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As famílias participantes do projeto recebem assistência técnica durante os três anos de duração do projeto (2010-2013). A assistência é realizada por técnicos, na sua maioria formados no curso Técnico em Agroecologia ofertado pela ASSESOAR/IFPR.

No caso dos SAFs de Coronel Vivida, a assistência técnica é de responsabilidade de A.D, participante do projeto. Segundo entrevista com o técnico, a sua formação é em Técnico em Agroecologia, realizada pela ASSESOAR e pelo Instituto Federal do Paraná (IFPR).

Segundo o entrevistado, a principal dificuldade em relação à implantação dos sistemas agroflorestais está na falta de conhecimento sobre o manejo, o apoio técnico restrito, a falta de mão-de-obra e equipamentos, políticas públicas e o espaço de comercialização.

Em relação às dificuldades na comercialização agroecológica relatadas pelo técnico, estão a dificuldade de acesso ao consumidor, um espaço justo no mercado e a dificuldade da aceitação por parte do consumidor de produtos agroecológicos. As agroflorestas implantadas no município ainda não são produtivas por estarem em um estágio inicial de implantação, dessa forma não há comercialização dos produtos agroflorestais.

O QUADRO 13 mostra as principais concepções relacionadas à Agroecologia pelo técnico e alguns detalhes sobre o trabalho por ele realizado.

Concepções e trabalho

técnico Entrevista com o Técnico do projeto “Tecnologias Ecológicas”

Agricultura

orgânica Produção a base de insumos de origem orgânica, sem uso de agroquímicos, mas determinada pelo mercado. Agroecologia Agricultura ecológica, produção baseada em princípios ecológicos, relações

naturais, sem busca externa de insumos. Sistemas

Agroflorestais Sistema produtivo que relaciona culturas anuais com espécies florestais, considerando a comercialização, o ambiente e o produtor Busca de

conhecimento para trabalho com as agroflorestas

Nos vários espaços que discutem este modo de produção, organizações, universidades, livros, etc. inclusive com a prática, que, através da experiência, podem fornecer boas alternativas

Principais técnicas utillizadas nas Agroflorestas

Consorciamento de plantas, caldas, macerados, aplicação de repelentes, uso de plantas alelopáticas

QUADRO 13 - Aspectos qualitativos do trabalho técnico no projeto "Tecnologias Ecológicas"

Percebe-se, a partir do quadro, que o técnico possui concepções bem definidas em relação aos conceitos de agricultura orgânica, agroecológica e Sistemas Agroflorestais. É importante destacar que, o técnico responsável pela assistência das famílias do projeto, também é agricultor e faz parte de uma das famílias que implantou os SAFs. Essa característica demonstra que a relação na ATER agroecológica se faz de forma horizontal, pois, ao mesmo tempo em que o técnico possui uma formação teórica, tem a prática como uma forma de conhecimento empírico.

No entanto, a assistência técnica que as famílias receberão do projeto está limitada a três anos, esse fato pode gerar a desistência dos agricultores, pois, em três anos, as agroflorestas ainda não serão produtivas e não terão adquiridos a resiliência necessária para o equilíbrio natural. Por conta disso, seria importante a continuidade da assistência para a permanência dos SAFs nos estabelecimentos.

Isso não se designa apenas à ASSESOAR, sendo necessária a efetivação de políticas públicas municipais para a continuidade da ATER a essas famílias. No entanto, o que se vê no município, é que há falta de políticas públicas destinadas à Agroecologia, tanto por parte da prefeitura como do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural – EMATER, órgão oficial do estado responsável pela assistência técnica e extensão rural.

Em entrevista ao técnico da EMATER de Coronel Vivida certificou-se da inexistência de trabalhos que contemplem a agricultura agroecológica. As ações da instituição no município estão pautadas na agricultura convencional, dessa forma, não participam do projeto que implantou, ali, os SAFs.

As famílias que implantaram os SAFs no município receberam visitas do técnico para avaliar as condições do estabelecimento e a ideologia das famílias beneficiadas. Foram, também, repassadas informações e esclarecimentos em relação ao projeto que iria ser implantado.

No caso do município, foram selecionados três estabelecimentos que poderiam se adaptar às condições do projeto. As famílias beneficiadas pelo projeto foram as representadas por J.Z, G.V e A.D.

Segundo informações repassadas por E.B (2012) presidente do STR, as entidades tiveram dificuldades em conseguir famílias que estivessem dispostas a implantar um sistema de produção diferenciado como as SAFs. Essa dificuldade é resultado da racionalidade disseminada pelo processo de modernização da

agricultura onde a produção de monoculturas e a utilização intensa de agrotóxicos são predominantes no município.

No projeto, a família beneficiada poderia fazer a conversão para a Agroecologia progressivamente. Num primeiro momento, converteria-se apenas a área destinada à implantação da Agrofloresta correspondente a 5.000 m2. Essa característica se confirmou nesse trabalho de campo onde se verificou que apenas as áreas de agroflorestas permanecem sem a utilização de agrotóxicos, enquanto partes da produção familiar continua sendo convencional.

Em relação às concepções relacionadas à Agroecologia dos três agricultores entrevistados, notou-se a que existe uma compreensão por parte dos mesmos quanto aos conceitos de agricultura orgânica e agroecológica (QUADRO 14).

Agricultor Agricultura

orgânica Agricultura Agroecológica Objetivos na implantação do SAF

A.D. Utilização de insumos orgânicos, com produção voltada para o mercado

Parte dos princípios da natureza.

Entender a interação natural para produzir a partir do que ela fornece.

A busca de um sistema produtivo diferenciado, contrapondo-se ao que o sistema convencional determina.

Ter mais autonomia e provar que é possível produzir diferenciadamente

G.V. Uma agricultura que fornece condições melhores para a saúde humana.

Uma forma de produzir que envolve os elementos da natureza na produção.

Disseminar seu

conhecimento técnico em Agroecologia a pedido da ASSESOAR.

J.Z. Produção sem uso de agrotóxicos, através de uma produção de insumos orgânicos na propriedade

Agricultura que envolve a produção vegetal e animal. Valoriza os microorganismos do solo para a produção orgânica.

Por curiosidade, para ter mais variedade de frutas e conservar o solo.

QUADRO 14 - Concepções teóricas dos agricultores convencionais que implantaram os SAFs

FONTE: Trabalho de Campo, Stasiak (2012

Ao se questionar os objetivos na implantação dos SAFs, percebeu-se que os agricultores ingressaram no projeto devido ao convite realizado pelas entidades locais e a ASSESOAR. O agricultor e técnico do projeto, A.D, enfatizou a importância da implantação de um sistema produtivo diferenciado, já o agricultor J.Z alegou a sua curiosidade e de sua família quanto à vantagem na diversificação da produção de frutas e na conservação do solo.

Nas conversas durante o trabalho de campo com as famílias que aderiram ao projeto, viu-se que a conscientização ecológica e a motivação para implantação das

SAFs partiram dos filhos da família (no caso A.D com 23 anos de idade e G.V com 21 anos de idade) e da esposa do agricultor J.Z (E.Z).

As famílias dos três envolvidos no projeto possuem, no geral, uma racionalidade vinculada à agricultura convencional, diferentemente dos três sujeitos envolvidos no projeto. No caso de A.D e G.V, suas formações técnicas em Agroecologia justificam as suas ideias ligadas a uma agricultura ecológica. Esse fator pode também se tornar limitante porque as famílias não estão inteiramente envolvidas no projeto, no entanto, há a possibilidade de reverter-se em um fator estimulante ao perceberem que um novo sistema produtivo pode ser viável, como enfatiza o entrevistado A.D.

Segundo a Rabelo et. al. (2011, p. 23), foram observados alguns critérios na implantação das SAFs na região sudoeste do Paraná, como:

-Características da área: insolação, incidência de ventos frios, condições de solo, relevo e microclima da região;

-na escolha das espécies: pensar no alimento para as diversas vidas: as pessoas, as plantas e a fauna da região;

-as demandas da cidade ou região (ex: lenha, madeira, frutas, etc.); -as possibilidades de comercialização dos produtos da agrofloresta; -implantar espécies de ciclos curtos, médios e longos, sempre observando os diferentes patamares de altura alcançados pelas plantas;

-a função de cada espécie na floresta e o extrato que ocupa;

-implantar árvores em maior quantidade do que a que realmente irá permanecer pois, através da seleção dos melhores indivíduos – que permanecerão na área – as demais servirão de matéria orgânica; -manter o solo sempre coberto, seja por vegetação viva ou por palhada; e

-disponibilidade da família em participar dos diferentes processos formativos, bem como auxiliar as outras famílias nos mutirões de implantação.

Em Coronel Vivida, assim como nos demais municípios incluídos no projeto, os SAFs foram implantadas no modelo de cultivos em faixa, caracterizado no capítulo 2 com base em Gliessman (2001). Na área, foram plantadas fileiras de espécies frutíferas nativas ou exóticas com a distância de 3m por 3m e fileiras com espécies florestais madeiráveis com distanciamento de 6m por 9m, em média. Além disso, foram incorporadas entre as fileiras, linhas de adubação verde permanente e espécies temporárias como abobrinha, tomate, pimentas, hortaliças, etc., as quais foram determinadas por cada família. As principais espécies plantadas no município estão relacionadas no QUADRO 15.

Agricultor Área Mudas frutíferas Mudas Nativas/ Madeiráv eis

Adubação

verde Cultivos consorciados Principais dificuldades Principais Benefícios

A.D. 5.000

m2 Ponkan, Goiaba branca e vermelha, Caqui,Nozes, Montenegrina, Cereja, Araça, Lima, Lichia,Jabuticaba, Carambola, Laranja, Limão, Acerola, Manga, Fruta do Conde, Abacaxi, Guabiju, Guabiroba, Pitanga, Amora, Abacate, Nêspera, Maracujá.

Maricá, Ipê Roxo, Angico, Cedro, Pinheiro Feijão de porco, Bananeira, Guandu, Ervilhaca, Azevém, Mucuna. NÃO

INFORMADO - pesquisa na área; Falta de - Falta de equipamento adequado; - Mão-de-obra -Não possui dependência de insumos externos; -Mais autonomia; -Preserva o meio- ambiente e valoriza a sociedade. G.V. NÃO INFORMADO -Mão-de-obra; -Controle das formigas; -Mudas de má qualidade. -Produção de alimento mais saudável; -O objetivo da SAFs não é econômico. J.Z. Feijão de vagem, Abobrinha, Fava, Melão, Melancia, Pipoca, Milho, Moranga. -Controlar a grama que estava na área antes da implantação da SAFs; -Falta de mão-de- obra; -Mudas de má qualidade. -Melhorou a fertilidade do solo; -Melhor aproveitamento do espaço, cultivando frutas com hortaliças;

QUADRO 15 - Principais espécies plantadas nas agroflorestas de Coronel Vivida, principais dificuldades e vantagens apontadas pelos agricultores

As espécies plantadas nos Sistemas Agroflorestais do município são as mesmas nos três SAFs variando apenas nas quantidades de mudas. Para plantar as mudas recebidas gratuitamente, foram feitos mutirões entre as famílias do projeto de Coronel Vivida e uma família de Chopinzinho (FOTO 08). As mudas foram adquiridas com recursos da Fundação Interamericana (IAF) em viveiros municipais de São Jorge e Coronel Vivida, segundo F.G (2012), também foram entregues às famílias sementes de: maracujá, abobrinha, pimenta, tomate rasteiro, jiló, quiabo, mamão, feijão de vagem, gergelim, pepino e pimentão rasteiro.

Além das mudas e sementes fornecidas, também eram plantadas e semeadas espécies que as famílias já tinham.

FOTO 08 - Mutirão para implantação de Agrofloresta no establecimento de