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O espaço urbano guarulhense

No documento Lincoln Nogueira Marcellos.pdf (páginas 32-38)

Capítulo 1 – A formatação do espaço urbano guarulhense

1.1 O espaço urbano guarulhense

Carlos José Ferreira dos Santos, em seu trabalho de doutorado denominado “Guarulhos: espaços identitários sob a mundialização”, apresentou duas matrizes identitárias que representavam a convicção do prefeito de Guarulhos José Maurício de Oliveira Sobrinho, na década de 1920. Estas matrizes eram: a proximidade da capital “São Paulo” e a dependência em relação ao desenvolvimento da capital (2002, p.17).

Desta forma, conforme Santos, para o prefeito José Maurício a cidade de Guarulhos naquele momento representava ser uma continuação ou um prolongamento da capital paulista e o seu desenvolvimento estava intimamente ligado ao desenvolvimento da cidade de São Paulo, ou seja, quão mais próspero fosse o desenvolvimento de São Paulo, da mesma forma seria o desenvolvimento de Guarulhos (SANTOS, 2002, p.19).

Santos destaca que o fato de o poder público salientar historicamente que a cidade de Guarulhos se apresentava como um prolongamento da capital paulista e privilegiada pelo desenvolvimento do município limítrofe (São Paulo), é o que permite se conceber até hoje a identidade do município ligada a estas duas principais diretrizes. E em suas palavras (2002, p.19):

Assim, tanto esse mapa como o texto do site oficial do poder público local assinalam que hoje a “cidade” é apresentada por seus administradores de forma bastante semelhante àquela pela qual o prefeito José Maurício a entendia em 1928. Em outras palavras, para a sua municipalidade, Guarulhos se constitui num prolongamento da capital paulista, definindo-se por essa localização geográfica privilegiada que prepara seu desenvolvimento, como revelam as rodovias e o Aeroporto Internacional presentes em seu território.

Santos também se refere a uma outra imagem identitária de Guarulhos enquanto município historicamente “suburbano”. De acordo com a visão do Governador do Estado de São Paulo, em 1928, Julio Prestes de Albuquerque oito anos depois, os municípios de Guarulhos e de Santo Amaro necessitavam da extensão dos serviços de água e esgoto, provenientes da capital paulista. Em suas palavras (BARROS, 5 de dezembro de 1928. In: Oliveira, 1928, p. 17 apud SANTOS, 2002, p.21):

O desenvolvimento dessas duas cidades tem sido assim influenciado e continuará dependente do extraordinário vertiginoso aumento da população da nossa capital, da qual são hoje verdadeiros subúrbios. Núcleos de população bem

desenvolvidos e de crescimento fatal e rápido, não dispõem ainda de abastecimento de água e nem de serviço de esgoto, estando as municipalidades a que pertencem – pela escassez de recursos – impossibilitadas de dota-las desses indispensáveis elementos de vida e de higiene.

Assim, em se tratando de cidades que são hoje verdadeiros prolongamentos da capital, e onde parte apreciável dos colaboradores no desenvolvimento e progresso desta encontram condições de vida mais adequadas às suas bolsas menos providas, tenho como de todo o ponto conveniente e justo, que o Estado estenda a elas o serviço de águas e esgotos, a cargo da Repartição de Águas e Esgotos da Capital, subordinada a esta Secretaria

Santos mostra, ainda, que algumas outras convicções externas, e formadoras de opinião estão no mesmo sentido de entender e classificar Guarulhos enquanto município suburbano. Em suas palavras:

Assim, partimos da concepção de que existe uma tendência na construção de uma identidade de Guarulhos que vem orientando a atuação político-administrativa no transcorrer da história do município e que o concebe como um

“apêndice e prolongamento” de São Paulo determinado por sua localização geográfica.

No entanto, conforme revisão da literatura sobre o tema, observamos que a constituição da identidade social de uma cidade não se respalda pela convicção única de alguns representantes do poder público, ou mesmo pela convicção dos veículos de comunicação externos, tampouco pela opinião de alguns críticos, mas a constituição da identidade respalda-se pela representação comum, a partir da constituição e deflagração do imaginário coletivo pelas pessoas que convivem e vivenciam dentro do espaço urbano (MARCELLOS, 2006).

Santos, em sua exposição, chega a questionar esta posição única e singular, corroborando com nosso questionamento:

Podemos considerar adequado e satisfatório o conceito de que Guarulhos possui um único caráter e que este é determinado por sua função de “periferia” e/ou “prolongamento” da

metrópole? Se é assim, não teria

imperceptivelmente se integrado a ela nos últimos anos? Ou, ainda, constitui de fato uma “cidade” com identidade própria?

Sabemos que as identidades são dinâmicas e, portanto, mutáveis. Deste modo, assim como Santos (2002, p. 221), também entendemos que a historiografia do desenvolvimento do município não vem sendo construída a partir do imaginário coletivo da região, mas a partir de uma convicção única formada por aqueles que têm estado à frente do poder dentro do município, não concebendo diversidades explicitas que também estiveram presentes no seu processo de desenvolvimento. Na convicção de Santos:

A unidade administrativa que criou a “cidade” não constitui uma unidade identitária, apesar da atuação daqueles à frente do poder público local priorizar suas ações nos bairros e espacialidades consideradas exemplares da identidade de “cidade” desejada (SANTOS, 2002, p. 221).

Deste modo pode-se tomar como pressuposto do novo espaço guarulhense o fato de que este vem sendo reorganizado e planejado de acordo com as novas necessidades capitalistas, em que as cidades passam a ser “vendidas” ao mundo, pois precisam estar compatíveis com a nova dinâmica de inserção econômica das mesmas nos fluxos globais (SANCHEZ, p. 50, 2000).

Pode-se apontar algumas características peculiares de Guarulhos que fazem com que a cidade pretenda estar “no mapa do mundo”, como por exemplo:

- A ênfase nas últimas décadas no emprego da expressão “internacional”, concebendo-se até mesmo um Shopping Center com tal nomenclatura, além de inúmeros estabelecimentos que adotam o mesmo símbolo;

- A integração ou a vinculação de grandes indústrias mundiais e nacionais ao território municipal, tais quais: Abb, Alcoa, Adams, Bardella, Bauducco, Borlem, Cummins, Degussa, Electrolux, Visteon, Gail, Gilbarco, Karina, Lousano, Mopa, Nec, Neobus, Parmalat, Pfizer, Randon, Ray-O-Vac, Rdflex, Renner, Siemens/Equitel, Toddy/Quaker, Trifil, Vdo e Yamaha;

- A integração ou a vinculação de grandes empresas turísticas privadas (Redes de Hotéis e Flats) ao território municipal, tais quais: Caesar Business, Caesar Park, Comfort, Express Inn, Le Canard, Marriott, Mercure, Mônaco Convention & Hotel, Mônaco Center Inn, Ibis, Parthenon, Melliá Confort e Sol Inn, além da adaptação do equipamento urbano às necessidades dos seus usuários (como a implantação de sinalização turística nos avisos de trânsito veicular);

- A criação de uma associação “Guarulhos Convention e Visitors Bureau” em 2003, com a incumbência de fomentar o turismo na cidade e incrementar o marketing deste segmento;

- A criação de um complexo administrativo-financeiro, ou centro “nervoso” nas imediações do centro da cidade entre as principais avenidas (Avenida Guarulhos, Tiradentes, Paulo Faccini, Luiz Faccini, entre outras);

- A renovação das áreas centrais, ou revitalização das áreas degradadas, a construção de novos espaços de lazer e consumo no

centro, de centros culturais (como o Centro Adamastor de Educação, com arquitetura contemporânea);

- A atitude receptiva da população guarulhense à construção do Aeroporto Internacional julgando-o de suma importância para o desenvolvimento do município, e sua conseqüente identificação como uma cidade aeroportuária; e

- O esforço do governo municipal em reforçar a imagem de cidade Aeroportuária Internacional, por intermédio de propagandas e de representações específicas nas suas ações;

As transformações pelas quais passa a cidade no sentido de que seja identificada enquanto “cidade-mercadoria” inevitáveis demonstram que o espaço urbano de Guarulhos está sendo reformulado com reflexos sobre o imaginário da sua população (SANCHEZ, p. 50, 2000).

No documento Lincoln Nogueira Marcellos.pdf (páginas 32-38)