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CAPÍTULO 1. AGRICULTURA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

1.1. A BUSCA POR UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Neste texto, parte-se do princípio de que não há desenvolvimento sustentável baseado apenas no crescimento econômico onde os ecossistemas são vistos como “recursos” naturais ilimitados e a sociedade como “mão-de-obra” disponível para o mercado.

Segundo Sachs (2009), a efetiva construção de um desenvolvimento sustentável deve partir da emancipação social e da conservação do meio ambiente no qual o crescimento econômico esteja aliado ao “bem-estar” social e à sustentabilidade ambiental mantendo sua capacidade produtiva ao longo do tempo para atender às necessidades das atuais e futuras gerações.

A sociedade capitalista busca estabelecer suas bases através da exploração do trabalho humano e no valor de troca de suas mercadorias sendo que o valor de uso não é priorizado. Está na lógica capitalista a essência do desenvolvimentismo baseado no crescimento econômico. Assim, para Marx, o trabalho foi transformado pela sociedade capitalista em um elemento subordinado ao capital e à propriedade privada, pois:

o trabalhador se torna tanto mais pobre quanto mais riqueza produz, quanto mais a sua produção aumenta em poder e extensão. O trabalhador se torna uma mercadoria tão mais barata quanto mais mercadorias cria. Com a valorização do mundo das coisas (Sachenwelt) aumenta em proporção direta a desvalorização do mundo dos homens (Menschenwelt). O trabalho não produz somente mercadoria; ele produz a si mesmo e ao trabalhador como uma mercadoria, e isto na medida em que produz, de fato, mercadorias em geral. (...) O trabalhador nada pode criar sem a natureza, sem o mundo sensível (Sinnliche). Ela é a matéria na qual o seu trabalho se efetiva, na qual [o trabalho] é ativo, [e] a partir da qual e por meio da qual [o trabalho] produz (...). Quanto mais, portanto, o trabalhador se apropria do mundo externo, da natureza sensível, por meio do seu trabalho, tanto mais ele se priva dos meios de vida segundo um duplo sentido: primeiro, que sempre mais o mundo exterior sensível deixa de ser um objeto pertencente ao seu trabalho, um meio de vida do seu trabalho; segundo, que [o mundo exterior sensível] cessa, cada vez mais, de ser meio de vida no sentido imediato, meio para a subsistência física do trabalhador (Marx 2005, p.176 e 178).

Nessa citação, Marx (2005) demonstra como o capital promove a alienação do trabalho humano para transformá-lo em “trabalho estranhado”; o homem passa a servir ao capital e não às verdadeiras necessidades humanas. Além disso, o

trabalho, alienado ao capital, apropria-se da natureza, não para a subsistência física do trabalhador, mas para a subsistência do sistema capitalista.

O capitalismo, desde sua origem, prioriza o crescimento econômico e defende o fortalecimento do capital e o livre mercado. Assim, os fatores ecológicos e sociais não são preocupações inerentes aos seus princípios. Para Leff (2005), o capitalismo, em sua fase atual, apesar de incorporar algumas ideias ecológicas - devido a sua preocupação com a produção ao longo prazo - não pode realizar um desenvolvimento sustentável que inclua a equidade social, a diversidade cultural, o equilíbrio regional e a autonomia das comunidades.

De acordo com Sachs (2009), o desenvolvimento sustentável está baseado na simultaneidade de três pilares: nos critérios de relevância social, na prudência ecológica e na viabilidade econômica. Além disso, deve-se considerar a consciência ética de responsabilidade de todas as espécies vivas da terra.

Nessa perspectiva, pode-se afirmar que o desenvolvimento sustentável ocorre com a emancipação humana (equidade social, diversidade cultural, valorização das necessidades humanas), com a preservação ambiental (conservação da biodiversidade, preservação dos ecossistemas e recursos naturais) e com um desenvolvimento econômico sustentável e duradouro, no sentido de atender as necessidades das atuais e futuras gerações. O desenvolvimento é sustentável quando abrange prioritariamente a esfera social e ambiental desvinculando-se da lógica capitalista que busca o crescimento econômico em primeiro plano; um desenvolvimento onde a sociedade tenha suas necessidades básicas atendidas e a preservação de suas identidades culturais.

Na atual lógica capitalista, depara-se com inúmeras dificuldades para se alcançar uma mudança estrutural mais profunda, como requer o desenvolvimento sustentável apresentado por inúmeros autores. No entanto, deve-se buscar a ampliação de oportunidades e o fortalecimento de ações voltadas à produção que visem a preservação do meio ambiente e as condições necessárias para a redução das desigualdades sociais e acesso aos meios de produção como forma de resistência a um sistema que busque excluir e degrade o meio ambiente.

Em relação à emancipação humana, pode-se ressaltar a ideia do “desenvolvimento como liberdade” elaborada por Sen (2000,p.52) que afirma que a liberdade das pessoas é o “fim primordial e o principal meio do desenvolvimento”. Para o autor, a avaliação no processo de desenvolvimento não deve ser baseada

em apenas critérios econômicos como o PNB (Produto Nacional Bruto) e na industrialização, pois, estes indicadores não demonstram as reais condições e satisfação social.

Segundo Sen (2000, p.52), a qualidade de vida das populações é avaliada através das liberdades substantivas que “incluem capacidades elementares como, por exemplo, ter condições de evitar privações como a fome, a subnutrição, a morbidez evitável e a morte precoce, ter participação política e liberdade de expressão, etc.”

Nessa forma de considerar o desenvolvimento, busca-se atender primordialmente as necessidades humanas oportunizando os direitos de escolhas, o que fornece aos indivíduos satisfação e “qualidade de vida”. Essa ideia mostra a importância do desenvolvimento que oportunize as diferenças sociais e as liberdades políticas, econômicas e sociais das pessoas. Portanto, um desenvolvimento baseado em pessoas e não apenas no crescimento econômico, independentemente das condições sociais.

Sen (2000) enumera cinco tipos de liberdades instrumentais para o desenvolvimento: 1. liberdade política (direitos à escolhas políticas –eleições livres- com uma participação democrática); 2. Facilidade econômicas (oportunidades de utilizar recursos econômicos com propósito de consumo, produção e troca, assim como, uma melhor distribuição de renda); 3. Oportunidades sociais (acesso à serviços de educação e saúde); 4. Garantias de transparência (necessidades de sinceridade, dessegredo e clareza entre as pessoas) e 5. Segurança protetora (medidas protetoras adotadas pelo Estado em caso de vulnerabilidade social e econômica).

Para o autor, essas liberdades são fundamentais para alcançar o desenvolvimento baseado na liberdade, ou seja, são aspectos que estão diretamente ligados às necessidades humanas, sem desprezar o aspecto econômico. Pode-se associar essa forma de desenvolvimento às ideias de sustentabilidade, no aspecto que tange a um dos alicerces do desenvolvimento sustentável: à esfera social. A questão ambiental, na postura de Sen (2000), não é enfocada, pois sua tese é baseada no desenvolvimento através das liberdades sociais não considerando a dimensão ambiental.

No entanto, considerar as condições e a relevância do desenvolvimento implica em uma análise que inclua também a dimensão ambiental. Pois, a visão de

liberdades possui efetivamente limitações, inclusive estabelecidas pelas condições da natureza, as quais podem ser elementos inibidores, fomentadores ou mesmo restritivos. A perspectiva de desenvolvimento apresentada por Sen (2000), para se efetivar, exige uma mudança radical na concepção de sociedade e nas relações que os sujeitos estabelecem entre si e com a natureza.

Sachs (2009) refuta a ideia de desenvolvimento baseado apenas no crescimento econômico sem relevar as condições sociais e ambientais. O autor critica o otimismo tecnológico, no qual, os problemas de ordem social e ambiental seriam sanados à medida que os países alcançassem um nível elevado de desenvolvimento econômico. Ao mesmo tempo em que o autor crítica a visão de desenvolvimento baseado no aspecto econômico, afirma que a estagnação do crescimento econômico pelos países em desenvolvimento não resolveria os problemas sociais e de pobreza nesses países.

Portanto, segundo Sachs (2009, p.60), deve haver uma reconceitualização de desenvolvimento “como apropriação efetiva de todos os direitos humanos, políticos, sociais, econômicos e culturais, incluindo-se aí o direito coletivo ao meio ambiente”.

Neste sentido, este conceito tende a buscar uma ampliação da apropriação das “riquezas” produzidas pela humanidade, abrangendo toda a população e não a uma pequena parcela da sociedade ou de países que exclua desse processo uma grande massa da população. Essa forma de desenvolvimento é que deve estar na base das políticas públicas.

Para Sachs (2009), o desenvolvimento precisa ser sustentável e, para isso, o autor enfatiza que é essencial o planejamento, mas o mesmo deve estar para além do mercado sendo que este não é capaz de aliar a preservação dos recursos naturais e a equidade social ao crescimento econômico.

Segundo Sachs (2009), deve-se buscar um equilíbrio entre o mercado, o Estado e sociedade civil sendo que as instituições externas ao mercado são necessárias para fiscalizar as suas deficiências.

Aqui, pode-se citar o papel relevante de Organizações Não Governamentais, assim como, movimentos sociais os quais questionam uma ordem estabelecida e, através de sua atuação, buscam mudanças na configuração da sociedade, assim como, na atuação do Estado.

A economia por si só não promove o desenvolvimento sustentável, é necessária a consciência da sociedade e da ação do Estado como mediador para

esse processo. Assim, a busca para o desenvolvimento sustentável tem um longo caminho a ser percorrido e os primeiros passos já estão sendo dados, principalmente ao se relembrar dos movimentos sociais abordados no QUADRO 01 que partem da crítica da atual racionalidade e sugerem uma visão ambiental para a produção

Nesse texto, deter-se-á na análise do desenvolvimento sustentável, apenas no que se refere à agricultura, por ser esta a base da presente pesquisa. A agricultura convencional, do modo como esta sendo praticada, apresenta sérias limitações para a promoção do desenvolvimento rural sustentável abrangendo as esferas sociais e ambientais, além da econômica. É importante analisar quais são os principais problemas apresentados pela forma de produzir implantada com a denominada agricultura moderna no Brasil.

As práticas de agriculturas alternativas como a Agroecologia e Sistemas Agroflorestais – temas desta pesquisa - caracterizam-se por uma alternativa de desenvolvimento rural onde o meio natural e a sociedade são vistas como componentes de um processo que leva ao desenvolvimento, pois propõem uma produção que não agrida o meio ambiente e fortaleça a agricultura familiar.

Entende-se que a Agroecologia é uma opção para o desenvolvimento rural sustentável. No entanto, percebe-se um processo de desterritorialização da Agroecologia no município de Coronel Vivida ao se constatar a desistência de agricultores que tinham adotado uma prática agrícola mais ecológica e o retorno dos mesmos para as práticas convencionais. Assim, no capítulo 4 buscar-se-á entender os fatores que levaram essas famílias a desistirem das práticas agroecológicas para voltar ao cultivo convencional e demonstrar os conflitos existentes entre essas duas formas de agricultura, assim como, as dificuldades da territorialização e afirmação da Agroecologia no município.

O Brasil, ao adotar a agricultura moderna baseada na Revolução Verde, busca a homogeneização das técnicas utilizadas na produção agrícola para várias realidades. Na década de 1960, o governo brasileiro incentivou a aquisição de insumos industrializados pelos agricultores buscando o aumento da produtividade e o desenvolvimento do setor agrícola e industrial. No entanto, ao adotar esse padrão tecnológico extremamente dependente da indústria não se avaliou os riscos ambientais e as condições sociais, tudo em nome do desenvolvimento.

Segundo Ehlers (1999), nos países desenvolvidos, que foram os precursores da agricultura moderna, já havia movimentos contrários ao padrão convencional da agricultura. Na década de 1920 e 1930 surgiram diversas vertentes ligadas à agricultura ecológica, como é o caso da Biodinâmica, Orgânica, Biológica, Natural e a Agroecologia. Essa última faz parte desta pesquisa e será abordada nos próximos capítulos. A partir da década de 1960 e 1970 a crise ambiental levou à disseminação das ideias do conjunto de propostas de uma agricultura alternativa, frente aos problemas ambientais causados pela agricultura convencional.

No entanto, segundo Ehlers (1999), até a década de 1970 a agricultura alternativa era vista com hostilidade, por muitos órgãos governamentais, principalmente nos Estados Unidos. Essa forma de agricultura conquistou mais espaço na década de 1980, quando as “evidências da degradação ambiental e a ineficiência energética dos sistemas produtivos motivaram um grande número de pesquisadores a repensar os fundamentos da agricultura moderna” (p.97)

Segundo Santos, R. (2008), no Brasil, de forma mais específica, a pobreza rural e a concentração de terras também são problemas reforçados pelo chamado processo de modernização da agricultura que tem por objetivo a inserção de produtos químicos, mecanização e modificações genéticas, para promover o aumento da produtividade, sem a preocupação com a distribuição de renda e com o desenvolvimento territorial.

Seguindo esta lógica, as políticas para as áreas rurais priorizam o desenvolvimento baseado no crescimento econômico. Na questão agrícola, pode-se exemplificar esse fato com a modernização da agricultura. A inovação tecnológica e a aplicação dos conhecimentos científicos na agricultura vêm priorizando o produtivismo sem resolver os problemas relacionados à pobreza rural e à emancipação humana (SANTOS R., 2008).

Em sua tese, Santos, R. (2008) discorre sobre o significado do moderno e a noção de desenvolvimento disseminado no Brasil a partir do século XX e a influência no processo de modernização agrícola brasileira. Assim, a ideia do moderno no Brasil passou a centralizar-se no processo de industrialização sendo este processo o responsável pela superação do subdesenvolvimento.

Segundo Bielschowsky (2000, apud Santos, R., 2008, p.61), existem quatro elementos ideológicos fundamentais para o projeto desenvolvimentista:

a)a consciência da necessidade e viabilidade da implantação de um setor industrial para produzir insumo e bens de capital;

b)a consciência da necessidade de criar mecanismos de centralização de recursos financeiros para financiar a acumulação industrial;

c)a formação da ideia do Estado enquanto gestor, planejador e promotor da unificação nacional e da economia;

d)o acirramento do nacionalismo.

Nesta citação, percebe-se a preocupação com o desenvolvimentismo ligada às questões econômicas e produtivas do país. O Estado aparece como o principal agente promotor desse processo através da criação de políticas incentivadoras à industrialização do país e à inserção do mesmo no capitalismo internacional.

Pode-se afirmar que foi isso o que aconteceu com a realidade rural brasileira que, ao se “modernizar”, passou a se subordinar ao espaço urbano e industrial, pois, o que se denomina “modernização” da agricultura, pode ser traduzido pela introdução de mudanças técnicas no processo produtivo dependentes da indústria. Assim:

A constituição de um ramo industrial a montante (meios de produção para a agricultura) e a modernização do ramo industrial a jusante (processamento de produtos agrícolas) passa, necessariamente, pela modernização de uma parcela significativa da agricultura brasileira. Essa agricultura se moderniza, sob influxo dos incentivos do Estado e é induzida tecnologicamente pela indústria, transforma profundamente sua base técnica de meios de produção (DELGADO, 1985, p.35).

Em relação ao processo de modernização da agricultura realizada no Brasil, ficou explícita a política desenvolvimentista nacional que buscava o aumento da produtividade em primeiro lugar. A instituição do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), em 1965, incentivou a adoção do pacote tecnológico da Revolução Verde pelos agricultores e, ao mesmo tempo, estimulou a industrialização dos bens de produção ligados à agricultura, assim como, as agroindústrias.

Para Graziano Neto (1982, p. 27), a modernização da agricultura se caracteriza pelo “processo de transformação capitalista da agricultura que ocorre vinculado às transformações gerais da economia brasileira recente”, no entanto, o autor enfatiza as modificações na organização da produção, que estão além das técnicas introduzidas e atingem as relações sociais.

O autor destaca que o processo de modernização modificou as relações de trabalho no campo, tornando cada vez mais comum a mão-de-obra assalariada e a expropriação dos pequenos produtores de suas terras dando lugar a organizações de produção em moldes empresariais. Assim, a agricultura de subsistência deu lugar a empresas rurais capitalistas ou a empresas familiares que não usam trabalho assalariado, mas mantêm relação com o mercado.

Dessa forma, a modernização na agricultura, que aparece como modelo de desenvolvimento, não é mais do que o aprofundamento das relações capitalistas e das desigualdades sociais e territoriais. A modernização da agricultura brasileira acabou por ampliar as desigualdades sociais e territoriais, assim como os problemas ambientais, ficando longe de propiciar um desenvolvimento sustentável para todos os territórios e classes (SANTOS, R., 2008).

O aumento do êxodo rural provocado pela modernização da agricultura mostra que ela não está sendo benéfica do ponto de vista social. O padrão tecnológico disseminado pela Revolução Verde privilegia a agricultura patronal voltada para o Agronegócio.

No entanto, segundo Santos, R. (2008), o agronegócio também é desenvolvido em pequenas propriedades, mas esse modelo de desenvolvimento está atrelado ao aspecto econômico. Os agricultores familiares, em especial de base camponesa, possuem dificuldades de se adaptar a esse modelo, sendo que essa categoria representa maior autonomia, menor impacto ambiental e social e melhor distribuição de terras.

A autora enfatiza as diferenças territoriais existentes entre os agricultores familiares no Brasil, sendo que alguns conseguem se adaptar às novas técnicas e outros ainda possuem, na base de sua produção, técnicas consideradas rudimentares e modelos de vida próprios. Segundo Santos, R. (2008), a partir da década de 1990, surge um novo enfoque desenvolvimentista baseado nas ideias liberais focado na agricultura familiar.

Nessa década, são desenvolvidas políticas agrícolas voltadas à modernização e ao aumento da produtividade das unidades de produção familiares. O que se percebe é uma transferência das mesmas tecnologias e políticas adotadas em meados da década de 1960 para os agricultores empresariais, ou seja, criaram- se condições de acesso ao crédito para investimento nas propriedades e custeio através de uma nova linha de crédito rural.

No ano de 1996, foi criado o PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), no governo de Fernando Henrique Cardoso. De acordo com o documento de criação do programa o seu objetivo principal é “propiciar condições para o aumento da capacidade produtiva, a geração de empregos e a melhoria da renda, contribuindo para melhora da qualidade de vida e a ampliação da cidadania por parte dos agricultores familiares” (MDA, 2012).

Como mostram os seus objetivos, esse programa continua baseado no desenvolvimento produtivista, mesmo citando que busca melhorar as condições sociais da categoria. Para Santos, R. (2008, p.76), esta modalidade segue os mesmos mecanismos tecnológicos e organizacionais do modelo anterior, conforme a autora precisa-se de uma mudança no modo de produzir, comercializar, e de viver dessa categoria, para haver uma verdadeira mudança no modelo de desenvolvimento.

O modelo de desenvolvimento não pode ser homogeneizador, pois devem ser levadas em consideração as diversas realidades territoriais e sociais. O modelo do agronegócio não se aplica de forma rentável e sustentável à categoria da agricultura familiar. Os mesmos precisam adaptar a sua produção para permanecer e se sustentar nas áreas rurais, pois o modelo disseminado pela Revolução Verde provocou um grande êxodo rural e aumentou a concentração fundiária.

No entanto, as formas de resistências encontradas no campo brasileiro são provas de que o modelo disseminado pela Revolução Verde não homogeneizou por completo as formas de produzir, além de não resolver o problema de concentração de terra e pobreza rural. Os problemas ambientais gerados pela tecnologia aplicada na agricultura moderna, assim como as desigualdades sociais, fazem pensar que o desenvolvimento rural sustentável requer outro modelo. Uma opção seria o resgate de saberes tradicionais e culturais em busca de uma agricultura que seja ambiental, social e economicamente sustentável.

Nesse sentido, buscar-se-á analisar a Agroecologia como uma alternativa para realizar um desenvolvimento rural sustentável onde os agricultores familiares possam permanecer no campo, como modo de vida, com maior dignidade humana e autonomia em relação a atores externos.

A prática agroecológica não prioriza o desenvolvimento setorial, mas busca a otimização territorial articulando todos os elementos (sociais, naturais, culturais, políticos e econômicos) do território para realizar um desenvolvimento sustentável.