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A posição do discurso Constitucional sobre o Pantanal

O discurso da Constituição do Brasil, de 1988, marca a posição ideológica do Estado, como o “porta-voz” do discurso, que regulamenta o espaço, em Mato Grosso, como área de preservação ambiental. Em continuidade ao discurso que regulamenta sentidos ao ambiente, a Constituição do Estado de Mato Grosso em 1989, impõe o discurso de preservação ambiental; que marca a significação do Pantanal, à região.

Art.225 - 4.º §.A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. Constituição Federal, 1988 (Grifos nossos).

Art. 273 – O Pantanal, o Cerrado e a Floresta Amazônica Mato-grossense constituirão pólos prioritários da proteção ambiental e sua utilização far-se- á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. Constituição do Estado de Mato Grosso (Grifos nossos).

Parágrafo Único – O Estado criará e manterá mecanismos de ação conjunta com o Estado de Mato Grosso do Sul, com o objetivo de preservar o Pantanal Mato-grossense e seus recursos naturais. Constituição do Estado de Mato Grosso (Grifos nossos).

Nos recortes acima, o discurso Constitucional que consagra o Pantanal, como Patrimônio nacional, estabelece normas jurídicas que individualizam o sujeito, em relação ao ambiente, o que mobiliza gestos de interpretação, no poder local. Não queremos limitar o discurso, as fronteiras espaciais, em que se focaliza o dizer constitucional, mas pensar, sobretudo, que deve ser diferente a escuta do discurso da preservação ambiental, no planejamento das políticas públicas urbanas, em cidades como Cáceres e Poconé, que são consideradas o “Portal do Pantanal”. E em Cuiabá, a capital do Estado de Mato Grosso, tendo em vista a representatividade política das instituições e a significação do rio Cuiabá na drenagem do complexo do Pantanal. 91

Em termos ideológicos, é preciso compreender o funcionamento do discurso ambiental na política urbana, no poder local, uma vez que o discurso da Constituição Federal dispõe da norma jurídica que intervem de maneira dominante, legitimando certos gestos de interpretação do sujeito com o ambiente.

Assim, no Art. 225 da Constituição Federal, enunciam-se, primeiramente, a Floresta Amazônica e demais localidades. Já o discurso da Constituição do Estado de Mato Grosso traz o Pantanal na formulação e, posteriormente, o Cerrado e a Floresta

91 Maitelli (2005, p.274, 275), diz que “Em território mato-grossense, o rio Paraguai recebe afluentes como os rios Queimado, Jauru, Sepotuba, Bento Gomes, Cabaçal e Cuiabá. Dentre esses, destaca-se o rio Cuiabá, formado pelo Cuiabá do Bonito e Cuiabá da Larga, que nascem respectivamente na vertente norte da Serra Azul e na Depressão interplanaltica de Paratinga. O rio Cuiabá banha a capital do Estado e outras cidades, recebendo rios como Água Fina, São José , Marzagão, Quebó, Saloba, Manso, Pari, Acorizal, Coxipó-açu, Aricá-mirim, Mutum, São Lourenço, Correntes, ou Piquiri. O baixo curso do rio Cuiabá drena áreas pantaneiras, sendo grandes o número de corixos e vazantes que para ele convergem, aumentando-lhe o volume em períodos de cheias.”

Amazônica Mato-Grossense, como pólos prioritários da proteção ambiental, pontuando que a utilização far-se-á, na forma da lei.

O discurso constitucional do Estado de Mato Grosso, representa a posição ideológica do enunciador, ao dizer que “o Estado criará e manterá mecanismos de ação conjunta com o Estado de Mato Grosso do sul, com o objetivo de preservar o

Pantanal Mato-grossense e seus recursos naturais.”

Na formulação, projeta-se a imagem que o Estado de Mato Grosso faz de outro Estado que também constitui área do Pantanal, no sentido de preservá-lo. Deve- se dizer que os municípios que compõem a área do Pantanal em Mato Grosso do Sul são: Aquidauana, Bodoquena, Corumbá, Coxim, Ladário, Miranda, Sonora, Porto Murtinho e Rio Verde de MS. Em Mato Grosso: Barão de Melgaço, Cáceres, Itiquira, Lambari D’ Oeste, Nossa Srª do Livramento, Poconé e Santo Antônio do Leverger.

A extensão do território pantaneiro, a área da bacia equivale a 361.666 km² e a área do Pantanal tem 138.183 km². Entendemos que não há limites territoriais, linhas visíveis entre os Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, no que se refere à preservação do Pantanal mato-grossense.

Como formula Ianni (1996), a medida que “o planeta Terra deixa de ser apenas um ente astronômico para ser também histórico, recoloca-se de modo original a dialética sociedade e natureza.” O que se observa, nessa citação, tem a ver com o processo de individualização do sujeito pelo Estado. Assim,

O planeta Terra está tecido por muitas malhas, visíveis e invisíveis, consistentes e esgarçadas, regionais e universais. São principalmente sociais, econômicas, políticas e culturais, tornando-se às vezes ecológicas, demográficas, étnicas, religiosas, lingüísticas. A própria cultura encontra outros horizontes de universalização, ao mesmo tempo em que se reafirma ou se recria em suas singularidades. O que era local e nacional pode tornar-se também mundial. O que era antigo pode revelar-se novo, renovado, moderno, contemporâneo (IANNI, 1996, p.95).

A relação sujeito x ambiente se pluraliza pelo acontecimento de linguagem, que tece o discurso global. Em outras palavras, a relação do sujeito com o ambiente diz sobre a prática política, já que dizer é inscrever em redes históricas de sentidos. Assim, sobre o rótulo do discurso que mundializa as relações da preservação

a nação se coloca discursivamente já que as práticas locais do sujeito com o ambiente têm efeitos universais.

Entendemos, assim, que falar sobre o Pantanal é inscrever-se em redes históricas de sentidos em curso. Daí, então, a importância de interrogar a significação do discurso da Constituição de 1988, que institui o Pantanal, como Patrimônio Nacional. Que relações políticas o discurso ambiental estabelece com as cidades que estão localizadas na região do Pantanal?

A pergunta demonstra que há no percurso sócio-histórico dois movimentos, significativos, de discursos em espiral sobre a terra em Mato Grosso. A exploração índios/ouro, na colonização e, no contemporâneo, a exploração de minérios, fauna, flora e rios. Dessa forma, não queremos dar um salto sobre os acontecimentos, políticos, que contribuíram com determinadas posições no Brasil. Lembramos, no entanto, que a década de 80, 90, foi o grande boom do discurso ambiental dos países desenvolvidos sobre “sociedade sustentável.” 92

Destacamos a questão do discurso da globalização e os possíveis efeitos desse discurso na materialidade da constituição brasileira, pois entendemos que não dizer sobre o discurso de mercado, o global, seria ignorar as determinações políticas, econômicas e sociais que são provenientes desse discurso mundial, no ambiente. Diante disso, a questão é refletir como a cidade, o poder local, toma o ambiente, na Lei Orgânica de 1990 e dá corporeidade política, no discurso, que sustenta essa relação: cidade e ambiente.

92 Segundo Viola (1996, p.09) “O conceito de sociedade sustentável foi elaborado originalmente pelo Worldwatch Institute, liderado por Lester brown, no começo da década de 1980.” Grifos nossos. Deve-se dizer também que o conceito torna-se mundialmente conhecido pela circulação do relatório pelo Worldwatch Institute, desde 1984. E ainda, pelo relatório “Nosso Futuro Comum” produzido segundo o autor, pela Comissão das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, liderada por Brundtland, em 1987. Esse acontecimento político torna-se “pedra de toque” em diferentes discursos, políticos o que significa interpretar a ordem social, as práticas, a relação sujeito x ambiente.

CAPÍTULO V

(...) não quero a boa razão das coisas. Quero o feitiço das palavras. (...) Manoel de Barros93