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Fase 6 Análise e tratamento de dados; Fase 7 Triangulação dos dados recolhidos;

32 Manifesto for Digital Libraries (aprovação UNESCO)

2.2.1 D OCUMENTOS DE ORGANIZAÇÕES ESTATAIS PORTUGUESAS

Desde 1976, que os Programas dos diferentes Governos Constitucionais (Portugal. Governo Constitucional, 2011) referiram a importância das bibliotecas públicas para a construção do Estado Democrático e para a promoção da qualidade de vida. No Programa do I Governo Constitucional (Portugal. Governo Constitucional, 1976) referiu-se a importância de criação de um modelo de bibliotecas que permitissem levar o livro à população em geral a par de uma animação cultural para o promover. Em 1978, no Programa do IV Governo defendeu a criação de uma lei orgânica para as bibliotecas que apoiassem uma rede de bibliotecas populares (Portugal. Governo Constitucional, 1978). O V Governo apontava diretrizes para se lançar um plano nacional de alfabetização e de educação de adultos (Portugal. Governo Constitucional, 1979). Em 1981, reforçou-se a ideia de criação de bibliotecas não fixas (Portugal. Governo Constitucional, 1981) e com o IX Governo (1983) defendeu-se um programa nacional de literacia em conjunto com o Ministério da Educação tendo como base uma rede de bibliotecas bem apetrechadas. Finalmente, o X Governo Constitucional lançou em 1986 a Rede Nacional de Bibliotecas Públicas (Portugal. Governo Constitucional, 1985).

75 O XI Governo reafirmou a continuidade da instalação da rede de bibliotecas municipais (Portugal. Governo Constitucional, 1987b) e nos governos seguintes reafirmou-se esta vontade de alargamento da rede de leitura pública simultânea à criação de uma rede de bibliotecas escolares (Portugal. Governo Constitucional, 1991; Portugal. Governo Constitucional, 1995; Portugal. Governo Constitucional, 1999; Portugal. Governo Constitucional, 2002). No programa do XVII Governo (Portugal. Governo Constitucional, 2005) houve uma intenção em concluir a rede territorial nacional de bibliotecas públicas em todos os municípios e uma grande preocupação a nível da promoção da leitura, tendo sido criado o Plano Nacional de Leitura em 200634, na tutela do Ministério da Educação.

Ao longo dos anos, os governos foram percebendo a necessidade da articulação das tutelas da Cultura e da Educação para o desenvolvimento de programas de literacia, de itinerâncias culturais e de trabalho conjunto entre as bibliotecas públicas e as bibliotecas escolares já que trabalhavam com o mesmo público-alvo, mas com missões diferentes nestes dois modelos de bibliotecas.

A política de leitura pública, concretizada através da RNBP – Rede Nacional de Bibliotecas Públicas, desde meados da década de oitenta do século passado, foi um passo importante no desenvolvimento cultural e educacional (Calixto, 2001) do país. Os documentos emanados do Grupo de Trabalho das Bibliotecas Públicas da Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas foram fundamentais para a prossecução da política de Leitura Pública.

O documento que esteve na génese do movimento foi Leitura Pública: rede de

bibliotecas municipais: relatório (Moura, 1986) referenciou a rede de bibliotecas

municipais e atribuiu responsabilidade de criação e manutenção da rede ao governo central e às autarquias locais. O documento sublinhou que a biblioteca pública terá que assumir como objetivos a atingir a educação, a informação, a cultura, e o lazer:

―como finalidade contribuir para assegurar a qualidade de vida e fomentar a vivência de uma sociedade democrática tornando

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Resolução do Conselho de Ministros nº 86/2006 – Aprovação - disponível em:

http://www.gmcs.pt/pt/resolucao-do-conselho-de-ministros-n-862006-aprovacao-do-plano-nacional-de- leitura

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acessíveis os registos da experiência humana e assim promovendo a livre circulação de ideias e de informação‖. (p. 2 e 3)

Já se pressentia alguma preocupação sobre a importância da transformação comunitária dos utilizadores das bibliotecas, mas a redação deste documento está ainda centrado nas preocupações urgentes para instaurar uma rede espacial de bibliotecas, em justificar orçamentos e na prossecução dos objetivos duma política nacional de leitura pública.

Neves & Lima (2009) mencionaram que entre 1987 e 1995 a evolução da rede de bibliotecas teve um investimento muito significativo em infraestruturas e pouco em conteúdos culturais. Estes autores relataram as diversificadas iniciativas promovidas e realizadas nas bibliotecas públicas municipais em Portugal no ano de 2008, no âmbito da promoção da leitura. Aliás esta foi a missão principal defendida nas políticas públicas. As bibliotecas concentraram-se sobretudo nestes serviços com ajuda de outros parceiros estratégicos, as bibliotecas escolares e o Plano Nacional de Leitura (PNL). Neves & Lima (2009) tiveram consciência da importância da missão de promover a leitura, mas defenderam que as bibliotecas não se deveriam somente esgotar nestas atividades de divulgação dos acervos documentais e em promover a sua leitura, mas que deveriam alargar-se a valências culturais, educacionais e as associadas à cidadania.

O Decreto-Lei n.o 71/87 desencadeou o nascimento de uma política nacional de leitura pública, foi criado o IPLL (Instituto Português do Livro e da Leitura) que tutelou o apoio técnico e financeiro às autarquias. A política desenvolvida tinha por base a conceção de um Estado social, com forte papel na intervenção cultural. O modelo de criação e desenvolvimento de bibliotecas públicas adotado assentou no conceito de biblioteca pública definido pelo Manifesto sobre as Bibliotecas Públicas (IFLA/UNESCO, 1994). No seguimento desta política foi necessário um instrumento de apoio à criação e inauguração das bibliotecas deste setor com o documento Programa

de apoio às bibliotecas municipais (Portugal. Secretaria de Estado da Cultura. Instituto

Português do Livro e da Leitura, 1987), com várias edições ao longo dos anos.

Nos finais dos anos 90 do século XX identificaram-se nas bibliotecas a existência de serviços tradicionais, a par de serviços em suporte digital, ou em rede. A relação entre biblioteca pública, a sociedade da informação e as novas tecnologias estava a dar os primeiros passos. O acesso à Internet para todos os cidadãos na

77 biblioteca, que funcionaria como porta aberta para o novo mundo da informação digital e multimédia, foi muito necessário, já que muitos indivíduos, por razões económicas, não acediam à Internet, ou não possuíam recursos para o fazer. Foi proposto desenvolver na biblioteca pública programas de autoaprendizagem, de formação ao longo da vida e programas de literacias para combate à exclusão digital (O Relatório

das Bibliotecas Públicas em Portugal, Moura, Silva, Figueiredo, Rodrigues, &

Casteleiro, 1996).

Os vários documentos relativos às bibliotecas públicas demonstraram uma grande preocupação pelo Livro e pela Leitura. O Programa Nacional de Promoção da

Leitura, (Portugal. Ministério da Cultura. Instituto Português do Livro e das Bibliotecas,

1997b) mais tarde designado por Programa de Acções de Promoção da

Leitura/Itinerâncias culturais, entrou em funcionamento em 1998, para desenvolver

programas concertados de promoção da leitura e difusão do livro. Registou-se que um dos objetivos foi:

―apoiar e colaborar com outras entidades na realização de projectos específicos no domínio da leitura, de âmbito nacional, regional ou local dirigidos a públicos diversificados, que contribuam para minorar o iletrismo e a exclusão social‖.

Esta referência à exclusão social que pode ser combatida pela promoção da leitura foi importante para a abertura a outros papéis que a biblioteca poderia exercer.

O Programa de Apoio às Bibliotecas Públicas (Portugal. Ministério da Cultura. Instituto Português do Livro e das Bibliotecas, 1997a) atualizado dez anos depois do início da rede e também em 2009 propôs outros modelos de espaços e funções que aumentavam a influência social da biblioteca na sua comunidade, como a inclusão de públicos e de populações diversificadas, com reflexo nos fundos documentais e nas atividades culturais. Propôs-se que as bibliotecas fossem lugares de democratização do conhecimento, de formação cívica e lugares de socialização.

Figueiredo (2004) referiu que este Programa fez uma atualização das funções

das bibliotecas, para além da promoção do livro e da leitura, que foram convidadas a ter um papel no reforço da democracia, da liberdade de expressão, da igualdade, do bem- estar e da qualidade de vida dos cidadãos, assegurando em todo o país a igualdade de oportunidades no acesso à informação e à Internet.

78 Após a construção das infraestruturas das bibliotecas e com as primeiras preocupações com programas de promoção da leitura, os documentos oficiais começaram a referir a importância da existência de outros serviços aproveitando o novo contexto da sociedade de informação.

O Governo português apresentou o Livro Verde para a Sociedade de Informação (Portugal. Ministério da Ciência e da Tecnologia, 1997) que considerava como prioridade nacional a aposta na Sociedade da Informação e no combate à infoexclusão. Dois anos depois, o documento Portugal na Sociedade da Informação (Portugal. Ministério da Ciência e da Tecnologia. Observatório das Ciências e da Tecnologia, 1999) apontava a estratégia para o combate à infoexclusão através da massificação do uso das tecnologias da informação, com pontos de acesso público, em espaços públicos, por exemplo, em escolas e bibliotecas. Assim, com a entrada da Sociedade de Informação, as bibliotecas usufruíram de recursos económicos suplementares para aquisição de TIC e participação em programas e literacia digital, à semelhança do que aconteceu noutros países da Europa.

O Programa de apoio às bibliotecas municipais (2009), que atualizou os anteriores, sublinhou com alguma ênfase de que as mudanças oferecidas pela Internet teriam que transformar o modelo de biblioteca pública. Não só a nível espacial, incluindo espaços com mobiliário adequado para receber os computadores e serviços de acesso à informação digital, mas também com espaços que permitissem incluir os serviços de literacia digital. A inclusão digital das populações servidas pelas bibliotecas foi destacada no Programa, como uma tarefa importante no paradigma da biblioteca digital.

2.2.1.1 Considerações finais da leitura sobre os documentos de organizações estatais portuguesas

Concluiu-se que as referências à missão social das bibliotecas públicas nos documentos oficiais portugueses são poucas. Há uma ausência de reflexão e de problematização sobre esta missão, valorizando outros papéis que foram igualmente importantes para o desenvolvimento da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas em Portugal.

79 Na lista dos documentos estatais apresentados (tabela 14), emanados de organismos do estado e de outros solicitados a grupos de trabalho, constatou-se que as questões sociais e correspondentes facetas que a IFLA e a UNESCO, e outros organismos levantaram nos variados documentos produzidos, não originaram em Portugal o aparecimento de documentos idênticos com diretrizes específicas valorizando a faceta social das bibliotecas públicas para o país.

Não existiu nos documentos uma reflexão ou indicações práticas de ações para desenvolver determinados serviços que potenciem competências sociais coletivas e individuais, sensibilidade social e habilidade de ação social nas bibliotecas.

TABELA 14: DOCUMENTOS ESTATAIS SOBRE BIBLIOTECAS PÚBLICAS

Documentos Governos Data

1 Programa do I Governo Constitucional Portugal. Governo