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Fase 6 Análise e tratamento de dados; Fase 7 Triangulação dos dados recolhidos;

2.1.1 P RESERVAR OS VALORES DA DEMOCRACIA

Um dos aspetos mais trabalhados e apresentados nestes documentos foi a faceta

Preservar valores da Democracia, para a qual o documento mais antigo aqui

apresentado - Manifiesto de la UNESCO sobre la Biblioteca Pública (UNESCO, 1949)19 - é um excelente exemplo. O documento foi gerado após a publicação da

Declaração dos Direitos Humanos (UNESCO, 1948), quatro anos depois do nascimento da UNESCO, e tinha uma proposta ambiciosa para a expansão da paz, para o progresso social e espiritual em todo o mundo. A biblioteca pública foi desde logo refletida nas preocupações iniciais desta organização e eleita como uma força viva ao serviço da educação popular, do desenvolvimento e da compreensão internacional. Isto demonstrou uma confiança total na biblioteca fundada sobre a democracia.

A biblioteca pública tem sido concebida como uma:

―… institución democrática administrada por el pueblo y para el pueblo‖ (Manifiesto de la UNESCO sobre la Biblioteca Pública,

UNESCO, 1949, p. 1).

Assim, surgiram cinco princípios democráticos para as bibliotecas: constituição e funcionamento da biblioteca com legislação própria; financiamento público; serviços gratuitos; abertura à comunidade sem nenhuma restrição de qualquer género (idade, raça, etc.); salvaguarda da liberdade de expressão. Estes foram os alicerces discutidos nos manifestos sequentes e divulgados pela comunidade profissional.

A capacidade atribuída às bibliotecas para defender ideias democráticas que transcendam as tradicionais divisões e fronteiras de culturas e países foi uma tónica nos documentos internacionais (Thorhauge, Larsen, Thun, Albrechtsen, & Segbert, 1997). Por exemplo, o Manifesto da IFLA/Unesco para as Bibliotecas Públicas

19 Abid & Giappiconi (1995) referem que este primeiro manifesto onde se resume os objetivos e as

funções das bibliotecas públicas, foi incorporado em 1947, na Segunda Conferência Geral da UNESCO, destinava-se ao público em geral e foi traduzido em muitas línguas e publicado em forma de folheto e de cartaz.

53 (IFLA/UNESCO, 1994), e anteriormente outros (Standards for Public Libraries, IFLA, 1973; Guidelines for Public Libraries, IFLA, 1986), tornaram-se documentos de referência de defesa de valores democráticos e sociais e foram enviados a todos aqueles que podiam contribuir para o avanço das bibliotecas públicas em todo o mundo, aos profissionais e às associações que os representam. Mais tarde, atualizado pelo documento 10 Ways to make a public library work/ Update your libraries (IFLA/Public Libraries Section, 2009) que pretendeu ser uma modernização e um complemento no século XXI.

Foi defendido para papel da biblioteca pública ser esta um instrumento para o fomento de paz e de compreensão entre as pessoas e as nações. A missão da biblioteca pública passaria pelo renovar o espírito do homem, abastecendo-a com livros para sua

distração e recreio, em ajudar o estudante e oferecer a informação técnica, científica e sociológica mais atualizada (Manifiesto de la UNESCO sobre la Biblioteca Pública,

UNESCO, 1972) com objetivo final de estabelecimento de uma sociedade em paz na diversidade multicultural que a constitui.

Desenhou-se para abiblioteca pública um desejo de que ela fosse uma força viva para melhorar o papel ativo dos cidadãos na sociedade, permitindo mais educação, cultura e acesso à informação. A biblioteca tem sido concebida como um elemento primário que permite a possibilidade de aceder à informação e tem sido afirmada como crucial à liberdade e ao estabelecimento de uma sociedade democrática (Alexandria

Manifesto on Libraries, the Information Society in Action, IFLA, 2005). Propôs-se que a

biblioteca pública, para além de possibilitar o acesso gratuito à informação, fornecesse serviços em igualdade de acesso a todos os grupos constituintes da comunidade e fosse promotora de bem-estar social, com a ajuda da cooperação com os parceiros locais, nacionais e internacionais. Apresentou-se uma série de benefícios para o exercício da prática colaborativa e para a cooperação entre variadas instituições (Public Libraries,

Archives and Museums: Trends in Collaboration and Cooperation, IFLA/Public

Libraries Section, 2008).

A biblioteca foi considerada desde sempre como um serviço público estratégico financiado com receitas vindas não diretamente dos utilizadores, mas de uma redistribuição de recursos da comunidade (Manifiesto de la UNESCO sobre la

54 Ao bibliotecário foi atribuído um papel de construção no âmbito da democracia, desempenhando uma função de ligação entre o estado e o cidadão, divulgando o governo eletrónico, os partidos políticos, os grupos de pressão, e todos aqueles grupos que representem outras opiniões na comunidade (Manifesto da IFLA/Unesco para as

Bibliotecas Públicas, IFLA/UNESCO, 1994). A defesa da liberdade intelectual foi

atribuída também à responsabilidade dos profissionais da documentação e da informação. Exortava-se a biblioteca e os seus profissionais a aderirem aos valores de liberdade intelectual, do livre acesso à informação e da liberdade de expressão. Assim como a reconhecerem o direito à privacidade do utilizador da biblioteca, a opor-se a qualquer forma de censura e a preservar e a disponibilizar documentos de amplitude variada e universal a todos os indivíduos (Declaração da IFLA sobre as Bibliotecas e a

Liberdade Intelectual, IFLA/FAIFE, 1999).

Quanto ao movimento democrático de transparência da governação e ao movimento de combate à corrupção, foram também abordados pela IFLA, que recomendou às bibliotecas a defesa destes valores sociais, disponibilizando informação imparcial a ser usufruída por todos, depositando confiança nas instituições políticas e cedendo informação sobre direitos e garantias à população. A IFLA solicitou e recomendou aos profissionais das bibliotecas que aderissem a programas de transparência governativa e trabalhassem para que a biblioteca fosse um centro onde os cidadãos fossem assistidos na procura de informação não censurada. Nos países onde não existisse legislação sobre o acesso à liberdade de informação, a IFLA aconselhava aos profissionais a dar um impulso na redação da legislação para proteção destes princípios, e a ainda a lutar contra a corrupção na gestão da biblioteca e na defesa da existência de um código de ética (Manifesto da IFLA sobre Transparência, Bom

Governo e combate à Corrupção, IFLA, 2008).

Nos vários documentos foram defendidas mais políticas de apoio à biblioteca pública para esta promover o acesso generalizado à informação, já que se reconheceu que ela ofereceu uma oportunidade estratégica para o aumento da qualidade de vida e das potencialidades democráticas dos cidadãos, ao fornecer acesso gratuito e igualitário à informação. A consciência de que a biblioteca desempenhou um papel importante no desenvolvimento económico e social das populações locais, através dos seus serviços, e que permitiu diminuir a disparidade entre os que acedem à informação e os que não têm

55 possibilidades de o fazer, foi uma evidência destacada no Comunicado de Leuven,

(PubliCA, 2008)20.