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AS INTEGRAÇÕES ELETROENERGÉTICAS DO BRASIL COM SEUS

4 O SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO

4.3 AS INTEGRAÇÕES ELETROENERGÉTICAS DO BRASIL COM SEUS

A integração do setor elétrico na América do Sul vem – por várias razões – sendo perseguida na região em virtude da exposição e fragilidade econômica que vêm assolando os países da área. A formação de blocos regionais (e.g. Mercosul), que visam precipuamente a integração, visam desde a eliminação de barreiras e taxas alfandegárias para a transação de bens e serviços, até a adoção de instituições comuns de governança ou mesmo a integração nos níveis políticos ou monetários. Oliveira e Alveal descrevem quatro principais consequências da integração econômica, associadas à “redução de custos e ganhos de escala, aumento da eficiência pela maior concorrência, a redução dos custos médios pela produção conjunta de bens ou serviços distintos e pela inovação tecnológica natural à ampliação dos mercados” 109. Assim, a integração elétrica na América do Sul é assunto recorrente nas últimas três décadas, sendo discutidos em fóruns de alto nível e em várias instâncias de decisão no continente. Castro e Rosental, ao formar um grupo de estudos do setor elétrico vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, já antecipou esse cenário da necessidade da integração do setor elétrico e abordou o assunto da seguinte forma:

[...] Uma efetiva integração do setor elétrico na região tende a contribuir significativamente para dinamizar o crescimento econômico e reduzir as disparidades regionais. Investimentos públicos e privados, bem como construção de instituições e marcos regulatórios uniformes e claros, são fundamentais na consolidação deste processo110.

O mapa abaixo demonstra as interligações existentes nos estados do Brasil e a interconexão entre esse país e outros membros do Cone Sul como a Venezuela, a Argentina, o Uruguai e o Paraguai:

109 OLIVEIRA, A.; ALVEAL, C. Eletricidade e Integração: uma perspectiva desde o Cone Sul. Grupo de

Energia, IE/UFRJ: Rio de Janeiro, 1991.

110 CASTRO, N. J. de (org), ROSENTAL, R., GOMES, V. J. F.. A Integração do Setor Elétrico na América do Sul: Características e Benefícios. p. 2, Grupo de Estudos do Setor Elétrico (GESEL), Instituto de

Economia (UFRJ), R. de Janeiro, Setembro de 2009. Disponível em: <http://www.gesel.ie.ufrj.br/app/webroot/files/publications/29_TDSE10.pdf>. Acesso em: 6 ago. 2015.

Figura 4.3.1: Integração Eletroenergética Brasileira – Horizonte para 2015

Fonte: <http://www.ons.org.br/conheca_sistema/mapas_sin.aspx>. Acesso em: 7 set. 2015.

A América do Sul é continente que possui potencial para ser autossuficiente no que concerne a seus insumos energéticos (petróleo, gás natural e, especialmente, recursos hídricos). Por ter clima predominantemente tropical, vem também apresentando grande potencial de geração de biomassa, além de haver grande complementaridade de insumos energéticos entre os países do continente. Tal fato já proporcionou a construção de um sem número de linhas de transmissão, usinas hidrelétricas e gasodutos ligando países da região. Ruiz-Caro identifica três tipos de propósitos nos empreendimentos de interconexão elétrica:

(i) Centrais hidrelétricas binacionais: Os projetos de interconexão Argentina- Uruguai, Argentina-Paraguai e Brasil-Paraguai, que se concretizaram com a construção das centrais hidrelétricas binacionais de Salto Grande, Yaciretá e Itaipu.

Esses projetos entraram em operação por volta dos anos oitenta e foram realizados por empresas estatais. Os custos e investimentos foram recuperados através da remuneração da energia gerada pelas centrais;

(ii) Venda de energia firme: As interconexões realizadas mais recentemente entre Argentina-Brasil, Brasil-Venezuela e Argentina-Chile tiveram como propósito a energia firme de um país a outro. Nos dois primeiros casos, a interconexão esteve associada a um ou poucos contratos de longo prazo de venda em um dos sentidos da interconexão. Os contratos firmes, nestes casos, é que asseguram à empresa vencedora o fluxo de recursos para cobrir os custos e obter o financiamento das obras de interconexão;

(iii) Intercâmbios de oportunidade: Esse tipo de interconexão foi implementado entre Colômbia-Venezuela, Colômbia-Equador e Brasil-Uruguai. São interconexões com propósito de aproveitar intercâmbio de oportunidade nos dois sentidos, aproveitando as diferenças de custos marginais entre dois sistemas interconectados, sem que se exclua a possibilidade de contratos111.

As interconexões Brasil-Uruguai e Colômbia-Venezuela descritas nos itens acima mencionados foram todas executadas pelas respectivas empresas estatais, enquanto que as demais foram feitas através de acordos e convênios sob o “guarda-chuva” da Associação Latino Americana de Desenvolvimento e Integração (ALADI) e outras organizações sub- regionais de integração. A complementaridade de insumos energéticos na América do Sul, em termos de estratégicos “pode garantir uma segurança ímpar e estratégica na região, capaz de viabilizar ciclos de crescimento mais acelerados e maior competitividade econômica aos países da região”112. O potencial hidrelétrico, em giga watts (GW), de vários países sul- americanos selecionados segue tabulado abaixo:

Tabela 4.3.1: Potencial Hidrelétrico de países sul-americanos selecionados

HIDROELÉTRICAS POTENCIAL (GW) % desenvolvido

Argentina 45 19% Bolívia 40 1% Brasil 143 52% Chile 25 21% Colômbia 93 9% Equador 23 8% Paraguai 13 63% Peru 62 5% Uruguai 2 75% TOTAL 446 28%

Fonte: ELETROBRAS, 2013, Ciclo de Debates sobre as Perspectivas de Integração Elétrica na América do Sul, p. 8, Superintendência de Operações no Exterior. Disponível em: <http://www.nuca.ie.ufrj.br/mwg-internal/de5fs23hu73ds/progress?id=e70fblOUe9PJTXxnvli AxbvgJeWe2lnJIoYiEYDAemk>. Acesso em: 6 ago. 2015.

111 RUIZ-CARO, Ariela. Cooperación e integración energética en América Latina y el Caribe. Serie recursos

naturales e infraestructura , n. 106, abril de 2006. Chile: CEPAL.

112 CASTRO, N. J. de (org), ROSENTAL, R., GOMES, V. J. F.. A Integração do Setor Elétrico na América do Sul: Características e Benefícios. p. 4, Grupo de Estudos do Setor Elétrico (GESEL), Instituto de

Economia (UFRJ), R. de Janeiro, Setembro de 2009. Disponível em: <http://www.gesel.ie.ufrj.br/app/webroot/files/publications/29_TDSE10.pdf>. Acesso em: 6 ago. 2015.

Conforme se percebe nos dados tabulados acima, o Brasil é o país de maior potencial hidráulico da região, tendo suas principais bacias hidrográficas importantíssimas plantas hidrelétricas, a saber: Itaipu Binacional (Bacia Platina), várias usinas hidrelétricas de porte próximas aos grandes mercados de Rio de Janeiro e São Paulo (Bacia do Atlântico Sul), as usinas nordestinas de Paulo Afonso e Sobradinho (Bacia do Rio São Francisco) e as usinas de Tucuruí, Santo Antônio e Jirau (Rio Madeira), na Bacia Amazônica, totalizando mais de 14.350 MW. A Bacia Amazônica, a maior do mundo, corta seis países do continente (Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Venezuela e Colômbia) e, por conta de tal capilaridade dentro do continente, proporciona a dupla captação das cheias de verão: de novembro a abril no hemisfério sul e de maio a outubro no hemisfério norte. Tal particularidade de duplo regime de chuvas na Bacia Amazônica proporciona importante complementaridade hidrológica a toda América do Sul. Por outro lado, as fronteiras Brasil e Argentina e Argentina e Uruguai, onde corta o Rio Uruguai, o potencial hidrelétrico a ser aproveitado é grande, com o propósito de se estabelecer “um processo de intercâmbio permanente de eletricidade entre Brasil e Uruguai”113, fruto de um acordo em negociação que “ao integrar Brasil e Uruguai do ponto de vista elétrico, será exemplo e modelo para futuras parcerias do Brasil em toda a América do Sul”114, tendo sido, inclusive concluído em Abril de 2015 uma linha de transmissão de 411 quilômetros ligando as cidades de San Carlos (Uruguai) a Candiota (Rio Grande do Sul), bancada pelo fundo financeiro do Mercosul. Esta linha permite a interligação entre os dois países. O próximo passo será a interconexão com o Parque Eólico de Artilleros, primeiro projeto de geração de energia da Eletrobrás fora do País. Esta fronteira entre Brasil e Argentina, de clima temperado e de grande potencial de geração, onde o mês mais úmido é julho (ao contrário das Bacias do São Francisco e do Atlântico Sul, onde julho é mais seco). Tal particularidade também confere o mesmo grau de complementaridade hidrológica verificado na Bacia Amazônica para aquela região meridional.

A matriz energética da América do Sul é predominantemente hídrica, objeto de análise desta Dissertação de Mestrado. O Gráfico abaixo detalha a Capacidade Instalada no continente, mostrando que Brasil, Argentina e Venezuela são os países sul-americanos com maior capacidade instalada e com o Brasil detendo metade de toda esta capacidade continental o que, per si, já habilita o país a um potencial papel de liderança num processo de integração energética no continente, assim como no planejamento da oferta de eletricidade.

113 Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/infraestrutura/2015/05/brasil-e-uruguai-terao-intercambio-

permanente-de-energia>. Acesso em: 6 ago. 2015.

Gráfico 4.3.1: Capacidade Instalada de Geração Elétrica na América do Sul em 2013 (%)

Fonte:<http://www.mme.gov.br/documents/10584/1143612/16+-+Energia+na+Am%C3%A9rica +do+Sul+%28ano+base+-+2013%29+%28PDF%29/1bf7d362-8e88-4577-aa50- d3c0a63be178; jsessionid=3FA69AE9252D36265483F1ACD3DCEB3F.srv154>. Acesso em: 6 ago. 2015.

No que tange ao intercâmbio de energia elétrica com outros países, o Brasil apresenta as seguintes conexões com os países da vizinhança:

Tabela 4.3.2: conexões de energia elétrica entre o Brasil e vizinhos latino-americanos

Conexão Local Tensão

(kV) Potência (MW) Situação Brasil- Uruguai Candiota – San Carlos 500 500 Operando desde Abril/ 2015 Brasil- Uruguai Livramento – Rivera 230-150 70 Operando Argentina- Brasil Rincon – Garabi 500 2.200 Operando Argentina- Brasil Rincon – Garabi 2.120 Em estudos Argentina- Brasil Paso de los Libres – Uruguaiana 132-230 50 Operando Brasil- Paraguai Itaipu 750-220 14.000 Operando Venezuela- Brasil Guri – Boa Vista 230-400 200 Operando 14 1 50 7 6 2 5 4 1 12 0 10 20 30 40 50 60

Fonte: <http://www.mme.gov.br/documents/10584/1143612/16+-Energia+na+Am%C3%A9rica +do+Sul+%28ano+base+-+2013%29+%28PDF%29/1bf7d362-8e88-4577-aa50-

d3c0a63be178;jsessionid=3FA69AE9252D36265483F1ACD3DCEB3F.srv154>. Acesso em: 7 ago. 2015.

Os sistemas elétricos brasileiro e argentino estão interligados operativamente desde a década de 1990, através das instalações de Uruguaiana e Garabi I e II, conforme mostra a figura 4.3.2, abaixo:

Figura 4.3.2: interligação Brasil-Argentina

Fonte: RODRIGUES, Larissa Araujo. Análise Institucional e Regulatória da Integração de Energia Elétrica entre o Brasil e os Demais Membros do MERCOSUL.

A interligação da Estação Conversora de Uruguaiana, com capacidade instalada de 50 MW, localizada no extremo oeste do Estado do Rio Grande do Sul, fronteira com a Argentina, foi realizada em 1994, tendo sido construída com base em um acordo entre a Eletrosul e a empresa argentina “Água y Energía Electrica Sociedad del Estado”, hoje “Emprendimientos Energéticos Binacionales Sociedad Anónima” (EBISA). Embora em operação desde sua inauguração em 1994, o empreendimento ainda não se encontra em operação comercial, embora venha sendo utilizada para atendimentos emergenciais ao Brasil e à Argentina e, mais recentemente, para atendimento energético à Argentina devido a condições desfavoráveis

naquele país, sendo a Eletrobrás o agente de importação e exportação para esta interligação, conforme pode ser inferido da obra de Larissa Araújo Rodrigues115.

Já no ano 2000, entrou em operação a estação conversora de Garabi 1, no município gaúcho de Garruchos, com capacidade nominal de 1.100 MW, sendo esta interligação concluída em 2002, com a entrada de outra estação conversora, chamada Garabi 2, de igual capacidade nominal (adicionais 1.100 MW), ambas de propriedade da Companhia de Interconexão Energética (CIEN), que é a empresa proprietária dos equipamentos no sistema brasileiro que fazem parte da interligação de 500 kV Garabi-Rincón. Tais estações conversoras de frequência (Garabi 1 e Garabi 2) são conectadas respectivamente às subestações de Santo Angelo/ RS e Itá/ SC, e teve “como objetivo principal a possibilidade de importação de energia elétrica pelo Brasil”116.

Este estudo de intercâmbio de energia elétrica, de acordo com Zanette, mostra que

[...] o intercâmbio de energia elétrica entre Brasil e Argentina através do aproveitamento das conexões existentes, pode ser bastante superior ao verificado nos últimos anos, quando os intercâmbios envolveram apenas a troca de energia entre os países e a exportação em caráter emergencial durante curtos períodos de tempo117, e que, “o melhor aproveitamento do potencial de intercâmbio requer a

definição de um modelo contratual e operacional eficiente para a comercialização e a transferência de energia entre os países, com o objetivo de promover uma situação de estabilidade e confiança mútua”118, de modo a se possibilitar “o melhor

aproveitamento dos recursos energéticos de cada país, beneficiando tanto os produtores quanto os consumidores de energia e contribuindo decisivamente para a integração energética do continente”119.

Quanto à importação de energia elétrica da Venezuela, desde o final da década de 1990, o Governo Brasileiro optou por atender à demanda de energia elétrica da capital do Estado de Roraima por meio da importação de energia do complexo hidrelétrico de Guri- Macágua, na Venezuela. Preferiu-se a alternativa de importação de energia venezuelana em detrimento ao desenvolvimento de hidrelétricas no Estado de Roraima, hipótese esta que era considerada mais atraente por algumas lideranças regionais brasileiras. Assim, em meados dos

115 RODRIGUES, Larissa Araujo. Análise Institucional e Regulatória da Integração de Energia Elétrica Entre o Brasil e os Demais Membros do MERCOSUL. 2012. P. 40, Dissertação (Mestrado em Energia) – Energia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/86/86131/tde-19042012-132609/>. Acesso em: 4 set. 2015.

116 ONS, Operador Nacional do Sistema Elétrico, Relatório de Acompanhamento Mensal dos Intercâmbios

Internacionais Março/ 2015. Disponível em:

<http://www.ons.org.br/download/resultados_operacao/acompanhamento_mensal_intercambios_internaciona is/relatorio_intercambio_internacional_201503.pdf>. Acesso em: 4 set. 2015.

117 ZANETTE, André Luiz. Potencial de Intercâmbio de Energia Elétrica Entre os Sistemas Elétricos de Brasil e

da Argentina. 2011. Revista Brasileira de Energia, v. 17, n. 1, 1. Sem. 2011, COPPE/ UFRJ, p. 80-81. Programa de Planejamento Energético. Disponível em: <http://www.sbpe.org.br/rbe/revista/32/>. Acesso em: 7 set. 2015.

118 Idem. 119 Idem.

anos 1990, foi construída a Interligação Venezuela-Brasil, de 678 quilômetros de extensão entre o município venezuelano de Santa Helena, na fronteira com o Brasil, e Boa Vista, orçada ao valor de US$ 190 milhões. O contrato de compra da energia elétrica foi assinado em abril de 1997 pelos governos da Venezuela e Brasil, representados pelas suas respectivas estatais Centrais Elétricas do Norte do Brasil S. A. (Eletronorte) e a contraparte da Eletrobrás naquele país (Edelca), hoje chamada CORPOELEC. Previsto para ficar pronto no ano de 1998, o sistema sofreu atrasos do lado venezuelano e só começou a operar em julho de 2001. O contrato previa o suprimento de até 200 megawatts (MW) por 20 anos, mas somente 100 MW chegam a Boa Vista, o suficiente para atender à capital e cinco outros municípios roraimenses. Em 2009, no entanto, a Venezuela passou a sofrer uma crise no setor energético e anunciou em dezembro que iria cortar 60% dos 100 MW. Tal crise venezuelana ocorreu por conta do baixo nível de água no reservatório do complexo hidrelétrico de Guri-Macágua, efeito ocasionado pelo fenômeno “El Niño” e pelos atrasos nos investimentos necessários para fazer face ao crescimento da demanda de energia elétrica. De modo a evitarem-se possíveis apagões ou racionamentos em Roraima, o Ministério de Minas e Energia do Brasil autorizou em 2010, por meio da Portaria no. 58120, que a Boa Vista Energia realizasse uma chamada pública para contratação emergencial de até 60 MW, por 24 meses, com entrega a partir de março. Adicionalmente, determinou-se que a Eletronorte cedesse temporariamente a Usina Termelétrica Floresta à concessionária estadual Boa Vista Energia (BOVESA) para o atendimento emergencial, com os custos sendo bancados pelo encargo de Conta de Consumo de Combustíveis (CCC). Essa usina termelétrica a óleo diesel havia sido desativada quando se iniciou a importação de energia da Venezuela. Na época sua operação custava US$ 64 milhões por ano. O racionamento foi suspenso em 11 de junho na Venezuela, mas com o aviso de possibilidade de racionamento em “horas de pico”. Não houve manifestação quanto ao racionamento da energia exportada para o Brasil. E o governo brasileiro simplesmente aceitou as imposições venezuelanas.

120 Disponível em: <http://www.mme.gov.br/web/guest/acesso-a-informacao/legislacao/visualizacao-de-

legislacoes?p_p_auth=8qfCJGPQ&p_p_id=20&p_p_lifecycle=0&p_p_state=normal&p_p_mode=view&_20 _struts_action=%2Fdocument_library%2Fview_file_entry&_20_redirect=http%3A%2F%2Fwww.mme.gov. br%2Fweb%2Fguest%2Facesso-a-informacao%2Flegislacao%2Fvisualizacao-de- legislacoes%3Fp_p_auth%3D8qfCJGPQ%26p_p_id%3D20%26p_p_lifecycle%3D0%26p_p_state%3Dnorm al%26p_p_mode%3Dview%26_20_entryEnd%3D60%26_20_displayStyle%3Ddescriptive%26_20_viewEnt ries%3D0%26_20_viewEntriesPage%3D1%26_20_viewFolders%3D0%26_20_folderStart%3D0%26_20_fo lderEnd%3D20%26_20_entryStart%3D40%26_20_folderId%3D904385&_20_fileEntryId=1378750>. Acesso em: 6 ago. 2015.

Figura 4.3.3: interligação Brasil-Venezuela

Fonte: HOMRICH, Ricardo. Apresentação VII Foro de Integración Energética Regional. Lima, Perú, 12 e 13 de novembro de 2012, slide 5. Disponível em: <http://player.slideplayer.com.br/1/34460/#>. Acesso em: 4 set. 2015.

A Usina Itaipu Binacional, projeto levado a cabo por Brasil e Paraguai, “talvez seja – de todos os projetos de integração energética – o projeto mais ousado desenvolvido até o momento na América Latina, e talvez no mundo”121.

O projeto da usina hidrelétrica binacional foi levado adiante, como uma solução para os litígios entre o Brasil e o Paraguai na área da Usina Hidrelétrica, já que havia discordância quanto à demarcação da fronteira entre os dois países. O contencioso fronteiriço foi acirrado na década de 1960 quando o governo brasileiro encomendou estudos para o aproveitamento hidrelétrico de Sete Quedas. A ideia dos estudos era a do desvio do rio acima da conhecida área das Sete Quedas, para uma usina genuinamente brasileira e com capacidade de gerar 67.000 GWh de energia por ano, devolvendo a água ao leito natural do rio abaixo das Sete Quedas. Inicialmente, o Paraguai se opôs veementemente a tal plano, mas o contencioso foi resolvido no ano de 1966, com a assinatura da Ata de Iguaçu pelo qual os governos dos dois países transigiram em realizar estudos conjuntos do potencial hidrelétrico na fronteira entre os dois países e que, a energia elétrica eventualmente produzida pelos desníveis do Rio Paraná, desde e inclusive o Salto Grande de Sete Quedas ou Salto Guairá até a foz do Rio Iguaçu, seria dividida em partes iguais entre os dois países, sendo reconhecido a cada um deles o direito de preferência para a aquisição desta mesma energia a justo preço, o que seria oportunamente fixado por

121 WHITE PAPER, Instituto Acende Brasil, ago. 2010. Disponível em:

<http://www.acendebrasil.com.br/media/estudos/2010_WhitePaper_01_AcendeBrasil_Rev2.pdf>. p. 15. Acesso em: 6 ago. 2015.

especialistas dos dois países, de qualquer quantidade que não venha a ser utilizada para o suprimento das necessidades do consumo do outro país.122

Tal estudo levou à assinatura, no ano de 1973, do Tratado de Itaipu entre Brasil e Paraguai. O Tratado previa a construção e a operação da Usina Itaipu Binacional algumas milhas a jusante do Salto de Sete Quedas, sendo que a antiga área territorial reclamada pelos dois países seria inundada pelo reservatório da usina, de modo a se colocar fim ao litígio fronteiriço. O Tratado concedeu igualdade de direitos e obrigações para cada país e, de modo a se realizar o estudo de aproveitamento hidrelétrico do Rio Paraná, foi criada a Itaipu, de caráter binacional, com participação de capital na base 50%-50% entre a Eletrobrás e sua contraparte paraguaia (ANDE - Administración Nacional de Eletricidad). A Itaipu é gerenciada por um Conselho Administrativo e uma Diretoria Executiva, composta também por igual número de brasileiros e paraguaios. A construção da Usina Binacional começou em 1975. Em outubro de 1982, foram finalizadas as obras da barragem de Itaipu e as comportas do canal de desvio foram fechadas para formar o reservatório da usina. A primeira unidade geradora de Itaipu entrou em operação em maio de 1984, com cronograma de instalação de duas a três unidades geradoras por ano até 1991 seguido à risca, quando se completou a instalação de 18 unidades geradoras. As últimas duas unidades geradoras entraram em operação entre os anos de 2006 e 2007.

As bases financeiras e de prestação de serviços de eletricidade de Itaipu estão contidos no Anexo C do Tratado123:

II.1 – A divisão em partes iguais da energia estabelecida no Artigo XIII do Tratado, será efetuada por via de divisão da potência instalada na central elétrica.

II.2 – Cada entidade, no exercício do seu direito à utilização da potência instalada, contratará com a Itaipu, por períodos de vinte anos, frações de potência instalada na central elétrica, em função de um cronograma de utilização que abrangerá este período e indicará, para cada ano, a potência a ser utilizada. [...]

III.4 – Cada entidade, tem o direito de utilizar a energia que puder ser produzida pela potência por ela contratada até o limite que será fixado, para cada período de operação, pela Itaipu. [...]

III.5 – Quando uma entidade decidir não utilizar parte da potência contratada ou parte da energia a esta correspondente, dentro do limite fixado, poderá autorizar a Itaipu a ceder às outras entidades a parte que assim se tornar disponível, tanto de potência como de energia.

De modo a se resumir a situação, o Tratado divide igualmente a propriedade da usina binacional, mas possibilita a contratação – por tempo determinado – do direito de uso de partes da usina. Ao se contratar o direito de uso da capacidade de geração da planta (potência

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