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2. Base teórica evolucionária

2.7 Estratégias tecnológicas

Em um panorama de rápida dinâmica tecnológica imprime nas empresas a necessidade de criar competências para responder os estímulos e a criação de perspectivas futuras sobre sua posição as mudanças que estão por vir. Desenvolver estratégias tecnológicas é vital para as empresas possam sobreviver e se desenvolver, segundo Freeman (1975) se não inovar é morrer, por outro lado, os processos inovativos são cercados por grande incerteza de sucesso, pelo fato de que não existem garantias de que o processo inovativo que as firmas ou que suas concorrentes estão desenvolvendo será exitoso. Caso a empresa faça a opção de arcar com os riscos de inovar, ela irá procurar controlar de alguma forma os riscos inerentes a estas atividades, de maneira que um planejamento de como serão desenvolvidos

Firmas dominadas por fornecedores Empresas baseadas em ciência Empresas baseadas em escala Firmas especializadas em fornecer equipamentos

os processos de busca por inovação são fundamentais para controlar tais riscos. Este planejamento pode ser entendido como as estratégias tecnológicas das firmas.

Entretanto, o estabelecimento de estratégias tecnológicas também está relacionado com a “personalidade” das empresas, ou seja, com as características das rotinas que vão sendo desenvolvidas pelas firmas desde sua fundação. A forma como as rotinas foram desenvolvidas serão decisivas para configurar as estratégias tecnológicas da empresa. Já que é através das rotinas da firma que será possível acumular conhecimento para inovar, absorver as sinalizações que o ambiente externo emana sobre quais serão as tendências futuras.

Também as características setoriais serão importantes na definição de como serão definidas estas estratégias, já que em setores onde há maior competitividade, ou então em que a base tecnológica ainda não estiver totalmente definida, as empresas deverão adotar estratégias de desenvolvimento tecnológico mais agressivo, que as empresas que estiverem em setores mais maduros, ou em que a competição for menos acirrada. Tais fatores compõe um conjunto de motivações para que existam diferentes posicionamentos das empresas em relação às suas estratégias tecnológicas.

Freeman (1975) observado o comportamento das empresas observou que se pode verificar diferentes estratégias que vão desde inovadoras ofensivas, até as tradicionais ou oportunistas. Mesmo dentro de um mesmo setor, supondo para facilitar o raciocínio que seja um setor de tecnologia bastante dinâmica, as empresas podem apresentar comportamentos inovativos diversos. Tais diferenças podem estar relacionadas à aversão ao risco de fracasso em suas práticas inovativas, de forma que espera para verificar qual foi o caminho trilhado pelas empresas concorrentes para obter sucesso sobre determinada inovação, como também saberá quais são os caminhos que ela não deve tomar. Todavia, as empresas que optam por se enveredar pelo pioneirismo, ainda que arquem com maior risco, podem gozar de vantagens advindas da vanguarda na descoberta da solução tecnológica.

As empresas inovadoras ofensivas (Freeman, 1975) são caracterizadas por aquelas empresas que estão ligadas a setores mais dinâmicos em relação ao desenvolvimento tecnológico, notadamente naqueles setores em que não há um padrão tecnológico totalmente definido e que existem grandes oportunidades para mudanças paradigmáticas.

De maneira que as empresas inseridas dentro de ambientes como este vislumbram grandes vantagens em investir intensivamente em programas de P&D, desenvolvimento de rotinas que otimizem a circulação de informações dentro do ambiente organizacional e de toda a gama de incentivos que possibilitem a estas empresas agilizar e diversificar o processo inovativo, aumentando a probabilidade de que tais processos sejam exitosos.

Porém, para que as empresas inovadoras ofensivas sintam-se estimuladas a progredir em busca de novas soluções tecnológicas, torna-se necessário a existência de garantias de que as estas empresas poderão gozar de vantagens oriundas da descoberta de novas tecnológica. É inegável, portanto, a importância de um sistema de proteção para as descobertas, seja por meio de patentes ou de outros artifícios que permitam vantagens monopolistas do de participação no mercado. Freeman (1975, p. 260) ressalta esta importância:

Atribuirá mucha importancia a la protección por medio de patentes, puesto que pretende ser la primera o casi primera del mundo, y espera obtener grandes beneficios como monopolista para resarcirse de los cuantiosos costes de su R y D (pesquisa e desenvolvimento em português) así como de los inevitables fracasos.

Empresas com estratégias inovativas mais arrojadas geralmente desenvolvem relações com instituições de pesquisa e/ou universidades como forma de obtenção de conhecimento cientifico. Entretanto, o conhecimento científico por si só não é capaz de garantir que surjam inovação a partir deles. O conhecimento desenvolvido pela empresa através de sua existência e o novo conhecimento obtido através da ciência poderá, através das rotinas e da sistemática busca, produzir inovações tecnológicas. Grande parte do conhecimento necessário ao processo inovativo vem de dentro da própria empresa, já que os desenvolvimentos científicos obtidos junto a centros de pesquisa como universidades, ou instituições públicas de pesquisa oferecem informações relevantes, entretanto não conclusivas, sobre quais serão as características da inovação pretendida. Para Freeman (1975), “não há nenhuma correspondência direta entre as mudanças na ciência e as mudanças tecnológicas. Sua interação é muito complexa e se parece muito com um processo de interpenetração mútua entre novos e velhos conhecimentos”. Nestes termos cabe à empresa ter capacitação para organizar estes conhecimentos de forma que estes

possam gerar as inovações. Tal característica exige que a empresa tenha capacidade de obter deduções sobre estes conhecimentos que até o momento ainda não tinham qualquer conexão entre o mundo científico puro e um produto ou processo prático.

Nas empresas inovadoras ofensivas os laboratórios de P&D têm importância fundamental, já que é através deles que as empresas poderão fazer a ligação entre o conhecimento obtido por fontes externas e o conhecimento gerado dentro do ambiente da organização. Acrescente-se a isto a necessidade de ensaios e protótipos, dada as características da gênese do conhecimento por meio de tentativa e erro, que serão de suma importância para definir qual será a melhor solução tecnológica dentro do espectro de informações disponíveis. Nestes termos, o papel dos departamentos de P&D dentro das firmas inovadoras intensivas é bastante importante para o desenvolvimento das atividades inovativas e na prospecção de novas tecnologias.

Como nem toda empresa está disposta ou preparada para enfrentar os riscos e as incertezas de ser uma inovadora ofensiva uma segunda gama de empresas são as inovadoras defensivas. Estas empresas ainda que não ajam com ousadia em relação ao desenvolvimento tecnológico procuram estar na fronteira do conhecimento necessário para alcançá-lo, sem entretanto, correr os riscos de ter que arcar com os custos de errar. Desta forma, estas empresas também devem manter centros de pesquisa e desenvolvimento e políticas de avanço tecnológico.

Assim que estejam definidas as principais características da inovação, ou que o mercado tenha sinalizado qual é a solução tecnológica que mais se enquadra às suas expectativas estas empresas irão definir qual será sua reação em contrapartida a ação da empresa concorrente. Todavia, este processo não está relacionado a cópia da inovação obtida pela empresa concorrente. As estratégias da empresa inovadora defensiva estão relacionadas a economia dos custos relacionados à tentativa e erro que as pioneiras terão que arcar. Este fato não exclui as empresas defensivas a necessidade de criar competências para desenvolver conhecimento e tecnologia.

Um fator importante para estas empresas é saber exatamente qual é o timing em que elas deverão entrar em ação. Isso porque elas não podem esperar que todo o processo inovativo se desenrole, sob pena de perder o momento adequando de sua inserção na nova

tecnologia. Nestes termos, as empresas inovadoras defensivas, ainda que não façam investimentos na busca de inovações “às cegas”, devem acompanhar a fronteira do desenvolvimento tecnológico, de forma que sua competitividade se mantenha vivo no mercado. E ainda que não sejam pioneiras, devem manter em sua organização, técnicos, engenheiros e funcionários capacitados para que possam se adequar à dinâmica tecnológica. Neste caso , a empresa:

Si desea obtener o retener una participación grande en el mercado ha de diseñar un modelo por lo menos tan bueno como los primeros innovadores, y preferiblemente incorporar algunos adelantos técnicos que diferencien su producto, pero a un coste más bajo. En consecuencia, el desarrollo experimental y el diseño son tan importantes para el innovador “defensivo” como para el innovador “ofensivo” (Freeman, 1975, p. 267).

É freqüente que empresas que atuam nos setores mais dinâmicos como, por exemplo, o eletrônico e o químico, fiquem alternando posições entre as inovadoras ofensivas e defensivas nos mais diversos segmentos oferecidos por estas empresas, em virtude de suas competências para este ou aquele produto específico. Também é possível que as subsidiárias destas empresas que são ofensivas em seus países de origem, adotem estratégias defensivas em economias menos desenvolvidas motivadas por questões de âmbito regional e local. Todavia, é crucial que estas empresas estejam atentas em relação a sua competitividade inovativa dentro destes contextos.

Uma terceira gama de empresas são aquelas que por serem imitativas e dependentes se contentam em ficar para trás no processo tecnológico e inovativo. Nestas empresas, o processo de inovação vem através da cópia dos produtos e das tecnologias de outras empresas. Com efeito, estas empresas são desenvolvem competência para acompanhar de perto a dinâmica tecnológica do setor em que elas estão inseridas. Cabe salientar que muitas das vezes esta não é uma opção, mas é a estratégia que resta a esta empresa devido ao hiato tecnológico que se formou entre este tipo de empresa e as que se encontram mais perto da fronteira das novas tecnologias.

Quando o atraso tecnológico destas empresas é largo, em relação às empresas líderes, o processo de cópia da tecnologia dispensa o uso e patentes, dado o tempo em que esta tecnologia já está disseminada em todo o mercado, as empresas líderes estão mais

preocupadas com as tecnologias que ainda ofereçam a oportunidade de ganhos extraordinários advindos da exclusividade e da novidade. Entretanto, quando o hiato que separa esta empresas das empresas líderes é menor, há a necessidade de aquisição de patentes para utilizar-se da tecnologia desenvolvida por terceiros, por meio do pagamento de royalties.

Nem sempre a lucratividade destas empresas imitativas ou dependentes será menor que a das empresas com maior capacidade inovativa, já que estas empresas poderão estar estabelecidas em países onde estas empresas encontram outras vantagens competitivas, como matéria-prima e mão-de-obra mais barata. Desta forma estas empresas podem competir de igual para igual mesmo a despeito do hiato tecnológico.

Finalmente, as empresas tradicionais ou oportunistas são aquelas que não encontram razão para implementar mudanças tecnológicas em seus produtos. Estas empresas de uma maneira sumarizada têm produtos que encontram aceitação na forma em que eles estão, e desta maneira não há grande necessidade de se fazer grandes investigações tecnológicas para melhorar suas qualidades. Também podem ser incluídos neste grupo empresas que realizaram grandes processos de investigação tecnológica e chegaram a uma produção bastante homogênea, um produto regular e tecnologicamente desenvolvido que por um longo período de tempo não precisará passar por um novo processo de modernização. Estas empresas atuam geralmente em setores de tecnologia madura, em que existe pouca flexibilidade de hierarquia entre as empresas, não havendo grandes incentivos em se enveredar pelo desconhecido caminho da descoberta tecnológica.

Nesta categoria de empresas também estão incluídas aquelas empresas que, por estarem localizadas em países em desenvolvimento, e que desenvolveram sistemas de proteção industrial, fazem com que estas empresas não necessitem de destacar grandes investimentos em P&D, desenvolvimento tecnológico e capacitação de pessoal. Para estas empresas, dada as garantias de participação mercadológica sem que hajam riscos oriundos de concorrência tecnológica, os processos inovativos são dispensáveis.

Fonte: elaboração própria a partir de Freeman (1975).

Figura 2.3: Estratégias inovativas das empresas em relação a estratégia e a introdução de tecnologias.

A Figura 2.3 sintetiza como as diferentes estratégias inovativas das empresas podem mudar a introdução de inovações no mercado. Quanto mais próxima a estratégia inovativa estiver de ser caracterizada ofensiva, maior o número de produtos e processos totalmente novos que esta empresa irá disponibilizar no mercado. Nestes termos, à medida que a empresa caminha para um perfil menos ofensivo as inovações vão se tornando mais significativas apenas para a empresa, não proporcionando novos produtos no mercado. Porém, em alguns ramos de atividade com penetração apenas regional, uma inovação em produto novo para a empresa pode representar uma produto novo para a região, sem que esta inovação signifique grande ousadia para a empresa devido ao nível de difusão da tecnologia empregada para este produto.