• Nenhum resultado encontrado

3. Estrutura da Indústria e Padrão de Concorrência

3.2 A cadeia têxtil e confecções

A produção da indústria têxtil é caracterizada principalmente por bens de consumo não duráveis, todavia, os produtos têxteis também são usados em diversos processos produtivos em outros setores industriais. Há uma gama diversificada de produtos desta indústria entre as quais se destacam os tecidos para vestuário, – que podem ser fabricados com fibras de

origem natural, sintética, artificial, ou mistos – em calçados, linha de decoração, – cortinas, estofados, tapetes – e também como insumo intermediário – no setor automotivo, aeronáutico - entre outras utilizações.

Esta indústria é composta por diversos elos encadeados que dão corpo a sua dinâmica produtiva. Para o IEL/CNI (2000) a cadeia têxtil pode ser dividia pelos setores de fiação, tecelagem e malharia, acabamento, e finalmente pelo elo de confecções. Todavia para o Instituto de Estudos e Marketing Industrial – IEMI (2005), a indústria têxtil pode ser divida em três segmentos, os fornecedores de fibras e filamentos, tanto naturais como sintéticos, o setor manufatureiro de fios, tecidos e malhas e o setor de confecção. Finalmente, para Prochnik (2002), a cadeia têxtil-confecções é composta por seis elos principais: o beneficiamento de fibras naturais, fiação e tecelagem de têxteis naturais, fiação e tecelagem de têxteis químicos, outras indústrias de tecelagem, malharia e vestuário. A Figura 3.1 apresenta detalhadamente como estão dispostos os elos na cadeia têxtil, segundo a perspectiva de Prochnik (2002).

O segmento de fiação pode ser desagregado inicialmente pela matéria-prima, seja de fibras naturais, seja de fibras artificiais. A produção de fibras naturais está relacionada com a produção agrícola de gêneros vegetais e a criação de algumas espécies animais (notadamente o carneiro) que fornecem fibras para a confecção de fios. Este tipo de fibra está sujeira em grande medida à sazonalidade da produção agrícola, podendo ser afetados pelas variações climáticas e a ocorrência de pragas nas plantações ou de doenças nos animais.

O segundo grupo de fibras, diz respeito àquelas de origem químicas que englobam as artificiais e as sintéticas, que estão em grande medida relacionadas com o petróleo e o desenvolvimento tecnológico da química fina. Este tipo de fibra têxtil, apesar de não sofrer com a sazonalidade da produção agrícola, sofre interferência do preço do petróleo no mercado internacional. Também é importante destacar que a produção das fibras químicas envolve um sofisticado processo de desenvolvimento tecnológico para a obtenção dos filamentos, de maneira que os produtos têxteis derivados deste tipo de fibra, são hoje a vanguarda tecnológica desta cadeia, seja pelas características estéticas que estes produtos

apresentam, seja pela praticidade no manuseio (processo de lavagem, não é necessário passar a ferro, entre outras), seja pela maior produtividade no processo de tecelagem, etc.

Fonte: Prochnik, 2002.

De uma maneira geral as empresas que compõe o elo de fiação são empresas de grande porte, e em muitos casos são empresas multinacionais, notadamente, as empresas produtoras de fibras artificiais. O fato de serem empresas de grande porte, e a necessidade de constantes investimentos em P&D, torna estas empresas intensivas em capital. Outra característica importante deste elo é o relacionamento que deve haver entre a fiação e o elo produtor de máquinas e equipamentos. Este relacionamento envolve a produção de bens de capital que sejam capazes de transformar as fibras desenvolvidas pelo elo de fiação, reduzindo o tempo de produção e a ocorrência de defeitos e perdas durante o processo produtivo.

É importante destacar, ainda que o processo de reestruturação deste setor durante a década de 1990 seja tratado mais à frente, que segundo Prochnik (2002) e o IEL/CNA/SEBRAE (2000), o setor de fiação foi o que menos se modernizou e investiu no Brasil neste período de reestruturação produtiva. Este efeito pode estar em grande medida relacionado com a especialização brasileira na produção de tecidos derivados de fibras naturais (esta questão também será discutida de maneira mais pormenorizada mais adiante).

O segmento de tecelagem e malharia é o que apresenta as maiores relações para frente e para trás dentro da cadeia, deste modo, se configurando como a etapa mais importante da cadeia têxtil, já que é nela que são transformados os fios em tecido propriamente dito. Esse processo se dá através do entrelaçamento de conjuntos de fios em ângulos retos, realizados por um tear. Entretanto, para que este processo possa ser realizado é necessária a preparação prévia do fio, essa preparação dá origem ao urdume, que nada mais é que uma bobina de fios longitudinais que serão entrelaçados por fios transversais, a trama.

Assim como o elo de fiação, o elo de tecelagem também é intensivo em capital e escalas de produção. Isso porque ele depende da utilização de bens de capital sofisticados, com alta produtividade e baixo volume de falhas na produção e do estabelecimento de laboratórios de P&D e estúdios de design. Nesta etapa também recebe importância a adoção de softwares tais como o CAD-CAM que representam ganhos significativos para a composição dos tecidos em termos de quantos fios de urdume e de trama por centímetro o tecido será composto. Todavia, sua trajetória tecnológica depende diretamente de sua interação com os

setores de bens de capital e o setor de fiação, já que é nestes setores que surgem os incrementos tecnológicos mais substantivos de toda a cadeia têxtil.

O segmento de beneficiamento também é dependente da dinâmica tecnológica e inovativa do setor químico, assim como o setor de fiação, já que os processos e tratamentos deste setor são grandemente beneficiados com as inovações do setor químico. A introdução de novas matérias primas para o tratamento dos tecidos no momento do tingimento, novas cores, estampas e novos tipos de emborrachamento, são inovações relevantes para este setor e trazem grandes vantagens competitivas em termos de diferenciação de produtos. Também aqui neste elo são relevantes as inovações em processo, já que processos mais limpos e mais eficientes incrementam a qualidade dos produtos e reduzem perdas oriundas do processo de tinturaria. É importante destacar que os avanços obtidos com a nanotecnologia nos fios tem impactado positivamente nesta etapa de produção.

O segmento de confecções vem ganhando importância dentro da dinâmica da cadeia têxtil. Tal efeito está relacionado ao fato de que com o grande aumento da proporção da população urbana, tanto em relação ao Brasil, como na maioria dos países desenvolvidos do mundo, a aquisição de indumentárias já confeccionadas foi aumentando, notadamente, durante o século XX. Tal movimento é corroborado com a redução de importância das profissões de alfaiate e modista ou costureiras nos centros urbanos. Todavia, ainda que a etapa de confecção tenha ganhado importância no atual estágio de desenvolvimento da cadeia têxtil internacional, esta etapa ainda está em grande medida baseada na utilização de mão-de-obra no processo produtivo. É importante destacar que houve esforços em busca de soluções tecnológicas que reduzissem a dependência da mão-de-obra nos últimos anos como máquinas de cortar a laser, máquinas de costura mais eficientes, máquinas de bordar eletrônicas, e a adoção de softwares para desenvolver o layout das roupas.

Todavia, neste elo produtivo encontra-se um dos pontos mais importantes da cadeia, já que é na etapa de confecção que se dá o contorno final do produto que foi sendo elaborado ao longo da cadeia, e como tal o design que ira receber este produto reverte-se em um elemento fundamental de agregação de valor. Ainda que a composição do tecido, a gramatura, textura, o efeito obtido na etapa de tecelagem e a forma como ele foi acabado tenham interferência no produto final, o design representa a pedra fundamental da

capacidade mercadológica dos produtos. Desta maneira, em termos mercadológicos além da qualidade e funcionalidade dos tecidos produzidos ao longo da cadeia, o design e a marca se constituem no atual padrão de concorrência os fatores determinantes para o êxito ou o fracasso de determinado produto têxtil.

Finalmente, é importante ressaltar que as mudanças que podem ocorrer nos diferentes elos da cadeia têxtil podem surtir efeitos para à frente e para traz, conforme a posição na cadeia em que a mudança surgir, de maneira que mudanças no elo de confecções podem repercutir em todas as etapas anteriores a esta, mudando até mesmo a composição do fio para fazer face a necessidade do elo de confecções. Deste modo, na atualidade como diversas empresas acabam assumindo a governança da cadeia, isto acaba surtindo efeitos sobre todos os elos, em maior ou menor grau.

3.3 A distribuição mundial da cadeia têxtil-confecções e a governança