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CAPÍTULO 1 FRANCISCO PETRACCO: FORMAÇÃO E

1.2. A carreira de Francisco Petracco

Paulista e filho de imigrantes italianos, Francisco Petracco nasceu em 1935. Sofreu influência decisiva da família, tanto em sua formação profissional, quanto em sua sensibilidade artística e ideologia política. O avô materno, Francesco Verrone, também arquiteto, veio da Itália para projetar e coordenar as obras da IRF Matarazzo, bem como a Casa das Caldeiras e a Maternidade e Hospital Matarazzo, e o avô materno, José Petracco, foi o fundador da Indústria Petracco e Nicoli, o que fez com que seus filhos estudassem música e arte e frequentassem lugares como o Instituto átto Marcello, habitualmente voltado aos artistas e intelectuais, entre eles Mário de Andrade. Estudou no Colégio Dante Alighieri, onde teve contato com o professor, desenhista e pintor Vicente Mecozzi, que o incentivou a estudar arquitetura, assim como esse mesmo ambiente veio a incentivar outros alunos, como Telésforo Cristófani, também um promissor futuro arquiteto que a Faculdade de Arquitetura Mackenzie veio formar. Petracco ingressou na Universidade Mackenzie em 1954 e o fez por recomendações da família: essa era uma escola particular que vinha recebendo em seus bancos a elite paulistana (PETRACCO, 2004, p.28).

Figura 3: Foto do arquiteto Francisco Petracco. Fonte: http://blogs.estadao.com.br/wp- content/plugins/galerias-do-

estadao/galeria.php?editoria=7&galeria=3133&galeria_exc=1871&pagina=90&url_share=http://blogs. estadao.com.br/sonia-racy (2013)

No período em que o arquiteto frequentou a Faculdade, conviveu e recebeu ensinamentos compatíveis com o ensino inspirado na École de Beaux-Arts parisiense, com aulas de desenho artístico ministradas por três anos na grade curricular, evidenciando a prioridade dessa disciplina na formação do arquiteto. A Faculdade de Arquitetura Mackenzie é fruto do Curso de Arquitetura que foi abrigado na EEM - Escola de Engenharia Mackenzie desde 1917 - e contava com professores imbuídos de uma postura beauxartiana, pautada na própria formação que o fundador do Curso, Arquiteto Christiano das Neves, recebera na Fine Arts School of

Pennsylvania, nos Estados Unidos da América, no curso que concluíra em 1911

(PEREIRA, 2013).

A formação preconizada pelo curso de Beaux-Arts (que veio a persistir e fundamentar a Faculdade de Arquitetura a partir de sua fundação, em 1947) orientava-se pela aplicação de recursos e princípios clássicos pautados na composição (SUMMERSON, 2002), valorizando harmonia e equilíbrio composítivos e preconizando que somente a habilidade da representação pelo desenho consistia no meio por excelência para a expressão do arquiteto, e verdadeiro contexto da produção de Arquitetura.

A direção e consistência intelectual e profissional do arquiteto Christiano S. das Neves teriam sido responsáveis pela condução do processo de ensino de Arquitetura desde a emancipação e fundação da Faculdade de Arquitetura em 1947 (ABASCAL et al., 2013, p.30). Entre o corpo docente, um dos professores que se destacava era o artista Pedro Corona, nascido em Jaú, no interior do estado de São Paulo, em 1897 (SALOMÃO, 2012). Corona estudara desenho e pintura na Europa, recebendo formação que valorizava os princípios da academia de Belas Artes. Seus projetos foram elogiados quando ainda jovem e ele, além disso, participara de exposições individuais e coletivas.

Petracco o considerava um dos esteios da formação dos arquitetos mackenzistas por sua didática, que procurava deixar clara a interface do espaço, entendido como composição de cheios e vazios, e a maneira como estes elementos eram fonte de produção da arquitetura (PETRACCO, 2004). Foram também professores do arquiteto Petracco Laszlo Zinner (modelagem), Roberto Rossi Zuccolo (estruturas), Francisco Kosuta, (técnicas construtivas) e Takeshi Suzuki (aquarela), disciplinas essas que capacitavam os alunos para o raciocínio

arquitetônico por meio de seu instrumento primordial, o desenho, que possibilitava a composição e a plástica (ABASCAL et al., 2013, p.17 e 18).

Conforme Mendes e Breia (2013), vale destacar a contribuição do prof. engenheiro-arquiteto Francisco Kosuta, que fora competente no ensino de Geometria Descritiva, referência fundamental para compreender a habilidade e competência necessárias ao campo da representação arquitetônica, e, segundo Petracco (apud BREIA): ‘o bê a bá da arquitetura’ (ABASCAL et al., 2013, p.22). As relações pessoais e didáticas entre professores e alunos foram bastante estreitas e renderam futuras parcerias profissionais, a exemplo do professor Roberto Zuccolo, que calculou diversas estruturas dos projetos de Petracco, de forma a possibilitar a linguagem orgânica e tensional delas:

Roberto Rossi Zuccolo, que entendeu perfeitamente e foi difusor da necessidade de constante e profícua parceria entre arquitetos e engenheiros calculistas, não para antagonizar Arquitetura e Engenharia, mas torná-las harmônicas. Zuccolo jamais interferiu em um projeto ou concepção arquitetônica de um estudante, mas trabalhava para que a arquitetura fosse preservada apesar da necessidade estrutural, não se configurando hoje, por vezes, no caminho adotado pelas escolas (ABASCAL et al., 2013, p.23).

É possível verificar a presença de um programa disciplinar rigoroso calcado na formação beauxartiana, que oferecia a aptidão para o desenho e o domínio da técnica ao arquiteto que se formava na Universidade Mackenzie. Ainda entre as disciplinas técnicas incluía-se a Grafo-Estática, ministrada pelo engenheiro civil e eletricista Ulisses de Aguiar Souza, que permitia formação profissional e aptidão para o Cálculo Estrutural de pequenos e médios edifícios (ABASCAL et al., 2013, p.31). Já o ensino do Urbanismo de certo modo fora deixado de lado, sendo visto somente no quinto ano, no âmbito da disciplina de Projetos, desdobrada entre ‘Pequenas Composições de Arquitetura’ e ‘Grandes Composições de Arquitetura’. Faltava comprometimento com as questões de contexto urbano, e os projetos correspondiam a intervenções pontuais, sem preocupações com o lugar ou com o contexto físico e social (ABASCAL et al., 2013, p.31). Em sua tese, Petracco sinaliza esta característica no curso da Faculdade de Arquitetura Mackenzie, tendo sido abordada como desenho urbano, sem priorizar reflexões sobre projetos urbanos (PETRACCO, 2004). Também havia disciplinas de história, que se dividiam em

História de Arquitetura Analítica e Desenho de Arquitetura Analítica, e outras que vinculavam sempre o desenho e a representação à teoria e constituíam-se em um método analítico, embasado em iconografia produzida pelos alunos que emulavam modelos históricos.

Às atividades extracurriculares realizadas pelos estudantes, como o estágio no SENAI - ao currículo de oito horas aula ao dia, somava-se o estágio para desenvolver aptidão técnica, para obtenção de conhecimento prático, sobretudo de sistemas construtivos e aplicação de materiais de construção. E o ensino de Topografia, dado pelo professor engenheiro Serafim Orlandi, integrava teoria e prática, sendo realizado em acampamentos, acompanhados da supervisão docente. Junto com jogos interuniversidades como o FAM-FAU, os alunos tinham atividades que contribuíram para a convivência e a participação do aluno em outras atividades da universidade e de seus colegas, como grupos que se formavam para prestar concursos de projetos (PETRACCO, apud ABASCAL et al., 2013, p.32)

Outro ponto importante na faculdade foi a especial atenção ao trabalho em ateliês durante a graduação, que estimulavam a relação entre os alunos de diversas turmas e os professores (SZOLNOKY, 1995). Segundo o arquiteto Fábio Penteado, um núcleo de pesquisa que visava ao domínio da arquitetura moderna era formado por alunos que se tornaram importantes arquitetos, como Paulo Mendes da Rocha, Jorge Wilheim, Telésforo Cristófani, Roberto Aflalo, Alfredo Paesani, e Pedro Paulo Melo Saraiva, processo catalisador para esta transformação (PENTEADO, 2004). Petracco fez parte desse grupo e, em sua tese de doutorado, o arquiteto cita, em ‘Primeiros Estágios’, a convivência dos arquitetos mencionados acima por Penteado – os alunos da FAM estagiaram em tempos alternados nos mesmos escritórios, estes eram constituídos por arquitetos formados no próprio Mackenzie e funcionavam quase como cooperativas, o que também sucedeu aos arquitetos Jorge Nasser, Hoover Sampaio, Maurício Tuck Schneider, Júlio Neves, Alfredo Paesani e Pedro Paulo Saraiva. O grande meio de aprendizado por excelência de Arquitetura foram tais escritórios e canteiros de obra. Foi muito importante a convivência, nos escritórios, com desenhistas-projetistas, pois se tratava de profissionais muito hábeis e dotados de conhecimentos rigorosos de desenho e representação gráfica, verdadeiros artesãos, que ensinavam aos iniciantes importantes tópicos, deixando-

lhes um legado profissional plenamente desenvolvido com a prática, nas diversas ocasiões em que enfrentavam trabalhos mais complexos (PETRACCO, 2013).

E por isso, domínio de novas técnicas e materiais empregados em desenhos de perspectivas e plantas baixas ilustrativas, utilizando aquarelas, nanquim, estiletes, verniz e colagens e outros recursos possibilitavam que os estagiários fossem solicitados para colaborar em projetos alvo de concursos (ABASCAL et al., 2013, p.33).

Figura 4: Foto do Anteprojeto para o Concurso do Tênis Clube Presidente Prudente (1966) - desenho em nanquim, colagens e graxa. Fonte: Francisco Petracco (Acervo organizado por Angela Diniz,

2014).

Petracco teve a oportunidade de estagiar com Eduardo Corona, que, na época, elaborava os projetos escolares para o Convênio Escolar – um conjunto de ações do Estado de São Paulo, que, na década de 1950, tinha como finalidade aumentar o número de vagas nas escolas. Também estagiou para os arquitetos Botti Rubin, Rino Levi, e, por último, para Paulo Mendes da Rocha e João de Gennaro, participando do projeto do Clube Paulistano. Logo depois de formado, Petracco

trabalhou para o arquiteto Hoover Américo Sampaio e participou, em 1959, do concurso do IPESP – Instituto de Previdência do Estado de São Paulo, sendo ganhador do 2° prêmio do concurso (PETRACCO, 2004).

O projeto para o IPESP foi uma das primeiras participações do arquiteto em concursos a que, frequentemente, submetia seus projetos, ficando muitas vezes entre os primeiros colocados – semelhante informação pode ser constatada nas publicações feitas na época na Revista Acrópole, cujas edições eram dedicadas quase exclusivamente à publicação dos anteprojetos dos primeiros colocados do concurso vigente. Os projetos para concursos de que Petracco participou ao longo de sua carreira e que foram publicados na Acrópole foram os seguintes: da Assembleia Legislativa de São Paulo (com Eduardo Kneese de Mello, Jose Maria Gandolfi, Joel Ramalho Junior, Luiz Forte Neto, em 1961); da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (com Jon V. Maitrejean, Telesforo Cristofani e Nelson Morse, em 1962); da Sede Clube XV de Santos (com Pedro Paulo de Melo Saraiva, em 1963); do Departamento Federal de Segurança Pública (com Joel Ramalho e Luigi Villavecchia, e colaboração de Marina B. Donelli e C. Rodrigues, com consultoria estrutural de Roberto R. Zuccolo, em 1967); o Projeto para Casa Popular Experimental – Realização da Cia. Metropolitana de Habitação de São Paulo (com Nelson Morse em 1968); o do Pavilhão de Osaka (Edgar Dente, Ana Maria de Biase, Maria Helena Flynn, Miguel Juliano Silva, em 1969); do Centro Cultural e Esportivo de S. Bernardo do Campo, SP (com José Roberto Soutello, em 1981). Também há outros concursos de que o arquiteto participou como o da Orla do Guarujá, 1963 (com Pedro Paulo de Mello Saraiva); da Sede do Clube Presidente Prudente (1966); da Petrobras (com Luigi Villavecchia, 1967); IBC-Instituto Brasileiro do Café (1969); CREA-SP (com José Roberto Soutello, em 1979); Margens da Marginal Tietê (1999). O número de concursos de arquitetura promovidos tanto pelo Estado quanto por iniciativas privadas devia-se à implementação de infraestrutura no país (estes dados foram levantados em edições da revista Acrópole e no currículo do próprio arquiteto - 2012).

Figura 5: Assembleia de Minas Gerais (1962). Fonte: Caderno de Projetos do Arquiteto (2014)

Figura 7: Escultura de Caciporé Torres no Clube XV (1963). Fotografia de autor desconhecido. Fonte: Caderno de projetos do Arquiteto (2014)

Em 1958, ano em que Francisco Petracco se formou, a carreira do arquiteto veio a se beneficiar da bonança econômica advinda da industrialização e construção de Brasília, bem como do desenvolvimento da capital de São Paulo, que apresentou grande demanda de trabalho para um número restrito de arquitetos – lembrando que só havia dois cursos de arquitetura na cidade, o do Mackenzie e da FAU-USP (ABASCAL et al., 2013, p.23). Os concursos foram de vital importância para o desenvolvimento da arquitetura, pois foram eventos catalisadores das discussões teóricas e tecnológicas vigentes na época (SANTOS, 2000).

Ao aplicar a linguagem moderna, os elementos arquitetônicos eram desenvolvidos de forma independente da tipologia do edifício e livremente se repetiam elementos arquitetônicos em outros edifícios, fossem eles de outra tipologia ou de outra escala, apresentando-se com uma nova configuração ou alguma evolução, como um estudo ou uma experimentação; independentemente

também da cronologia – não apresentando uma linearidade ou progressão de soluções – como uma estrada de duas mãos, era permitido ir e voltar.

Os arquitetos lançavam-se aos desafios e às novas possibilidades do concreto armado, de componentes pré-fabricados e de outros materiais que lhes pareciam interessantes pela sua disponibilidade no mercado do país, como blocos de alvenaria e de concreto, vidros e madeiras. As referências arquitetônicas não eram somente endógenas à própria obra do arquiteto, mas também exógenas, fundamentando-se em produções de outros arquitetos - da arquitetura de residências ou de grandes instituições. Geralmente as referências são mais próximas e contemporâneas como Oscar Niemeyer e Oswaldo Bratke incide na obra de Petracco. Por exemplo, o partido da grande cobertura de projeção retangular, empregado desde o final da década de 1950 em obras paulistas de variadas tipologias, como a Escola Estadual de Guarulhos (1960), de Paulo Mendes da Rocha, e a Garagem de Barcos do Santa Paula Iate Clube (Interlagos, São Paulo, 1960), ambas obras de Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi. (VERDE; BASTOS, 2011). Foram obras que constituíram importantes referências, com soluções que podem ser encontradas em projetos da autoria de Petracco, como o partido dos projetos das Centrais Telefônicas (1968-69) e o projeto do Núcleo Educacional Infantil Jardim Santo Inácio (São Bernardo do Campo-SP, 1975).

Figura 9: Núcleo Educacional Santo Inácio (1975). Fontes: Acervo do Arquiteto (1975)

Figura 10: Núcleo Educacional Santo Inácio (1975).Fonte: Acervo do Arquiteto (2003)

Outra solução frequentemente presente nos projetos de Francisco Petracco é a estrutura aporticada, composta por vários pilares dispostos de forma sequencial, que conferem ritmo, direcionam o olhar do observador e contribuem para dar expressão ao edifício. Presente no Clube XV (Santos, 1963) e na Escola Gomes Cardim (São Paulo, 1961) – assim como no Ginásio de Itanhaém, de Artigas (1959), os pilares sequenciais podem ser encontrados em projetos de edifícios corporativos, como os da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, de autoria de Pedro Paulo de Melo Saraiva, Sami Bussab e Francisco Petracco (1967), e no projeto para o Edifício do Instituto do Café (primeiro lugar em concurso, Santos, 1969).

Os apoios triangulares desenham inflexões, estreitamentos, alargamentos e vazios estrategicamente posicionados, enfatizando questões estruturais de transição de esforços e tirando partido de detalhes como o recolhimento de águas pluviais e aberturas para iluminação zenital, para ativar e densificar a abordagem conceitual, chegando numa resolução complexa a partir de um esquema inicial simples. E como é habitual nessa e em outras obras de Vilanova Artigas, uma vez estabelecida a regra básica, são ativados uma série de mecanismos para criar variantes, de maneira que o resultado nunca é óbvio, mas sempre surpreendente (ZEIN, apud Clássicos da Arquitetura: Anhembi Tênis Clube / João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi, 2014)

Figura 11: Foto Clube XV de Santos (1963). Fonte: Caderno de Projetos do Arquiteto (2014)

Figura 12: Ginásio de Itanhaém de Vilanova Artigas (1959). Fonte: archdaily.com.br (2014)

Figura 13: Grupo Escolar CPOESP Gomes Cardim (1961). Fonte: Currículo do Arquiteto (2012)

Figura 14: Foto do edifício da Assembleia de Santa Catarina (1967). Fonte: Apresentação para o doutoramento de Francisco Petracco (2004)

O partido da grande cobertura principal apresentou-se também em formas orgânicas, a exemplo dos arquitetos Marcos de Azevedo Acayaba e Marlene Milan Acayaba, em 1973, que construiram no Bairro Cidade Jardim na cidade de São Paulo uma casa com cobertura arqueada, de concreto protendido, formada por uma curva parabólica, com quatro apoios, que cobre três níveis diferentes da casa. Mesmo que parte do programa saia da projeção da cobertura (esta abrigada por um

pavilhão composto por estrutura de vigas e pilares ortogonais e regulares), a cobertura tornou-se o principal elemento articulador do programa residencial, incluindo a integração da área interna com a externa, formada pela piscina, pelo jardim e pelo estacionamento (XAVIER: 1983, p.176).

Figura 15: Corte da Residência na Cidade Jardim projeto de Marcos Acayba e Marlene Acayba (1972). Fonte: http://www.marcosacayaba.arq.br/lista.projeto.chain?id=2

Figura 16: Foto durante a construção da Residência na Cidade Jardim, projeto de Marcos Acayba e Marlene Acayba (1972). Fonte:

http://www.marcosacayaba.arq.br/simple.popUp.chain?path=imagens/grandes/fotos/2_02.jpg

O pilar escultural foi outro importante componente encontrado nas obras da arquitetura moderna paulista - com os desenhos dos pilares de Brasília de Oscar

Niemeyer, veio desenvolvido com linguagem formal livre, que tinha como meta “fazer o ponto de apoio cantar”. 1

Muitos pilares que apresentavam formas singulares eram desenvolvidos sob o discurso da funcionalidade, como os pilares de Vilanova Artigas, projetados para a Rodoviária de Jaú (1973). Esse desenho possibilita a entrada de luz por meio de aberturas entre as ramificações que constituem o pilar, permitindo a iluminação no meio do pano da extensa laje de cobertura – a utilização do concreto armado tornou possível que elementos como pilares, vigas e a laje de caixão-perdido se tornassem unidades para quem observa, sem arestas, que indicassem onde termina um e começa o outro. A superfície da estrutura reflete a luz zenital e a distribuiu para a circulação dos usuários da rodoviária, assim como as cargas tensionais da estrutura são transferidas para o solo. Petracco utilizou-se deste mesmo elemento na Residência Vilázio Lellis (São Paulo, 1985): apoia a laje de cobertura da piscina, de forma sinuosa e também consiste em uma laje de caixão perdido (com blocos de isopor ao invés de blocos cerâmicos) – o pilar está próximo à fachada e contrasta com as vigas retas de concreto armado.

Outros projetos de Petracco que se podem destacar, que apresentam pilares com desenhos expressivos e que representam o principal elemento plástico e estrutural da obra, são o projeto para a agência bancária BANESPA, em Dois Córregos (1970) e o da casa Vicente Izzo, no Guarujá (1972 e 1975).

1 Citação do arquiteto francês Auguste Perret em L’Encyclopédie française - v.16, p.

Figura 17: Rodoviária de Jaú, de Vilanova Artigas (1973). Fonte: www.archdaily.com.br

Figura 18: Residência Vilázio Lellis (1985). Fonte: Acervo do Arquiteto, disponibilizado para a pesquisadora.

Figura 19: Planta da Agência bancária BANESPA de Dois Córregos (1963). Fonte: Currículo do Arquiteto (2012)

Figura 20: Fachada da Agência bancária BANESPA de Dois Córregos (1963).Fonte: Currículo do Arquiteto (2012)

Entre outras tantas soluções arquitetônicas, apesar das justificativas que muitas vezes priorizam o discurso funcionalista, é possível sugerir que arquitetos paulistas modernos, tais como Francisco Petracco, não desvincularam preocupações sistemáticas relativas ao programa e à determinação estrutural dos aspectos e intenções estéticas e plásticas. Assim, Ruth Verde Zein (2005) polemiza a questão do estilo como prisão da criatividade, bem como seu uso e apropriação pelo discurso da arquitetura moderna:

Essa simples definição parece ser de muito simples aceitação em si mesma: pertencendo a arquitetura a um domínio do ‘mundo expressivo’, sempre que um conjunto de obras puder ser caracterizado como tendo uma razoável e verificável ‘unidade de formas, acentos e atitudes dominantes, não implicando em igualdade de resultados e de ideias, mas em complexa ´variedade formal e de conteúdos’, pode-se inferir que essas obras compartilham o mesmo ‘estilo’ (VERDE, 2005, p. 25-6).

A autora se refere à presença de recorrências expressivas na obra de um mesmo arquiteto e chama a atenção para o fato de que por “estilo” não se deve compreender qualquer tipo de emulação do preexistente, no sentido de limitação criativa, mas sim alusão e referência para se avançar.

A formação profissional de Francisco Petracco decorreu da convivência com o avô arquiteto, da formação em artes, pois contou com aulas de pintura e escultura, da formação acadêmica clássica, e do rigor material e construtivo na Faculdade de Arquitetura Mackenzie. Essas influências justificam a valorização, pelo arquiteto, do processo de criação do espaço arquitetônico, bem como da experimentação e sofisticação de novos sistemas construtivos. Segundo Petracco, todo arquiteto deve ser artesão (e, para ele, nem todo artesão é um arquiteto). Refere-se, principalmente, ao domínio do desenho e da perspectiva, instrumentos de vital importância para as novas discussões arquitetônicas; sem esse domínio não seria possível planejar de forma ampla a materialidade pretendida do projeto; as obras arquitetônicas, para serem compreendidas, requerem o tempo de percurso do observador – uma quarta dimensão no desenho - e sãisso é o o que definirá o volume arquitetônico, o que torna possível a experiência espacial no edifício (ZEVI, 1994).

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