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Além das massas, a agricultora produz doces de frutas para o PNAE. É utilizada, para isso, uma máquina recebida da prefeitura pelo grupo de agricultores orgânicos para transformar os alimentos na agroindústria comunitária do Retiro do Pinhal, que atualmente fica no estabelecimento da agricultora.

Os fatores que condicionaram a desistência da agricultura orgânica por parte da agricultora foi principalmente a falta de mão-de-obra, visto que os filhos, que a auxiliavam na agricultura, mudaram-se para a área urbana e a mesma ficou sozinha para lidar com a produção.

A agricultora não pretende voltar a produzir orgânicos devido às dificuldades apresentadas, mas, ela observa o beneficio produção orgânica para a saúde humana e para conservar o meio ambiente.

Em relação à atuação com entidades, a mesma é associada na CRESOL, na qual realizou financiamentos para investir na cozinha industrial e um automóvel para entrega da sua produção. Na época em que era agricultora orgânica, participava da APORPI e mantinha relações com entidades como a ASSESOAR e a Rede Ecovida.

O agricultor L.S foi o último agricultor, dos que compunham o grupo de agricultores orgânicos do Retiro do Pinhal, a desistir. Ele trabalhou com a agricultura orgânica por 11 anos. Atualmente, mantém seu estabelecimento na comunidade, que é administrado por suas irmãs e seus filhos. O casal reside e trabalha na área urbana.

Seu estabelecimento possui área de 19,36 hectares, dos quais 8,76 destinam- se às culturas temporárias (soja, aveia, temperos); 3,63 hectares de culturas permanentes (pastagem); 6,05 hectares, em média, de matas e capoeiras; 1,46 hectares com reflorestamento de eucalipto e 0,17 hectare entre açudes e benfeitorias.

A captação local de água é realizada de fonte protegida, não exigindo tratamento, pois é de boa qualidade, no entanto, em períodos de estiagem prolongada, há falta dela. As águas usadas são destinadas para fossa e o lixo orgânico e dejetos animais são utilizados para adubo.

A renda da família está distribuída entre as atividades desenvolvidas no estabelecimento, aposentadorias das irmãs do agricultor e o emprego do casal na área urbana. O agricultor L.S trabalha de servente de pedreiro e a sua esposa trabalha na empresa de Frango Seva. Juntos, contribuem com 43,2% da renda familiar.

Na propriedade familiar são cultivados temperos, que são comercializados com um supermercado do município. Ademais, a família se dedica à produção de leite em pequena escala, comercializada com um laticínio local. Ambas as atividades, que correspondem a 30% da renda familiar, e as duas aposentadorias, complementam a renda média familiar.

Em relação à produção para consumo, os mesmos dedicam-se à produção de hortaliças, mandioca, batata-doce, batata-salsa, leite, suínos, etc. O valor monetário para o autoconsumo, estimado pela família, é de, aproximadamente, R$ 400,00 por mês.

As responsáveis pelo estabelecimento da família são as irmãs e o filho do agricultor, residentes em uma casa próxima à residência do casal, na mesma propriedade. Outros sim, nos finais de semana, o casal retorna para o estabelecimento auxiliando nas tarefas.

No período em que trabalhou com a agricultura orgânica, o agricultor dedicava-se à produção de hortaliças, que eram comercializadas, principalmente, com a empresa Cantu. Segundo o agricultor, no começo, esta atividade era rentável, a produção era alta, mas, com o tempo, foi decaindo devido ao esgotamento do solo e aos problemas com doenças e insetos.

Os principais motivos que desestimularam o agricultor a produzir orgânicos foram a falta de água e de mão-de-obra. No ano de 2010 o agricultor L.S abandonou a prática orgânica. Nesse ano, ocorreu, na comunidade do Retiro do Pinhal, uma tempestade com a precipitação de granizo, que causou grande prejuízo a ele e aos demais agricultores de hortaliças da comunidade.

Dessa forma, o agricultor não abandonou apenas a agricultura orgânica, mas desistiu de cultivar hortaliças. Apenas se ateve a produzir temperos para comercialização. Assim, a família passou a se dedicar a outras atividades e manter outras relações sociais.

Atualmente, o agricultor é associado à CRESOL, onde realiza financiamentos com a finalidade de investimentos no estabelecimento. Além disso, é associado da ASSESOAR e do STR, no qual faz parte do conselho fiscal.

Quando trabalhava com a agricultura orgânica, o agricultor participava ativamente de reuniões e palestras desenvolvidas por entidades como ASSESOAR, CAPA, SEBRAE, CRESOL sobre a agricultura agroecológica, e recebia certificação

da Rede Ecovida. Segundo o agricultor L.S, ele era um dos principais responsáveis pelo grupo de agricultores orgânicos do Retiro do Pinhal e da APORPI.

Pelo exposto, percebe-se que o grupo de agricultores orgânicos do Retiro do Pinhal foi se desfazendo aos poucos. Os motivos que causam a desterritorialização da Agroecologia na comunidade são comuns entre os agricultores pesquisados.

Apesar de terem se constituído em um grupo organizado, não converteram seus estabelecimentos em agroecossistemas baseados nos princípios ecológicos capazes de se regenerar ao sofrer processos de perturbações, como exprime os princípios da Agroecologia. Percebe-se, nas entrevistas, que os agricultores passaram por um processo de perturbação e desequilíbrio em seus estabelecimentos em função do descontrole de insetos e doenças que atingiram sua produção, os quais não conseguirem reverter, abandonando a prática orgânica, retornando à agricultura convencional.

Como enfatizado no segundo capítulo, os aspectos ecológicos dos agroecossistemas referem-se à diversificação na produção para aproximação da estabilidade e fluxos de energias comparados aos ecossistemas naturais. Entretanto, verifica-se que o grupo pesquisado dedicava-se à prática orgânica, na qual, o principal objetivo era a substituição de insumos químicos por insumos orgânicos, não integrando todos os componentes dos agroecossistemas, dedicando- se à produção intensiva de hortaliças.

Dessa forma, averigou-se que os agricultores não possuíam o conhecimento para resolverem os problemas de produção, mostrando-se descontentes em relação à assistência técnica e à falta de apoio político, o que acabou desestimulando-os a continuar na prática orgânica.

Como frisado no segundo capítulo, de acordo com Floriani e Floriani (2009), a compreensão dos agroecossistemas requer uma abordagem holística sendo indispensável a interdisciplinaridade. Porquanto, a formação destinada aos técnicos, muitas vezes, não os preparam para a compreensão de sistemas complexos como solicita a prática agroecológica.

No próximo capítulo será caracterizado o processo de territorialização da Agroecologia no município. Ao mesmo tempo em que ocorreu o processo de desterritorialização e reterritorialização dos sujeitos que compunham o grupo de agricultores agroecológicos do Retiro do Pinhal, ocorreu a territorialização da Agroecologia no município, por meio dos agricultores que resistiram às dificuldades

enfrentadas pelo grupo e continuaram mantendo seus estabelecimentos orgânicos na comunidade. Os agricultores J.V e A.V, como elencados anteriormente, também faziam parte do grupo, atualmente ambos permanecem comercializando sua produção com a empresa Cantu.

Além desses, analisar-se-á um agroecossistema mais complexo e diversificado aproximando-se ao nível três de conversão destacado por Gliessman (2001) no QUADRO 11. Dessa forma, pode-se comparar diferentes territorializações da Agroecologia no município, pois o agricultor A.L apresenta uma concepção de produção e comercialização diferenciada dos demais agricultores estudados.

A implantação de Sistemas Agroflorestais com a perspectiva agroecológica em três estabelecimentos familiares no município, também se constitui em uma iniciativa que amplia as iniciativas de agriculturas alternativas no município.

CAPÍTULO 5. A TERRITORIALIZAÇÃO DA AGROECOLOGIA EM CORONEL VIVIDA

5.1 SISTEMAS AGROFLORESTAIS EM CORONEL VIVIDA

Em Coronel Vivida foi implantado, a partir de 2010, em três estabelecimentos agropecuários, Sistemas Agroflorestais através do projeto “Tecnologias Ecológicas”. O grupo, constituído por três famílias, é formado por agricultores convencionais que têm intenção, de acordo com as entrevistas, de, no futuro, migrarem para a Agroecologia.

O projeto “Tecnologias Ecológicas” teve início no ano de 2010 e a etapa final está prevista para 2013. Foram beneficiados pelo projeto 13 municípios do sudoeste paranaense (Ampére, Barracão, Bom Jesus do Sul, Capanema, Chopinzinho, Coronel Vivida, Dois Vizinhos, Francisco Beltrão, Manfrinópolis, Planalto, Renascença, Salgado Filho e Santo Antonio do Sudoeste), envolvendo 10 escolas do campo e 58 estabelecimentos familiares (ASSESOAR, 2013).

No projeto, foram realizadas a implantação de quarenta agroflorestas, quatorze cisternas e oito silos secadores ou armazenadores de grãos. De acordo com a ASSESOAR (2012) os objetivos do projeto são: aumentar a oferta de alimentos saudáveis “in natura”, processados ou não, para o consumo das famílias e para comercialização; criar referências de Unidade de Produção e Vida Familiar (UPVFs) produtoras e multiplicadoras de biodiversidade e de iniciativas agroecológicas e promover o debate, processos formativos e mobilização de atores locais capazes de gerar e socializar o conhecimento e impactar as políticas públicas em torno dos temas: produção de alimentos, água e armazenagem nas UPVFs.

Em entrevista, F.G. (2013) da ASSESOAR, afirmou que o projeto “Tecnologias Ecológicas” também possui o objetivo de fornecer subsídios para que agricultores convencionais façam a transição para a produção agroecológica. Além disso, os sistemas agroflorestais, são ricos em diversidade alimentar o que complementa a alimentação familiar, fornecendo uma fonte de renda para as famílias que aderiram ao projeto.

O projeto, portanto, visa fornecer uma alternativa de policultivo para os agricultores, que em alguns casos, possuem o monocultivo como principal atividade

econômica. Ações como esta, buscam promover o desenvolvimento local e multidimensional (natural, social, cultural, político e econômico) do território.

O desenvolvimento territorial, já abordado no capítulo 1, busca a articulação das dimensões do território para promoção de um desenvolvimento sustentável. A articulação de agricultores familiares com as entidades como a ASSESOAR e outras locais, propiciam o que Dematteis (2008) caracteriza como uma relação baseada na rede local dos sujeitos, as quais comunicam diretamente os sujeitos locais do território. Além de articular os agricultores às entidades, a implantação dos SAFs favoreceu um intercâmbio entre os agricultores locais e outras regiões.

Ao implantar os SAFs, os agricultores passaram por diversas formações, como seminários mensais sobre o tema, além disso, realizaram um intercâmbio de três dias na Barra do Turvo no estado de São Paulo (FOTO 07) com a participação de uma pessoa por família que implantou os SAFs e representantes das entidades envolvidas.

FOTO 07 - Intercâmbio em Sistema Agroflorestal no município de Barra do