diz respeito ao papel da biblioteca pública na formação destinada a diversas populações e na formação dos profissionais para melhor atendimento aos cidadãos excluídos:

 fomentar a publicação e aquisição de materiais que ofereçam uma visão positiva da diversidade;

 oferecer oportunidades de formação para profissionais das bibliotecas melhorarem a atenção às variadas populações;

 promover o conhecimento público da importância das bibliotecas nas comunidades mais excluídas.

A Diretriz 61, de 1990 (American Library Association Council, 2013) é relativa à promoção de atividades que eliminam barreiras que impedem o acesso aos serviços da biblioteca, à promoção do acesso igualitário, à informação a todas as populações, incluindo os iletradas, os doentes, e as pessoas isoladas socialmente (Olmo García, 2013; Olmo García, 2010b):

 fomentar a eliminação de entraves ao acesso a serviços da biblioteca, como normas, tarifários, multas;

 fomentar o financiamento a programas não tradicionais de apoio a famílias excluídas, assim como aquisição de coleções e recursos para estas populações;

 consciencializar as instituições privadas e a sociedade em geral para a importância dos programas de inclusão social nas bibliotecas;

 avaliar as necessidades das comunidades e promover medidas adequadas;

 promover equipas especializadas nas bibliotecas com a ajuda de outros representantes de associações para detetar problemas sociais;

 promover recolha de alimentos e roupa, etc.

Olmo Garcia (2013) afirmou que as bibliotecas são e continuarão a ser imprescindíveis, sobretudo nos períodos de crise, em toda a parte do mundo e também nos E.U.A. Segundo o Annual Report 2011-12 (American Library Association, 2013a) continuaram os cortes financeiros ou o congelamento do orçamento nas bibliotecas, mas existe uma contínua solicitação de pedidos de recursos eletrónicos por parte da população. Na época existiam 16.000 bibliotecas públicas que possuíam recursos orientados para o mercado laboral e procura de emprego (os centros de emprego

141 remetiam para as bibliotecas os desempregados para procurarem informação e ampliarem a sua formação e acederem a recursos); 91% dessas bibliotecas públicas ofereciam bases de dados especializadas orientadas para a inserção no mercado laboral e assistência para procurar emprego e 72% disponibilizaram ajuda aos utilizadores para preencher formulários em linha de pedido de emprego. A assistência à procura de emprego foi um dos papéis mais importantes da função social da biblioteca na comunidade. Olmo Garcia apresentou vários projetos de bibliotecas norte-americanas, como exemplares na implementação da Diretriz 61. A ALA, desta forma, não abdicou de estimular a classe profissional para a relevância na atualidade da missão social da biblioteca pública.

A associação REFORMA The National Association to Promote Library and Information Services to Latinos and the Spanish-Speaking72, associada à American Library Association, procurou promover o desenvolvimento de coleções e recursos diversificados em língua espanhola nas bibliotecas, contratar mais profissionais bilíngues, desenvolver serviços e programas para atender às necessidades da comunidade latina, desenvolver programas de literacia e de formação, estabelecer uma rede de informação e de apoio entre os indivíduos da comunidade latina, trabalhar a inclusão de públicos diferentes e lutar pelo fim do sentimento anti-imigrante.

Esta associação, em 2006, publicou o documento Librarian's Toolkit for

Responding Effectively To Anti-Immigrant Sentiment73, com indicações precisas de

como os profissionais das bibliotecas podem trabalhar estes temas (Olmo García, 2010a).

Na conferência anual da ALA, em Chicago, em julho de 2013, a associação apresentou uma declaração para o Direito das Bibliotecas74, intitulada Libraries Change

Lives, destinada a construir a vontade pública para apoiar o direito de cada comunidade

regional a ter uma biblioteca de qualidade - académica, especializada, escolar, pública, etc. Durante o ano de 2014, as bibliotecas norte-americanas recolheram assinaturas de membros da comunidade para declarar apoio e confiança nos serviços disponibilizados pelas bibliotecas já existentes. Na declaração advogou-se, entre outras facetas, a missão

72 Disponível em: http://www.reforma.org/index.asp;

https://www.facebook.com/pages/REFORMA/26439643928?rf=164718727036238 73

Disponível em: http://reforma.membershipsoftware.org/content.asp?pl=51&sl=8&contentid=67 74 Disponível em: http://www.ala.org/advocacy/declaration-right-libraries

142 social de qualquer biblioteca. Salientou-se a importância da biblioteca nas comunidades, como centro de formação e de informação; como local de encontro onde se constroem comunidades no espaço físico e em linha; na inclusão de público idoso e imigrante, de etnias diferentes, etc.; como espaço com ambiente agradável e acolhedor próprio para fortalecimento das ligações nas famílias; com recursos que para alguns indivíduos são a única forma de obtê-los; como locais de entendimento coletivo, onde os cidadãos se reúnem e discutem questões de interesse comum, apesar das diferenças existentes dentro da comunidade.

3.3.4.2 Espanha

Em Espanha, ocorreram vários projetos relativos à missão social da biblioteca pública. Em 2009, o programa de voluntariado Biblioteca Solidaria75 foi desenvolvido, coordenado pela Biblioteca Pública del Estado en Cuenca (Espanha) e gerido pela Consejería de Educación, Cultura y Deportes, alargado à rede de bibliotecas de Castilla – La Mancha, com um financiamento da Obra Social "La Caixa". Os objetivos do programa estão relacionados com o serviço social e cultural de intervenção junto dos cidadãos que não têm acesso a recursos culturais. O projeto captou voluntários, entre as pessoas da comunidade, que juntamente com os recursos humanos da biblioteca reforçaram os serviços junto das populações desfavorecidas. No blogue e na página do Facebook76 encontram-se as atividades e as iniciativas que desenvolveram até à atualidade (Martínez Ayllón, 2010).

Em 2010, realizaram-se as Jornadas de Murcia La acción social y educativa de

la biblioteca pública en tempos de crisis77, por iniciativa da Biblioteca Regional de Murcia e pela associação profissional ANABAD78, onde se reuniram profissionais inquietos com as alterações socioeconómicas das comunidades. Estas jornadas deram origem a um documento (Castillo Fernández, Gómez Hernández, & Quílez Simón, 2010) onde se encontram as várias comunicações às Jornadas e a Declaración de Murcia sobre la acción social y educativa de las bibliotecas públicas en tiempo de crisis (2010), elaborada pelos participantes e amplamente divulgada nas redes sociais.

75 Disponível em: http://www.bibliotecaspublicas.es/cuenca/agenda_lit.htm 76

Disponível em: http://bibliotecasolidariaclm.blogspot.com.es/p/zona-voluntaris.html;

https://www.facebook.com/BibliotecaSolidariaCLM

77 Disponível em: http://www.regmurcia.com/servlet/s.Sl?sit=a,87&r=AgP-19691-DETALLE_EVENTO 78

143 Na Declaración de Murcia defendeu-se a função social e educativa das bibliotecas públicas pela necessidade urgente de apoiar as pessoas e as comunidades. A biblioteca pública foi considerada um instrumento de inclusão e promoção social nas comunidades que sofrem a crise económica e que se encontram com todo o tipo de dificuldades. Referiu-se que existem boas práticas, já implementadas em Espanha, nalgumas instituições com programas de literacia e de formação de competências laborais e de outras. Estas iniciativas tentam incluir a população mais afetada nos programas e criam novas oportunidades através de novos serviços criados nas bibliotecas públicas. A colaboração e parceria com as instituições da sociedade civil que habitualmente fazem a promoção laboral e integração social foram manifestas como imprescindíveis.

Esta declaração reivindicou um intenso papel para as bibliotecas públicas na área social, mantendo os pressupostos de trabalho público e aproveitando a época atual para fixar a missão social como um compromisso profissional e ético. Contribuir para o acesso, uso e comunicação da informação é contribuir para a possibilidade e a extensão do exercício dos direitos humanos.

Em 2013, realizou-se a 5a Jornada de Biblioteca Pública i Cohesió Social79, em Barcelona, onde foram apresentadas experiências de como a biblioteca pública pode ajudar a resolver os problemas sociais relacionados com os jovens (desemprego, formação, abandono escolar, etc.). Nas conclusões da Jornada80, foram apresentadas várias experiências internacionais que desafiaram a biblioteca pública a apresentar novos serviços para este público-alvo, em cooperação com outras instituições.

Ainda neste ano, novamente, pela mão da Asociación Andaluza de Bibliotecarios, decorreram as Jornadas Bibliotecarias de Andalucía81 subordinadas ao lema Aunando personas, uniendo caminos, onde foi expressa a vontade dos profissionais das bibliotecas desenvolverem e partilharem projetos, procurarem respostas e delinearem objetivos de trabalho social. Nestas jornadas, com um tema tão atual - a crise económica - aproveitou-se para reafirmar o reconhecimento positivo da ação social e educativa das bibliotecas públicas na sociedade.

79

Disponível em: http://bpcohesiosocial.wordpress.com/

80 Disponível em: http://bpcohesiosocial.files.wordpress.com/2013/04/a-manera-de-conclusions-bp- cohesic3b3-social-2013.pdf

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144 Gómez Hernández (2013), presente nas Jornadas, afirmou que a época que se viveu, e ainda se está a viver na contemporaneidade, é de ativismo bibliotecário:

―La forma de ser útiles como bibliotecarios es salir a la calle, a los espacios sociales físicos y digitales, para intentar ayudar a esos grupos emergentes, para abrirles nuestros lugares de reunión, para aplicar nuestra capacidad formativa o de asesoramiento, para ofrecernos como aglutinantes o conectores, para aportar en la medida de lo posible lo que necesiten, apoyar o integrarnos con la cultura de lo común, de la que somos un ejemplo. Para hacerlo, debemos saber aprovechar lo que tenemos. Ser lo que ahora se llama bibliotecas resilientes.‖ (p. 5)

Argumentou que é necessário valorizar o serviço público que as bibliotecas prestam, formar profissionais resilientes e ter uma posição crítica sobre a degradação financeira dos próprios serviços, consequência das políticas económicas neoliberais. O autor estava ciente que os benefícios sociais que as bibliotecas trazem à comunidade e a cada indivíduo são muitos, para além dos culturais, do ensino, dos informacionais e dos económicos. Afirmou, então, a necessidade da biblioteca pública cuidar mais da inclusão social de todo o tipo de utilizadores, trabalhando pela igualdade no acesso à informação, eliminando barreiras de todo o tipo, abrangendo nas coleções a multiculturalidade das populações que formam as comunidades. Outra necessidade que recomendou é o trabalho sobre a coesão social. As bibliotecas acolhem e permitem o encontro de pessoas diversas (idade, cultura, etnia, etc.) que partilham os recursos públicos. Construir capital social, é outra proposta que avançou, ou seja, as bibliotecas ampliam as relações sociais e as interconexões entre as pessoas na comunidade, tornam- se num local comum público, que contribui para o desenvolvimento individual e reforça a confiança na comunidade.

Nestas jornadas, Merlo Vega (2013) apresentou o documento coletivo

Bibliotecas en Acción,que faz parte de um projeto de investigação. Pretendeu saber, em plena crise económica, o que as bibliotecas espanholas fazem para ajudar os cidadãos e o que os cidadãos fazem para a manter a prestação dos seus serviços.

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FIGURA 3: DIAGRAMA DO PROJETO DE INVESTIGAÇÃO BIBLIOTECAS EN ACCIÓN DE MERLO VEGA (2013b)

O investigador recorreu às redes sociais e solicitou a colaboração de todos os profissionais de bibliotecas (Espanha) para preencherem um documento aberto em linha no Google Docs82, com as atividades desenvolvidas pelas bibliotecas, enquanto agentes sociais e culturais, englobando as ações tecnológicas, de participação cidadã, etc. As ações foram divididas em oito dimensões (figura 3): ação profissional, ação comunitária,

ação social, ação política, ação digital, ação patrimonial, ação económica e ação ontológica. A recolha de experiências foi terminada a 31 dezembro de 2013.

Também, Gómez Hernández (2013b) comentou positivamente o papel das bibliotecas públicas espanholas, durante a crise no país:

―Las bibliotecas también han desarrollado acciones para acentuar su utilidad social. Han orientado su programación a los temas formativos para personas desempleadas, captado actividades culturales y de animación lectora gratuitas y aprovechado el voluntariado en tareas de apoyo escolar o formación. Se han implicado en tareas solidarias de colaboración con bancos de alimentos y buscado subvenciones donde las pudiera haber.‖

Por um lado as bibliotecas públicas espanholas tomaram mais consciência da sua missão social, promovendo ações pelo país, reversamente encontram-se também debilitadas economicamente e com problemas daí decorrentes (Pérez Eransus, 2013). Arroyo Vázquez & Hérnandez Sánchez (2014) apresentaram um relatório sobre a crise

82 Disponível em: https://docs.google.com/document/d/1n1p9lQBt2LrT8OUwbYYu8-- VIkN6GSaxHWSPpmNOrI8/edit

146 que afetou as bibliotecas em Espanha. Apontaram com alguma preocupação a diminuição de aquisições de documentos e recursos, desde 2010, e consequentemente o envelhecimento das coleções bibliográficas, a perda de lugares de trabalho e a redução de horários de abertura ao público. Quanto aos equipamentos tecnológicos, desde 2008, que as bibliotecas se equiparam com equipamentos informáticos que não voltaram a ser atualizados, apesar do desenvolvimento das tecnologias digitais.

Perante esta situação, investigadores e profissionais na área das bibliotecas necessitam de mostrar o valor económico e social das bibliotecas públicas. Pérez- Salmerón (2014) apresentou dois métodos para demonstrar que as bibliotecas espanholas contribuem para uma economia competitiva e para fornecer aos bibliotecários e aos gestores de bibliotecas e serviços de informação argumentos que demonstrem que as bibliotecas são um investimento e não uma despesa; e que demonstrem o seu posicionamento face à concorrência de outros setores.

Estes métodos foram utilizados no trabalho Estudio sobre el Valor Económico y