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A Campanha do Capitão José da Penha

1 Os Partidos Políticos

6 A Campanha do Capitão José da Penha

Q m andato de Alberto M aranhão term inava em 1913 e, por con­ seguinte, a eleição do seu sucessor tinha de realizar-se naquele ano. Estava na m oda, como vimos anteriorm ente, o m ovim ento de "sal­ vação" nacional que derrubou várias oligarquias em 1911 e 1912.

O capitão José da Penha planejara ser o salvador do Rio Grande do Norte. Já em setem bro de 1911, ele fez um a brilhante conferência no Pavilhão Internacional do Rio de Janeiro intitulada Oligarquia, A narquia e Ditadura.15'

Para realizar o seu plano, ele transferiu-se do Rio de Janeiro para o Ceará e contava com o apoio dos filhos do m arechal Herm es 152

da Fonseca, especialm ente o tenente Leônidas I lernies. Dizem os coevos que o desiderato de Dona O rsina Francione da Fonseca, esposa do m arechal, era ver o filho Leônidas governador do Rio Grande do Norte. K José da Penha, amigo da família, m ilitar e norte- rio-grandensc de Angicos, fora escolhido para cum prir essa missão histórica. Aconteceu, porém, que Dona Orsina falecera em 1912 e a cam panha sucessória realizou-se no ano seguinte.

A boataria em torno dessa articulação de José da Penha com a família do m arechal I Jermes era muito grande no Rio Grande do Norte. Para clarear o assunto, os governistas com eçaram a cobrar à oposição o nome do seu candidato ao governo do Fstado. Em res­ posta, os pcnliistas lançaram , no dia 17 de abril de 1913, vários bole­ tins com a foto do "salvador”, apresentando o como o candidato da oposição ao governo do Estado. Diante disso, José da Penha não podia mais m anter o seu plano em sigilo. Por isso, no dia 27 de abril, realizou-se um grande com ício em frente ao Ateneu Norte-Rio- Grandense, no qual José da Penha m andou João Bigois lançara can­ didatura do tenente Leônidas Hermes ao governo do Estado. Naquela ocasião, Bigois apresentou ao povo ali reunido um telegrama que José da Penha enviou ao m arechal 1 lerm es da Fonseca, lançando a can­ didatura do seu filho Leônidas Hermes ao governo do Rio Grande do Norte.1"

O povo aplaudiu deiirantemente o nome do candidato oposicio­ nista. 1 lá dias que os líderes m unicipalistas mais íntim os de José da Penha, atendendo a sua solicitação, telegrafavam diretam ente para o m arechal I lermes, lem brando o nome do seu filho para governar o Estado.

A resposta veio incontinênti, não conforme o plano arquitetado por José da Penha, mas, ao contrário, de acordo com a influência que Pinheiro M achado exercia junto ao m arechal. O texto do telegram a foi o seguinte: 153

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Respondendo ao vosso apelo não compreendo que, no interesse da paz do Estado do qual sois filhos, procureis um estranho que nem sequer conhece esta região e teria o grande inconveniente de ser descendente do Presidente da República,

Não parece, pois, nem digno nem justo o vosso gesto, que viria criar uma grande oligarquia, sistema de governo contra o qual sempre protestei. I lermes R. da Fonsêca (A República, l"-5-l913).

Esse telegram a repercutiu como um a bom ba na situação polí­ tica local: para a oposição, foi um a verdadeira ducha arrefecendo os ânim os de todos os penhistas; para os partidários do governo, um a arm a valorosa para com bater o im petuoso capitão José da Penha.

A resposta do presidente chegou a Natal no dia 1" de maio. No dia seguinte, o líder da "salvação" promoveu um comício no qual, sem continência nem subterfúgio, exercitou a sua facúndia contra o general Pinheiro Machado. A partir de então, José da Penha sentiu que o plano da "salvação” do Rio Grande do Norte, idealizado por ele e os filhos do marechal, começava a sucum bir diante da influência do grande político gaúcho.

T rabalhavam para im pedir o pronunciam ento do m are­ chal Herm es em favor da candidatura do seu filho Leônidas, não som ente Pinheiro Machado, m as tam bém Tavares de Lyra, m em bro da Com issão Executiva do Partido Republicano C onservador.154 Ademais, é m ister ressaltar que o senador Ferreira Chaves era com ­ padre de Pinheiro Machado, chefe da política nacional e protetor das oligarquias.

Não obstante essas dificuldades na cúpula, os penhistas conti­ nuaram insistindo na candidatura do tenente Leônidas I lermes.

Verdade é que, no dia prim eiro de junho, um a plêiade de jovens oposicionistas fundou, na residência do Dr. Augusto Leopoldo, o Centro Cívico Leônidas Herm es. Por aclam ação, foram eleitos os seguintes nom es para dirigi-lo: presidente - dr. José Cobat; vice-

tenente Deolindo Lima; tesoureiro - coronel Aureliano Filho; secre­ tário - dr. José Freire. Ao term inar a sessão, a diretoria passou o seguinte telegrama:

lemos honra comunicar V. F\a. foi fundado hoje, iniciativa moços independentes Centro Cívico Leônidas Hermes. Numerosa assistência. Centro não recuará uma linha seja qual for sorte filhos desta terra, aviltada vinte três anos oligarquia Maranhão. Contamos apoio V. Exa. causa líber tação Rio (irande do Norte. Respeitosas saudações. José Cohat, Presidente (Diário do Natal, 3-6-11)13).

Por outro lado, a im prensa situacionista lembrava ao capitão José da Penha a legislação eleitoral configurada na Lei n° 254, em vigor desde 29 de dezembro de 1907.

() Al t. 2" estabelecia as seguintes condições para um cidadão ser eleito governador do 1 ístado:

1. Ser brasileiro nato;

2. listar no gozo dos direitos políticos; 3. Ser maior de 25 anos;

4. Ter quatro anos de residência ininterrupta no Estado, se for filho deste; e oito, se não for.

Como se vê, nem o tenente Leônidas I lermes, sem domicílio eleitoral aqui, e nem o próprio José da Penha, afastado do Rio Grande do Norte há 15 anos, poderiam legal mente ser candidatos ao governo do Estado.

A sem elhança do que aconteceu por ocasião da sua visita, os trens da Central e da Great W estern transportaram para Natal num erosos líderes e representações políticas de vários municípios do interior potiguar. Iodas as Ligas Femininas, já fundadas no inte­ rior, se fizeram representar. Transportada num a lancha, chegava

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de Macaíba a Banda de Música do Mestre Antônio Andrade para abri­ lhantar a chegada do grande líder.

Na m anhã do dia 19 de março, a cidade acordou com o estam ­ pido de várias girândolas de foguetões. Logo cedo, os penhistas dis­ tribuíram na cidade o seguinte boletim:

Ao povo livre do Rio Grande do Norte

Erguei-vos, povo heróico, para receber o maior dos filhos desta terra. Lembrai-vos que ele é o nosso anjo da guarda, a nossa estrela redentora, um dos mais ardorosos republi­ canos deste país.

Lembrai-vos que este ó o machado destruidor da última oli­ garquia que se precipita no abismo cheio de sombras, cheio de pesares!

Lembrai-vos que o "vencedor jamais vencido" há de libertar o Rio Cirande do Norte.

Recebi, mocidade liberta, povo sofredor, o vosso maior amigo!

Viva a Liberdade! Viva a República!

Viva o Marechal I lermes da Fonseca! Viva o Capitão I. da Penha!

Viva o Tenente Leônidas Hermes!

No com eço da tarde de 19 de março, o vapor Brasil atracava no cais Tavares de Lyra trazendo o "salvador” tão esperado. A m ul­ tidão ali concentrada, portando bandeiras alvirrubras, delirava em vivas e aplausos ao seu grande líder. Após o desem barque do capitão J. da Penha, seguiu-se o préstito pelas ruas Tavares de Lyra, Sachet (boje, Duque de Caxias), praça Augusto Severo e avenida Junqueira Aires até a residência do m ajor Cirineu Vasconcelos. Aí, após um a salva de 21 tiros, o capitão Penha falou à m ultidão que o acom pa­ nhara, dizendo que veio para libertar o Rio Grande do Norte da dom i­ nação da oligarquia M aranhão. D urante o cortejo, a banda do mestre Antônio Andrade tocou a música Vassourinha, canção portuguesa do

início do século. D eolindo Lima pôs-lhe um a letra bem pertinente aos ideais oposicionistas:

( xipitão). da Penha (BIS) Denodado potiguar, Vem a Bela Salinesia (BIS) Os "Marretas" derrotar.

Potiguarânia, há muito escravizada, Hrgue a cabeça, ó pátria muito amada, Mostra ao mundo a tua majestade! Viva! Viva! Viva! a I .iherdade! Vem o bravo Capitáo (BIS) Libertara nossa terra Pelo voto ou pela força (BIS) Pela paz ou pela guerra. Lstrihilho

Vencedor jamais vencido (BIS) 0 valente Capitáo,

Ama o povo que o recebe (BIS) Coma maior satisfação.

A reação do governo veio incontinônti. No m esm o dia em que chegou o capitão J. da Penha, o l)r. Alherto M aranhão fez puhlicar n/1 República ;i seguinte declaração:

1 A candidatura do Senador ferreira Chaves não é uma