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CAPÍTULO 2 – A PRODUÇÃO DE PROJETOS RESIDENCIAIS

2.3. Os principais partidos arquitetônicos: A configuração de princípios de

2.3.4. Coberturas principais com alusão ao desenho do voo do pássaro

São projetos cujos programas são localizados sob uma cobertura principal, com um desenho alusivo às asas de um pássaro, abertas. Estas coberturas serviram como elementos articuladores do programa da casa e sua projeção pode corresponder a uma zona de intersecção com várias áreas. Contudo, casas que seguiram esse partido apresentaram programas que segregam as áreas de serviço e as sociais. São exemplos:

Residência Dalton Pereira, Ibiúna, São Paulo (sem data)

Figura 114:Corte do Anteprojeto da Residência de Dalton Pereira, em Ibiúna, SP (sem data). Fonte: Francisco Petracco (Acervo organizado por Angela Diniz, 2014)

Paulão (sem informações)

Figura 115: Fachada da Residência Paulão (sem data). Fonte: Francisco Petracco (Acervo organizado por Angela Diniz, 2014)

Figura 122: Jubran/1971; Manuel Pinto/1973; Rafaell D' Amico/ 1975; Eraldo Funaro/ 1975; José Serrano/1975;

2.4. Casas populares

Diferentemente dos demais partidos recorrentes em casas burguesas, estas atendem a outro escopo e não apresentam o mesmo arrojo das primeiras. O tema voltado aos projetos de moradia multifamiliar em conjuntos habitacionais, que englobam desde o raciocínio da escala urbana de loteamentos até o módulo da casa, foi o principal responsável pela repercussão da carreira de Petracco entre os meados da década 1960 aos anos 1980. De fato, são referentes a esse tema os projetos apresentados por ele aos frequentes concursos de que participou e até as premiações, ambos publicados em periódicos da época, como as revistas Acrópole e AB Arquitetura do Brasil.

A questão da moradia, na obra de Francisco Petracco, tal como nas obras dos arquitetos como Vilanova Artigas e Sérgio Ferro, veio acompanhada de um discurso da função social do arquiteto, com conotação política e social. Para Francisco Petracco:

O arquiteto deve ter responsabilidade de não só projetar casas pra clientes particulares, ou ‘burgueses’, mas também, atentar-se a novas propostas para moradias populares, de forma a propor um programa que atenda as necessidades de uma família e um sistema mais acessível e eficiente de obter e de ser executado. (PETRACCO, 2001, p.299)

Aproveitando o fomento histórico da construção de casas populares, o arquiteto projetou alguns conjuntos habitacionais populares com planos urbanísticos para novos loteamentos, projetos estes que geralmente eram solicitados por órgãos públicos, como os conjuntos da COHAB e os parques CECAP. Os projetos de edifícios de apartamentos estimularam a cooperação entre arquitetos e engenheiros. Por exemplo, Petracco trabalhou sob as consultorias de engenheiros renomeados como Zuccolo e Mário Franco, profissionais que trabalhavam a fim de chegar à maior esbelteza possível dos edifícios, de forma a economizar concreto e outros materiais. Também desenvolviam sistemas prediais que traziam economia para execução e manutenção do edifício. Segundo o arquiteto, o mercado imobiliário mudou seu perfil a partir de 1970, dando prioridade à massificação e à reprodução

de modelos para projetos residenciais, o que era mais vantajosa para os empreendedores em termos econômicos. (PETRACCO, 2011, p.355)

Figura 125:Perspectiva da Casa Experimental (1965). Fonte: Francisco Petracco (Acervo organizado por Angela Diniz)

COHAB Carapicuíba, 1965-1968

Contrariando a lógica do mercado da década de 1960, de que a verticalização é a melhor forma para otimização dos sistemas de infraestrutura, o arquiteto propôs uma disposição de unidades habitacionais horizontais e em forma de espinha dorsal, conformada por paredes espessas, que serviam de passagem para as redes de hidráulicas e elétricas, alimentando a dupla fileira de unidades habitacionais a ela contígua, portanto de costa entre si. Os ambientes localizados nos fundos das casas (cozinha e banheiro) eram iluminados por domos zenitais. Pelo sistema de compartilhamento da rede de distribuição, as casas não possuíam áreas abertas privativas, entre os conjuntos de doze casas, formam- se áreas livres e coletivas (BASTOS; VERDE, 2005, p.181).

Figura 126:Planta da Unidade Habitacional (1965). Fonte: Francisco Petracco (Acervo organizado por Angela Diniz)

Figura 127:Corte da Unidade Habitacional (1965).Fonte: Francisco Petracco (Acervo organizado por Angela Diniz)

Figura 128:Elevação da Unidade Habitacional e Bloco (1965).Fonte: Francisco Petracco (Acervo organizado por Angela Diniz)

Figura 129:Implantação do Conjunto Habitacional (1965). Fonte: Francisco Petracco (Acervo organizado por Angela Diniz, 2014)

COHAB Caçapava e ‘Casas 4x4’, 1969 -1976

A proposta de otimização de infraestrutura foi desenvolvida em várias conformidades, inclusive com casas conjugadas. No projeto CECAP, a pedido do cliente, foi criada mais de uma tipologia de habitação, inclusive com edifícios de poucos pavimentos e pavimentos intercalados, de forma a explorar o desnível do terreno.

Figura 130:Fotos de Maquetes das Três Tipologias de Unidades Habitacionais COHAB Caçapava (1969). Fonte: Francisco Petracco (Acervo organizado por Angela Diniz, 2014)

Figura 131:Corte de Edifício COHAB Caçapava (1969). Fonte: Francisco Petracco (Acervo organizado por Angela Diniz, 2014)

Figura 132:Foto de Maquete do Conjunto Habitacional COHAB Caçapava (1969). Fonte: Francisco Petracco (Acervo organizado por Angela Diniz, 2014)

2.5. Consideração sobre os partidos residenciais do arquiteto

As casas projetadas por Francisco Petracco apresentam, em seu processo de criação sincrônica entre a preocupação formal e a estrutural, condição própria ao momento histórico da década de 1940, o que constituía, à época, uma afirmação da arquitetura moderna em São Paulo, herdeira de princípios que legitimavam a expressão do desenho (de uma plástica), com uma arquitetura mais livre de preceitos dogmáticos funcionalistas.

Na obra de Petracco, foi possível dividir as residências unifamiliares em quatro categorias, que agrupam projetos com partidos recorrentes:

1. Pavilhões: geralmente ocorre em plantas térreas com estrutura em alvenaria armada, com destaque para a cobertura de concreto com abóbadas, podendo cada abóbada da fachada corresponder a um determinado espaço ou mesmo um determinado uso;

2. Caixa elevada e estruturada por pórticos: o setor íntimo geralmente corresponde a caixa elevada sobre pilotis, que, entre eles, corresponde à parte

social da casa. Pode apresentar pés-direitos duplos e fachada marcada pelas abóbadas da cobertura;

3. Formas orgânicas: as formas orgânicas podem ser exploradas tanto em lajes que cobrem terraços e espaços sociais, abertos ao ar livre, quanto na própria forma e planta da casa, sempre elegendo um platô para o térreo e área social;

4. Coberturas principais com alusão ao desenho do voo do pássaro: a cobertura é o grande elemento articulador dos diferentes setores da casa, tratando-se de forma distinta do programa da casa.

Os partidos acima, por meio de experimentações tecnológicas e plásticas, com as técnicas construtivas e as estruturas, alcançaram singularidade, sendo capazes de produzir efeitos perceptivos de leveza e refinamento expressivo, evidentes em muitos projetos e adequados à escala de um edifício residencial unifamiliar.

Já os projetos habitacionais populares apresentam um caráter mais racionalista, atendendo às condições econômicas, mas Petracco ainda não abre mão da composição da fachada, que, em muitos projetos, demonstra jogo de cheio e vazios e de ritmo.

A opção por estudar as residências se justifica pelo fato de possibilitar a evidência de que a arquitetura paulista do período é coerente com o ideário moderno, para o qual espaço e forma são indissociavelmente atrelados à solução estrutural e programática.

CAPÍTULO 3 – GESTO PROJETUAL E ANÁLISE DA

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