• Nenhum resultado encontrado

O Governo I lermos da Fonseca e as “Salvações do Norte” Após a vitória que obteve nas urnas contra o célebre Dr Ru

1 Os Partidos Políticos

5 O Governo I lermos da Fonseca e as “Salvações do Norte” Após a vitória que obteve nas urnas contra o célebre Dr Ru

Barbosa, o m arechal Hermes Rodrigues da Fonseca, sobrinho do m arechal Deodoro, tomou posse na Presidência da República a 15 de novembro de 1910. Contava 55 anos de idade e era casado com Dona Orsina Francione da Fonseca

Seu governo foi de perm anente instabilidade política devido às várias confrontações entre as oligarquias regionais que o apoiaram e os grupos m ilitares desejosos de exercer o poder. Por outro lado, mais um elem ento perturbador do seu governo foi a presença de vários m ilitares na política, form ando assim um a oligarquia em âm bito federal. Seu irmão, )oão Severianoda Fonseca, vulgo Jangotc, elege­ ra-se deputado federal pelo Rio (irande do Sul; Mário 1 lermes, filho do presidente, foi eleito deputado pela Bahia aos 21 anos de idade. Outro filho, Fonseca I lermes, estava na política desde o Governo Provisório e, por último, elegera-se deputado pelo Distrito Federal; ainda cabe lem brar o general Clodoaldo da Fonseca, primo do presi­ dente, que tornou se o "salvador” de Alagoas após ter derrubado a oli­ garquia Malta. H para "salvar o Rio (Irande do Norte o nome escalado eraoseu filho Feônidas I lermes.

Além disso, esse governo sofria perm anentem ente a interfe­ rência política do general José Gomes Pinheiro Machado, chefe da política gaúcha e líder de todas as oligarquias a quem I lerm es da Fonseca devia praticam enteasua vitória.

Pinheiro M achado era, por conseguinte, a grande em inência parda a conduzir, com malícia e habilidade incríveis, os fios condu­ tores do poder republicano.

Para m anter nos bastidores o controle do governo, Pinheiro M achado teve de lutar contra a própria influência de Mário 1 lermes, junto ao m arechal. Nessa luta, o líder gaúcho saiu meio desgastado. Mesmo assim, esperou um a oportunidade para reabilitar-se.

O m arechal Hermes, enviuvando em 1912, casou-se com a jovem (27 anos) Nair de Tefé, filha do Barão de Tefé. Fncantadocom a beleza, a inteligência e a desenvoltura da jovem esposa, o m arechal- presidente esquece um pouco as tarefas peculiares ao exercício do

196

poder. Isso ensejou um a retom ada de prestígio por parte de Pinheiro Machado. E a grande estratégia planejada pelo líder gaúcho foi eleger senador, pelo Amazonas, o genro, o Barão de Tefé.

Gilberto Amaro, seu secretário particular, ao com entar esse gesto bajulatório, confessa ter dito ao general Pinheiro M achado o seguinte:

O senhor elegendo o Barão de Tefé porque se tornara sogro do marechal, desfigurou-se não só aos olhos do público, como perante os amigos.

Até aí sua política tinha um sentido. Sustentar, garantiras oligarquias os Neri no Amazonas, os Lemos no Pará, os Malta em Alagoas - era compreensível porque, como me disse uma vez. "não se pode proceder a ablação num orga­ nismo de órgãos podres sem sacrificar todo o organismo (o partido)”.

Adulando o marechal, Pinheiro equiparava-se aos adu­ ladores e serviçais do Palácio. )á lhe tinham pespegado o apelido de ordenança da vitória, mas o título especificava uma abdicação, não rotulava uma indignidade."7

A fim de am pliar o seu poder político e neutralizar a ação dos m ilitares e civis oposicionistas, Pinheiro Machado resolveu criar um a nova agrem iação política, isto é, o Partido Republicano Conservador (PRC).

Após o retorno do m arechal 1 lerm es de sua viagem à Europa, no final de outubro de 1910, Pinheiro M achado tomou as providên­ cias necessárias à form ação do referido partido. Logo no dia 5 de novem bro foi redigido o Ato de Convocação, assinado por Quintino Bocaiuva, Pinheiro Machado, Tavares de Lyra, Peneira Chaves e os dem ais chefes políticos dos outros estados.

Na reunião de 29 de novembro foi eleita a Comissão Executiva do PRC, assim constituída: Q uintino Bocaiuva, Bias Portes, Urbano 147

147 AMADO, Gilberto. Mocidade no Rio e Primeira Viagem à Europa. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 19.%, p. .'199-400.

dos Santos, Tavares de Lyra, Leopoldo Bulhões, Siqueira Menezes e Antônio Azevedo. Pinheiro M achado preferiu não participar, pois conseguira eleger para presidi-la Quintino Bocaiuva, homem de sua inteira confiança."11

In stru m en talizad o com essa nova agrem iação política, Pinheiro M achado pensava que controlaria os grupos dissidentes situados dentro do próprio governo. Na prática, o curso da política tomou outro rum o de graves consequências.

A vitória de I lermes da Fonseca resultou de um a convergência m om entânea das oligarquias estaduais lideradas por Pinheiro M achado e de grupos m ilitares fiéis aos ideais republicanos. Hsses sem pre viram na política oligárquica reinante em cada estado a deturpação daqueles ideais democráticos.

Posto diante dessas duas correntes, o m arechal não sabia o que fazer. Como observa Carone,

pressionado por forças que pretendem uma continuidade do status quo - Pinheiro Machado e Partido Republicano Conservador-e por elementos que ambicionam conquistar o poder - minorias estaduais e Exército - I lermes titubeia, não sabendo qual a atitude que deve tomar. Muitas vezes, seus partidários militares e civis colocam-no diante de uma realidade da qual, geralmente, ele não podia fugir.149

No calendário eleitoral de cada estado, as sucessões governa­ m entais se fizeram durante os anos de 1911 e 1912. F.sse foi o período das grandes lutas políticas denom inadas pela oposição de "salvações nacionais", que no Norte e Nordeste se cham avam de “salvações do Norte”.

148 SI 1 .VA, (aro. Pinheiro Machado. Brasília: F.ditora Universidade de Brasília, 1982, p. 100.

119 C.\BOM l dgar. A Republica Velha (Fvolução Política). 2. ed. São Paulo: Difusão Huropéia rio Livro, 1974, p. 265.

198

Com exceção cie São Paulo, em todos os dem ais estados os inte­ resses do pinheirism o se contrapunham aos m ilitares, segundo a observação de Carone.150 151

Através desse m ovim ento "salvacionista", os m ilitares derru­ baram violentam ente várias oligarquias estaduais.1,1

Uma das prim eiras "salvações do Norte" aconteceu em Pernam buco. Naquele Estado, contra a oligarquia Rosa e Silva que estava no poder desde 1896, levantou-se o próprio m inistro da Guerra, general Dantas Barreto.

Rosa e Silva venceu as eleições realizadas no dia 5 de novembro de 1911. Esse fato político causou indignação aos oposicionistas que saíram às ruas subvertendo a ordem pública. Diante da tolerância de I lerm es da Fonseca para com os m ilitares, Estácio Coim bra aban­ donou o governo a 10 de dezembro. Por isso, foram realizadas novas eleições, cujo candidato foi o general Emídio Dantas Barreto. Ocaso de Pernam buco repercutiu em todoo Nordeste.

Na Bahia, o conflito de interesses entre as lideranças políticas locais e os m ilitares resultou no bom bardeio de Salvador ocorrido a 10 de janeiro de 1912, conform e as ordens do m inistro da Guerra, general Mena Barreto, executadas pelo general Sotero de Menezes.

Contra a brutalidade do ataque, levantou-se a indignação da nação e de grande parte do povo baiano.

Nessa "salvação", Pinheiro M achado foi o grande derrotado m ais um a vez. Apoiado pelos m ilitares da G uarnição Federal, 1. J. Seabra derrubou o governo constituído e, depois, elegeu-se gover- nadorda Bahia.

No Ceará, aconteceu a m ais prolongada e a m ais com plicada das "salvações”, l.á, dom inava o Estado a oligarquia Acioli, desde 1896. Nogueira Acioli, que fora eleito para o período de 1908 a 1912,

150 CARONE, Edgar. A República Velha (Evolução Política). 2. ed. São Paulo: Difusão Européia do I,ivro, 1974, p. 266.

151 Para uma descrição detalhada dessas "salvações do Norte", recomendamos ao leitor a obra de CARONE, Edgar. A República Vellui (Evolução Política). 2. ed. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1974, p. 268-290.

escolheu para sucedê-lo o desem bargador Domingos Carneiro, de idade avançadíssima: oitenta anos.

A oposição, por sua vez, lançou o nom e do coronel Franco Rabelo, chefe do Kstado-Maior da Região Militar, amigo de Dantas Barreto e genro do general José Clarindo de Queiroz.

A cam panha política com eçou acirrada em dezem bro de 1911, com a polícia atirando contra os oposicionistas nas ruas de Fortaleza.

A reação popular na capital e no interior foi cada vez mais viril às agressões do aparelho policial.

Sob a pressão de mais de mil homens armados, que cercaram o Palãcio do governo, na noite de 22 de dezembro de 1911, após marchas e contram archas, Nogueira Acioli resolveu renunciar ao governo a 24 de janeiro de 1912. Fm seguida, fugiu para o Rio de Janeiro, onde, junto a Pinheiro M achado, foi tentar encontrar um nom e capaz de disputar e ganhar as eleições. () escolhido foi o general Bezerril Fontenelle.

Realizadas as eleições em abril de 1912, saiu vitorioso o coronel Franco Rabelo.

A parentem ente estava tudo term inado. Hntretanto, não foi assim. Apesar de vitorioso, ele não contava com o apoio de Pinheiro M achado nem de I lermes da Fonseca e nem do Partido Republicano Conservador. No plano estadual, os coronéis aciolistas m antive­ ram -se fiéis às ordens do seu chefe fugitivo. Fogo que puderam , rebe- laram -se contra ele sob a liderança de Floro Bartolom eu e Padre Cícero que, por sua vez, receberam arm as enviadas por Pinheiro Machado.

Foi a cham ada Cuerra do Cariri, iniciada em Juazeiro a 9 de dezem bro de 1913, que culm inou com a derrubada de Franco Rabelo em março de 1911. Foi a vitória do Pinheirismo!

Fm Alagoas, repetiram -se as m esm as escaram uças, se bem que em menores proporções. Aos primeiros sinais da cam panha elei­ toral, o governador Fuclides Malta pôs a polícia nas ruas para atirar contra os opositores. No dia 10 de m arço de 1912, houve um verda­ deiro m assacre. Diante da reação arm ada da oposição, Fuclides Malta decidiu renunciar ao governo, deixando o partido situacionista

200

sem candidato próprio. Isso facilitou a vitória do coronel Clodoaldo da Fonseca nas eleições de junho de 1912.

Na Paraíba, o governador João M achado quis im por o seu can­ didato. Todavia, a influência do oposicionista Epitácio Pessoa junto a Pinheiro M achado e ao presidente Hermes da Fonseca modificou o quadro sucessório.

Por influência do m arechal Hermes surgiu a candidatura de Castro Pinto como elemento neutro. Mesmo sem chance de vitória, a oposição lançou a candidatura do coronel Abílio de Noronha, apoiado pelo general Dantas Barreto. Em represália, o Governo Federal trans­ feriu o candidato oposicionista para Mato Grosso, assegurando assim a vitória do governo.

No Piauí, a sucessão estadual não teve maiores complicações. A oposição, aliada aos militares, tentou m udara situação vigente, mas não conseguiu. Miguel Rosa, candidato situacionista, derrotou nas urnas o coronel Cariolado de Carvalho.

Q uanto ao Rio G rande do Norte, o líder da "salvação” foi o capitão José da Penha. Sobre a sua cam panha, realizada em 1913, nos ocuparem os adiante.