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A cidade e o ambiente: espaço de interpretação

Art.225 “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao e Poder Público e à coletividade e à coletividade o dever de defendê-lo e preserva-lo para as presentes e futuras gerações.” Constituição da República Federativa do Brasil (grifos nossos).

Art. 171 “Todos têm direito ao meio ambiente saudável e ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à adequada qualidade de vida, impondo-se a todos e, em especial, ao poder Público Municipal, o dever de defendê-lo e preservá-lo, para o benefício das presentes e futuras gerações.”

Parágrafo único – O direito ao ambiente saudável estende-se ao trabalho, ficando o Município obrigado a garantir ao trabalhador sua defesa contra toda e qualquer condição nociva à sua saúde física e mental. Lei Orgânica – Cuiabá (grifos nossos).

Art. 82 – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida impondo-se ao poder público e à comunidade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Par. 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Município: I criação do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente COMDEMA, como dispõe o artigo 48, parágrafo 1º desta Lei, e legislação Federal e Estadual pertinente. Lei Orgânica – Poconé

O Art. 204 diz: O município providenciará com a participação da comunidade, em articulação com a União e o Estado, a preservação, conservação, defesa, recuperação e melhoria do meio ambiente natural, artificial e de trabalho, atendidas as peculiaridades regionais e locais.

§ 1º - Para assegurar a efetividade deste direito incumbe ao Poder Público. Lei Orgânica – Cáceres.

Dada à conjuntura sócio-histórica e política, de 1988, ano em que se produz uma nova Constituição da República, observamos que o Art. 225 diz sobre o ambiente e os responsáveis pela preservação ambiental. Neste caso, o Poder Público e a coletividade. Podemos dizer que o discurso jurídico que é proferido pela Constituição Federal é re-escrito em paráfrase102, na Constituição Estadual, na Lei Orgânica. Isto permite que formulemos a questão: como o discurso sobre o ambiente toma corporeidade política na escrita do poder local, de distintas cidades?

102 Conforme Orlandi (1999) “a paráfrase é a matriz do sentido, pois não há sentido sem repetição, sem sustentação no saber discursivo, e a polissemia é a fonte da linguagem uma vez que ela é a própria condição de existência dos discursos, pois se os sentidos – e os sujeitos - não fossem múltiplos, não pudessem ser outros, não haverá necessidade de dizer” (p.38).

A Lei Orgânica de Cuiabá, filiada ao discurso da Constituição Federal e da Constituição Estadual determina pela formulação que “todos e em especial o Poder

Público Municipal”, tem o dever de preservar o ambiente. O que essa formulação

significa para a cidade de Cuiabá, ao se referir a todos como responsáveis pelo ambiente, mas colocar em especial o Poder Jurídico Municipal?

Nessa mesma linha de raciocínio, observamos que a Lei pontua no Parágrafo Único – que: “o direito ao ambiente saudável estende-se ao trabalho, ficando o Município obrigado a garantir ao trabalhador a sua defesa contra toda e qualquer condição nociva à sua saúde física e mental.”

No dizer da Lei Orgânica de Cuiabá, o poder público é o responsável pelo Município, pelo trabalhador e pelo ambiente. Essa formulação, entre o Município e o trabalhador, materializa a forma-sujeito que é individualizado pelo Estado. Ou seja, o Município, enquanto representatividade do Estado recobre no jogo da linguagem o trabalhador que está inscrito nas normas jurídicas tanto quanto o ambiente. Nesse sentido, o ambiente significa o espaço que diz respeito ao trabalho, à qualidade de vida do sujeito. Em outras palavras, o ambiente se representa como trabalho.

A Lei Orgânica de Cáceres define pelo discurso: a comunidade em articulação com a União e o Estado como os responsáveis pelo Ambiente.

O Art. 204 diz: O município providenciará com a participação da comunidade, em articulação com a União e o Estado, a preservação, conservação, defesa, recuperação e melhoria do meio ambiente natural, artificial e de trabalho, atendidas as peculiaridades regionais e locais.

§ 1º - Para assegurar a efetividade deste direito incumbe ao Poder Público. Lei Orgânica – Cáceres.

A preservação, a defesa ambiental, se constitui no discurso, no Art. 205, da Lei Orgânica entre: o Município de Cáceres, a comunidade em articulação com a União e o Estado. Nessa articulação da linguagem, pensamos no efeito de sentido do discurso no social, dada as representações políticas e sociais das instituições.

Podemos dizer que a lei não significa somente o ambiente, a cidade, o Município, mas o sujeito que se projeta no discurso jurídico. Nesse sentido, o discurso da Lei Orgânica representa a forma material do sujeito no discurso local.

Vejamos como o Município de Poconé se inscreve nessa relação de sentidos entre o sujeito e o ambiente.

Art. 82 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida impondo-se ao poder público e à comunidade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

No Art.82 da Lei Orgânica do Município de Poconé é possível compreender que o Poder Público e a comunidade não se distinguem, se representam na posição de todos. Isto é, o povo e a coletividade que deve defender o ambiente e mantê-lo ecologicamente de forma equilibrada. Por outro lado, o Município pontua:

Par. 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Município: I criação do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente COMDEMA, como dispõe o artigo 48, parágrafo 1º desta Lei, e legislação Federal e Estadual pertinente. Lei Orgânica de Poconé.

De um ponto de vista teórico, podemos observar no movimento da linguagem o Município de Poconé se mostrando pelo efeito da resistência, trabalhando as contradições, já que em primeira instância o poder público e a comunidade se colocam na mesma posição discursiva como os responsáveis pela questão ambiental. Porém, no Parágrafo 1º, o Município se inscreve em outra posição e diz sobre a criação do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente – COMDEMA para o município. Assim, pela formulação do discurso que representa a instituição – COMDEMA diferencia-se, a posição do poder público e a posição da comunidade, que antes se constituíam como os responsáveis pela questão ambiental.

A norma é tomada como medida, instrumento nessa posição discursiva. Essa diferença no posicionamento do município em relação ao sujeito é importante para observarmos como a norma distingue e determina na projeção imaginária do Município e do sujeito a função da instituição que deve representar o lugar da defesa do ambiente. Neste sentido, a organização e a representatividade jurídica é um lugar que diferencia as relações na sociedade.

O Município de Poconé, diferentemente dos Municípios de Cuiabá e Cáceres se inscreve em outra posição em relação à criação de uma instituição que represente o jurídico no poder local.

Lei Orgânica de Cuiabá.

Art. 173 – O Poder Público Municipal deverá elaborar e implantar, através de lei, um “Plano Municipal de Meio Ambiente e Recurso Naturais”.

Lei Orgânica de Cáceres.

Art. 205 – A Prefeitura Municipal criará o Conselho de Proteção ao Meio Ambiente, para juntamente com os Órgãos Estaduais e Federais executar o programa de proteção à fauna e à flora do Município.

No que diz respeito à instituição de um órgão de preservação ambiental no poder local, a posição dos municípios difere sobre o modo de representar a instituição. O Município de Cáceres pontua que o poder público deverá elaborar um Plano para a questão de preservação do ambiente. Já o Município de Cuiabá diz sobre a criação de um Conselho de Proteção Ambiental, pela Prefeitura. Assim, cada Município tem uma forma de demarcar, significar o jurídico como parte integrante da relação entre o sujeito, a cidade e o ambiente.

De qualquer modo, a sanção jurídica, o punível é a conseqüência lógica aos infratores. Nesse sentido, a Lei Orgânica, pela posição de reguladora de sentidos jurídicos, busca por mecanismos criar outras alavancas, dentro do poder jurídico, local, para a proteção do ambiente. Esta necessidade pode ser observada na posição dos Municípios nos Art. 205, 173, 82.

Podemos dizer que, discutir o ambiente pela norma, foi possível dada às condições de produção do discurso, às marcas da textualização que estão sujeitas ao questionamento, no texto da Lei Orgânica. Assim, pela noção de interpretação, entendemos que o sentido de preservar está estabelecido pela pelas relações constituídas nas formações discursivas no dizer de cada município. Observemos, nos recortes A, B e C, a posição dos Municípios ao dizer:

Capítulo I Do Meio Ambiente