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4 O SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO

4.2 A BUSCA PELA GOVERNANÇA ENERGÉTICA

A governança energética se constitui em uma estratégia para aprimorar não apenas o setor elétrico, mas a economia, o comércio e a política; traz vantagens para todos os envolvidos e garante o desenvolvimento regional. Possibilita o aumento dos recursos financeiros para o investimento em infraestruturas, ao passo que atrai os investidores privados. O estabelecimento de regras que promovam a concorrência de mercado, a redução

de custos e o aproveitamento ao máximo das matrizes energéticas dos parceiros internacionais pode proporcionar o desenvolvimento do setor elétrico e socioeconômico regional.

Para a implementação dessas diretrizes ou estratégias para a adequação do setor elétrico aos moldes dos países nórdicos, caberá aos governos o papel fundamental de assegurar a confiança dos agentes econômicos e se minimizar o risco regulatório, mediante a promoção das seguintes ações: (i) introdução da concorrência na produção, no mercado atacadista e nas vendas finais; (ii) livre acesso dos consumidores à rede básica de transmissão; (iii) separação da transmissão, produção e distribuição; (iv) introdução do wheeling nos mercados varejista e atacadista; (v) criação de um novo órgão regulador independente; (vi) introdução de mudanças na estrutura comercial com a figura da Pool; (vii) regulação da rede de transmissão, um monopólio natural; (viii) tarifas para a rede calculadas pelo nível de tensão.

Numa perspectiva de curto prazo as reestruturações têm genericamente ido de encontro aos benefícios esperados. Grandes aumentos de produtividade vêm sendo registrados em vários países, muitas vezes relacionados com a privatização das empresas. Os preços de comercialização da eletricidade têm diminuído possivelmente em razão do impacto promovido pela concorrência. As medidas de natureza política possuem repercussão nas reestruturações de mercado e nas regras para a introdução dos ambientes que estimulem a concorrência entre as empresas. São exemplos disso, os novos regimes de propriedade dos ativos de energia e a abertura dos mercados nacionais ao comércio e concorrência internacional.

Apenas a reforma da regulação, singularmente analisada, não implicará na motivação do surgimento da concorrência, mas, o contexto regulatório, será primordial para que as empresas desenvolvam suas estratégias. Um fator-chave para o progresso das reformas reside na distribuição de custos e benefícios da reestruturação pelos clientes, investidores e outros agentes, como os contribuintes e os trabalhadores do setor. Forte impacto na aceitação política e social das reformas resultaria na repartição de custos e benefícios, além de influenciar a correspondente eficácia da reforma do setor elétrico.

Para modelar o processo de governança energética, o Brasil deveria intensificar os processos de cooperação regional por meio da implementação do intercâmbio de energia elétrica nos moldes do modelo escandinavo do Nord Pool. Nesse sentido, as estratégias para o fomento desse setor devem apontar para soluções como: (i) A formação de parceiros internacionais para o fortalecimento do setor elétrico brasileiro; (ii) Utilizar o modelo escandinavo Nord Pool que põe em prática a formação de parcerias internacionais visando à

cooperação mútua de seus membros; promover a segurança do mercado de energia e desenvolver o sistema de geração e transmissão; utilizar as diversidades de matrizes energéticas; satisfazer a demanda de eletricidade; praticar a modicidade tarifária e estabelecer a concorrência salutar do mercado. (iii) Aproveitar, de forma otimizada, as matrizes energéticas disponíveis em cada país (energia térmica, eólica, nuclear, hidroelétrica) para expandir o parque gerador, promover o aumento da oferta de energia, a inclusão social e o bem-estar da população.

A integração energética da América do Sul deve ser construída sobre um sólido marco legal, que inclua tratados internacionais entre países envolvidos. Neste contexto, a principal prioridade da estratégia de integração continental seria a interligação física das redes de energia, de transporte, de comunicações de forma geral. Subsidiariamente, as reduções das assimetrias entre os países, pois a existência de desequilíbrios econômicos e sociais que se revelam verdadeiros obstáculos para a execução do escopo dos tratados internacionais. O ideal seria uma intensificação da atuação internacional da ELETROBRÁS, aproveitando o acervo técnico e a experiência acumulada há cerca de 45 anos de operação como holding de empresas elétricas brasileiras, viabilizando projetos com forte impacto integrador como a usina de Itaipu e as interligações elétricas com Argentina, Uruguai e Venezuela. A hidrelétrica binacional de Itaipu, construída a partir de um tratado bilateral entre o Brasil e o Paraguai, é um exemplo paradigmático de cooperação sul-americana para a produção de eletricidade.

Nas palavras de Luiz Alfredo Salomão e José Malhães da Silva,

A integração sul-americana através dos sistemas elétricos encontra-se em fase ainda preliminar. Os empreendimentos já existentes foram implantados no contexto de interesses binacionais, sem a preocupação mais recente da constituição de um bloco econômico-político regional. A visualização das interligações elétricas existentes entre os países membros deixa clara a influência das barreiras geográficas e das áreas do território sul-americano de população rarefeita107.

Por outro lado, entidades multilaterais já possuem presença marcante no cenário internacional, com a produção de estudos e trabalhos visando a integração energética sul americana, dentre as quais podemos citar aquelas que priorizam, em suas políticas operacionais, os projetos de integração energética, notadamente:

(i) Associação Latino-Americana de Integração (ALADI);

(ii) Iniciativa para a Integração da Infra-estrutura Regional Sul-Americana (IIRSA); (iii) Organização Latino-Americana de Energia (OLADE);

107 SALOMÃO, Luiz Alfredo Salomão; SILVA, José Malhães da. Integração Energética do Subcontinente:

Novas Oportunidades e Desafios. SEMINÁRIO SOBRE INTEGRAÇÃO PROMOVIDO PELO MRE, em 12/03/2008. Disponível em: <http://www.eppgg.com.br/2013/02/integracao- energetica-do-subcontinente-novas-oportunidades-e-desafios/>. Acesso em: 2 dez. 2015.

(iv) Comissão de Integração Energética Regional (CIER);

(v) Comité Andino de Organismos Normativos e Organismos Reguladores de Serviços de Electricidade (CANREL);

(vi) Assistência Recíproca Petroleira Estatal Latino-Americana (ARPEL); (vii) Comissão Econômica para América Latina e Caribe ( CEPAL); (viii) Comunidade Andina de Nações (CAN);

(ix) Mercado Comum do Sul (MERCOSUL); (x) Corporação Andina de Fomento (CAF);

(xi) Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID); (xii) Banco Mundial (The World Bank);

(xiii) Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

É imperioso ressaltar que ainda prevalece a necessidade de uma sólida base jurídica para a integração energética. Contudo, seguindo essa vertente, podemos citar as palavras de Salomão e Silva, que com sabedoria afirma que esse caminho já está sendo perseguido pelos membros do Cone Sul, senão vejamos:

a moldura política que estabelece os marcos para o processo de integração energética dos países sul-americanos é composta pelos seguintes documentos e tratados:(i) Declaração da I Reunião de Ministros de Minas e Energia da

Comunidade Sul-Americana de Nações (Caracas, 26 de setembro de 2005);(ii) Declaração sobre Integração na Área de Infraestrutura da I Reunião de Chefes de Estado da Comunidade Sul-Americana de Nações (Brasília, em 29 e 30 de

setembro de 2005) e que culminou na assinatura do (iii) Acordo-Quadro sobre

Complementação Energética Regional entre os Estados-Partes do Mercosul e Estados Associados, ocorrida durante a Cúpula do Mercosul (Montevidéu, no dia 9

de dezembro de 2005).Todos os países sul-americanos foram convidados a se incorporarem ao processo de negociação. Posteriormente, os focos da integração energética regional foram reforçados: pela (iv) Declaração Presidencial sobre

Integração Energética Sul-Americana (Cochabamba, de 09 de dezembro de 2006)

e (v) pela Declaración de Margarita, subscrita pelos chefes de Estado e de Governo de todos os países do subcontinente (Margarita, de 17 de abril de 2007), denominada „Construindo a Integração Energética do Sul‟. Neste documento cabe destacar a criação do Conselho Energético da América do Sul (CEAS), integrado pelos ministros de Minas e Energia de cada país para que, dentro dos princípios estabelecidos nesta Declaração, apresentem uma proposta para compatibilizar a Estratégia Energética Sul-Americana, o Plano de Ação e o Tratado Energético da América do Sul.108

Assim, vislumbra-se que para viabilizar a integração energética dos membros do Cone Sul como estratégia de Estado, com vistas à obtenção dos ganhos reais advindos do desenvolvimento do mercado de energia elétrica, ainda será necessário a construção de novos marcos legais que permitam manutenção das soberanias dos países envolvidos, a promoção do

108 SALOMÃO, Luiz Alfredo Salomão; SILVA, José Malhães da. Integração Energética do Subcontinente:

Novas Oportunidades e Desafios. Seminário sobre Integração promovido pelo MRE, em 12/03/2008. Disponével em: <http://www.eppgg.com.br/2013/02/integracao- energetica-do-subcontinente-novas-oportunidades-e-desafios/>. Acesso em: 2 dez. 2015.

desenvolvimento interno, o investimento em infraestrutura e capacitação tecnológica, além da intensificação do comércio que decorrem das execuções dos projetos de cooperação regional.

4.3 AS INTEGRAÇÕES ELETROENERGÉTICAS DO BRASIL COM SEUS VIZINHOS

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