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CAPÍTULO 3 – MAPEANDO UM CENÁRIO: CONTANDO HISTÓRIAS DA

3.4 Montes Claros: mapeando um cenário

3.4.3 A Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário (CADES)

Com o duplo objetivo de elevar o nível do ensino secundário e difundi-lo, o então presidente Getúlio Vargas instituiu por meio do Decreto nº 34.638, de 14 de novembro de 1953, a Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário (CADES). A expressiva expansão do ensino secundário, que culminou com a carência de professores para lecionar nas escolas, demandou o empreendimento de ações emergenciais. Foram, então, criadas várias frentes para o preparo técnico de pessoas leigas para o exercício do magistério; essas pessoas deveriam ser submetidas a exames de suficiência para obter a habilitação necessária.

início da Primeira Guerra Mundial, que inviabilizou o contado das Irmãs com a Casa Mãe. E, o terceiro foi a crise provocada pela epidemia de Gripe Espanhola”.

67Borges (2013, p. 52), informa “o percentual de alunas matriculadas nos primeiros anos do ensino normal,

no período de 1943 a 1955, 83% eram da região norte de Minas; 7% das regiões Central, Centro Oeste de Minas, Noroeste e Zona da Mata; 3% das regiões Jequitinhonha, Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba e Sul de Minas; 3% de cidades da Bahia; 3% de outros estados (São Paulo, Rio de Janeiro, Piauí, Goiás [...]) e 1% não conseguimos identificar as regiões procedentes”.

Seis dos nossos depoentes – Juvenal Caldeira Durães, Rosa Terezinha Paixão Durães, Edson Guimarães, Mariza Monteiro Guimarães, Ruth Tolentino Barbosa e Dilma Silveira Mourão – participaram dos cursos da CADES. Conforme relataram, essa participação era um requisito imprescindível para atuar no ensino secundário. A seguir, apresentamos excertos de suas entrevistas nos quais são comentados aspectos dos cursos da CADES e é ressaltada a sua importância para o exercício da docência no ensino secundário.

Antes de me formar, dei aulas de Matemática no Ginásio do Menor. Depois que me formei, trabalhei, também, além da Faculdade, na E.E. Profª Dulce Sarmento. Tive que participar dos cursos da Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário (CADES) durante dois ou três anos (Excerto do depoimento da professora Ruth Tolentino).

O objetivo do curso era dar sustentação aos profissionais leigos que lecionavam nas escolas. Também tinha os Cursos da Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário (CADES). Era uma formação que o Estado dava para os professores, um treinamento anual (Excerto do depoimento do professor Edson

Guimarães).

Eu lembro da CADES. Eu mesma fiz o curso duas vezes. Eles vinham aqui ministrar o curso para nós (Excerto do depoimento da professora Mariza Monteiro

Guimarães).

Em 1968, os professores de Matemática, sem habilitação, que já lecionavam na cidade tiveram a ideia de criar o curso de Matemática de nível superior para regularizar suas situações. Até então fazíamos os cursos da CADES para obtermos autorização para lecionar (Excerto do depoimento do professor Juvenal Caldeira Durães).

Esses depoimentos corroboram os argumentos das professoras Ivete Maria Baraldi e Rosinéte Gaertner (2013) de que, até o final dos anos 1970, a CADES serviu à educação brasileira realizando cursos de formação de professores para o ensino secundário, bem como de preparação de outros profissionais da educação como diretores, orientadores educacionais, inspetores, secretários escolares. É importante salientar, ainda, que a CADES publicou obras específicas para a formação dos docentes do ensino secundário.

Realizamos, também, uma pesquisa documental nos Decretos de número: 19.890, de 18 de abril de 1931, que dispõe sobre a organização do Ensino Secundário; 4.244, de 09 de abril de 1942, que institui a Lei Orgânica do Ensino Secundário; 8.777, de 22 de janeiro de 1946, que dispõe sobre o registro definitivo de professores de ensino secundário no Ministério da Educação e Saúde; 34.638, de 14 de novembro de 1953, que institui a Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário; na Lei nº 2.430, de 19 de fevereiro de 1955, que dispõe sobre a realização dos exames de suficiência do magistério nos cursos secundários. Essa pesquisa nos forneceu subsídios para compreender que a formação de professores para atuar no ensino secundário não era, até os anos 1920, contemplada nos marcos legais e tampouco nas políticas públicas educacionais. Verificamos também que somente a partir de 1950 é que se institucionaliza e se estrutura uma política consistente de formação desses docentes por meio da CADES.

No rol das ações propostas pela CADES podemos destacar: a realização de estágios, de cursos de especialização e de aperfeiçoamento voltados para os professores secundaristas e, ainda, para os funcionários técnico-administrativos que compunham o quadro das instituições de ensino secundário; estudos dos programas dos cursos secundários e das metodologias de ensino, adequando-os aos interesses dos estudantes e ao contexto em que o ensino era exercido; elaboração de material didático para as instituições de ensino secundário; organização de missões culturais, técnicas e pedagógicas para assistência itinerante às instituições situadas longe das capitais; criação de serviços de orientação educacional nas unidades de ensino; divulgação de experiências interessantes sobre o ensino secundário; promoção de intercâmbio entre instituições escolares e docentes no Brasil e em outros países; e, finalmente, a criação de um sistema de concessão de bolsas de estudo para estimular os docentes a se deslocarem de seus municípios para realizar estágios e/ou cursos em instituições brasileiras ou estrangeiras (PINTO, 2003).

Outro aspecto que merece destaque é que, por meio do Decreto-Lei nº 8.777, de 22 de janeiro de 1946, foi autorizada a concessão do registro de professor para o ensino secundário aos docentes que não fossem licenciados, desde que obtivessem aprovação nos exames de suficiência para o exercício do magistério. Também a lei nº 2.430, de 19 de fevereiro de 1955, autorizava a composição de bancas examinadoras nos estados, para a

realização dos exames junto aos candidatos que não eram formados por uma Faculdade de Filosofia, mas, que uma vez aprovados, poderiam lecionar, como relatado por nossas colaboradoras, as professoras Rosa Terezinha Paixão Durães e Dilma Silveira Mourão.

Eu participei da Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário (CADES). Peguei a carteirinha da CADES. Obtive meu registro na primeira vez em que eu fiz a prova. Eu passei por uma banca da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Graças a Deus eu tinha Juvenal, em casa, que me ajudava muito, a gente estudava muito, porque eu tinha feito magistério e o magistério não dava pra gente esse conhecimento de Matemática que era necessário para fazer a prova da CADES. Eu já atuava como professora do Curso Ginasial (Excerto do depoimento da professora Rosa

Terezinha Paixão Durães).

Quem trabalhava com a disciplina Matemática e não tinha a licenciatura, que era o meu caso, deveria fazer o curso da Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário (CADES) durante todo o mês de janeiro, todo ano, lá em Belo Horizonte. Isso era para provimento da cadeira de Matemática. Eu comecei a fazer o curso em 1966, quando iniciei minha atuação como professora de Matemática. A gente não era habilitada para lecionar Matemática, mas quem conseguisse fazer o exame de suficiência lá em Belo Horizonte... Eu, Rosa Terezinha Paixão Durães, Dona Ruth Totentino, todas nós fizemos o exame de suficiência, porque aí a gente ficava efetiva, não precisava mais dessa autorização da CADES (Excerto do depoimento da professora Dilma Silveira

Mourão).

Vale salientar que os cursos da CADES se realizavam, intensamente, nos meses de férias dos professores, ou seja, nos meses de janeiro e fevereiro, a fim de não entrar em conflito com o período letivo. É também importante ressaltar que, de posse do registro de professor, nossas depoentes regularizaram sua situação funcional, prestaram concurso e ingressaram, oficialmente, na carreira de magistério do Estado de Minas Gerais e, posteriormente, deram continuidade à sua formação no curso de licenciatura em Matemática na primeira instituição de ensino superior da região norte mineira.

A Figura 7, do arquivo pessoal do professor Juvenal Caldeira Durães, nos mostra que as pessoas que frequentavam os cursos de Matemática da CADES, no ano de 1961, eram, preponderantemente, do sexo masculino, com a presença de um número reduzido de mulheres; na fotografia chama a atenção a presença de uma freira envergando seu hábito.

Figura 7: Fotos da turma de um curso da CADES no Instituto de Educação em Belo Horizonte

MG (1961).

No estudo feito por Diana Couto Pinto (2003), intitulado “A CADES e sua presença em Minas Gerais,” é reiterada a presença de profissionais liberais no corpo docente das instituições de ensino secundário. Nessa direção, registramos o excerto da narrativa da Professora Maria Isabel de Magalhães Sobreira em que ela afirma que até

então os professores, igualmente idealistas, das escolas públicas e particulares, eram profissionais liberais: engenheiros, farmacêuticos, médicos, que, embora dominassem o conteúdo das disciplinas, não possuíam as habilidades didático-pedagógicas.

Baraldi e Gaertner (2013) esclarecem que a CADES dispunha de publicações de periódicos e livros que traziam orientações didáticas e estratégias de ensino para os professores desse segmento; contudo, as pesquisadoras consideram que tais obras não passavam de manuais com informações pontuais de didática em que deveria ser seguido um “passo a passo” para a explanação de algum conceito, e ainda que, dadas as dificuldades de produção bibliográfica e pedagógica da época, tais obras eram a única opção para os professores em exercício e em formação.

De acordo com Pinto (2003), por meio da Portaria Ministerial nº 134, de 25 de fevereiro de 1954, foram criadas Inspetorias Seccionais do Ensino Secundário (ISES) que seriam instaladas em capitais e/ou em cidades, conforme sua posição geográfica estratégica, e que comporiam, em conjunto com outros municípios, a área de atuação e abrangência da inspeção. Em Minas Gerais foram instaladas seis inspetorias: inicialmente na capital Belo Horizonte, nas cidades de Juiz de Fora, Guaxupé, Três Corações, Uberaba e alguns anos depois em Montes Claros.

Os estudos e fontes mobilizados sobre o tema nos mostram a importância da CADES para a formação dos professores do ensino secundário, dadas a carência e a urgência da existência desses profissionais nos anos de 1950 e 1960. Ademais, a atuação desse órgão possibilitou a regularização da situação dos docentes leigos que tiveram a chance de mudar o curso de sua vida profissional e ingressar, legalmente, na carreira do magistério. No entanto, também é oportuno destacar que esse órgão atuou, pontualmente, na difusão do ideário educacional e político da época: educação para o desenvolvimento e o progresso (FRIGOTTO, 2006).

3.4.4 O nascimento de uma escola superior em Montes Claros na década de