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CAPÍTULO 3 – MAPEANDO UM CENÁRIO: CONTANDO HISTÓRIAS DA

4.5 Mudança nos planos: a criação do Curso de Ciências – 1º grau com habilitação em

Outra questão de singular importância, indicada a partir dos depoimentos dos professores e visibilizada nos documentos foi a criação, em 1972 (Decreto nº 70.359/72),

de um curso de licenciatura curta em Ciências – 1º grau (reconhecido por meio do Decreto Federal nº 74.650/74), com duração de dois anos e meio107.

Ao se referir à criação desse curso, o professor Gil relacionou-o a transformações no curso de Matemática:

O Curso de Matemática ficou meio esfacelado, porque eles criaram o Curso de Ciências e dividiram... Então caiu demais o nível, porque agora já não eram mais aquelas pessoas escolhidas... da Matemática. Fiquei meio desgostoso, mas continuei...

O professor Sebastião Alves de Souza comentou:

Meu curso de Matemática foi um curso de Ciências do 1º grau. Então tínhamos aula de Química, Física, Biologia além das aulas de Matemática, com pouquíssima matemática. Creio que os alunos, hoje, até o 4° período, veem mais matemática do que eu vi nos quatro anos, porque se dedicam mais à matemática, o curso é de Matemática mesmo! Nós não tínhamos muita opção, era um curso aplicado para a gente e não havia muita perspectiva de continuidade na formação...

Os cursos de Ciências – 1º grau e Matemática funcionaram simultaneamente durante alguns anos até que, em 1978, em cumprimento ao Decreto Federal nº 82.371/78, de 04/08/78, houve a fusão de ambos. A licenciatura em Matemática, que tinha duração de quatro anos, passou a denominar-se “Ciências”. A partir daí, passaram a ser oferecidas 80 (oitenta) vagas para ingresso no curso, com as opções de os acadêmicos o concluírem em dois anos e meio, obtendo, desse modo, a licenciatura curta em Ciências do 1º grau, ou darem continuidade aos estudos por mais um ano e meio, e obterem a habilitação em Matemática ou em Biologia.Esse foi um objetivo típico dos anos 1970: gastar menos com a formação de professores habilitados e, portanto, diminuir o número de professores leigos, inclusive atendendo a pressões internacionais (BRAGA, 1988; FÁVERO, 2006).

Figura 19: Demonstrativo dos Cursos e Habilitações quanto à regularidade de funcionamento.

Fonte: MONTES CLAROS, Relatório de Atividades da UNIMONTES, 1990.

DEMONSTRATIVO DOS CURSOS E HABILITAÇÕES QUANTO À REGULARIDADE DE FUNCIONAMENTO

CURSOS/HABILITAÇÕES AUTORIZAÇÃO RECONHECIMENTO

Parecer Port. Ministerial Decreto Parecer Decreto

Licenciatura Plena - Letras: ...  Português/Francês ... 838/70 68.038/71  Português/Inglês ... 93.643/86 - História ... 196/67 CEE 838/70 68.038/71 - Geografia ... 196/67 CEE 838/70 68.038/71 - Matemática ... 45/68 CEE 82.642/86 2.705/74 74.650/74 - Filosofia ... 45/68 CEE 2.705/74 74.650/74 - Biologia ... 45/68 CEE 93.643/86

- Ciências Sociais ... 196/67 CEE 2.705/74 74.650/74 Pedagogia: ...

 Orientação Educacional ... 838/70 68.038/71  Supervisão Escolar (2º Grau) ... 808/88

 Inspeção Escolar (2º Grau) .. 808/88  Disciplinas Pedagógicas do 2º Grau

... 838/70 68.038/71 - Artes Plásticas ... 612/88 528/88 - Artes Cênicas ... 612/88 528/88 - Música... 731/86 93.345/86 Licenciatura Curta - Ciências 1º Grau ... 70.359/72 2.705/74 74.650/74 - Educação Artística ... 734/86 93.345/86 Bacharelado: - Ciências Sociais ... 2.705/74 74.650/74 - Direito ... 630/71 69.835/71 - Administração de Empresas ... 18/72 79.868/77 - Ciências Contábeis ... 18/72 80.023/77 - Ciências Econômicas ... 18/72 80.528/77 - Medicina ... 26/69 CEE 74.844/74 79/75 75.599/75 146

Figura 20: Demonstrativo dos Cursos da FAFIL

Fonte: MONTES CLAROS, Relatório de Atividades da UNIMONTES, 1990.

CURSOS FAFIL

CURSO INÍCIO AUTORIZAÇÃO RECONHECIMENTO

GEOGRAFIA, HISTÓRIA, LETRAS, PEDAGOGIA 13/04/1964 Parecer 196/67 de 23/06/67 – CEE Parecer 838-11/11/70 – CEE Decreto 68038-12/01/71 Diário Oficial de 13/01/71 LETRAS (Português/Inglês) 1987 Parecer 1142/86 de 07/11/86 – CEE Decreto 93643 – 02/12/86

CIÊNCIAS SOCIAIS FILOSOFIA, MATEMÁTICA 03/06/1968 Parecer 45/68 de 19/04/68 - CEE Parecer 2705 – 02/09/74 Decreto 74650 – 04/10/74 Diário Oficial – 07/10/74 CIÊNCIAS 1º GRAU 03/08/1972 Parecer 17/72 de 25/02/72 – CEE Decreto 70.359 – 04/04/72 DOU 05/04/72 Parecer 521/76 – 10/02/76 Decreto 77506 – 27/04/76 Diário Oficial – 28/04/76

PEDAGOGIA Aumento de vagas

Parecer 32/72 de 25/02/72 – CEE Minas – 10/03/72

Plenificação

Autorização – Portaria 808 de 25.11.85

CIÊNCIAS Conversão: Curso Ciências 1º Grau e Matemática em curso de Ciências

04/10/78: Decreto 082371 Diário Oficial – 05/10/78 CIÊNCIAS BIOLÓGICAS 1987 Parecer 1010/86 CEE 03/09/86

Decreto 93642 – 02/12/86

A década de 1970 foi marcada pelas determinações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 5692 de 11 de agosto de 1971, que fixava normas para o ensino de 1º e 2º graus, e dava outras providências, e, da Lei nº 5.540, de 28 de novembro de 1968, que regulamentava a reforma do Ensino Superior. Nessa época, o Conselho Federal de Educação (CFE) gerenciava a criação de cursos mantidos pelas instituições particulares e federais de ensino superior e, ainda, fazia a fiscalização dos mesmos. Com o intuito de sustentar a reforma da educação básica e ampliar o número de professores habilitados, o CFE, por meio das Resoluções CFE 30 de 1974 e 37 de 1975, regulamentou a formação de professores em nível superior para as disciplinas escolares das áreas de Ciências da Natureza e Matemática, baseando-se na LDBEN nº 5.692/1971. O Conselho estabeleceu duas modalidades de licenciaturas: curta, que habilitaria professores para as quatro últimas (5ª à 8ª) séries do 1º grau, e plena, que habilitaria professores também para as três séries do 2º grau.

A Resolução CFE 30 de 1974 fixava um tempo mínimo de 1800 horas para os cursos de licenciatura curta (1º grau), que deveriam ser integralizadas com um mínimo de dois e máximo de quatro anos; e de 2800 horas para os cursos de licenciatura plena (2º grau), que deveriam ser integralizadas com um mínimo de três e máximo de sete anos. As modalidades de licenciatura (curta e plena) poderiam ser combinadas: inicialmente formando professores para o 1º grau e, posteriormente, para o 2º grau, por meio de uma complementação para habilitar esses professores para a docência de uma disciplina específica, conforme sua escolha: Biologia, Física, Matemática ou Química. Tal ação deixa entrever uma tentativa de aligeiramento da formação de professores para o 1º grau (CONTRERAS, 2012; GATTI, 1989).

A Resolução CFE 37 de 1975 impunha a conversão de alguns cursos de formação de professores existentes até aquele momento – Biologia, Física, Matemática e Química – para licenciatura em Ciências, com a possibilidade de os licenciandos fazerem uma complementação para o exercício da docência de uma disciplina específica do 2º grau.

Na FAFIL, em Montes Claros, três de nossos colaboradores – os professores Edson Crisóstomo dos Santos, Sebastião Alves de Souza e Ronaldo Dias Ferreira –

frequentaram o curso de licenciatura em Ciências, no período de 1980 a 1990. Sobre isso apresentamos, a seguir, excertos de suas narrativas.

Quando fiz a graduação, o curso de Matemática era voltado para a licenciatura, era um curso diferente... Havia um interesse, na época, pelos cursos de ciências, um interesse mais nacional... Então, inicialmente, nosso curso era de Ciências e habilitava o professor para trabalhar com Ciências e Matemática. Depois a gente tinha uma formação, uma habilitação para completar a licenciatura plena. Nós tínhamos a opção de escolher Matemática ou Biologia. Optei pela Matemática, mas era um curso de licenciatura. Como não havia o curso de Matemática, ou seja, uma licenciatura exclusiva em Matemática, a opção que a gente tinha era de fazer Ciências com habilitação em Matemática... (Professor Edson Crisóstomo dos Santos).

Na época ingressavam, inicialmente, duas turmas. Era o curso de Ciências, na parte da licenciatura curta eram dois anos e meio. Então tinham duas turmas funcionando. Depois dos dois anos e meio, as turmas faziam opção pela licenciatura plena e assim convergia para uma turma só. Então, na licenciatura plena em Matemática a que eu me referi foram mais de trinta alunos (Professor Edson Crisóstomo dos Santos).

As aulas aconteciam somente no noturno. E sábado também. Esse curso nosso de Ciências tinha duração de quatro anos, mas com aulas aos sábados. Quando ele mudou para cinco anos, sem aulas aos sábados, nós tínhamos cinco horários todas as noites, quase todas as noites... O nome do curso era Ciências do 1° grau e, depois, a gente fazia uma habilitação em Matemática. A entrada era de oitenta alunos. Eram duas turmas de quarenta. Na turma em que me formei, muitos pararam no meio do curso... Nos dois anos e meio, nos três anos que era a licenciatura curta108... Mas, completando os quatro ou cinco anos, na minha formaram-se uns trinta, mas já era o resultado das duas turmas... Dos oitenta formaram-se trinta (Professor Sebastião Alves de Souza).

Da análise da estrutura curricular aprovada para o Curso de Ciências com habilitação em Matemática e Biologia, podemos depreender que, ao combinar as duas modalidades de licenciatura – curta e plena –, os acadêmicos do curso de Ciências da

FAFIL deveriam cursar até o 1 º semestre do 3º ano, ou seja, em dois anos e meio, 24 (vinte e quatro) disciplinas, totalizando 1.860 h/a, que correspondiam ao núcleo comum dos dois cursos, e/ou à Licenciatura Curta para o exercício da docência no 1º grau (5ª à 8ª série – nomenclatura da época). E, posteriormente, caso optassem pela Licenciatura Plena, cursariam mais um ano e meio, escolhendo entre a habilitação em Matemática (mais 16 disciplinas) e a habilitação em Biologia (mais 13 disciplinas), totalizando 1.080 horas para cada habilitação. Assim, o licenciado poderia exercer a docência em turmas do 1º ao 3º ano do 2º grau numa das disciplinas escolhidas.

Para o acadêmico se formar na Licenciatura Plena em Ciências com habilitação em Matemática, deveria cursar 18 (dezoito) disciplinas de Matemática (no total – 1º ao 4º ano): Matemática I, no 1º ano; Matemática II e Estatística, no 2º ano; Álgebra, Desenho Geométrico, Estatística e Matemática III, no 1º semestre do 3º ano; Cálculo I, Álgebra, Geometria Analítica, Geometria Descritiva e Geometria I, no 2º semestre do 3º ano; Análise Matemática, Cálculo II, Álgebra I, Geometria II, Matemática Aplicada, Cálculo Numérico, no 4º ano. A essas disciplinas eram acrescentadas outras disciplinas num total de 22 (vinte e duas), assim distribuídas: no 1º ano – Geologia e Mineralogia, Química I, Biologia Geral I, Física I, Metodologia Científica, Língua Portuguesa e Educação Física; 2º ano – Química II, Biologia Geral II, Física II, Educação Física, Estudo de Problemas Brasileiros e Didática Geral; 3º ano – 1º semestre: Psicologia da Educação: Adolescência e Aprendizagem, Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1º grau, Educação Física e Prática de Ensino; 2º semestre: Psicologia da Educação: Adolescência e Aprendizagem, Estrutura e Funcionamento do Ensino de 2º grau e Educação Física; 4º ano – Prática de Ensino e Educação Física.

Vale dizer que ao analisarmos a carga horária do curso de Matemática, praticada em 1968, que contava com 2.720 h/a, encontramos uma diferença de 220 h/a em comparação com a carga horária praticada no curso de Ciências com habilitação em Matemática, que era de 2.940 h/a. Atribuímos essa diferença ao fato de, no plano curricular desse último curso, constarem disciplinas das áreas de conhecimento das Ciências

Biológicas (até o 3º ano), quando era feita a opção pela licenciatura em Matemática ou Biologia109.

Deve ser registrado que, em 1980 (Anexo 5), houve nova reformulação do plano curricular com o objetivo de ajustá-lo ao curso de Ciências Biológicas, habilitação Ciências – 1º grau e à habilitação em Matemática – licenciatura plena110. Do plano curricular anterior, que totalizava 2.940 horas, foram suprimidas 300 (trezentas) horas, ficando o plano curricular proposto para o ano de 1980 com 2.640 horas. Observamos que, embora tenha havido uma diminuição da carga horária total, foram incluídas duas novas disciplinas: Sociologia I e Sociologia II (no 3º e 4º período).