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A cidade de Guarulhos, sua identidade e sua história

No documento Lincoln Nogueira Marcellos.pdf (páginas 50-105)

2.1 – A Cidade e sua transformação

A cidade, desde seu surgimento, foi concebida como uma forma de assentamento adotada pelos membros de uma sociedade cuja presença direta nas áreas de produção agrícola não era necessária. Apresentava centros religiosos, administrativos e políticos caracterizados pelas funções comerciais e de gestão decorrentes da concentração ou da agregação de um determinado número de pessoas (CASTELLS, 1989, p.42).

A formação e a formatação da cidade medieval estava intrinsecamente ligada ao papel da cidade no âmbito da produção, ou seja, a maioria das atividades nestes centros condizia com a prática de agregar valor a determinado bem ou serviço, ou mesmo transformar fatores de produção em mercadorias ou produtos finais (LE GOFF, 1988, p.49; CARVALHO, 2005, p.22).

Conforme descreve Jacques Le Goff (1988, p.49) a cidade representa o local onde há a valorização do trabalho e este passa a ser elemento fundamental na composição da própria cidade, necessário para sua manutenção e para sua própria existência. Infere-se que para a concepção das cidades, o trabalho foi um dos elementos formadores históricos na concepção deste núcleo. Toda e qualquer cidade sempre terá o trabalho como elemento inerente às suas atividades e finalidades (LE GOFF, 1988, p.49).

Após o período da Idade Média, a questão da cidade estava ligada diretamente ao fato de se concentrar em um determinado espaço uma numerosa população com necessidades similares e específicas, em que o mecanismo de escambo transformou-se no único meio para suprir tais necessidades, originando os mercados (CARVALHO, 2005, p.22). Desta forma a divisão do trabalho nas cidades baseava-se na necessidade da especialização das atividades que exigiam uma maior produção, tendo em vista a crescente demanda da população local (ROLNIK, 1988, p.27).

As cidades, após o período da revolução industrial, atraíram as indústrias em decorrência da existência de um mercado propício e da oferta de mão-de-obra, fator de produção primordial para a contemplação de uma linha de produção. Por outro lado a indústria trouxe à cidade novas possibilidades e expectativas, como a diversificação dos serviços e a criação de outros postos de trabalho (CASTELLS, 1989, p.45; CARVALHO, 2005, p.23).

Castells (1989, p.45) destaca que a indústria provocou e provoca até os dias atuais a urbanização da cidade, ademais a indústria agrega a especialização e a utilização dos fatores de produção, principalmente do fator de produção mão-de-obra.

Nos casos em que a indústria participou como entidade inserida no processo histórico de desenvolvimento da cidade, como pode ter acontecido em Guarulhos, percebe-se que a existência da indústria também provocou a organização – ou reorganização - da paisagem urbana, ou seja, provocou o próprio movimento de urbanização.

Conforme descreve Morais (2004, p.18) o nosso último século – XXI - já pode ser concebido como um século urbano3. A cidade passou a

ser o ponto estratégico de desenvolvimento de uma economia inserida em um permanente processo de globalização. As empresas e as unidades manufatureiras necessitam adquirir fatores de produção cada vez mais especializados; a necessidade de infra-estrutura avançada somente pode ser suprida pela cidade. A cidade contempla a integração de culturas, a troca permanente de experiências, o desenvolvimento social e a divisão do trabalho; desta forma as grandes cidades podem ser vistas como o centro de decisão do mundo capitalista (SASSEN, 1998, p.75).

3De acordo com Castells (1989, p.40) entende-se por urbano: “uma forma especial de

ocupação do espaç o por uma população, a saber o aglomerado resultante de uma forte concent raç ão e de uma densidade relat ivament e alta, t endo como correlat o prev isível uma diferenciação func ional e soc ial maior”.

Nesta nova cidade global4, algumas variáveis podem estar presentes no imaginário coletivo da população: desigualdade social, qualidade de vida, industrialização, prestação de serviços, violência urbana, desenvolvimento sustentável, gestão cultural, entre outras. Todas estas variáveis fazem parte do processo de desenvolvimento urbano e nos remetem a refletir sobre a problemática da formação social, da ocupação do espaço e da interação com o processo de produção capitalista.

A cidade é concebida como um resultado inacabado e dinâmico de inúmeras intervenções econômicas e sociais, pelas quais o poder público e a sociedade civil acabam por desenvolver uma estrutura única e própria para o contexto do mercado e da organização política (CARVALHO, 2005, p.24; REZENDE, 1982, p.19). As intervenções sociais e econômicas, conforme será visto adiante, produzem repercussões que rotineiramente fixam e alteram informações no imaginário coletivo da população5, como no caso específico, da população de Guarulhos.

4Cidade Global: definição formulada por Saskia Sassen (1998) para demonstrar a nova contextualização

da grande cidade e da grande metrópole no século XXI. De acordo com Morais (2004, p.19): “O peso da atividade econômica deslocou-se de lugares baseados no setor industrial para centros financeiros e de serviços altamente especializados, que existem em pequeno número e que são chamados de cidades

globais. Tais cidades são centros de serviços financeiros e de decisão de grandes empresas, algumas,

inclusive, sedes do poder governamental. Por serem centros conseguem atrair serviços altamente especializados, também crescentemente globalizados e relacionados com essa centralidade”.

5 As informações geradas pelas intervenções sociais e econômicas são dinâmicas, pois o processo de

identificação de um indivíduo em um determinado contexto social sempre é dinâmico, tanto em seu imaginário, quanto a partir do imaginário coletivo. As informações, embora dinâmicas, são duradouras. Deste modo as repercussões das intervenções sociais e econômicas rotineiramente alteram e perpetuam informações no imaginário coletivo da população.

2.2 – A cidade de Guarulhos

A fundação de Guarulhos está vinculada ao tempo da fundação da cidade de São Paulo quando o norte da região era povoado por duas tribos de origem tupi, sendo que uma era a dos Guarulhos, proveniente da família guaianases, que se encontrava à margem direita do Rio Tietê, aldeia limítrofe à São Paulo de Piratininga (IBGE,2000).

Os guaianases eram reconhecidos por sua baixa estatura e grande barriga, sendo por isto denominados de “guarus-por” - semelhantes aos peixes de água doce, os barrigudos guarus-guarus. A denominação, em momento posterior, foi derivada para Guarulhos - pequeninos e barrigudos (IBGE, 2000). A tribo que ocupava a margem oposta era do uraraí, delimitada atualmente pelos bairros da Penha e de São Miguel Paulista em São Paulo (IBGE, 2000).

No ano de 1560, os jesuítas concentraram as duas tribos. À época, ataques e retaliações de desbravadores desconhecidos eram constantes; foi então que, para fortalecer a defesa e dissiminar a catequese entre aqueles que ali já estavam, os jesuítas concentraram as duas comunidades, formando a aldeia dos Guarulhos englobando os Uraraí (São Miguel), nos limites das respectivas margens junto ao rio Tietê. Guarulhos passou a ser uma das doze aldeias que compunham a defesa de São Paulo (IBGE, 2000).

A construção da capela em Guarulhos foi levada a bom termo pelo Padre João Álvares, sob o amparo de Nossa Senhora da Conceição, dados históricos informam que a aldeia de Guarulhos foi a que mais se

desenvolveu. O desenvolvimento também foi fruto da descoberta de ouro na região o que acabou por potencializar a formação da comunidade guarulhense (IBGE, 2000).

Em 1590 foram descobertas minas de ouro, atualmente demarcadas pelo bairro de Lavras. Anteriormente, o local era denominado “Lavras Velhas do Geraldo” por caracterizar um local de mineração pertencente a um proprietário particular (PREFEITURA DE GUARULHOS, 2011).

Figura 2 – Rua de Guarulhos, ao fundo a capela de Nossa Senhora da Conceição – Ano 1910 após a chegada da energia elétrica.

Fonte: Prefeitura de Guarulhos, disponível em:

http://novo.guarulhos. sp.gov.br/index. php?option=c om_content&v iew=artic le&id=61&It emid=292, acess ado em 20/ 01/ 2010.

Em 1675, Guarulhos foi enquadrada como distrito de São Paulo, em momento posterior adquiriu status de freguesia. Em 24 de março de 1880 foi elevada a categoria de Município, por intermédio da Lei Provincial de número 34. A princípio recebeu a denominação de Distrito de Conceição dos Guarulhos. Em 1906 recebeu a denominação de cidade (IBGE, 2000).

Grande parte do trabalho escravo na região foi exercido pelos Gegês – africanos de origem sudanesa. De acordo com dados do tombamento das propriedades rurais da Capitania de São Paulo em 1817, encontravam-se registrados na região 183 escravos pertencentes a 28 lavradores das áreas de Bom Sucesso, Itaverava, Lavras, Guavirotuba e Bom Jesus, além de Pirucaia, São Miguel, Varados e São Gonçalo.

O registro do poder público da produção do Município publicado em 1901 - denominado súmula – indicou que a cidade tinha 30 engenhos para produção de aguardente, 12 propriedades para cultivo de arroz, 4 propriedades para o cultivo de café, 200 propriedades para o cultivo de feijão, 200 propriedades para o cultivo de milho, 1 propriedade para o cultivo de tabaco, 10 propriedades para a produção de carvão e 2 propriedades para a fabricação de vinho (PREFEITURA DE GUARULHOS, 2011).

Guarulhos em 1915 recebeu o ramal ferroviário Guapyra que possibilitava o tráfego e o escoamento de madeira, pedra e tijolos fabricados em olarias da região para a capital São Paulo, o ramal era um braço da estrada de ferro da Cantareira e trouxe inúmeros benefícios econômicos para a cidade no início do século. Neste ínterim cinco estações foram criadas para facilitar o traslado, sendo elas: Vila Galvão, Torres Tibagy, Gopoúva e Vila Augusta (PREFEITURA DE GUARULHOS, 2011).

A década de 1900 também foi um marco para a cidade de Guarulhos por contemplar a chegada da energia elétrica, o que facilitou em período posterior a instalação de redes telefônicas, indústrias que necessitavam de média e alta tensão para seu processo produtivo e o serviço de transporte público (PREFEITURA DE GUARULHOS, 2011).

A Biblioteca Municipal de Guarulhos foi inaugurada na década de 1940, assim como o Centro Municipal de Saúde e a Santa Casa de Misericórdia. Em 1945 a Base Aérea Militar foi e por questões estratégicas retirada do Campo de Marte em São Paulo e transferida para o bairro de Cumbica (PREFEITURA DE GUARULHOS, 2011).

A localização privilegiada, próxima à cidade vizinha de São Paulo, fez com que empresários e investidores do ramo elétrico, metalúrgico, plástico, alimentício, de borracha, calçadista, automotor, eletrônico e de couro procurassem Guarulhos, a partir de 1950, para a consolidação de novas estruturas industriais; os empresários levaram em consideração a abertura da rodovia Presidente Dutra em 1951 como principal incentivo ao escoamento do processo produtivo (IBGE, 2000).

A instalação do primeiro Rotary Club da cidade se dá na década de 1950, assim como a promoção da primeira Feira da Indústria e Comércio da cidade, realizada no Parque do Ibirapuera na cidade de São Paulo. Em 1963 foi inaugurada a Associação Comercial e Industrial de Guarulhos, atual Associação Comercial e Empresarial – ACE – com a proposta de estreitar relacionamento e promover a troca de experiência entre os empresários da região (PREFEITURA DE GUARULHOS, 2011).

O aumento da indústria provocou um fenômeno imediato, correlacionado à expansão da renda dos munícipes e ao crescimento econômico da região, que foi a imigração de um grande número de pessoas com o objetivo de fornecer mão de obra para o fomento industrial local. A população de acordo com dados do IBGE (2000) no ano de 1950 era estimada em 35 mil indivíduos, em 1960 101 mil indivíduos, 237 mil em 1970 e 533 mil em 1980.

Em concurso realizado em 1960, promovido pela municipalidade, a música do Hino de Guarulhos, escolhida e premiada, foi composta pelo maestro Aricó Júnior e pela professora munícipe Nicolina Bispo, sendo a orquestra organizada pelo maestro Wenceslau Nasari Campos (PREFEITURA DE GUARULHOS, 2011). A comemoração do IV centenário da cidade, em 8 de dezembro de 1960, promoveu pela primeira vez a audição pública do Hino referido abaixo transcrito:

Sob o céu desta Pátria querida, Mais cem anos de luta e labor, Cingem hoje o teu nome Guarulhos, Que se ergueu por seu próprio valor.

Chaminés, como lanças erguidas, Nos apontam o caminho a seguir, Trabalhando, vencendo empecilhos, Desfraldando o pendão do porvir.

Tuas praças são livros abertos, Onde lemos futuro de glória,

Crispiniano e Bueno fulguram, Como vultos eternos na História...

Que o teu nome em mais um centenário, E na língua tupi proclamado, Seja um hino de paz, de esperança, Por teu povo feli z, entoado.

Pequenina nasceste, e João Álvares,

Jesuíta, benzeu-te com Fé,

Tu és hoje cidade progresso, Uma terra que vence de pé.

Eia, pois, guarulhenses, avante, Com bravura na luta febril, Por São Paulo e por tudo o que é nosso, E, acima de tudo o Brasil!

O Hino faz referência explícita às comemorações do centenário do município, também referencia a identidade industrial da região através da transcrição de “chaminés”. A expressão “cidade progresso” demonstra o crescimento econômico experimentado na ocasião da década de 1950 e 1960, assinalando os avanços ali conquistados por intermédio da expansão da atividade produtiva (PREFEITURA DE GUARULHOS, 2011).

A Bandeira foi instituída pela Lei no. 1.679, de 7 de dezembro de 1971, produzida pelo artesão heraldista Arcinoé Antonio Peixoto Faria. De acordo com dados históricos da Prefeitura de Guarulhos o esquadrinhamento em Cruz remete à tradição heráldica portuguesa, sendo que os quartéis azuis são separados por quatro faixas brancas ao centro com faixas vermelhas, demonstradas duas a duas no sentido vertical e horizontal, partindo do vértice do losango branco central, local o qual o brasão é demonstrado (2011).

Figura 3 – Bandeira de Guarulhos

A Cruz demonstra o espírito cristão de Guarulhos, o brasão designa o governo municipal e o losango a sede do governo. As faixas demonstram que o poder público municipal está a se expandir por todos os quadrantes do território. De acordo com dados históricos da Prefeitura de Guarulhos as cores assim foram escolhidas:

(...)o azul simboliza a justiça, nobreza, perseverança, selo, lealdade, recreação e formosura; o branco paz, trabalho, amizade, prosperidade e pureza; o vermelho, amor pátrio, dedicação, audácia, desprendimento, valor, intrepidez, coragem e valentia. O seu uso obedece regras que não podem ser transgredidas (PREFEITURA DE GUARULHOS, 2011).

O Brasão da cidade foi criado em 1º de setembro de 1932 com aprovação do prefeito major Ariovaldo Panapés. O Braão foi criado pelo heráldico Afonso D´Escagnole Taunay e desenhado por José Rodrigues. A lua nascente prata representa as origens de Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos, a expressão “vere paulistarum sanguis meus” representa “O meu sangue é genuinamente paulistano”.

Encontram-se no brasão hastes de cana e trigo, remetendo às culturas locais agricultoras, as anhumas de asas abertas representam o anhemby (Rio das Anhumas), antigo nome dado ao rio Tietê, disposto em triângulo três cabeças humanas, na posição direita o índio guaru, à esquerda o bandeirante e ao centro o colonizador português.

Segundo levantamento do Sebrae-SP (2000) Guarulhos é a segunda cidade do Estado de São Paulo em densidade populacional, com mais de 1.218.000 habitantes e taxa de crescimento populacional aproximada de 2,36% ao ano (IBGE, 2000).

De acordo com o Sebrae-SP (2000), Guarulhos durante a década de 1990 vivenciou a transferência de algumas importantes indústrias para outros territórios, fenômeno que foi experimentado também pela região metropolitana de São Paulo. As razões são inúmeras, tais quais: custos operacionais mais vantajosos, considerando-se a oferta de mão de obra e os tributos a serem recolhidos, trânsito livre, a permitir constante tráfego de mercadorias e serviços, desobstruindo a integração logística entre compradores e vendedores (2000).

Os sindicatos de classe também passaram a ser um fator preponderante para a evasão de indústrias da cidade; os benefícios exigidos por convenções sindicais acabaram por potencializar a saída das empresas (SEBRAE-SP, 2000).

O Sebrae-SP (2000) publicou uma pesquisa, elaborada por empresa de consultoria idônea, com o objetivo de detectar as variáveis contemporâneas que promovem o crescimento econômico, e o conseqüente investimento em capacidade produtiva na cidade de Guarulhos. Os dados colhidos revelaram que o interesse está contido na expansão do “setor serviço”.

O setor serviço a partir do ano 2000 passou a figurar entre as principais atividades econômicas no município de Guarulhos, entre os quais destacam-se as seguintes empresas: Supermercado Carrefour, Supermercado Extra (Grupo Pão de Açúcar), Caesar Park Hotel, Rede Accor de hotéis (Mercury e Íbis), entre outras (SEBRAE-SP, 2000).

Guarulhos faz parte de um pequeno grupo de cidades brasileiras que detêm, juntas, um Produto Interno Bruto (PIB) equivalente a 25% da economia nacional, possuindo 2.200 indústrias, 15.000 comércios e 45.000 empresas prestadoras de serviço, sendo considerada a sétima economia do país (IBGE, 2000).

A atividade industrial é patente e concentra a fabricação de máquinas, utensílios eletrônicos, componentes para automóveis, materiais plásticos e borracha, além de indústrias alimentícias, farmacêuticas e de vestuário. A atividade industrial também é responsável pelo grande volume de exportações do município, alcançando o quarto lugar no ranking dentro do Estado de São Paulo (IBGE, 2000). Guarulhos também detém uma economia de serviços, onde estão instalados bancos, empresas de consultorias e empresas de segurança (IBGE, 2000).

A revisão da literatura6 acerca da contextualização histórica de Guarulhos permite a identificação de alguns fatores decisivos para o surgimento e para o avanço industrial e social da cidade a partir da década de 1950, entre eles: A localização geográfica, a fabricação de

6 A bibliografia utilizada para a revisão da literatura em relação à contextualização histórica de Guarulhos

tijolos, a isenção de tributos municipais, o modelo desenvolvimentista implantado pelo Governo Juscelino Kubitschek, a construção do Parque Cecap, da Via Dutra e do Aeroporto Internacional de Guarulhos.

O município foi formado em um local estratégico, com facilidade de integração entre os Estados de São Paulo, Minas Gerais (Região Sul) e Rio de Janeiro (Região Sul). A proximidade geográfica com a cidade de São Paulo, posicionando-se como cidade limítrofe, conseguiu atrair investimentos e capitais próprios da metrópole (particularmente da região leste e norte).

A manutenção de um pólo de fabricação de tijolos, fornecendo- os, principalmente, para a capital paulista, período em que foi construído um porto com a finalidade de atracar barcaças que por intermédio do Rio Tietê levavam tijolos para a região de São Paulo atualmente denominada Ponte das Bandeiras. Implantação e manutenção do “Trem da Cantareira”, inaugurado em 1915, que percorria os bairros de Vila Galvão, Vila Augusta, Tibagy, Gopoúva e Praça IV Centenário (Guarulhos – Centro), extinto em 31 de maio de 1965 (RANALI, 2002, p.154).

A proposta tributária lançada pela cidade na década de 1950 contribuiu para a industrialização, a Lei nº. 171 de 04 de outubro de 1951 concedeu isenção tributária municipal às indústrias que se instalassem em Guarulhos até 31 de dezembro de 1952, pelo prazo de 3 a 6 anos. A Lei nº. 215, de 12 de novembro de 1952, concedeu isenção tributária municipal de 3 a 15 anos a todas as indústrias que se instalassem no Município até a data de 31 de dezembro de 1956, similar benefício também foi concedido pela prefeitura no ano de 1961.

Guarulhos assumiu a partir de 1950 um padrão de acumulação de capital tipicamente capitalista e internacional, igualmente vivenciado pelo Brasil (MARCELLOS, 2006; PERAZZO, 2002, p.34). Houve a época a transformação da estrutura econômica do país pela criação da indústria de base, com estímulo ao capital e know-how estrangeiros (COVRE, 1982; MARCELLOS, 2006). Segundo Ianni (1971, p.152), o Plano de Metas representou, para os empresários e governantes dos países desenvolvidos, que a participação do Estado brasileiro nas decisões e realizações ligadas à economia poderia ser uma garantia ao investidor internacional. O Governo brasileiro não representava um risco para o investidor, pois procurava respaldar as ações deste último dentro da economia (MARCELLOS, 2006).

A construção do Parque Cecap em 1967, por intermédio do BNH (Banco Nacional da Habitação) foi essencial para a acomodação de famílias migrantes de outros locais do Brasil, no entanto não foi suficiente para alocar todas. No mesmo período outros empreendimentos informais (loteamentos irregulares) foram estabelecidos nas regiões hoje conhecidas como bairro Taboão, Continental, dos Pimentas, Bonsucesso, Cocaia, Aracília, Cumbica, São João e Fortaleza.

Guarulhos era considerada até então cidade-dormitório por aqueles que trabalhavam na capital paulista (principalmente na zona norte), tinha uma concentração muito grande de pessoas provindas de outras regiões do país, principalmente do nordeste brasileiro. A possibilidade de morar próximo a capital paulista com um custo de vida

bem baixo foi fator preponderante para o deslocamento destas pessoas (RANALI, 2002).

2.3 – O Parque Cecap

A construção do Parque Cecap – Companhia Estadual de Casas para o Povo -, iniciada por vontade do Governo do Estado de São Paulo, também passou a ser vista pelos políticos de Guarulhos como uma possibilidade de agregar mão de obra com pequeno custo para as emergentes indústrias da cidade, criadas entre a década de 1950 e 1960. O conjunto de casas populares foi projetado pelos arquitetos Villanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha e Fábio Penteado, o projeto arquitetônico das casas representava uma expressão do estilo moderno brasileiro (FARINACI, 2011).

Figura 4 – Parque Cecap – (2011)

Fonte: Antonio Farinaci, disponível em

http://antoniofarinaci.blogosfera.uol.com.br/, acessado em 20/12/2011.

Antonio Farinaci (2011), produtor de um curta-metragem a respeito de famílias que moram no Parque buscou resgatar trechos publicados na revista “Projeto e Construção, de dezembro de 1972, época a qual os primeiros moradores puderam ter acesso às suas residências.

No documento Lincoln Nogueira Marcellos.pdf (páginas 50-105)