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O zoneamento constitui um dos pontos fundamentais do Plano Diretor, da organização política da sociedade, pois é pelo discurso do planejamento urbano, do macrozoneamento, do zoneamento agroecológico que as políticas públicas de preservação ambiental poderão significar de forma diferenciada os Municípios.

É interessante dizer que o macrozoneamento retoma, o discurso da Constituição Federal de 1988, que diz, entre outras palavras, que todos têm direito ao meio ambiente equilibrado, tanto as gerações presentes quanto as futuras. Nesse quadro, a formulação do discurso do zoneamento ambiental, inscreve-se nesse lugar futurista, que retrata o artigo 225 da Constituição do Brasil, no que se refere ao discurso político ambiental. Para Nakano (2004), 136 os objetivos do Plano Diretor devem sistematizar, interpretar o macrozoneamento urbano e rural que constituem o município.

Ao que acrescentamos o exercício, das práticas institucionais que compreenda o ambiente, na ordem do discurso urbano. Assim,

O macrozoneamento é o instrumento que define a macro-organização do assentamento residencial em face das condições do desenvolvimento socioeconômico e espacial do Município, consideradas a capacidade de suporte do ambiente e das redes de infra-estrutura para o adensamento populacional, devendo orientar a política urbana no sentido da consolidação ou reversão de tendências quanto ao uso e ocupação do solo (SANTOS).137

No Estado de Mato Grosso a projeção imaginária do zoneamento antrópico-ambiental se representa no parágrafo XV da Constituição Estadual, pela significação da Terra em: “paisagens notáveis, mananciais d’água, áreas de relevante interesse ecológico no contexto estadual”. Nesse sentido, o Estado de Mato Grosso posiciona-se com um discurso que projeta o espaço ambiental da região, apontando no seio da Constituição Estadual imagens do local como ilustra o XV parágrafo do Meio Ambiente.

XV – promover o zoneamento antrópico-ambiental do seu território, estabelecendo políticas consistentes e diferenciadas para a preservação de ambiente naturais, paisagens notáveis, mananciais d’água, áreas de relevante interesse ecológico no contexto estadual, do ponto de vista fisiológico, ecológico, hídrico e biológico. Grifos nossos. Constituição do Estado de Mato Grosso.

O que fica diferente entre o discurso Constitucional Federal e o Estadual é o gesto de interpretação do ambiente natural na região com o zoneamento. Nesta linha de raciocínio pensamos, conforme os pressupostos teóricos da Análise de Discurso, que não há uma relação direta entre o sujeito e o mundo, mas a linguagem é a representação material dessa relação (ORLANDI, 1996). Desta maneira, a representatividade do discurso do macrozoneamento constitui o lugar do deslocamento da re-organização do território pelas políticas públicas ambientais.

137Santos. http://www.campinas.sp.gov.br/seplan/eventos/camp230/camp2303semipal3.htm. Acessado em 8 de outubro de 2008.

Compreendemos que a política do zoneamento do Estado de Mato Grosso que se refere ao território de forma macro torna-se importante à medida que projeta, na lei do poder local, o real, o ambiente que significa o Município. Vejamos a projeção imaginária dos Municípios frente a questão do zoneamento ambiental.

VIII – “promover o zoneamento antrópico-ambiental local, como instrumento para o zoneamento estadual, contendo dados sobre os ambientes naturais, paisagens notáveis, mananciais d’água, áreas de relevante interesse ecológico, do ponto de vista fisiográfico, ecológico, hídrico e biológico, como também dos ambientes alterados pela ação humana, através de atividades poluidores e degradadoras. Lei Orgânica de Cuiabá.

IX – estabelecer o zoneamento ambiental para o Município de Cuiabá; X – integrar o Zoneamento Socioeconômico-Ecológico, a partir de um SIG (Sistema de Informações Geográficas); Plano Diretor de Cuiabá

Um dos primeiros realinhamentos do projeto proposto foi um componente chamado Zoneamento Agroecológico conduzido, pela Empresa de Pesquisa do Estado de Mato Grosso - EMPA, com publicação desse material no final da década de 80. Plano Diretor de Cáceres

Com relação ao desenvolvimento do Meio Ambiente, a proposição é o preparo do Município para o futuro, elaborando assim o zoneamento agroecológico do Município de Cáceres. (grifos nossos).

Com relação ao desenvolvimento do Meio Ambiente, a proposição é o preparo do Município para o futuro, elaborando assim o zoneamento agroecológico do Município de Cáceres. O modelo a ser apresentado constituirá de um ordenamento agroecológico do meio rural baseado na identificação e caracterização de sistemas agroecológicos de ocupação, adaptado às diversidades paisagísticas do território Municipal. O zoneamento proposto caracteriza ofertas e limitações biofísicas e espaciais, para ocupação e integração harmônica do homem às diversas paisagens produtivas do território de Cáceres. Conceitualmente, o zoneamento agroecológico é um modelo de organização espacial de um território que visa o uso eficiente de suas paisagens produtivas. Plano Diretor de Cáceres

III – definir, em lei complementar, os espaços territoriais do Município e seus componentes a serem especialmente protegidos, e a forma da permissão para alteração e supressão, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção. Lei Orgânica de Poconé.

Art. 4º Para fins desta lei serão utilizados, entre outros instrumentos: III – planejamento municipal, em especial:

a) plano diretor;

c) zoneamento ambiental;

e) instituição de unidades de conservação;

f) instituição de zonas especiais de interesse social; Estatuto da Cidade.

As questões acima sobre o zoneamento do Município conduzem a reflexões sobre o papel das instituições, do Estado, que segundo Castoriadis (1982), não podem ser somente funcionalista. A contestação à posição de funcionalista deve-se “ao vazio que apresenta naquilo que deveria ser para ela o ponto central: quais são as “necessidades reais” de uma sociedade, que as instituições destinariam a servir?” 138

A pergunta redimensiona a relação da instituição, o Estado com o poder local. Daí, então, a necessidade do questionamento da ordem do discurso que projeta o território no macrozoneamento do Município. Como se sabe a interpretação do ambiente poderá produzir novas escutas no poder local, no Plano Diretor, dada a significação da exterioridade no discurso. É com esse entendimento que observamos o Planejamento da cidade de Cuiabá, ao dizer sobre a necessidade de trazer o discurso da agenda 21.

Na relação entre o discurso da cidade e o ambiente trazemos o § VI que diz: – fomentar a agenda 21 e os parágrafos que dizem sobre a questão do

zoneamento. A formulação do Plano Diretor de Cuiabá permite depreender que os

sentidos que atravessam a formulação sobre a Agenda 21 tem a ver com o discurso político ambiental, da globalização. 139

Segundo Veiga (2003), a Agenda 21 brasileira aponta a necessidade do planejamento urbano considerando a regionalização que tem a ver com o Zoneamento Ecológico-Econômico – ZEE – sob a responsabilidade do Ministério do Meio Ambiente. O ZEE refere-se ao estudo local, as condições ecossistêmicas e socioeconômicas da região. Veiga (Op.cit.p.70), pontua ainda que “é só com esse tipo de procedimento que o Brasil poderá ter uma cartografia que de fato corresponda às necessidades deste início de século.”

138 Castoriadis (1982, p.141).

139A Agenda 21 é um programa de ação, baseado num documento de 40 capítulos, que constitui a mais ousada e abrangente tentativa já realizada de promover, em escala planetária, um novo padrão de desenvolvimento, conciliando métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica. Trata-se de um documento consensual para o qual contribuíram governos e instituições da sociedade civil de 179 países num processo preparatório que durou dois anos e culminou com a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), em 1992, no Rio de Janeiro, também conhecida por ECO-92”. http://www.ecolnews.com.br/agenda21/index.htm, Acessado em 09/03/2009.

No caso do Município de Cáceres “o zoneamento proposto caracteriza ofertas e limitações biofísicas e espaciais, para ocupação e integração harmônica do homem às diversas paisagens produtivas do território de Cáceres. Conceitualmente, o zoneamento agroecológico é um modelo de organização espacial.”

A organização do espaço, pela normatização jurídica, formulada como zoneamento ambiental verticaliza as relações sociais. Segundo Orlandi (2004, p.35) “A organização social vai refletir essa verticalidade da formação social urbana no espaço horizontal, separando regiões, determinando fronteiras que nem sempre são da ordem do visível concreto, mas funcionam no imaginário sensível. Segregação”. Isto significa que as práticas de organização política são relações de sentidos para o Município, e o sujeito não está fora dessa sobredeterminação discursiva.

Remetendo ao Plano Diretor de Cáceres, observamos que há ambientes específicos que estão sob a proteção do discurso jurídico, como mostra o Decreto nº 86061 de 02/06/81, que diz:

No município de Cáceres foi criada a Estação Ecológica de Taiamã pelo Decreto nº 86.061 de 02/06/81, para serem áreas representativas dos Ecossistemas Brasileiros, destinados à realização de pesquisas básicas e aplicadas de ecologia, à proteção do ambiente natural e ao desenvolvimento da educação conservacionista. Plano Diretor de Cáceres

Abrangendo as Ilhas de Taiamã com 11.200 ha (onze mil e duzentos hectares) e Sararé com aproximadamente 3.125 ha (três mil, cento e vinte e cinco hectares), totalizando uma área de 14.325 ha (quatorze mil, trezentos e vinte e cinco hectares). Plano Diretor de Cáceres

Conforme Drummond (1998), a Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA) instituída pelo Decreto 73.030, de 30 de outubro de 1973, é incorporada ao IBAMA em 1989. A Secretaria cria unidades de proteção ambiental denominadas de

estações ecológicas e áreas de proteção ambiental (APAs). Sabe-se que pelo menos

1986, nos estados brasileiros140. Há, entretanto, uma distinção, política, entre o que se

compreende com estação ecológica e áreas de proteção ambiental (APAs).

Ambas se distinguem conceitualmente de parques e reservas biológicas, pois as estações previam experimentos científicos e as APAS por definição abarcavam áreas degradadas e intensamente usadas (inclusive dentro de cidades) (DRUMMOND,1998, p.141).

As considerações teóricas permitem pensar que a relação do sujeito com o mundo se abre a gestos de interpretação e que a cidade não é somente uma esfera planificada que funciona como um receptor do homem civilizado. Daí, então, a interpretação desdobrar sobre o planejamento político da cidade, na normatividade da Lei Orgânica, do Plano Diretor e do Estatuto da Cidade que juridicializa o poder local.

Entendemos assim, que a legitimidade da escrita do zoneamento ambiental, possibilite um acréscimo na relações políticas sócio-ambientais no sentido de ser uma lei que abarca a realidade físico-biológica delimitando sentidos, impondo à sociedade a interpretação pelo que particulariza o Município, no Estado de Mato Grosso. Nesse sentido, as cidades de Cáceres, Cuiabá e Poconé não se filiam a mesma memória discursiva, embora tenham em comum a localização geográfica. Indiscutivelmente, cada cidade, encontra-se inscrita de forma diferente no processo de instituição política, a começar pelo discurso da Ata de fundação do povoado, as relações de sentidos que se estabelecem com a representatividade jurídica.

Em suma, se o Plano Diretor significa a voz do Município, a voz da cidade, ele precisa ser interpretado, tomado enquanto materialidade simbólica, linguagem em funcionamento. Do contrário, ao ser projetado no discurso político apenas como instrumento, o texto perde a capacidade que tem de fazer valer o funcionamento no social. Assim, o Estado re-produz, institui outros discursos jurídicos para a sociedade, mas é o funcionamento da linguagem, do discurso jurídico, do planejamento urbano que precisa ser questionado, no social.

140 Drummond, 1998 diz que as estações ecológicas e as áreas de proteção ambiental “foram codificadas legalmente em 27 de abril de 1981, através da Lei 6902, podendo inclusive ser criadas em âmbito estadual e municipal (p.141).”