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Fase 6 Análise e tratamento de dados; Fase 7 Triangulação dos dados recolhidos;

2.1.7 P ROMOVER A INCLUSÃO SOCIAL

O tema da inclusão social foi um assunto recorrente nos documentos internacionais, desde o primeiro Manifesto (UNESCO, 1949). O Manifiesto de la

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Gill (2001) e um grupo de trabalho, constituído por membros da comissão da secção de Bibliotecas Públicas da IFLA reuniram-se com bibliotecários de vários países, em 1998 num Seminário em Noordwijk (Países Baixos), tentando representar as bibliotecas de todo o mundo e com diversas fases de desenvolvimento. O objetivo era redigir diretrizes e incluir no manifesto normas práticas que fossem na medida de possíveis universais. Os anteprojetos das diretrizes foram sendo elaborados com consulta alargada a vários profissionais de todo o mundo, durante as conferências internacionais da IFLA.

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UNESCO sobre la Biblioteca Pública (UNESCO, 1972)27 acrescentou, ao anterior, a

preocupação na importância da seleção dos fundos documentais para satisfazer os vários níveis de educação, de cultura, das diferentes línguas da comunidade, das idades diferentes dos utilizadores, desde as crianças aos mais idosos; outras preocupações apresentadas focaram a importância da escolha do local onde se constrói a biblioteca e as acessibilidades físicas, a criação de bem-estar no seu interior, a criação de serviços para os que mais necessitam, os que estão nos hospitais, os presos e os retidos em casa.

A Secção das Bibliotecas Públicas da IFLA atualizou este manifesto, vinte anos mais tarde. Todavia este manifesto de 1972 já tinha ganho prestígio internacional, por razões associadas às mudanças económicas, políticas e ao desenvolvimento técnico da Biblioteconomia. O próximo manifesto (IFLA/UNESCO, 1994) refletiu as preocupações de outros comités e subcomissões da IFLA, que são preocupações sociais, concretizadas em ações básicas nas bibliotecas: inclusão de públicos diversos, o combate a qualquer exclusão, a não discriminação social, o serviço pela igualdade de oportunidades, colocando a ênfase na formação e na informação (Abid & Giappiconi, 1995). Houve uma continuidade na confiança no papel da biblioteca pública para o progresso na cultura e na tolerância, na compreensão mútua e no respeito pelas culturas diferentes na senda das ideias humanistas da UNESCO. Este documento ao referir-se a todos os elementos da sociedade, pretendeu incluir conjuntos de indivíduos e situações que de algum modo se encontravam excluídas e esquecidas, como minorias linguísticas, indivíduos deficientes, reclusos e hospitalizados. Neste propósito, solicitou para que a biblioteca, juntamente com os responsáveis agentes políticos assumissem uma missão social. Aconselhou que as coleções refletissem a sociedade independentemente de políticas e ideologias e reafirmou a vontade de que a biblioteca seja cada vez mais sociável, trabalhe a coesão social e promova a Justiça (Manifesto da IFLA/Unesco para

as Bibliotecas Públicas, IFLA/UNESCO, 1994).

A biblioteca pública inclusiva, de acesso a todos, foi uma proposta decorrente da universalidade das suas coleções, das facilidades de horários de abertura, da gratuidade dos serviços, e na oferta de serviços ao domicílio ou de serviços em linha que permitiam ao utilizador não se deslocar ao espaço físico da biblioteca. As tecnologias da

27 O documento surge por ocasião do Ano Internacional do Livro, a Unesco pediu para a Secção

Bibliotecas Públicas da IFLA o atualizar. Assim, nasce um texto dirigido mais aos círculos profissionais, publicado na edição de junho do Boletim da Unesco para as bibliotecas, foi traduzido em muitas línguas (Abid & Giappiconi, 1995).

63 comunicação e da informação foram admitidas como instrumentos imprescindíveis nesta missão social da biblioteca pública (The Public Library Service: the

IFLA/UNESCO Guidelines for Development), IFLA/UNESCO, 2001).

As próprias Directrizes para o Manifesto IFLA/UNESCO sobre a Internet (IFLA/UNESCO, 2006), sobre a temática da Web, enfatizaram as questões sociais. Outros documentos, como Directrizes para materiais audiovisuais e multimédia em

bibliotecas e outras instituições (IFLA, 2006)28, tiveram em conta a questão da inclusão social e digital, dando orientações às bibliotecas para que o audiovisual e o multimédia não aumentassem o fosso digital entre aqueles que acedem à informação e os que não têm acesso, providenciando acesso integral aos equipamentos, incluindo os convenientes para invisuais e às tecnologias da informação. Aconselhou que a biblioteca servisse a comunidade e consequentemente, todas as necessidades dos seus membros deveriam ser contempladas – os idosos e os jovens, as necessidades comuns e as especiais, abrangendo igualmente os mais e os menos dotados da sociedade.

As Linhas orientadoras Pulman: os novos serviços de biblioteca pública na

Sociedade de Informação (PULMAN, 2003a29; Manifesto de Oeiras: a Agenda PULMAN para a Europa-e, PULMAN - Europe’s Network of Excellence for Public

Libraries, Museums and Archives, 2003) pretenderam colocar a biblioteca pública face aos novos serviços decorrentes dos avanços tecnológicos e das novas situações económicas e traçaram estratégias e políticas para o setor. Este documento cujo tema central foi o combate a qualquer forma de exclusão social que pudesse afetar os utilizadores da biblioteca, destinou-se sobretudo aos decisores políticos e aos profissionais. Na Europa, no início do século XXI, os fatores de risco são grandes e o aumento da exclusão e da pobreza são visíveis: a questão do desemprego de longa duração, os baixos rendimentos durante longos períodos, os empregos precários, as qualificações baixas e o abandono escolar, os agregados familiares vulneráveis à exclusão social, os problemas de saúde, o abuso de drogas e alcoolismo, o viver em áreas carenciadas, os sem-abrigo e a discriminação racial, os imigrantes e refugiados, e as minorias linguísticas (Thorhauge et al., 1997).

28 Documento, como o título indica, linhas orientadoras para este tipo de recursos, tanto nas bibliotecas

públicas como noutras.

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Este documento foi redigido com a contribuição de discussão e comentários dos temas em workshops realizados em vários países.

64 Assim, a biblioteca pública foi considerada um lugar neutro para os indivíduos com força colaborativa para reabilitar a comunidade, contribuindo para a coesão social na sua região. A introdução de medidas que levaram à inclusão social foi recomendada como uma prioridade política da biblioteca, para serem realizadas em parceria com a administração local e com outras instituições. O documento apresentou medidas concretas para criar serviços específicos para as comunidades minoritárias: consultar e envolver grupos socialmente excluídos, adotar horários flexíveis, ser ponto de acesso à rede e à informação, estabelecer parcerias com ONGs e organizações locais, etc. Houve um reconhecimento de que a abordagem à exclusão social tinha que ser feita de forma concertada com organizações especializadas na área da inclusão social. Outras valências para a biblioteca foram também recomendadas, como a promoção da inclusão digital, formação das populações contra as iliteracias e criação de bibliotecas móveis para serviço às comunidades rurais e mais longínquas.

A IFLA, ao longo dos anos, apresentou propostas e recomendações centradas nas pessoas desfavorecidas para a sua inclusão nas bibliotecas, através da secção Libraries Serving Disadvantaged Persons Section (LSDP)30 (International Resource

Book for Libraries Serving Disadvantaged Persons: 1931-2001, IFLA/ Libraries

Serving Disadvantaged Persons Section, 2001).

Esta secção, nas últimas sete décadas, apresentou artigos em conferências internacionais sobre o tema e 104 relatórios com diretrizes muito específicas. Este documento International Resource Book for Libraries Serving Disadvantaged Persons:

2001-200831 (Locke & Panella, 2010) foi uma súmula de muitos dos relatórios que a IFLA foi publicando sobre estes temas, sensibilizando a comunidade profissional para que as bibliotecas públicas, e outras, apoiassem indivíduos idosos, hospitalizados, reclusos (Lehmann & Locke, 2007); criassem acessibilidades ao espaço físico e virtual da biblioteca, incluindo aqueles que possuem incapacidades físicas ou mentais. Assim, como a diversificação das coleções para dar assistência a pessoas com dislexia (Skat Nielsen, 2001; IFLA, 2014), portadores de deficiência visual e portadores de alguma forma de demência (Mortensen & Nielsen, 2008), não esquecendo a inclusão das crianças portadoras de necessidades especiais (Guidelines for Library Services to

Babies and Toddlers, IFLA, 2007).

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Alterado em 2008 o nome para Library Services to People with Special Needs (LSPSN).

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2.1.8D

ISPONIBILIZAR LIVRE ACESSO À

I

NTERNET

O acesso à informação alterou-se radicalmente com o aparecimento da Internet e o desenvolvimento de novas tecnologias. Os documentos da IFLA recomendaram que as bibliotecas fossem locais em que os indivíduos pudessem ter acesso às novas tecnologias, ter acesso a serviços facilitadores de acesso à informação em linha, como autoformação e educação formal em várias áreas, incluindo nesta área digital (The

Public Library Service: the IFLA/UNESCO Guidelines for Development,

IFLA/UNESCO, 2001).

Os princípios de acesso público à Internet em locais públicos foram relacionados com os direitos humanos: a liberdade, a igualdade, o entendimento global, a paz, a liberdade intelectual. Sabemos que as comunidades e os indivíduos alcançam liberdade, prosperidade e desenvolvimento com o acesso à informação. Os documentos recomendaram que a biblioteca disponibilizasse acesso à Internet, em sintonia com o artigo 19º da Declaração dos Direitos Humanos32 (UNESCO, 1978):

―Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão.‖

Este artigo estabeleceu que qualquer indivíduo tem direito à liberdade de opinião e expressão; inclui a liberdade de ter opiniões sem interferência e de procurar, receber e transmitir informações e ideias através de qualquer meio de comunicação sem barreiras de idade, raça, nacionalidade, religião, cultura, filiação política, incapacidade física ou mental, género ou orientação sexual. Portanto, recomendou-se que os bibliotecários deveriam ter a responsabilidade profissional de oferecer aos utilizadores o acesso igual e equitativo à Internet e de os capacitar a tirar o máximo proveito da informação disponível em linha através de formação (As Directrizes para o Manifesto

IFLA/UNESCO sobre a Internet, IFLA/UNESCO, 2006).

O Manifesto de Oeiras: a Agenda PULMAN para a Europa-e (PULMAN - Europe’s Network of Excellence for Public Libraries, Museums and Archives, 2003) aconselhou que a biblioteca pública deveria incidir os seus serviços nas áreas da promoção de uma sociedade civil e democrática, aproximando-se de grupos mais

66 desfavorecidos, como idosos, pessoas portadoras de deficiência, desempregados e habitantes da área rural, para disponibilizar recursos eletrónicos, devendo apostar nas áreas de formação de utilização destes recursos, combatendo a iliteracia digital.

O Manifesto sobre a Internet (IFLA, 2002), atualizado em 2014 (IFLA/UNESCO, 2014), foi um documento referencial para a criação de serviços de acesso à Internet para o utilizador da biblioteca. Para além de a reforçar como lugar de desenvolvimento e defesa da liberdade intelectual, como um direito de cada indivíduo, anunciou o acesso à Internet como um serviço que está na essência da biblioteca. A procura de informação, em qualquer suporte, em espírito de liberdade foi também observada como uma responsabilidade a não esquecer. O livre acesso à Internet e de forma gratuita foi considerado um serviço que promove a não desigualdade entre a população, no acesso à informação, e por conseguinte, o seu desenvolvimento pessoal, enriquecimento cultural e possibilidade de participação na sociedade virtual. A biblioteca foi então advertida a trabalhar na formação de utilizadores para estes superarem obstáculos na pesquisa de informação e serem capazes de se conectarem com o mundo, usufruindo da partilha de informação de forma livre, sem censura ideológica, política ou religiosa.

Do ponto de vista social, a IFLA, com este documento, incitou os governos a promoverem o apoio à livre circulação da informação acessível pela Internet, através da biblioteca pública e de outros serviços de informação e a fazer oposição a qualquer tentativa de censura ou inibição ao acesso da informação em linha.

No Manifesto de Oeiras: a Agenda PULMAN para a Europa-e (PULMAN - Europe’s Network of Excellence for Public Libraries, Museums and Archives, 2003)33

destacou-se o compromisso de financiamento aos centros de acesso a recursos digitais e a implementação de políticas que vão de encontro às necessidades de todos os cidadãos. Neste documento, aconselhou-se que as bibliotecas públicas, em conjunto com arquivos e museus, deveriam oferecer serviços que promovessem as tecnologias digitais e ações de literacia digital que permitissem aos indivíduos atingir as suas metas pessoais e assim permitir a coesão social da sociedade baseada no conhecimento.

33Documento aprovado na conferência europeia PULMAN realizada em Oeiras, em 2003, reuniu

decisores políticos e profissionais de 36 países, definiu um plano de ação com objetivos a alcançar na esfera das bibliotecas públicas, museus e arquivos.

67 As Directrizes para o Manifesto IFLA/UNESCO sobre a Internet (IFLA/UNESCO, 2006) teve como ponto de partida o Manifesto da IFLA sobre a

Internet (2002) e proclamou o direito à liberdade de acesso à informação e à liberdade

de expressão. Este documento estabeleceu diretrizes para a implementação de políticas e procedimentos relativos aos serviços de acesso à Internet, nas bibliotecas, para todas as pessoas equitativamente e livre de restrições. Estas diretrizes enfatizaram o conceito de Sociedade da Informação centrado nas pessoas, numa sociedade inclusiva e com acesso ilimitado à informação e à liberdade de expressão. O acesso à Internet não deveria ter barreiras económicas e não estar sujeito a qualquer forma de censura ideológica, política ou religiosa. As barreiras em relação ao fluxo de informações deviam ser removidas, principalmente aquelas que promoviam desigualdades, pobreza e desesperança.

Estas diretrizes afirmaram que a Internet tinha um caráter de um bem público, igualitário e democrático, por isso deveria manter-se como um mecanismo neutro para a transmissão de informação e de acesso gratuito, porque é um serviço público básico.

O tema do acesso à Internet ainda é prioritário em muitos países, e estas diretrizes foram e continuam a ser uma ajuda aos profissionais na implementação de acesso, na formação de utilizadores realizada mediante as necessidades de cada comunidade e na capacitação dos cidadãos para melhorarem a sua participação em linha.