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Casas projetadas pelo arquiteto Francisco Petracco: estudos sobre a concepçăo estética e estrutural - 1970-1980

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Academic year: 2017

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Dissertação de Mestrado em Arquitetura apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie para obtenção do título de Mestre em

Arquitetura

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Eunice Helena Sguizzardi Abascal São Paulo

2015

ANGELA COSTA DINIZ

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ANGELA COSTA DINIZ

CASAS PROJETADAS PELO ARQUITETO

FRANCISCO PETRACCO: ESTUDOS SOBRE A

CONCEPÇÃO ESTÉTICA E ESTRUTURAL 1970

-1980

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URBANISMO

CASAS PROJETADAS PELO ARQUITETO

FRANCISCO

PETRACCO: ESTUDOS SOBRE A CONCEPÇÃO

ESTÉTICA E ESTRUTURAL 1970-1980

Dissertação de Mestrado em Arquitetura apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie para obtenção do título de Mestre em Arquitetura.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Eunice Helena Sguizzardi Abascal

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A Deus, Pai que nunca falha, que entre tantas coisas, me deu força, alegria e satisfação de concluir o mestrado.

À minha orientadora, Prof.ª Dr.ª Eunice Helena S. Abascal, pela contribuição dada ao meu aprendizado e crescimento durante o mestrado.

Ao professor (de arquitetura e de vida) Francisco Petracco, que disponibilizou seu acervo, seu escritório e sua equipe de arquitetos, que disponibilizaram muitas fotografias e contribuíram para minha organização do acervo.

À sua esposa, D. Elena Petracco, e seu filho, Fábio Petracco, que, gentilmente, disponibilizaram sua própria casa e colaboraram na organização do acervo.

À Prof.ª Dr.ª Ana Maria Tagliari Flório, pelas sugestões na apresentação da dissertação e pela muito solicita atenção prestada após a apresentação.

Ao Prof. Dr. Cândico Malta Campos Neto, pelos comentários e sugestões apontadas na apresentação da dissertação.

Às Prof.as Dr.as Maria Alice Junqueira Bastos e Prof.as Dr.as Ruth Verde Zein, pelos comentários e sugestões apontados no decorrer do exame de Qualificação.

À Maria Regina Pittol, pelo incentivo constante.

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Esta dissertação de mestrado apresenta e analisa a produção arquitetônica residencial do arquiteto Francisco M. L. Petracco (1935), no âmbito da arquitetura moderna paulista a partir da década de 1950. A pesquisa listou 290 obras atribuídas ao Arquiteto e formou um banco de dados por meio de fichamento dos projetos residenciais. O trabalho foi organizado em quatro partes, divididas em capítulos: o primeiro apresenta a obra do arquiteto; enfatiza a sua formação acadêmica e procura esclarecer a pertinência do estudo da obra do arquiteto, apresentando suas principais obras; o segundo esclarece o processo de fichamento das residências projetadas pelo arquiteto, a produção de projetos residenciais, procurando distingui-los por tipologias; o terceiro capítulo, no qual a pesquisa busca caracterizar o gesto projetual presente na produção de Petracco; e, por fim, a última parte, formada pelos capítulos seguintes, em que foram analisados os projetos residenciais da Casa Vicente Izzo (1975), e da Casa Samuel Rothenberg (1982), que foram eleitos como estudos de casos, dentre outras casas selecionadas. Ambos os projetos estão situados nas décadas de 1970 e 1980, período de maior produção do arquiteto.

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This master's thesis presents and analyzes the production of the architect Francisco M.L. Petracco (1935, within São Paulo modern architecture in the 1950s. This survey h a s listed nearly 300 works attributed to the architect and has also formed a database by doing a residential project filing of Petracco’s works. The paper consists of four parts, divided into chapters: the first chapter presents the work of the Architect, emphasizes his academic formation, intends to clarify the relevance of studying the work of such an architect and presents his major works; the second chapter explains the filing process of residences projected by the Architect, the production of residential projects, seeking to classify them into types; the fourth chapter, in which the research seeks to characterize the gesture in this Petracco’s project-production; and finally, the last part consists of the subsequent chapters, in which the residential projects of Casa Vicente Izzo (1975), and Samuel Rothenberg (1982), chosen as case studies, among other selected residential buildings belonging to the period of the 1970s and 1980s, the most productive of the Architect, have been analyzed,

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Figura 1: Gráfico sobre porcentagem de tipologias dentro dos projetos do

arquiteto ... 19

Figura 2: Gráfico da produtividade ao longo dos anos ... 19

Figura 3: Foto do arquiteto Francisco Petracco. ... 32

Figura 4: Foto do Anteprojeto para o Concurso do Tênis Clube Presidente Prudente (1966). ... 36

Figura 5: Assembleia de Minas Gerais (1962). ... 38

Figura 6: Assembleia de Minas Gerais (1962). ... 38

Figura 7: Escultura de Caciporé Torres no Clube XV (1963). ... 39

Figura 8: Central Telefônica de Jales, SP (1968) ... 40

Figura 9: Núcleo Educacional Santo Inácio (1975) ... 41

Figura 10: Núcleo Educacional Santo Inácio (1975) ... 41

Figura 11: Foto Clube XV de Santos (1963). ... 42

Figura 12: Ginásio de Itanhaém de Vilanova Artigas (1959) ... 42

Figura 13: Grupo Escolar CPOESP Gomes Cardim (1961) ... 43

Figura 14: Foto do edifício da Assembleia de Santa Catarina (1967) ... 43

Figura 15: Corte da Residência na Cidade Jardim projeto de Marcos Acayba e Marlene Acayba (1972). ... 44

Figura 16: Foto durante a construção da Residência na Cidade Jardim, projeto de Marcos Acayba e Marlene Acayba (1972). ... 44

Figura 17: Rodoviária de Jaú, de Vilanova Artigas (1973). ... 46

Figura 18: Residência Vilázio Lellis (1985). ... 46

Figura 19: Planta da Agência bancária BANESPA de Dois Córregos (1963). .. 47

Figura 20: Fachada da Agência bancária BANESPA de Dois Córregos (1963). ... 47

Figura 21: Foto do Pilar da Residência Vicente Izzo (1972) ... 47

Figura 22: Imagem do Terminal TWA do Aeroporto de Kennedy de Eero Saarienen (1959) ... 56

Figura 23: Falling Water House, de Frank Lloyd Wright (1935) ... 57

Figura 24: Casa Baeta, de Vilanova Artigas (1956). ... 58

Figura 25: Casa de Canoas, de Oscar Niemeyer (1954) ... 59

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Figura 29: Foto Recente da Residência Maria Emília (1973). ... 66

Figura 30: Redesenho da Planta do Térreo da Residência Maria Emília (1973).67 Figura 31: Redesenho dos Cortes e Elevações da Residência Maria Emília (1973) ... 67

Figura 32: Destaques da Planta da Residência Maria Emília (1973) ... 68

Figura 33: Foto da Casa Simon Fausto (1961) Autoria: Benedito Lima de Toledo. ... 69

Figura 34: Planta da Casa Simon Fausto (1961) ... 69

Figura 35: Fachada da Casa Simon Fausto (1961). ... 69

Figura 36: Publicação de Casa à beira da Represa (1980). ... 71

Figura 37: Noedy Freire/ 1958 ... 72

Figura 38: Maria Emilia/ 1973 ... 73

Figura 39: Moutinho/1975 e Edson Dohi/1975 ... 74

Figura 40: Shigeaki/ 1977 e Ubajara/ SI ... 75

Figura 41: Casa na Represa/ 1980 ... 76

Figura 42: Pilão/ 1984 ... 77

Figura 43: Jorge Gabriel/1983 e Mario Nicoli/ 1986 ... 78

Figura 44: Àlvaro Buono e FOAP/ 1989 ... 79

Figura 45: Fazenda Bahia/ 1993 e Rancho Wania/SI ... 80

Figura 46: Olacyr Moraes/ SI ... 81

Figura 47: Foto do Projeto Executivo da Fachada Lateral da Residência de Iguatemy Andrade (1965). ... 83

Figura 48: Foto do Projeto Executivo da Fachada Frontal da Residência de Iguatemy Andrade (1965). ... 83

Figura 49: Foto da Residência Ítalo Lorenzi (1970) Destaque para as abóbadas. Fonte: Revista Projeto e Construção. São Paulo, n.37, p.22 dez, 1973. Destaque para Abóbadas na Foto da Residência Ítalo Lorenzi (1973). ... 84

Figura 50: Redesenho: Planta do Primeiro Pavimento da Residência Ítalo Lorenzi (1973) ... 85

Figura 51: Redesenho dos Cortes da Residência Italo Lorenzi (1973) ... 85

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Figura 54: Redesenho da Planta Térrea da Residência Italo Lorenzi com

destaque aos pilares e áreas sociais destacasem cinza escuro (1973) ... 87

Figura 55: Redesenho da Planta Superior da Residência Italo Lorenzi com destaque aos pilares e áreas sociais destacasem cinza escuro (1973). ... 87

Figura 56: Destaque para as Abóbadas - Foto da Maquete da Residência Mike Racy (1974). Fonte: Francisco Petracco ... 88

Figura 57: Foto da Residência Cláudio Morelli (1978) ... 88

Figura 58: Foto da Residência Pedro Marrey (1981) ... 89

Figura 59: Foto da Residência Pedro Marrey (1981) – Detalhe pergolados ... 89

Figura 60: Foto da Maquete do Residencial Enseada (1970). ... 90

Figura 61: Iguatemy Andrade/1965 ... 91

Figura 62: Lorenzi/ 1970 ... 92

Figura 63: Sadao Kayano/ 1975 ... 93

Figura 64: Mike Racy/1975 ... 94

Figura 65: S. Rothenberg/1978 ... 95

Figura 66: Claudio Morelli/1978 ... 96

Figura 67: Pedro Marey/1981 ... 97

Figura 68: Ricardo Costa/1981 ... 98

Figura 69: Martin Sushemihl/1982 ... 99

Figura 70: Repolho/1989 ... 100

Figura 71: F.Araújo e M.Machado/1990 ... 101

Figura 72: Nilton Gome/ SI ... 102

Figura 73: Carlo Babini/SI ... 103

Figura 74: Mauricio Henriques/SI ... 104

Figura 75: Sérgio Chimelli/ SI ... 105

Figura 76: Foto da Residência FOAP (1980) ... 107

Figura 77: Foto interna da Residência FOAP (1980) ... 107

Figura 78: Foto da Residência FOAP (1980) ... 108

Figura 79: Redesenho da Planta do Térreo da Residência FOAP (1980) ... 108

Figura 80:Redesenho da Planta Superior da Residência FOAP (1980) ... 109

Figura 81: Redesenho do Corte AA da Residência FOAP (1980) ... 109

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de espaços sociais em escuro com outros, mais claros. ... 110

Figura 85: Redesenho da Planta Supeior da Residência FOAP (1980) – Relação de espaços sociais em escuro com outros, mais claros. ... 110

Figura 86: Redesenho dos Cortes da Residência FOAP (1980) – Relação de espaços sociais em escuro com outros, mais claros. ... 111

Figura 87:Fotos da Residência Jayme Gabriel (1981). ... 111

Figura 88:Fotos da Residência Jayme Gabriel (1981). ... 112

Figura 89:Fotos da Residência Jayme Gabriel (1981). ... 112

Figura 90: Fotos da Residência Jayme Gabriel (1981). ... 113

Figura 91:Fotos da Residência Jayme Gabriel (1981). ... 113

Figura 92:Redesenhos da Residência Jayme Gabriel (1981) ... 114

Figura 93:Redesenhos da Residência Jayme Gabriel (1981) – Destaque para as àres sociais em cinza escura. ... 115

Figura 94: Croqui da Perspectiva Externa da Residência Vilázio Lellis (1985) ... 116

Figura 95: Croqui da Perspectiva Interna da Residência Vilázio Lellis (1985). ... 116

Figura 96: Foto da Residência Vilázio Lellis (1985): ... 116

Figura 97: Redesenho da Planta do Térreo da Residência Vilázio Lellis (1985) ... 117

Figura 98:Redesenho da Planta Superior da Residência Vilázio Lellis (1985) ... 118

Figura 99:Redesenho da Planta do Subsolo da Residência Vilázio Lellis (1985) ... 118

Figura 100: Redesenho: Cortes da Residência Vilázio Lellis (1985) ... 119

Figura 101: Redesenho: Vistas da Residência Vilázio Lellis (1985) ... 119

Figura 102: Redesenho para Análise das Plantas da Residência Vilázio Lellis (1985) – Com destaque às àreas sociais em cinza escura. ... 120

Figura 103:Redesenho para Análise dos Cortes da Residência Vilázio Lellis (1985) – Com destaque às àreas sociais em cinza escura. ... 120

Figura 104: FOAP/1980 ... 121

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Figura 108: Dalla Libera/1987 ... 125

Figura 109: Nelson Huffel/SI ... 126

Figura 110: Dalton Pereira/ SI ... 127

Figura 111: Jayme Gabriel/ SI ... 128

Figura 112: Roberto T. Gabriel/ SI ... 129

Figura 113: May Zaydan/ SI ... 130

Figura 114:Corte do Anteprojeto da Residência de Dalton Pereira, em Ibiúna, SP (sem data) ... 131

Figura 115: Fachada da Residência Paulão (sem data) ... 131

Figura 116: Vicente Izzo/ 1972 ... 132

Figura 117: Guido Perrotti/1974 ... 133

Figura 118: S. Rothenberg/1982 ... 134

Figura 119: Dalton Pereira/ SI ... 135

Figura 120: Mihel Efeiche/ SI ... 136

Figura 121: Paulão/ SI ... 137

Figura 122: Jubran/1971; Manuel Pinto/1973; Rafaell D' Amico/ 1975; Eraldo Funaro/ 1975; José Serrano/1975; ... 138

Figura 123: Darcy Toledo/ 1977; J.C. Posses/1985; Jordanópolis; L. Krubusly/SI ... 139

Figura 124: Luis Izzo/ SI; J. Aparecido ... 140

Figura 125:Perspectiva da Casa Experimental (1965) ... 142

Figura 126:Planta da Unidade Habitacional (1965) ... 143

Figura 127:Corte da Unidade Habitacional (1965) ... 143

Figura 128:Elevação da Unidade Habitacional e Bloco (1965). ... 143

Figura 129:Implantação do Conjunto Habitacional (1965) ... 144

Figura 130:Fotos de Maquetes das Três Tipologias de Unidades Habitacionais COHAB Caçapava (1969) ... 145

Figura 131:Corte de Edifício COHAB Caçapava (1969). ... 145

Figura 132:Foto de Maquete do Conjunto Habitacional COHAB Caçapava (1969). ... 146

Figura 133: Fotografia Recente da Residência Rothenberg (1982) ... 160

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Figura 154: Relação entre Planta e Corte, Diagrama Geometria Residência

Samuel Rothenberg (1982). ... 177

Figura 155: Diagrama de Massa. Residência Samuel Rothenberg (1982). ... 177

Figura 156:Diagramas de Adição e Subtração - Residência Samuel Rothenberg (1982). ... 178

Figura 157: Residência Vicente Izzo (1972). ... 182

Figura 158: Matéria sobre a Casa Vicente Izzo. ... 183

Figura 159: Imagem da década de 60 da praia próxima ao Costão das Tartarugas localizado no Guarujá. ... 184

Figura 160: Imagem da ocupação atual. ... 184

Figura 161:Fotografia do Corte Original do Anteprojeto da Residência Vicente Izzo (1972) ... 185

Figura 162:Fotografia da Planta Original do Anteprojeto da Residência Vicente Izzo (1972). ... 186

Figura 163:Perspectiva Interna do Anteprojeto da Residência Vicente Izzo (1972). ... 187

Figura 164: Fotografia da Planta do Térreo Original do Projeto Executivo da Residência Vicente Izzo (1972). ... 188

Figura 165: Planta de Paisagismo Original do Projeto Executivo da Residência Vicente Izzo (1972) ... 189

Figura 166: Cobertura do Hipódromo de la Zarzuela, Madrid de Eduardo Torroja Miret (1935). ... 190

Figura 167: Cobertura do Velódromo de Miami, de Hilario Candela (1964). . 191

Figura 168: Fotografia da Entrada da Residência Izzo (1972) ... 192

Figura 169: Fotografia interna da Residência Izzo (1972). ... 192

Figura 170: Cozinha da Residência Izzo (1972) ... 193

Figura 171: Fotografia da Piscina da Residência Izzo (1972) ... 194

Figura 172: Fotografia da Fachada Oeste da Residência Izzo (1972) ... 195

Figura 173: Redesenho do Projeto Vicente Izzo (1972) ... 197

Figura 174: Perspectiva da Residência Vicente Izzo. ... 198

Figura 175: Perspectiva da Residência Vicente Izzo (1972). ... 198

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 17

CAPÍTULO 1 - FRANCISCO PETRACCO: FORMAÇÃO E CONTRIBUIÇÃO À ARQUITETURA MODERNA PAULISTA ... 26

1.1. A geração do arquiteto Francisco Petracco e o ambiente histórico da década de 1950 no Brasil e em São Paulo ... 26

1.2. A carreira de Francisco Petracco ... 32

1.3. A carreira acadêmica ... 49

CAPÍTULO 2 – A PRODUÇÃO DE PROJETOS RESIDENCIAIS ... 52

2.1. Referências Nacionais e Internacionais dos projetos residenciais de Petracco ... 52

2.2. Informações sobre as residências ... 60

2.3. Os principais partidos arquitetônicos: A configuração de princípios de análise dos projetos de Francisco Petracco ... 62

2.3.1. Pavilhões ... 65

2.3.2. Caixa elevada e estruturada por pórticos ... 82

2.3.3. Formas orgânicas ... 106

2.3.4. Coberturas principais com alusão ao desenho do voo do pássaro131 2.4. Casas populares ... 141

CAPÍTULO 3 – GESTO PROJETUAL E ANÁLISE DA ARQUITETURA RESIDENCIAL DE FRANCISCO PETRACCO ... 148

CAPÍTULO 4 – CASA SAMUEL E CLÁUDIA ROTHENBERG ... 159

CAPÍTULO 5 – CASA VICENTE IZZO ... 182

CONCLUSÃO ... 207

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 213

(19)

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem por objetivo geral compreender a produção arquitetônica da geração de arquitetos paulistas que, a partir da década de 1950, com a afirmação da arquitetura moderna no país, por meio da contribuição de Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Rino Levi e Affonso Reidy, explorou a chamada arquitetura brutalista, mais evidente em São Paulo, e encabeçada pelos arquitetos Vilanova Artigas e Paulo Mendes da Rocha.

No âmbito mais restrito, a presente dissertação de mestrado versa sobre a produção arquitetônica residencial e a trajetória profissional do arquiteto Francisco L. M. Petracco (1935) no âmbito da arquitetura moderna paulista de 1970 e 1980.

Os projetos de Francisco Petracco, escolhidos segundo o critério inicial da exuberância plástica e singularidade formal e estrutural, incluíram as casas de Vicente Izzo (1972-1975) e de Samuel Rothenberg (1982-1993), ambas apresentadas e analisadas nesta dissertação. Elas também foram escolhidas como tema devido tanto aos partidos de linguagem singular, quanto ao experimentalismo dos sistemas estruturais e à sofisticação dos detalhes construtivos. Tais elementos criam, por sugestão, espaços arquitetônicos especiais, que fazem transcender o lugar comum, pois a materialidade e a estrutura são elementos inovadores, que, muitas vezes, subvertem programas tradicionais e partidos convencionais em função da sensibilidade do Petracco no que diz respeito ao modo como esses elementos são manipulados nos projetos residenciais do arquiteto. Essa conduta e resultado comum observados nos projetos do Petracco instigam o aprofundamento do estudo da sua produção.

As casas projetadas por Francisco Petracco são parte significativa de sua obra. Sua produção arquitetônica residencial possui elementos que se destacam, entre os quais a tectônica da estrutura, os espaços amplos, a valorização da textura e os jogos de cheios e vazios e luzes e sombras, elementos estes que esclarecem a singularidade de seus projetos.

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argumentos funcionalistas que mascaram a arquitetura à luz do racionalismo e da organização programática. Para a investigação e análise de projetos, serão utilizadas análises gráficas a partir de redesenhos dos projetos das residências e de modelagens digitais e maquetes físicas.

A fim de levar a cabo a análise das obras residenciais escolhidas, foram utilizados os seguintes procedimentos:

Levantamento

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Figura 1: Gráfico sobre porcentagem de tipologias dentro dos projetos do arquiteto

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Revisão bibliográfica

O estudo bibliográfico foi realizado em periódicos, artigos, teses, dissertações e livros referentes ao tema desta pesquisa e visa contextualizar historicamente o arquiteto estudado, de modo a identificar as suas premissas arquitetônicas e sua metodologia de projeto, além de procurar um referencial para análise do objeto.

Esta etapa foi realizada com base em pesquisas de periódicos na biblioteca da FAU-USP, dissertações e teses nas bibliotecas da FAU-Mackenzie, FAU-USP e FAU Maranhão, além de acervos de bibliotecas online de outras universidades, como a da Universidade Anhembi-Morumbi.

Pesquisa gráfica, sistematização e redesenho: modelagem digital como meio analítico

A pesquisa contou ainda com a disponibilidade do acervo particular do arquiteto, localizado em seu escritório. O acervo conta com projetos, memoriais, documentos dos projetos feitos ao longo da carreira de Francisco Petracco.

Na sua maioria, o suporte dos desenhos originais é o papel vegetal de natureza variada e as técnicas predominantes são os desenhos em grafite e nanquim. Os desenhos de estudos preliminares são geralmente os mais exuberantes (provavelmente tais técnicas de desenho eram utilizadas como recurso de convencimento do projeto para o cliente), produzidos em suporte de folha vegetal, com desenhos em nanquim. Muitos apresentam os preenchimentos de pisos, de jardins e das estruturas a graxa ou por películas de papéis coloridas ou com alguma padronagem gráfica impressa. No acervo, foram encontradas reproduções em papel e até em poliéster.

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projetos ou plantas com diferentes desenhos para uma mesma pessoa, as quais necessitaram ser identificadas.

Foi realizada uma organização sistemática dos projetos disponíveis no acervo do arquiteto, registrando-se o máximo possível de informações, como: nome do cliente, local do projeto, data e as peças disponíveis que compõem o projeto. A pesquisadora teve dificuldade em preencher todas as informações, pois muitos desenhos encontrados não apresentavam registro de data e local, dados importantes para analisar a obra e contextualizá-la dentro carreira do arquiteto.

Análise de projetos

Os projetos residenciais selecionados para estudo de caso foram reconstituídos por meio de redesenhos, modelagens digitais e maquetes físicas, que serviram para o entendimento da materialidade e da relação intrínseca da materialidade e do sistema estrutural. O objetivo da reconstituição é resgatar o passado histórico, atualizando-o e, assim, compreendendo a arquitetura. O procedimento é a utilização de métodos digitais e físicos, com a representação projetual e a reconstituição da arquitetura.

Os produtos do levantamento de residências foram classificados em categorias, a fim de se ter uma visão geral da produção de projetos residenciais e identificar continuidades ou não, bem como as principais recorrências. Os conjuntos de soluções arquitetônicas recorrentes entre os projetos foram resumidos em quatro categorias:

1. Pavilhões;

2. Caixa elevada e estruturada por pórticos; 3. Formas orgânicas;

4. Coberturas principais com alusão ao desenho do voo do pássaro.

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Para a representação gráfica dos redesenhos e organização de dados por meio de fichas, a pesquisa considerou como exemplo o livro Residências em São Paulo: 1947-1975, de Marlene Acayba, produzido em 1986 e reeditado em 2011.

Os redesenhos e modelagens foram analisados à luz de critérios e características que esclarecem a arquitetura moderna no período analisado, enumeradas por Ruth Verde e Maria Alice Junqueira Bastos, em 2010, no livro

Brasil: arquiteturas após 1950. Essas características destacam pontos importantes na concepção de um projeto arquitetônico e ajudaram a direcionar a análise do objeto.

Além disso, os objetos de estudo foram submetidos aos gráficos analíticos formulados pelo professor Wilson Flório em 2002, no livro: Projeto Residencial Moderno e Contemporâneo: análise gráfica dos princípios da forma, ordem e espaço de exemplares da produção arquitetônica residencial. A opção por esse método de análise se deu por apresentar uma clara concepção de conceitos de projeto por meio da imagem, sendo resultado de uma pesquisa feita na Universidade Presbiteriana Mackenzie com o objetivo de estabelecer princípios de análise gráfica de projetos. De acordo com o próprio Flório:

O principal instrumental do arquiteto é a capacidade de pensar e de expressar-se por meio de desenhos. Nesse sentido, vemos como natural essa procura de entendimento e de síntese da obra arquitetônica pelo mesmo instrumental que a produziu. (2002, p.9)

Sendo assim, a análise a ser apresentada na pesquisa dos projetos residenciais de Francisco Petracco é fruto destas diversas fontes, as quais, na apresentação dos projetos, irão complementar-se e orientar no sentido de proporcionar uma análise mais profunda.

Seleção de projetos

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dissertação, foram fichadas as casas projetadas pelo arquiteto entre as décadas de 1970 e 1980, período em que houve a maior produção de projetos residenciais e que também apresenta os projetos mais significativos e de maior exuberância – por exemplo, a Casa Vicente Izzo na Praia da Enseada, no Guarujá de 1974, publicada em revistas na época e apresentada na tese de doutorado do arquiteto (2004).

Para eleger as casas que serviriam como objetos de pesquisa, os critérios de escolha para estudos de caso se fundamentaram em Foqué, no livro Building Knowledge in Architecture, escrito em 1943 (edição de 2010). Esses critérios são os seguintes:

• As casas devem ter sido construídas entre as décadas de 1970 e 1980 (data definida pela pesquisa);

• Devem prover a pesquisa de informações suficientes para compreensão e redesenho do projeto;

• Os projetos devem ser relevantes;

• Deve haver publicações existentes dos projetos selecionados;

• Devem possuir forma envolvente e de destaque como primeira impressão;

• Deve haver possibilidade de acesso às casas.

Contudo, nenhum dos projetos residenciais de Francisco Petracco satisfaz integralmente os critérios de seleção acima relacionados. Optou-se, então, por selecionar casas que atenderam à maioria dos critérios de Foqué e que tenham sido citadas pelo arquiteto em sua tese de doutoramento, demonstrando, assim, sua relevância graças à menção no âmbito do conjunto da obra. Assim, tem-se:

• Residência Vicente Izzo, Guarujá, 1972.

• Residência Samuel Rothenberg, Ubatuba, 1982.

Pesquisa de campo

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porta, por questões que nos escapam. Optou-se, então, pela análise com base no material documental de projetos do arquiteto, que tivessem o maior número de fotografias disponíveis dentre os arquivos do próprio arquiteto. Esses foram selecionados como objetos de estudo e referenciais de peças gráficas, mesmo que estas tenham servido para alimentar o redesenho.

A pesquisa parte da justificativa de que a obra do arquiteto Francisco Petracco integra uma geração de arquitetos formadores do movimento moderno em São Paulo e no País, geração constituída por arquitetos como Paulo Mendes da Rocha, Jorge Wilheim, Telésforo Cristófani, Roberto Aflalo, Alfredo Paesani, Fábio Penteado, Pedro Paulo Melo Saraiva, entre tantos outros. Todos eles são herdeiros do debate arquitetônico no Brasil do início do século XX – do ideário divulgado por Le Corbusier, Lúcio Costa, Lina Bo Bardi, Rino Levi e Oswaldo Bratke — que muito contribuíram para dar impulso à disseminação da arquitetura moderna no país. Formados nas décadas de 1940 e 1950, viveram um momento histórico marcado pelo otimismo desenvolvimentista, devido à consolidação da indústria. Na época assistia-se ao crescimento do mercado imobiliário na cidade de São Paulo, bem como no Estado e no Brasil, como um grande promotor da arquitetura e principal investidor em infraestrutura, responsável pela construção de Brasília e de grandes obras impulsionadas por meio de concursos públicos de arquitetura (PETRACCO, 2004). Durante esse período, os arquitetos responderam à altura das expectativas, atendendo à ânsia de desenvolvimento e à oportunidade de realizar projetos para grandes empreendimentos embasados em teorias e posicionamentos, além de avanços tecnológicos da época (REIS FILHO, 2006).

Este trabalho tem também por objetivo geral compreender a produção arquitetônica da geração de arquitetos paulistas que, a partir da década de 1950, com a afirmação da arquitetura moderna no país, por meio da contribuição de Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Rino Levi e Affonso Reidy, explorou a chamada arquitetura brutalista, mais evidente em São Paulo, encabeçada pelos arquitetos Vilanova Artigas e Paulo Mendes da Rocha.

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expressivo desenvolvimento estrutural e constituindo-se como integradora das artes (MONTANER, p.25, 2001).

Desta forma, a pesquisa pretende contribuir para amplificar o repertório estudado de arquitetura moderna em São Paulo e no Brasil e lançar luz a exemplares pouco divulgados em revistas e em livros, que podem reforçar a compreensão do desenvolvimento e consagração da arquitetura moderna e que se destacam por sua linguagem em sua época de produção.

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CAPÍTULO 1 - FRANCISCO PETRACCO: FORMAÇÃO E

CONTRIBUIÇÃO À ARQUITETURA MODERNA PAULISTA

1.1. A geração do arquiteto Francisco Petracco e o ambiente histórico da década de 1950 no Brasil e em São Paulo

A intensa produção arquitetônica dos arquitetos diplomados pela Faculdade de Arquitetura Mackenzie no período que compreende a fundação dessa Escola como Faculdade autônoma, em 1947, até 1965 relaciona-se à transição dos paradigmas arquitetônicos acadêmicos para os modernos. É possível dizer que tais transformações, do ideário e da prática arquitetônica em meio a essa transição, incidiram de maneira significativa na educação dos arquitetos brasileiros e paulistas (ABASCAL et al., 2013, p.3). Deve-se lembrar que elas correspondem ao período de implantação e desenvolvimento da indústria nacional e consequente desenvolvimento da infraestrutura necessária para a substituição das importações, além de marcarem uma evolução da cultura nacional e afirmação da nacionalidade de um país que procurava seu lugar no cenário da produção arquitetônica mundial (ABASCAL et al., 2013, p.3).

Esse período corresponde aos anos com o maior crescimento da população e intensificação do êxodo rural, levando à formação das grandes metrópoles e caracterizando, na maior parte dos casos, um processo exponencial e desordenado de crescimento urbano, pois a demanda era muito maior do que os recursos disponíveis. A classe média também se expandiu, acompanhando o crescimento econômico e demandando serviços de qualidade, tais como habitação, muitas vezes oferecidos pela iniciativa privada (ABASCAL et al., 2013, p.3).

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reivindicações sociais, feito através dos Institutos de Aposentadoria e Pensões, por exemplo, significou um grande investimento na construção, impulsionando, na época, os escritórios de arquitetura e de engenharia.

Essas construções priorizavam a relação custo-qualidade e, para isso, foram aplicados métodos racionalizados de projeto e construção, indicando um conhecimento preciso por parte dos profissionais envolvidos nas dificuldades técnicas e materiais implícitos nesse processo. Tal política foi notável para a época em razão do número de unidades construídas e da qualidade física dos resultados alcançados (BRUNA, 2010, p.120). No que se refere à qualidade física desses resultados, impressiona a clareza com que as diretrizes do movimento moderno foram consideradas pelos arquitetos e administradores que trabalharam nos projetos dos IAPs, as quais refletem o conhecimento atualizado do debate internacional e o resultado equilibrado das discussões internas, que, no Brasil, travaram-se sobre o papel do Estado e da questão habitacional (BRUNA, 2010, p.122).

Assim, nos diversos centros urbanos brasileiros surgiram novos bairros, oferecendo condições favoráveis ao acolhimento da arquitetura moderna. Esta, por sua vez, também se apresentou na forma de edifícios corporativos, comerciais e residenciais, dando oportunidade ao florescimento de uma intensa e renovada prática arquitetônica. (ABASCAL et al., 2013, p.3).

A arquitetura brasileira ganhou notoriedade na década de 1950. No ano de 1956, o livro do arquiteto Henrique E. Mindlin foi publicado, visando fazer um balanço completo da arquitetura moderna brasileira, com apresentação de obras pelo país, mas com ênfase em Brasília, a nova capital (BRUNA, 2010, p. 160). Ao compreender o momento histórico de incentivo à construção e ascensão da arquitetura no país, também é possível avaliar a importância da formação dos profissionais envolvidos no meio, que deram respostas rápidas e eficazes às demandas da época. Como dizem Abascal et al:

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A formação de Francisco Petracco na Faculdade de Arquitetura Mackenzie, assim como de outros reconhecidos arquitetos paulistas diplomados por essa escola, como José Maria Gandolfi, João Carlos Bross, Maurício Tuck Schneider, Roberto Ciampolini Bratke, Décio Tozzi, entre tantos outros, ocorreu a partir de sólida base acadêmica nos moldes da École de Beaux Arts de Paris e da transição representada pela incorporação de princípios modernos. A familiaridade com esse novo referencial, que foi sendo transmitido aos diplomados pela FAU Mackenzie, não é um processo linear e de causas imediatamente detectáveis, por consistir em complexa constelação de fatores, acontecimentos e caminhos (ABASCAL et al., 2013, p.3).

Nesse contexto, é possível inferir indícios do diálogo entre matrizes e instrumentais academistas e o novo repertório moderno que se consolidava: entre eles, a disponibilidade, na cidade de São Paulo à época da formação na academia, de importantes exemplares de arquitetura moderna, de autoria de profissionais brasileiros e estrangeiros que aqui atuavam, como Rino Levi, Gregori Warchavchik, Bernard Rudotski, para citar alguns nomes, sem esquecer que a cidade apresentava importantes obras de autoria de engenheiros-arquitetos, muitos deles formados pelo Curso de Arquitetura da Escola de Engenharia Mackenzie, instalada em 1947, entre os quais Eduardo Kneese de Melo (REGINO; PERRONE, 2009) e Oswaldo Arthur Bratke:

A Arquitetura Moderna repercutiu, no Brasil, influenciada não só pelas realizações européias no período entre guerras, mas também pelo debate internacional dos CIAM (Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna). Após a Primeira Guerra Mundial, as vanguardas européias exerceram grande influência, quando no Brasil, o Movimento Moderno emergiu contando com a contribuição do pensamento de alguns grupos de intelectuais e artistas, principalmente paulistas (REGINO; PERRONE, 2009, p. 3).

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evidenciando a presença de arquitetos nacionais e estrangeiros radicados no país, que deixaram a marca de suas obras no conjunto da cidade em transformação

(ABASCAL et al., 2013, p.4). Cabe lembrar que muitos são os egressos do Mackenzie formados nesse ambiente de renovação e embate com a tradição acadêmica, dentre os quais se destaca o arquiteto Paulo Mendes da Rocha, agraciado em 2006 com o Pritzker Prize, o prêmio internacional mais importante a ser concedido a um arquiteto pelo reconhecimento do conjunto de sua obra (LIMA, 2009).

A característica acadêmica foi decisiva e marcante para o Curso de Arquitetura da Escola de Engenharia do Mackenzie College, criado em 1917 e dirigido pelo arquiteto Christiano Stockler das Neves. Este, que se formou na Fine Arts School of Pennsylvania, em 1911, buscou, para o recém-inaugurado curso de arquitetura em São Paulo, um ensino fundamentado em versão norte-americana e interpretação dos padrões das Beaux-Arts francesas. Sob influência norte americana, essa forma de ensinar os padrões universais da academia calcava-se na reprodução de soluções eficientes e pragmaticamente aplicadas, sistematizadas em manuais e em transposição do ensino em ateliê dirigido por um mestre, ou patron d’atelier, que exercia o papel de difusor de moldes e preceitos clássicos (PEREIRA, 2005).

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uma ruptura com a formação e a instrumentação proporcionadas pela Escola Acadêmica (ABASCAL et al., 2013, p. 5 e 6).

Os princípios da arquitetura acadêmica das Beaux Arts somavam-se à articulação entre arte e técnica, e sistemas construtivos e elementos arquitetônicos pertinentes à temática e à finalidade do projeto. O projeto recebia uma “correção compositiva”, gesto de aplicação à composição das elevações e dos volumes, às relações entre cheios e vazios e observância dos princípios clássicos de equilíbrio, ritmo, proporção e harmonia. Os alunos, considerados aprendizes no ateliê, desenvolviam temas arquitetônicos únicos – composições a partir de elementos construtivos e ornamentos clássicos, que deveriam apresentar resultados eficientes em face do que era considerado adequado para uma determinada tipologia ou tema arquitetônico. Assim, era natural que manuais de arquitetura fossem utilizados pelos profissionais para assegurar e garantir a pertinência e correção do projeto. Edificações que funcionavam apenas como abrigos, cujos projetos não se utilizavam de tais princípios, não eram consideradas interessantes ou verdadeira arquitetura, sequer pertinentes (ABASCAL et al., 2013, p. 10 e 11)

Francisco Petracco, diplomado pela Faculdade de Arquitetura Mackenzie em 1958, recebeu formação fortemente marcada por moldes clássicos, em meio a tempos de mudança iminente dos padrões acadêmicos da arquitetura. Essas mudanças se expressariam no processo histórico de emergência da arquitetura moderna. É possível sugerir que, mesmo sob a influência da transformação arquitetônica e de postura dos arquitetos à época, não era possível se desvencilhar dos princípios arquitetônicos acadêmicos pelo fato de a Faculdade de Arquitetura Mackenzie se encontrar sob forte pressão das práticas e ideologia de seu fundador, o arquiteto Christiano Stockler das Neves (PEREIRA, 2005).

Ao analisar a obra arquitetônica de Petracco, é possível verificar que os princípios herdados dessa escola, tais como o domínio da representação e do desenho por meio de práticas acadêmico-historicistas, possibilitou a introjeção de princípios, tais como a harmonia do todo, o ritmo, o apuro em relação à estética e à forma, e a sofisticação dos sistemas construtivos, elementos que, pode-se supor, estão presentes desde a concepção dos projetos até a obra construída.

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suficientes para acompanhar não apenas a conservação academista, mas o novo movimento arquitetônico que emergia no Brasil. A arquitetura moderna emergente se pautava na concepção de desenvolvimento de novas soluções, linguagem e articulação dos fatores intervenientes na projeção a uma solução estrutural e domínio material que definiu e contribuiu para tornar consistente a arquitetura moderna, tornando-a independente de tipologias previamente estabelecidas e de temas arquitetônicos previsíveis, libertando-a da servidão a elementos compositivos e ornamentos aplicados.

Como dito anteriormente, o momento histórico caraterizado pelo recorte dos anos 1950 e 60 foi extremamente rico em manifestações culturais, arquitetônicas e artísticas pelo mundo, e, no Brasil, elas acompanharam os processos de modernização e progresso a partir do fim da Segunda Grande Guerra Mundial (MOTA, 1994). Mesmo a partir de 1964, com o Golpe Militar e a implantação da ditadura militar, malgrado os processos intrínsecos de repressão durante esse período, o ideário desenvolvimentista foi afirmado pelos meios de comunicação de massa, e, nesse ambiente sociocultural instigante, os arquitetos foram estimulados a debater e expressar, em seus projetos de arquitetura moderna, as reflexões, os contatos e as referências que, no momento, esse ideário representava. As importantes transformações ocorridas no cenário nacional, como uma nova linguagem arquitetônica e seus meios técnico-materiais, apresentaram qualidades como: estruturas que revelam edifícios concebidos com grande e apurado requinte estético, matéria bruta convertida em leveza visual, busca por soluções construtivas e materiais que afirmam experimentação material e estética corajosa (ABASCAL et al., 2013, p.13).

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1.2. A carreira de Francisco Petracco

Paulista e filho de imigrantes italianos, Francisco Petracco nasceu em 1935. Sofreu influência decisiva da família, tanto em sua formação profissional, quanto em sua sensibilidade artística e ideologia política. O avô materno, Francesco Verrone, também arquiteto, veio da Itália para projetar e coordenar as obras da IRF Matarazzo, bem como a Casa das Caldeiras e a Maternidade e Hospital Matarazzo, e o avô materno, José Petracco, foi o fundador da Indústria Petracco e Nicoli, o que fez com que seus filhos estudassem música e arte e frequentassem lugares como o Instituto átto Marcello, habitualmente voltado aos artistas e intelectuais, entre eles Mário de Andrade. Estudou no Colégio Dante Alighieri, onde teve contato com o professor, desenhista e pintor Vicente Mecozzi, que o incentivou a estudar arquitetura, assim como esse mesmo ambiente veio a incentivar outros alunos, como Telésforo Cristófani, também um promissor futuro arquiteto que a Faculdade de Arquitetura Mackenzie veio formar. Petracco ingressou na Universidade Mackenzie em 1954 e o fez por recomendações da família: essa era uma escola particular que vinha recebendo em seus bancos a elite paulistana (PETRACCO, 2004, p.28).

Figura 3: Foto do arquiteto Francisco Petracco. Fonte: http://blogs.estadao.com.br/wp-

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No período em que o arquiteto frequentou a Faculdade, conviveu e recebeu ensinamentos compatíveis com o ensino inspirado na École de Beaux-Arts

parisiense, com aulas de desenho artístico ministradas por três anos na grade curricular, evidenciando a prioridade dessa disciplina na formação do arquiteto. A Faculdade de Arquitetura Mackenzie é fruto do Curso de Arquitetura que foi abrigado na EEM - Escola de Engenharia Mackenzie desde 1917 - e contava com professores imbuídos de uma postura beauxartiana, pautada na própria formação que o fundador do Curso, Arquiteto Christiano das Neves, recebera na Fine Arts School of Pennsylvania, nos Estados Unidos da América, no curso que concluíra em 1911 (PEREIRA, 2013).

A formação preconizada pelo curso de Beaux-Arts (que veio a persistir e fundamentar a Faculdade de Arquitetura a partir de sua fundação, em 1947) orientava-se pela aplicação de recursos e princípios clássicos pautados na composição (SUMMERSON, 2002), valorizando harmonia e equilíbrio composítivos e preconizando que somente a habilidade da representação pelo desenho consistia no meio por excelência para a expressão do arquiteto, e verdadeiro contexto da produção de Arquitetura.

A direção e consistência intelectual e profissional do arquiteto Christiano S. das Neves teriam sido responsáveis pela condução do processo de ensino de Arquitetura desde a emancipação e fundação da Faculdade de Arquitetura em 1947 (ABASCAL et al., 2013, p.30). Entre o corpo docente, um dos professores que se destacava era o artista Pedro Corona, nascido em Jaú, no interior do estado de São Paulo, em 1897 (SALOMÃO, 2012). Corona estudara desenho e pintura na Europa, recebendo formação que valorizava os princípios da academia de Belas Artes. Seus projetos foram elogiados quando ainda jovem e ele, além disso, participara de exposições individuais e coletivas.

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arquitetônico por meio de seu instrumento primordial, o desenho, que possibilitava a composição e a plástica (ABASCAL et al., 2013, p.17 e 18).

Conforme Mendes e Breia (2013), vale destacar a contribuição do prof. engenheiro-arquiteto Francisco Kosuta, que fora competente no ensino de Geometria Descritiva, referência fundamental para compreender a habilidade e competência necessárias ao campo da representação arquitetônica, e, segundo Petracco (apud BREIA): ‘o bê a bá da arquitetura’ (ABASCAL et al., 2013, p.22). As relações pessoais e didáticas entre professores e alunos foram bastante estreitas e renderam futuras parcerias profissionais, a exemplo do professor Roberto Zuccolo, que calculou diversas estruturas dos projetos de Petracco, de forma a possibilitar a linguagem orgânica e tensional delas:

Roberto Rossi Zuccolo, que entendeu perfeitamente e foi difusor da necessidade de constante e profícua parceria entre arquitetos e engenheiros calculistas, não para antagonizar Arquitetura e Engenharia, mas torná-las harmônicas. Zuccolo jamais interferiu em um projeto ou concepção arquitetônica de um estudante, mas trabalhava para que a arquitetura fosse preservada apesar da necessidade estrutural, não se configurando hoje, por vezes, no caminho adotado pelas escolas (ABASCAL et al., 2013, p.23).

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História de Arquitetura Analítica e Desenho de Arquitetura Analítica, e outras que vinculavam sempre o desenho e a representação à teoria e constituíam-se em um método analítico, embasado em iconografia produzida pelos alunos que emulavam modelos históricos.

Às atividades extracurriculares realizadas pelos estudantes, como o estágio no SENAI - ao currículo de oito horas aula ao dia, somava-se o estágio para desenvolver aptidão técnica, para obtenção de conhecimento prático, sobretudo de sistemas construtivos e aplicação de materiais de construção. E o ensino de Topografia, dado pelo professor engenheiro Serafim Orlandi, integrava teoria e prática, sendo realizado em acampamentos, acompanhados da supervisão docente. Junto com jogos interuniversidades como o FAM-FAU, os alunos tinham atividades que contribuíram para a convivência e a participação do aluno em outras atividades da universidade e de seus colegas, como grupos que se formavam para prestar concursos de projetos (PETRACCO, apud ABASCAL et al., 2013, p.32)

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deixando-lhes um legado profissional plenamente desenvolvido com a prática, nas diversas ocasiões em que enfrentavam trabalhos mais complexos (PETRACCO, 2013).

E por isso, domínio de novas técnicas e materiais empregados em desenhos de perspectivas e plantas baixas ilustrativas, utilizando aquarelas, nanquim, estiletes, verniz e colagens e outros recursos possibilitavam que os estagiários fossem solicitados para colaborar em projetos alvo de concursos (ABASCAL et al., 2013, p.33).

Figura 4: Foto do Anteprojeto para o Concurso do Tênis Clube Presidente Prudente (1966) - desenho em nanquim, colagens e graxa. Fonte: Francisco Petracco (Acervo organizado por Angela Diniz,

2014).

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trabalhou para o arquiteto Hoover Américo Sampaio e participou, em 1959, do concurso do IPESP – Instituto de Previdência do Estado de São Paulo, sendo ganhador do 2° prêmio do concurso (PETRACCO, 2004).

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Figura 5: Assembleia de Minas Gerais (1962). Fonte: Caderno de Projetos do Arquiteto (2014)

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Figura 7: Escultura de Caciporé Torres no Clube XV (1963). Fotografia de autor desconhecido. Fonte: Caderno de projetos do Arquiteto (2014)

Em 1958, ano em que Francisco Petracco se formou, a carreira do arquiteto veio a se beneficiar da bonança econômica advinda da industrialização e construção de Brasília, bem como do desenvolvimento da capital de São Paulo, que apresentou grande demanda de trabalho para um número restrito de arquitetos – lembrando que só havia dois cursos de arquitetura na cidade, o do Mackenzie e da FAU-USP (ABASCAL et al., 2013, p.23). Os concursos foram de vital importância para o desenvolvimento da arquitetura, pois foram eventos catalisadores das discussões teóricas e tecnológicas vigentes na época (SANTOS, 2000).

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também da cronologia – não apresentando uma linearidade ou progressão de soluções – como uma estrada de duas mãos, era permitido ir e voltar.

Os arquitetos lançavam-se aos desafios e às novas possibilidades do concreto armado, de componentes pré-fabricados e de outros materiais que lhes pareciam interessantes pela sua disponibilidade no mercado do país, como blocos de alvenaria e de concreto, vidros e madeiras. As referências arquitetônicas não eram somente endógenas à própria obra do arquiteto, mas também exógenas, fundamentando-se em produções de outros arquitetos - da arquitetura de residências ou de grandes instituições. Geralmente as referências são mais próximas e contemporâneas como Oscar Niemeyer e Oswaldo Bratke incide na obra de Petracco. Por exemplo, o partido da grande cobertura de projeção retangular, empregado desde o final da década de 1950 em obras paulistas de variadas tipologias, como a Escola Estadual de Guarulhos (1960), de Paulo Mendes da Rocha, e a Garagem de Barcos do Santa Paula Iate Clube (Interlagos, São Paulo, 1960), ambas obras de Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi. (VERDE; BASTOS, 2011). Foram obras que constituíram importantes referências, com soluções que podem ser encontradas em projetos da autoria de Petracco, como o partido dos projetos das Centrais Telefônicas (1968-69) e o projeto do Núcleo Educacional Infantil Jardim Santo Inácio (São Bernardo do Campo-SP, 1975).

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Figura 9: Núcleo Educacional Santo Inácio (1975). Fontes: Acervo do Arquiteto (1975)

Figura 10: Núcleo Educacional Santo Inácio (1975).Fonte: Acervo do Arquiteto (2003)

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Os apoios triangulares desenham inflexões, estreitamentos, alargamentos e vazios estrategicamente posicionados, enfatizando questões estruturais de transição de esforços e tirando partido de detalhes como o recolhimento de águas pluviais e aberturas para iluminação zenital, para ativar e densificar a abordagem conceitual, chegando numa resolução complexa a partir de um esquema inicial simples. E como é habitual nessa e em outras obras de Vilanova Artigas, uma vez estabelecida a regra básica, são ativados uma série de mecanismos para criar variantes, de maneira que o resultado nunca é óbvio, mas sempre surpreendente (ZEIN, apud Clássicos da Arquitetura: Anhembi Tênis Clube / João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi, 2014)

Figura 11: Foto Clube XV de Santos (1963). Fonte: Caderno de Projetos do Arquiteto (2014)

Figura 12: Ginásio de Itanhaém de Vilanova Artigas (1959). Fonte: archdaily.com.br (2014)

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Figura 13: Grupo Escolar CPOESP Gomes Cardim (1961). Fonte: Currículo do Arquiteto (2012)

Figura 14: Foto do edifício da Assembleia de Santa Catarina (1967). Fonte: Apresentação para o doutoramento de Francisco Petracco (2004)

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pavilhão composto por estrutura de vigas e pilares ortogonais e regulares), a cobertura tornou-se o principal elemento articulador do programa residencial, incluindo a integração da área interna com a externa, formada pela piscina, pelo jardim e pelo estacionamento (XAVIER: 1983, p.176).

Figura 15: Corte da Residência na Cidade Jardim projeto de Marcos Acayba e Marlene Acayba (1972).Fonte: http://www.marcosacayaba.arq.br/lista.projeto.chain?id=2

Figura 16: Foto durante a construção da Residência na Cidade Jardim, projeto de Marcos Acayba e Marlene Acayba (1972). Fonte:

http://www.marcosacayaba.arq.br/simple.popUp.chain?path=imagens/grandes/fotos/2_02.jpg

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Niemeyer, veio desenvolvido com linguagem formal livre, que tinha como meta “fazer o ponto de apoio cantar”. 1

Muitos pilares que apresentavam formas singulares eram desenvolvidos sob o discurso da funcionalidade, como os pilares de Vilanova Artigas, projetados para a Rodoviária de Jaú (1973). Esse desenho possibilita a entrada de luz por meio de aberturas entre as ramificações que constituem o pilar, permitindo a iluminação no meio do pano da extensa laje de cobertura – a utilização do concreto armado tornou possível que elementos como pilares, vigas e a laje de caixão-perdido se tornassem unidades para quem observa, sem arestas, que indicassem onde termina um e começa o outro. A superfície da estrutura reflete a luz zenital e a distribuiu para a circulação dos usuários da rodoviária, assim como as cargas tensionais da estrutura são transferidas para o solo. Petracco utilizou-se deste mesmo elemento na Residência Vilázio Lellis (São Paulo, 1985): apoia a laje de cobertura da piscina, de forma sinuosa e também consiste em uma laje de caixão perdido (com blocos de isopor ao invés de blocos cerâmicos) – o pilar está próximo à fachada e contrasta com as vigas retas de concreto armado.

Outros projetos de Petracco que se podem destacar, que apresentam pilares com desenhos expressivos e que representam o principal elemento plástico e estrutural da obra, são o projeto para a agência bancária BANESPA, em Dois Córregos (1970) e o da casa Vicente Izzo, no Guarujá (1972 e 1975).

1 Citação do arquiteto francês Auguste Perret em L’Encyclopédie française - v.16, p.

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Figura 17: Rodoviária de Jaú, de Vilanova Artigas (1973). Fonte: www.archdaily.com.br

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Figura 19: Planta da Agência bancária BANESPA de Dois Córregos (1963). Fonte: Currículo do Arquiteto (2012)

Figura 20: Fachada da Agência bancária BANESPA de Dois Córregos (1963).Fonte: Currículo do Arquiteto (2012)

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Entre outras tantas soluções arquitetônicas, apesar das justificativas que muitas vezes priorizam o discurso funcionalista, é possível sugerir que arquitetos paulistas modernos, tais como Francisco Petracco, não desvincularam preocupações sistemáticas relativas ao programa e à determinação estrutural dos aspectos e intenções estéticas e plásticas. Assim, Ruth Verde Zein (2005) polemiza a questão do estilo como prisão da criatividade, bem como seu uso e apropriação pelo discurso da arquitetura moderna:

Essa simples definição parece ser de muito simples aceitação em si mesma: pertencendo a arquitetura a um domínio do ‘mundo expressivo’, sempre que um conjunto de obras puder ser caracterizado como tendo uma razoável e verificável ‘unidade de formas, acentos e atitudes dominantes, não implicando em igualdade de resultados e de ideias, mas em complexa ´variedade formal e de conteúdos’, pode-se inferir que essas obras compartilham o mesmo ‘estilo’ (VERDE, 2005, p. 25-6).

A autora se refere à presença de recorrências expressivas na obra de um mesmo arquiteto e chama a atenção para o fato de que por “estilo” não se deve compreender qualquer tipo de emulação do preexistente, no sentido de limitação criativa, mas sim alusão e referência para se avançar.

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1.3. A carreira acadêmica

Petracco também viveu um intensa carreira acadêmica, que permitiu a defesa dos princípios do desenho e da composição e, também, a formação profissionalizante do arquiteto desde a graduação – as mesmas diretrizes observadas em sua formação na Universidade Mackenzie. O primeiro passo para a carreira acadêmica foi em 1963, ano em que arquiteto concluiu o curso de preparação de professor na FAAP – Fundação Armando Alvares Penteado e, a convite de Flávio Império, começou a lecionar na mesma instituição. O curso era estruturado por Flávio Motta, que formou uma gama de diversos profissionais, como artistas, cineastas e comunicadores (PETRACCO, 2004, p.45).

Francisco Petracco lecionou no Mackenzie no ano de 1964, mas deixou o curso no mesmo ano, pois foram cortados os contratos mais recentes de professores. (PETRACCO, 2004). E, em 1968, quando deixou a escola novamente, por decisão da então Reitora Esther de Figueiredo Ferraz, que o convidou a fazê-lo, junto com outros dezoito professores, devido às suas posições declaradamente de esquerda (ABASCAL et al., 2013, p.18 e 19). Era uma época em que o desenho já havia perdido força na formação do aluno na FAM e ainda era ensinado de modo descontextualizado do projeto. O corpo docente havia sido reformulado.

Petracco foi convidado a integrar o novo quadro docente juntamente com outros colegas arquitetos como Odileia Toscano e Vespaziano Puntoni, que eram fanáticos desenhistas e nutriam muitas esperanças e se encontravam confiantes de resgatar ao curso a mesma ênfase conferida a suas formações. Mas professores como Pedro Corona, que foram substituídos por professores mais jovens, faziam falta e muitos defeitos dos tempos de aluno ainda eram presentes. Nesse período, os professores já se consideravam ‘modernistas-estruturalistas’ e tinham a consciência da importância do contexto do projeto (ABASCAL et al., 2013, p.35), assim:

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mas insuficientes à determinação da proposta arquitetônica e de urbanismo. (PETRACCO apud ABASCAL et al., 2013, p.35).

Francisco Petracco voltou a lecionar no Mackenzie em 1992, na disciplina de Projeto, fazendo parte da equipe de implantação do Trabalho de Graduação Interdisciplinar, o TGI. No curso, havia um aumento no número das disciplinas, com predominância do Departamento de Projetos. Em 1960, a Faculdade havia incorporado a disciplina de Planejamento Urbano, mas não houve predominância entre as disciplinas de Técnicas e de Histórias e Teoria da Arquitetura. Além disso, também sempre se apresentou como um curso com programa independente da FAU-USP. O Arquiteto acredita que, por um bom tempo, o curso se aproximara dos objetivos dos professores, mas, por muito tempo, não era clara a interdisciplinaridade ou interação entre as matérias, como, por exemplo, as de “Estruturas e Projeto” (PETRACCO, apud ABASCAL et al., 2013, p.35).

Ao considerar a arquitetura fruto de uma tríade: observação, criação e crítica, tendo o desenho como meio para transpassar estas etapas, Petracco trabalhou em outras instituições e chegou a organizar novos cursos de arquitetura, sempre apresentando tal concepção, que corresponde às preocupações oriundas da sua formação de base beauxartiana, apesar das mudanças em direção ao conceito da estética e ao contexto do projeto moderno. Sendo assim, Petracco foi convidado, em 1971, para lecionar na Universidade Católica de Santos – a UNISANTOS, um curso de arquitetura criado por Oswaldo Correa Gonçalves, Abraão Sanowicz e Júlio Katinsky, (PETRACCO, 2004, p.61). Contava com arquitetos como Sergio Ferro e Gustavo Caron e preconizava o equilíbrio entre atividades acadêmicas e profissionalizantes, buscando a excelência no desenvolvimento dos trabalhos dos alunos. Manteve a ideia de que é fundamental à arquitetura a criação de “espaços harmônicos”, possibilitados pela habilidade de compor (PETRACCO, 2004, p.61). Petracco deixou o curso da FAU-Santos no ano de 1996, pois já havia voltado a lecionar na Universidade Mackenzie desde 1992 e também coordenava o Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Anhembi-Morumbi desde 1994. Antes ainda, o arquiteto lecionou na Universidade Belas Artes, em 1983 (PETRACCO, 2004, p.59-71).

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e reuniu professores como Antonio Carlos Sant’Anna Jr., José Rolemberg (Zico), Lelio Reinert, Ruth Verde Zein e Claudio Manetti, sob o olhar de um urbanismo que compreendia o desenho como essência. Os professores eram profissionais aptos a entender e ensinar projeto como desenho urbano, uma essência a preservar nos temas relacionados à arquitetura e urbanismo. Foi a convite de Sami Bussab,que, em 1992, Petracco voltou a lecionar na Universidade Presbiteriana Mackenzie, onde continua até hoje, contribuindo ainda no TFG - Trabalho de Graduação (ABASCAL et al., 2013, p.21). Segundo assinala Abascal,

Destaca que se ensinava que a arquitetura consistia em uma atividade que envolvia o projeto, considerando-o indissociável do artesanato, princípio que também era um dos princípios fundamentais da Bauhaus e da arquitetura moderna. Credita à sua formação a compreensão de que não é possível projetar sem entender o detalhe, a materialidade, e essa habilidade podia ser observada em todos os alunos, que sabiam fazer ao menos uma casa, da fundação ao telhado (ABASCAL et al., 2013, p.19).

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CAPÍTULO 2 – A PRODUÇÃO DE PROJETOS RESIDENCIAIS

A presente dissertação tem como pressuposto que os aspectos plásticos são indissociáveis do sistema estrutural e construtivo presente desde o partido arquitetônico. A partir de 1950, a preocupação formal e técnica dos projetos arquitetônicos alcançou notáveis expressões arquitetônicas. A monumentalidade e a linguagem singular resultam de experimentações que, de modo geral, são expressas por programas residenciais. As residências dão oportunidade aos arquitetos de propor soluções arrojadas e eficientes, inclusive de sistemas estruturais. E a qualidade desses projetos possibilitou impregnar as mesmas de significados. Sobretudo:

(...) o tema de casas nos remete ao tema do abrigo, da valorização da individualidade, do envolvimento, da atenção e da personalização que um projeto residencial nos traz (PETRACCO, 2004).

2.1. Referências Nacionais e Internacionais dos projetos residenciais de Petracco

As obras dos arquitetos da geração de Francisco Petracco passaram boa parte da literatura especializada sob o designativo “brutalista”, termo que procurou, de maneira ampla, definir a produção arquitetônica assim denominada como o produto da integração de elementos e sistemas estruturais, processos tecnológicos e elaborações programáticas inovadoras, pautadas pelo ideário moderno em curso.

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Na sua tese de doutorado, Petracco, ao explicar seus projetos residenciais, menciona de modo recorrente a existência de uma poética impressa nos elementos e peças estruturais. Argumenta que essa opção foi justificada pela possibilidade de mimetizar referências do entorno e da paisagem, que se expressariam arquitetonicamente. É recorrente também, na obra do arquiteto, o partido de formas orgânicas e a alusão ao desenho do voo do pássaro, por exemplo; esse ato consiste em uma operação autorreferencial, em que a forma nasce da forma (MUNARI, 1998), de seus antecedentes históricos; no caso, de soluções arquitetônicas presentes no conjunto da obra do arquiteto em análise.

É possível identificar ecos da postura adotada por Francisco Petracco, de que seus projetos alcançaram uma materialidade de referência orgânica e poética, aliada ao raciocínio técnico-funcional.

O espaço concebido segue também a lógica de expressão estrutural, revelando-se um diálogo entre plástica, espaço e matéria - a solução estrutural é, sem dúvida, responsável também pela exuberância e expressão da obra, por sua presença, para quem a frui (grifos nossos). Deve-se lembrar que “forma”, nesta acepção, não significa tão somente “contorno”, mas também a solução plástica que inclui outros determinantes, como o espaço e sua determinação, como percepção pelo corpo em movimento (MONTANER, 2002).

Apesar das justificativas que, muitas vezes, priorizam o discurso funcionalista, vale lembrar que, nesta pesquisa, a sugestão é de que arquitetos modernos, de que é exemplo Francisco Petracco, não desvinculam de suas preocupações sistemáticas relativas ao programa e à determinação estrutural intenções estéticas e plásticas que se revelam na construção metafórica e analógica expressa pelo desenho.

Assim, refere-se Ruth Verde Zein sobre a questão do estilo como prisão da criatividade e seu uso e apropriação pelo discurso da arquitetura moderna:

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A Autora aqui se refere à presença de recorrências expressivas na obra de um mesmo arquiteto e chama a atenção para o fato de que por “estilo” não se deve compreender qualquer tipo de emulação do preexistente, no sentido de limitação criativa, mas sim como alusão e referência que permitam o avanço.

Esta correspondência de determinações complexas é uma ação comum entre os arquitetos modernos, sinalizada pelo historiador e crítico de arquitetura, Giulio Carlo Argan:

Por detrás do interesse prático, havia uma ideia revolucionária: empregar materiais e técnicas da construção para levantar um edifício altamente representativo. Nas construções do movimento moderno pelo mundo é comum observar três resultados essenciais no “plano estético” - o que contraria o argumento de pensamento puramente racional: 1) valoriza o desenvolvimento dimensional, libertando do peso da massa a geometria dos volumes; 2) realiza uma volumetria transparente, eliminando a distinção entre espaço interno e espaço externo grande predomínio ao vazio (as vidraças) em relação ao cheio (os delgados segmentos): 3) obtém no interior uma luminosidade semelhante à do exterior. (...) Como o Art-nouveau (de Horta, Van de Velde e Gaudí), a decoração também se torna tensão, elasticidade, expressão simbólica de uma funcionalidade cujo dinamismo é uma característica do mundo moderno. Como no Gótico, a que se remete, uma única corrente de força se difunde em todas as nervuras, até se dispersar nos milhares de regatos de uma ornamentação agora integrada às estruturas (1992, p.85).

Pode-se verificar, em muitos projetos de Francisco Petracco, o que será apresentado nos casos selecionados e analisados em capítulos seguintes, que estes elementos de poesia são cumpridos em seus partidos arquitetônicos.

A arquitetura, dirá Argan,

Simultaneamente, porém, traz uma grande carga simbólica, pois suas estruturas e formas não mais se submetem ao princípio naturalista do equilíbrio estático dos pesos e resistências; acima de tudo, expressa uma ideologia progressista no próprio arrojo de suas linhas. (1992, p.86).

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A natureza já havia deixado de ser provinda de vontade superior, mas a experiência racionalista viu que a paisagem era uma questão a se resolver. Por sua vez, este problema não se resolve ditando regime de princípios, mesmo os mais liberais; resolve-se vivendo e interpretando a realidade” (ARGAN, 1992, p.266).

Assim, alusões orgânicas presentes no princípio metafórico de que o desenho se inspira, como modelo, em elementos da paisagem, adaptam a estrutura ao contexto natural por meio de elementos estruturais que possibilitam envolver o programa e formar o abrigo. Os argumentos de Francisco Petracco – de resgate da paisagem nostálgica e até mesmo de controle dos elementos da natureza, de forma a reduzi-los à escala do terreno, justificam o emprego do simbolismo ao domínio da natureza expressos no desenho. O cuidado de simbolizar e representar a história do lugar onde foi inserido acaba por propor uma paisagem por meio de instrumentos miméticos, que tem como consequência a definição da relação do edifício com o meio natural ao seu redor.

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Figura 22: Imagem do Terminal TWA do Aeroporto de Kennedy de Eero Saarienen (1959). Fonte: MONTANER: 2009, p.61

Por outro lado, não se pode negar que, de fato, o programa residencial foi uma oportunidade encontrada pelos arquitetos para desenvolver a tecnologia dos novos sistemas construtivos, como o concreto armado, e dos seus meios de execução, a fim de se chegar a uma nova expressão formal (VERDE; BASTOS, p.115, 2011).

Imagem

Figura 14: Foto do edifício da Assembleia de Santa Catarina (1967). Fonte: Apresentação para o  doutoramento de Francisco Petracco (2004)
Figura 16: Foto durante a construção da Residência na Cidade Jardim, projeto de Marcos Acayba e  Marlene Acayba (1972)
Figura 18: Residência Vilázio Lellis (1985). Fonte: Acervo do Arquiteto, disponibilizado para a  pesquisadora
Figura 29: Foto Recente da Residência Maria Emília (1973). Fonte: Angela Diniz
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