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CAPÍTULO 3 – MAPEANDO UM CENÁRIO: CONTANDO HISTÓRIAS DA

4.6 Perfil dos Professores

O corpo docente que atuava no curso de Matemática nos anos 1960 e 1970 era formado por um professor – Francisco Bastos Gil – trazido de Belo Horizonte, como já dissemos, para ministrar as disciplinas de conteúdo matemático; um professor de Desenho Geométrico, graduado em Arquitetura, e professores recém-formados em Pedagogia e Letras, da cidade de Montes Claros; uma professora graduada em Pedagogia, de Bocaiúva. Os professores do curso obtinham uma autorização para lecionar mediante aprovação de seus nomes pelo Conselho Federal de Educação (CFE). As disciplinas pedagógicas, como Didática, Psicologia e Prática de Ensino, eram ministradas no 3º e 4º anos do curso.

Como já foi comentado, inicialmente, não havia na cidade e/ou na região professores habilitados para lecionar as disciplinas da área de Matemática, e o professor Francisco Gil veio de São João Del Rei) para assumir todas as aulas dessas disciplinas.

109 Os cursos de curta duração previstos na Lei 5.692 de 11 de agosto de 1971 foram extintos pela Lei 9.394

de 21 de dezembro de1996. Contudo, por meio da Resolução nº 11 de 10 de julho de 2006, do Conselho Nacional de Educação/ Câmara de Ensino Superior, foi revogado o artigo que extinguia esses cursos e eles puderam, novamente, ser ofertados.

110Por meio da Resolução nº 13, de 1996, do Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão

(CEPEx/UNIMONTES), o curso de Ciências – Habilitação em Matemática ou Biologia foi desmembrado, em dois cursos distintos: Ciências Biológicas (licenciatura e bacharelado), oferecendo 25 (vinte e cinco) vagas anuais, e Matemática (licenciatura), oferecendo 30 (trinta) vagas anuais, com uma carga horária mínima de 2.400 horas, com integralização mínima de quatro e máxima de sete anos (MONTES CLAROS, 1997).

Comecei a dar o curso... Não tinha professor para nenhuma disciplina, eu dava aula de Cálculo, Fundamentos, Geometria Analítica... Dava aula de tudo (Professor

Francisco Bastos Gil).

O professor Juvenal Caldeira Durães, ex-aluno da primeira turma, informou-nos sobre as várias disciplinas ministradas pelo professor Gil. Ele pontuou:

Quanto aos professores do curso de Matemática: Gil, como já foi dito, foi nosso professor durante todo o curso e lecionou Cálculo Integral e Diferencial, Cálculo Numérico, Fundamentos Matemáticos.

Em sua narrativa, o professor João Barbosa de Souza reitera a atuação polivalente do professor Gil e destaca que os próprios alunos atuavam como professores de turmas em nível anterior ao que estavam cursando – uma outra marca da carência de professores de Matemática já formados.

Para segurar o Curso de Matemática da FAFIL, “importaram” o professor Gil

lá de Belo Horizonte. Ele segurava o curso e outros professores, que eram alunos de anos mais adiantados, davam aulas pra gente. Era praticamente colega dando aula pra colega. A carência de professores era muito grande. Às vezes, alguém como o Irmão Ladislau Figueiredo assumia a cadeira de Matemática. Ele era formado em Matemática e dirigia o Colégio Marista São José. Ele tinha a cadeira no Curso de Matemática, ele assinava, só que quem dava as aulas eram os alunos (Professor João Barbosa de Souza).

Vimos que o professor João Barbosa de Souza faz menção à necessidade de “importação” de um professor para a criação do curso de Matemática. Contudo, essa ação de importar um professor não foi suficiente para resolver as carências educacionais da região, ou seja, era necessário formar professores do próprio lugar, que pudessem preencher as lacunas de pessoal habilitado e qualificado para o exercício da docência nos níveis secundário e superior.

A professora Maria de Lourdes Ribeiro da Paixão, que também residia em outro município, foi convidada a assumir as aulas de Didática Geral e, ainda, a dar suporte pedagógico aos cursos da FAFIL. Ela comentou:

Vim pra Montes Claros, em 1968. O corpo docente da FUNM era formado, em sua maioria, de professores recém-formados da UFMG. Comecei trabalhando com Didática Geral. Como pedagoga e professora de didática da primeira turma... [...] No caso específico de Didática, eu tinha uma segurança muito grande e como eu sempre fui apaixonada por matemática eu gostava de estudar com eles, de pesquisar e de descobrir novas formas para trabalhar o conteúdo (Professora Maria de Lourdes Ribeiro Paixão).

Sobre outras disciplinas ministradas no curso, a professora Mariza Monteiro Guimarães recordou:

A gente tinha outras aulas também: Organização Social e Política do Brasil (OSPB) lá na Igreja Matriz... Olha que lugar ideal! Mas não era só para o nosso curso, não! Era para a Faculdade toda. Quem dava as aulas de OSPB era o padre Jorge Ponciano, que veio de Brasília. A Igreja ficava lotada (Professora Mariza Monteiro

Guimarães).

Cabe salientar que a disciplina mencionada pela professora Mariza foi inserida nos currículos no período da Ditadura Militar, vindo a ser substituída posteriormente pela disciplina Estudo de Problemas Brasileiros (EPB).

Outra questão abordada nas narrativas dos professores Edson Crisóstomo dos Santos e Sebastião Alves de Souza é que os professores do curso de Matemática eram detentores somente do certificado de graduação.

Tinha, também, a questão de que o curso de Matemática era antigo na UNIMONTES, mas, na época, os professores davam o seu melhor e eu reconheço isso. A questão de titulação era séria... A gente não tinha professor com titulação, nem com mestrado, nenhum professor... A titulação máxima que o pessoal tinha era especialização, mas, ainda assim, era um grupo que trabalhava, que se empenhava em trabalhar os conteúdos de Matemática do Ensino Superior (Professor Edson Crisóstomo dos Santos).

Os professores, na minha época, tinham a graduação e alguns uma especialização lato sensu. No nosso curso, hoje, a maioria dos professores são mestres ou doutores. Então, isso muda a formação, a bibliografia utilizada no curso, o jeito de dar as

aulas... Porque meus professores... Uns por essa deficiência na formação ou por não terem uma orientação... não tinham essa visão que hoje nós temos para entrar num mestrado... Mas, foram e são ótimos professores. Não posso reclamar. Era o melhor que a gente tinha na época. Eles deram o que eles tinham na época. A contribuição deles foi muito importante (Professor Sebastião Alves de Souza).

Ao falarem sobre seus professores, nossos entrevistados se detiveram em relatos sobre as aulas com aqueles que ministravam disciplinas matemáticas. Pareceu-nos que eles têm poucas lembranças sobre os professores das disciplinas pedagógicas, o que mostra que elas tinham uma presença e/ou peso muito pequenos na formação proposta.

Os depoimentos coletados deixam claro que quase 100% dos entrevistados dedicavam-se exclusivamente à docência na Educação Básica e Superior. Somente o professor Wandaik Wanderley trabalhava, também, numa empreiteira. Decorre disso que, embora não houvesse uma condição concreta para cursar um mestrado ou doutorado, os professores buscavam, cada um dentro de suas possibilidades, fazer cursos de especialização, como relatado em muitos depoimentos, com o objetivo de se qualificar melhor para o exercício de sua função. Dos dezesseis entrevistados, apenas um não fez cursos de especialização após a conclusão da graduação; quinze frequentaram cursos de Pós-graduação Lato Sensu, e desses, quatro fizeram mestrado111 e um desses últimos fez, também, o doutorado112.