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NORDEL – ASSOCIAÇÃO PARA COOPERAÇÃO ENERGÉTICA ENTRE

3 COOPERAÇÃO ENERGÉTICA DOS PAÍSES ESCANDINAVOS

3.1 NORDEL – ASSOCIAÇÃO PARA COOPERAÇÃO ENERGÉTICA ENTRE

NÓRDICOS

A NORDEL, criada em 1963, é composta por Dinamarca, Suécia, Noruega e Finlândia. A Dinamarca, o principal exportador de energia elétrica do grupo, teve significativo aumento em sua produção na década de 1990, em especial no ano de 1994. Apesar de a Islândia pertencer à região escandinava, o país não pertence formalmente à NORDEL. O sistema interligado da NORDEL propicia um ótimo ambiente para a cooperação política e econômica, devido às similaridades culturais dos países membros da NORDEL. Os quatro países não são populosos, mas apresentam altos índices de geração e consumo de energia elétrica, devido ao alto uso de usinas hidroelétricas, que são relativamente baratas e abundantes em toda a região. A Zona Econômica Escandinava (ZEE) surgiu após os esforços de cooperação destes países no período pós Segunda Guerra Mundial. A ZEE introduziu a ideia de completa liberdade na circulação de bens, capital e, especialmente, liberdade no mercado de trabalho entre estes países.

A cooperação no setor elétrico surgiu inicialmente no ano de 1915, com a interligação do primeiro sistema ligando a Suécia à Dinamarca. As trocas de quantidades de energia elétrica entre estes dois países foram fortemente crescentes até a década de 1950, resultando então na necessidade de uma maior coordenação entre as empresas estatais de energia elétrica

destes quatro países. Assim, a NORDEL foi criada em 1963 em resposta a esta situação de cooperação firme e crescente entre Suécia, Dinamarca, Noruega e Finlândia. Sua principal razão de existência era a de se propiciar um fórum para se discutir e melhorar a eficiência da indústria energética regional, através do “planejamento nas áreas de expansão das linhas, operação de sistemas e a compilação destes dados estatísticos relacionados ao setor elétrico”59.

A NORDEL é composta de cinco representantes de geração de energia, empresas de transmissão e distribuição de cada país, com o Presidente da organização sendo eleito para um período de trinta e seis meses. A organização não exige que seus países membros desregulamentem suas economias para o mercado de energia e, como exemplo, vê-se que Finlândia e Suécia tenderam a seguir as experiências desregulamentadoras verificadas pela Noruega na década de 1990, estabelecendo uma economia de mercado que transformou parceiros em competidores, e que fez com que os esforços de cooperação entre os países ficassem mais complicados, inclusive afetando a qualidade na operação dos sistemas. A Dinamarca, porém, não apresentou tendência à desregulamentação de seus mercados. Informações do ano de 1992 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) indicavam a capacidade instalada dos países-membros da NORDEL num total de 84.824 MW e produção anual de 341.179 GWh. Quanto à matriz energética da organização, a energia hidráulica correspondia a 55% da geração, enquanto que outros 31% da energia vinham de origem térmica e 14% nuclear. Dentro do sistema, houve o intercâmbio de 12.810 MW, o que representou 18% da quantidade total e 23.175 GWh, ou 7% da energia gerada, conforme podemos perceber nas tabelas abaixo:

Tabela 2.1.1: Capacidade Instalada da NORDEL em 1993 (valores em MW)

Dinamarca Finlândia Noruega Suécia TOTAL Hidráulica 10 2.748 26.958 16.380 46.096

Nuclear -- 2.310 -- 10.000 12.310

Térmica 9.496 8.488 278 8.156 26.418

TOTAL 9.506 13.546 27.236 34.536 84.824 Fonte: NORDEL, Relatório Anual, 1993.

Tabela 2.1.2: Capacidade de Interligação da NORDEL em 1993 (valores em MW)

59 World Bank. Energy Sector Management Assistance Programme: Development of Regional Electric

De/ Origem Dinamarca Finlândia Noruega Suécia NORDEL Outros TOTAL Dinamarca -- 0 990 2.070 3.060 1.400 4.460 Finlândia 0 -- 50 1.235 1.285 1.065 2.350 Noruega 990 50 -- 2.070 3.110 50 3.160 Suécia 1.670 1.435 2.250 -- 5.355 0 5.355 NORDEL 2.660 1.485 3.290 5.375 12.810 2.515 15.325 Outros 1.400 1.215 50 0 2.665 TOTAL 4.060 2.700 3.340 5.375 15.475 % GERAÇÃO 42.7 29.9 12.3 15.6 18.2 Fonte: NORDEL, Relatório Anual, 1993.

Tabela 2.1.3: Exportações e Importações de Energia Elétrica (em MWh) em 1993

Importações/

Exportações Dinamarca Finlândia Noruega Suécia NORDEL Outros TOTAL Dinamarca -- 0 57 1.474 1.531 3.353 4.484 Finlândia 0 -- 5 691 696 0 696 Noruega 3.159 -- 9.945 0 9.945 Suécia 5.374 4.453 1.176 -- 11.003 0 11.003 NORDEL 8.533 4.558 1.238 8.846 23.175 3.353 26.528 Outros 118 4.384 32 0 4.534 Impostos Totais 8.651 8.942 1.270 8.846 27.705 Impostos Brutos 3.767 8.246 -8.675 -2.157 1.181 Razão % 11.6 13.1 8.7 1.7 0.4

Fonte: NORDEL, Relatório Anual, 1993.

As estatísticas acima apresentadas mostram uma capacidade de interligação dentro da NORDEL da ordem de 18% (dezoito por cento) da capacidade instalada, com diferenças consideráveis existentes entre os países membros da organização. Tais diferenças podem ser explicadas parcialmente pelas características tecnológicas de cada sistema elétrico, e mesmo pela localização geográfica de cada país membro da NORDEL. Por exemplo, a Dinamarca apresenta a maior capacidade de interligação de sistemas, enquanto a Noruega apresenta a menor. As razões entre importação e exportação de energia elétrica variam forte e sazonalmente, de acordo com as estações do ano para aqueles países mais dependentes da energia hidráulica, como Finlândia, Suécia ou Noruega. Os quatro estados-membros da NORDEL perseguem uma estratégia de autossuficiência, e mesmo no âmbito do intercâmbio de cooperação, cada país dá a devida prioridade e precedência à variável consumo doméstico. Em meados da década de 1990, Dinamarca e Finlândia se tornaram mais dependentes de importações de energia elétrica, enquanto a Noruega se tornou exportadora líquida de tal

“commodity”, e a Suécia com saldo próximo a zero, ou seja, tinha volume total de

exportações quase igualado ao total de importações ao longo do ano, sendo observadas as sazonalidades (estações do ano) dos períodos anuais analisados. Pelo mapa abaixo, percebe-se

que a maior parte das linhas de transmissão que ligam os países da região escandinava é a de 380-400 kV (em vermelho), e que na Noruega e Suécia predominam as usinas hidrelétricas convencionais, enquanto que na Finlândia e Dinamarca predominam as fontes térmicas (sejam nucleares e/ ou carvão/ óleo diesel).

O sistema da NORDEL está conectado à parte central do continente europeu, constituído pelo sistema chamado “Union for the Co-ordination of Transmission of Electricity” (UCTE) ou, na tradução livre, união para a coordenação da transmissão de eletricidade, por meio de cabos submarinos em corrente contínua de grande capacidade (incluindo a parte continental da Dinamarca). As trocas de energia interpaíses do sistema da NORDEL podem alcançar 2.700 MW na interligação entre a Noruega e a Suécia e 1.070 MW entre a Noruega e a Finlândia. Os países da NORDEL se interconectam à Rússia através da Finlândia (conexão “back to back” de 1.000 MW, ou seja, uma conexão unitária) e do norte da Noruega (conexão fraca de 50 MW). Os quatro países escandinavos do bloco – Dinamarca, Noruega, Finlândia e Suécia – juntamente com a Islândia, caracterizam-se por uma forte representatividade da geração hidrelétrica em sua matriz energética (algo em torno de 61%), em um total de 89 GW de capacidade instalada.

As capacidades de interligação dentro da NORDEL e outros países europeus da vizinhança estão detalhadas na Figura abaixo:

Figura 2.1: linhas de transmissão do Mar Báltico para o restante do continente europeu

Fonte: Fundação Climática Européia (European Climate Foundation), Relatório de Cooperação Fronteiriça do Setor Elétrico – O Exemplo Nórdico (2014).

Os países-membros da NORDEL entendem que, apesar de certas restrições institucionais, os esforços pela obtenção da autossuficiência e vários aspectos organizacionais possam causar certos danos ao “pool”, mas que ganhos em eficiência, escala e,

consequentemente, sinergias podem ser alcançadas através da cooperação através da interligação de linhas de transmissão entre os países membros e seus sistemas elétricos. Já é tido como um verdadeiro ativo da região esta história de sucesso de cooperação energética, política e econômica dos países escandinavos, o que pode ser percebida inclusive pelas semelhanças culturais e linguísticas dos países-membros da NORDEL. Porém, alguns benefícios em potencial desta cooperação centenária são ameaçados por dois fatores, um de curto e outro de longo prazo: no curto prazo, não há consenso entre os países nórdicos a respeito da teoria econômica dos custos marginais e, no longo, a opção da Noruega por não substituir suas usinas hidroelétricas de baixo custo por termelétricas de maior custo usadas pelos parceiros vizinhos, como consequência de políticas de autossuficiência. O “paper” do

Banco Mundial chamado “Development of Regional Power Networks”60 resume importantes lições das experiências da NORDEL como um “pool” dos quatro países escandinavos acima mencionados para a cooperação energética, a saber:

(i) do ponto de vista técnico, a interligação dos sistemas elétricos traz muitos benefícios, tais como transferências de tecnologias e informações, melhores coordenações inter-países (inclusive do ponto de vista diplomático), estabilidade nos sistemas de controle e trocas de energia em curto prazo, além do aumento da confiabilidade entre as nações nórdicas;

(ii) vantagens nos processos de integração resultantes da cooperação entre os países, mesmo que a relação entre eles seja historicamente informal, não havendo a necessidade do aumento da burocracia entre os países desde sempre. Tais vantagens não trazem necessariamente compensações financeiras para um ou outro lado da relação, mas mudam os aspectos de um jogo de rivalidade para um jogo de cooperação;

(iii) o processo de desregulamentação ocorrido na Noruega e, a posteriori, na Finlândia e Suécia, fundamentados em suas respectivas economias de mercado, estão baseados em suas respectivas indústrias e seus usos racionais e eficientes da energia (e não no princípio da oferta segura de energia). Desta feita, a redução nos preços desta “commodity” na Noruega aumentou o seu interesse na exportação desta

energia elétrica, e vai ao encontro da tendência dos demais países-membros da NORDEL por cooperar mais e, consequentemente, por se aumentar o volume de energia intercambiado;

(iiiv) A verticalização e a separação entre Geração e Transmissão (G&T) de energia foi também importante fator no desenvolvimento da indústria da energia, já que os donos das linhas de transmissão eram ao mesmo tempo produtores e vendedores. Por exemplo, se uma empresa geradora norueguesa manifestasse o desejo de vender energia elétrica à finlandesa EVS, tal transação obrigatoriamente demandaria uma venda para a empresa sueca Vattenfall que, em contrapartida, revenderia esta energia para a IVO, proprietária das linhas do nordeste finlandês. Tal comércio bilateral, baseado nas “economias divididas” rendeu grandes ganhos a essas intermediárias (IVO e Vattenfall), o que formava uma barreira ao comércio. Com essa separação entre G&T, tal barreira seria superada com a adoção de uma adequada estrutura de impostos

(v) a desregulamentação em países-membros requer uma reorganização institucional regional, o que aumenta os períodos de transição e, consequentemente, desenvolve a cooperação. Aparentemente, o padrão não seria o de criar um “pool” escandinavo e

nem um controle de soberania nacional de transmissão e oferta de energia mas, sim, resultados e duas outras possiblidades: livre acesso a agentes domésticos e estrangeiros no “pool” nacional, e o intercâmbio de energia elétrica entre os

operadores nacionais do “pool”. Tal cenário já ocorre em parte, com o acesso de compradores e vendedores dinamarqueses e suecos ao “pool” norueguês;

(vi) as indústrias da NORDEL enfrentam frequentemente períodos de transição, com várias mudanças regulatórias e estruturais periodicamente em curso. Porém, os interesses conjuntos e a já tradicional cooperação regional conspiram e contribuem para a integração. Há tempos, existe uma percepção de que o intercâmbio energético e as políticas de investimento serão determinadas pelo mercado e que os esforços pela cooperação estarão em sintonia com as políticas de coordenação de transmissão, incluindo o acesso de terceiros a essas políticas”61;

(vii) o processo de desregulamentação vivenciado pela NORDEL, sua entrada na economia de mercado, a desverticalização de seu modelo operacional e a influência da interligação dos sistemas elétricos dão um importante exemplo ao processo de integração energética do Mercosul. Tal processo integração energética, que vem

60 World Bank. Energy Sector Management Assistance Programme: Development of Regional Electric

Power Networks. Washington, 1994.

sendo levado desde a década de 1990 é uma situação que já é realidade no âmbito da NORDEL desde 1963, ou seja, há mais de 52 anos. A integração e a liberalização dos mercados foram a chave do sucesso do modelo da NORDEL, sendo que a cooperação entre seus estados-membros foram a chave para o sucesso da Organização. “A transição deste processo ocorreu como uma medida de integração regional e cooperação, e que contribui para a redução de inequidades e o consequente aumento de qualidade de vida, com intensificação da solidariedade social”62.

A interligação dos sistemas energéticos europeus foi iniciada na década de 1950 e, através do Conselho da Comunidade Europeia para o Carvão e o Aço, se tornou importante ferramenta de integração econômica deste bloco. Tal processo culminou com o Tratado de Maastrich e consolidou a União Europeia como um bloco econômico continental único. Esta tendência de países se integrando à economia global em forma de blocos regionais faz com que o processo de integração dos países da América Latina seja muito importante para a obtenção de objetivos maiores e, também, em um maior contexto. A energia elétrica é um eixo importante deste processo de integração, e a interligação dos sistemas energéticos de Brasil e Argentina devem servir como um “pontapé inicial” para ativação deste processo de integração, levando-se em consideração, principalmente, o vasto potencial de intercâmbio que a região tem a oferecer. Porém, excetuando a Usina Binacional de Itaipu (Brasil e Paraguai), a interligação de sistemas elétricos entre países da América do Sul ainda é bastante incipiente e caminha a passos lentos. É essencial que o processo de integração dos países do Mercosul avance, de modo que atinja também outros países latino-americanos.

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