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Mapa 6 Fluxos migratórios dos pais dos alunos

2. O Senegal e os países lusófonos

2.1. A colonização

Quarta Razão do Infante

“A quarta razão foi porque de XXXI anos que havia guerreava os Mouros, nunca achou rei Cristão nem senhor de fora desta terra que por amor de nosso senhor Jesus Cristo o quisesse á dita guerra ajudar. Queria saber se se achariam em aquelas partes alguns príncipes Cristãos em que a caridade e amor de Cristo fosse tão esforçada que o quisessem ajudar contra aqueles inimigos da Fé.”112

Interessa-nos observar o tipo de relações que se estabeleceram nesta mesma costa ocidental africana, nos territórios da actual República do Senegal e nos espaços circundantes onde chegou a Língua e a Cultura portuguesas, desde o século XV.

Em 1444, o português Dinis Dias desembarcou no Cabo Verde, continuando as viagens, integradas nas orientações do Infante D. Henrique. Como vimos, o objectivo destas viagens era já, com grande probabilidade, descobrir novas rotas comerciais, um caminho marítimo que permitisse o acesso ao comércio das Índias, aos mercados das especiarias que à época vinham, por outras rotas, do Oriente para a Europa. Como ilustrámos anteriormente, parece-nos que esses interesses económicos justificam o primeiro impulso para esta grande aventura das viagens marítimas empreendidas pelos portugueses. Embora tudo pareça indicar que, à época, se adivinhava uma distância mais curta, e um acesso mais rápido a esses mercados.

Acreditava-se que isso era possível pelas informações que, na Idade Média, na Europa, já se conheciam, não só por livros escritos na Antiguidade, mas também do relato de experiências de navegadores e de comerciantes de épocas mais recentes. A história dos irmãos Vivaldi é recorrente, embora tenham desaparecido no mar sem mais notícias. A história de Marco Polo, que navegou vários anos pelo Oriente, com o seu tio, deixou descrições inovadoras e impressionantes para o mundo, sobre esses lugares igualmente desconhecidos para os europeus. Mas também as lutas contra as invasões muçulmanas na Europa colocaram os europeus em contacto com a cultura árabe, muito bem informada sobre determinadas rotas de comércio, não só as que vinham do Oriente pelo mar Vermelho, mas também as que existiam em África, se bem que o deserto do Sara se tenha apresentado como um obstáculo intransponível ou muito arriscado de ultrapassar para atingir o Sul do continente africano. Portanto, sempre algum desconhecimento permanecia sobre o interior de África; era inevitável, pelo calor, pelas condições climáticas e pelas condições insalubres que naquela época os homens tinham menos capacidade de vencer, as doenças e a morte que provocavam.

Seria preciso conhecer muito bem os territórios. Os árabes sempre estiveram melhor posicionados para conhecer as transacções comerciais que se faziam no Norte de África, incluindo o Egipto, mas quase desconheceriam o continente africano mais a Sul. Contudo, havia comerciantes vindos do Sul do Sara que, em caravanas, vinham fazer comércio ao Norte de África, e também conheciam as rotas para Tombuctú. Contudo, o interior do continente africano e a extensão das terras só muito depois do século XV vieram a ser explorados.

Os portugueses chegaram à costa ocidental africana nas primeiras décadas do século XV, por iniciativa da Coroa portuguesa que tinha interesses e objectivos económicos, mas também se empenhou a nível religioso em busca do reino do Preste João, na Etiópia (ou seja, África), que não sabiam localizar de forma exacta no continente africano. Contudo, havia notícias desse reino cristão, do qual o Infante D. Henrique esperaria apoio e ajuda para combater o Islão, contra o qual os portugueses já se tinham debatido em Portugal, na conquista e reconquista cristãs do território peninsular, para expulsar os mouros. À época, significaria uma continuação e uma extensão da História de Portugal, um combate ao infiel, perfeitamente lógico e coerente com a mentalidade tradicional portuguesa. Aliás, nos textos que consultámos, quando se referem os descobridores portugueses, os autores destes textos chamam-lhes “cristãos”, com enorme frequência, o que devia ter um significado muito mais específico. Haveria implícitamente motivações religiosas muito fortes que conduziram a essa grande aventura marítima portuguesa. Tratava-se de facto de um projecto realizado por cristãos. O Infante D. Henrique empreendeu este projecto dos Descobrimentos marítimos às suas próprias custas e com o apoio do Estado ou dos reis de Portugal: D. João I, D. Duarte e D. Afonso V. Permaneceu, ao longo de vários reinados, esta iniciativa do Infante para procurar um mundo novo, terras e gentes desconhecidas, e tinha acesso a muitas informações. Ainda no início das Descobertas, quando o maior obstáculo foi ultrapassado, depois do cabo Não, do cabo Bojador, à volta do qual muitas lendas existiam (“quem passar além do cabo de Não tornará, sim ou não”113), o Infante informou outros príncipes cristãos da Europa, pedindo-lhes apoio nesta empresa para combater os infiéis, para conquistar as terras e tirarem proveito de novas riquezas. Mas esta informação do Infante D. Henrique, para levar os reinos europeus a participar nesta aventura dos Descobrimentos, não foi suficiente para obter o apoio desejado. Gomes Eanes de Zurara refere-se, na Crónica da Guiné, a este desinteresse e falta de solidariedade dos príncipes cristãos:

“E porque o dicto senhor quis disto saber a verdade, parecendo-lhe que se ele

ou algum outro senhor se não trabalhasse de o saber, nenhuns mareantes nem mercadores nunca se disso intrometeriam, porque claro está que nunca nenhuns daquestes se trabalham de navegar senão para donde conhecidamente esperam proveito; e vendo outrossim como nenhum outro príncipe se trabalhava disto, mandou

ele contra aquelas partes seus navios, por haver de tudo manifesta certidão, movendo- se a isso por serviço de Deus e d’el-Rei D. Eduarte, seu senhor e irmão, que aquele tempo reinava114.”

Mais tarde, também Duarte Pacheco Pereira, na sua obra misteriosamente intitulada Esmeraldo De Situ Orbis (não se esclareceu ainda cabalmente o significado da palavra Esmeraldo) reafirma este desinteresse dos príncipes cristãos europeus, sobre as Descobertas de Portugal:

“A qual navegação começou o Infante, por serviço de Deus, do Cabo de Não pera Diante. E tanto que a estes reinos foram trazidos os primeiros negros e por ele sabida a verdade da Santa Revelação, logo o Infante escreveu a tôdolos reis Cristãos que o ajudassem a esse descobrimento e conquista por serviço de Nosso Senhor, e todo o proveito igualmente lograssem, o que eles não quiseram fazer; mas, havendo isto por vaidade, lhe renunciaram o direito. Pelo qual, o Infante mandou ao Santo Padre, o Papa Eugénio quarto, Fernão Lopes de Azevedo, fidalgo de sua casa e do conselho de el-Rei D. Afonso o Quinto, comendador-mor da Ordem de Cristo; o qual apresentando ao Sumo Pontífice a embaixada do Infante e renunciação dos ditos reis, lhe foi outorgado tudo o que pediu.”115

Devemos pois realçar o facto de a Santa Sé ter apoiado e estimulado o projecto dos Descobrimentos portugueses, na condição de os portugueses lutarem contra os infiéis e difundirem a fé. Podemos, pois, afirmar que as Descobertas estão inegavelmente ligadas ao Catolicismo e ao poder da Santa Sé. Naquela época, o poder temporal dos papas era aceite por todos os reis e príncipes cristãos da Europa, tinha reconhecimento internacional desde o século XI. Gregório VII (1020-1085) foi o papa que afirmou definitivamente o poder temporal do Sumo Pontífice e da Santa Sé, reconhecida e aceite na cristandade, não só por razões religiosas mas também políticas, pelo prestígio que conferia aos reis e às nações, com legitimidade inquestionável. Não é portanto inesperada ou surpreendente esta preocupação do Infante D. Henrique em informar a Santa Sé das suas conquistas ultramarinas e consequentemente obter benefícios para o país. Neste ponto, torna-se necessário lembrar e demonstrar que, já desde a fundação da nação portuguesa, o reconhecimento dos papas e a vassalagem de D. Afonso Henriques à Santa Sé, foram alicerces fundamentais para o poder e o

114 G. E. ZURARA (1453), Cap. VII, pp. 44-49 115 D. P. PEREIRA (1505-1508); Op. Cit., pp. 79-80

prestígio dos reis de Portugal. Era natural que D. Afonso Henriques quisesse obter o reconhecimento da sua qualidade de rei independente pelo Sumo Pontífice. Assim, pela bula Manifestis Probatum116, de 23 de Março de 1179, D. Afonso Henriques garantiu a

continuidade da independência portuguesa. Nesta bula, era do interesse da Santa Sé que os reis católicos expandissem a fé cristã e combatessem os seus opositores, os infiéis; por isso, o papa Alexandre III vem, desta forma, reforçar o seu apoio no combate aos infiéis e ao mesmo tempo, incita D. Afonso Henriques a prosseguir na obra da “dilatação da fé cristã.” Este objectivo cristão continua a existir ao longo dos Descobrimentos marítimos, pelas informações de Zurara e de vários outros autores.

Quando a expansão portuguesa se inicia, a nação portuguesa está consolidada e o projecto dos Descobrimentos surge sempre alicerçado na História e na Religião de um povo, determinado nas suas acções e interveniente nos destinos do país, com memória assente nos valores da Independência portuguesa, de Afonso Henriques, e das relações com a Santa Sé. Esses valores tradicionais mantiveram-se ao longo dos séculos, até ao século XV, e até muito mais tarde. Assinale-se, por exemplo, a luta diplomática, travada por Portugal, para ser reconhecida a independência após a Restauração, em 1640, em que inúmeros obstáculos foram colocados, junto da Santa Sé, por vários países europeus com influência junto dos papas. E só em 1670, os representantes diplomáticos de Portugal conseguiram alcançar esse objectivo, o reatamento das relações com a Santa Sé, pelo breve de Clemente X, Ex Litteris, de 19 de Julho de 1670.

Portanto, é fundamental não isolarmos estes valores tradicionais nem os excluirmos da orientação e dos objectivos nacionais durante tantos séculos. Nesta época que estamos a observar, estes factos assumem relevância na concepção das Descobertas e nas suas consequências sobre os territórios do continente africano, pois, também foi sempre um compromisso de Portugal expandir a religião cristã, mantendo boas relações com a Santa Sé nesse domínio. Tomemos, pois, ainda como referências, estes dois documentos, duas bulas papais (Dum Diversis de 18 de Junho de 1452 e Romanus

Pontifex de 8 de Janeiro de 1455) que legitimaram as Descobertas e as conquistas dos

portugueses em África, reconhecendo o monopólio comercial dos portugueses nos territórios africanos e o compromisso dos cristãos.

116 Monumenta Henricina, citada por MAGALHÃES, José Calvet, Breve História Diplomática de

Como se explicam então as ingerências de outros europeus que não participaram nessas Descobertas? Como se entenderam estes novos contextos económicos, políticos e religiosos? Como reagiram os portugueses à invasão europeia nos territórios que tinham descoberto com legitimidade e sofrendo tantas adversidades?

Até 1500, enquanto os grandes navegadores portugueses se orientavam por novos percursos para a Índia e para o Brasil, alguns desses viajantes iam-se instalando por terras africanas. Há notícias de que alguns portugueses ficaram nas terras do Senegal, nas ilhas de Cabo Verde, dispersos por todas as terras de Guiné, isto é, por toda a África Ocidental, onde fazem História também os países lusófonos, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Angola e os espaços insulares de S. Tomé e Príncipe. Porém, essas memórias, sobre os contactos com os indígenas, são escassas. Registam-se não só em poucos documentos escritos mas também na aprendizagem que os indígenas fizeram sobre a Língua Portuguesa, a marca mais profunda dos portugueses e talvez a única não planeada. A distribuição demográfica dos portugueses por estes territórios existiu, sem dúvida, embora a sua dispersão e a falta de registos materiais sobre esses aspectos possam colocar obstáculos ao conhecimento do grau de influência que exerceram nesses lugares.

Estes dados históricos da Europa parecem irrelevantes para os africanos, à partida não têm que ver directamente com as gentes daqueles territórios. Mas é um facto que os africanos aprenderam a Língua Portuguesa, provavelmente na medida das necessidades que tinham no comércio com os portugueses, que teriam uma presença forte e única, até certo momento. No que diz respeito aos países africanos, especificamente aos territórios do Senegal, sabemos que muitos portugueses se fixaram ali. E os africanos comunicaram, primeiro só com os portugueses, mais tarde receberam os outros europeus. Mas ser-lhes-ia difícil distingui-los por serem todos “brancos”; além disso, os africanos desses territórios, recentemente descobertos, não dispunham de qualquer referência cultural acerca dos estrangeiros. Ou seja, conheceram e partilharam o comércio de interesse comum, passaram a distinguir os portugueses pela língua cuja sonoridade já lhes era mais familiar, mais próxima e mais fácil. Esse aspecto da anterioridade dos portugueses está bem ilustrado na descrição de Francisco de Lemos Coelho:

“Por tudo isto que tenho dito se verà o muito proveito que se pode tirar deste rio, por que se Guine he hum ovo, pódese bem, com verdade, dizer que elle he a gema. He lastima que o estrangeiro se esteja aproveitando delle, sendo que nos o

descubrimos; mas á isso dis elle que, se fomos os descubridores, o fomos para elles, e com rezaõ o dizem. Tudo isto se poderá remediar sem os escandelizar, mandando Sua Alteza, que Deos Guarde, fazer hua feitoria em qualquer parte do rio, com os géneros que elle trás e comprados da primeira mão, para que se pudessem dar com o commodo que elle os dà, e deste modo tendo-os os portugueses, os do rio haviaõ de vender o que tivessem antes aos seus que aos estrangeiros; e faltando-lhe o negocio dos portuguezes, que he a maõ por que o fazem, logo despejaraõ o rio. E quando Sua Alteza naõ quizesse meter fazenda sua podia consignar o negocio a mercadores que fizecem bolça, que aqui se ouvera ella de fazer e naõ em Cacheo, donde se naõ hade tirar interece nenhu, nem hade servir mais do que ruína, assim a esta ilha como a todo Guine, como a esperiencia mostrara.”117

Também é certo que nos apercebemos de algum desânimo da parte deste capitão português. Manifesta claramente o desejo de uma intervenção mais forte da Coroa portuguesa no comércio do Cabo Verde, para que os portugueses obtivessem mais lucros e para que lhes fizesse justiça porque eles eram, ao que parece, os intermediários essenciais no mercado com os estrangeiros europeus e os africanos.

Os nativos de África desconheceram durante séculos os conflitos diplomáticos que se deram entre vários países europeus, após as Descobertas portuguesas. Contudo, os destinos de África decidiam-se na Europa, desde o século XVI. Os europeus despertaram para o continente africano e os territórios ultramarinos portugueses foram sendo ocupados directamente por outros (holandeses, franceses, ingleses, espanhóis) ou trocados entre os europeus, consoante o interesse dos tratados e dos acordos de quem os queria ratificar.

O que aconteceu foi que Portugal, a partir do século XVI, acabou por ser pressionado, ou forçado, de várias formas e por vários adversários, ou à reconquista de territórios por ele descobertos ou a cedê-los perante a invasão e as condições impostas por outros. Nesta época, a nação portuguesa tinha dado a toda a Europa uma experiência inovadora e invejável; por exemplo, logo estimulou a França e a Inglaterra a empreenderem viagens aos lugares de que os portugueses tiravam tamanhos proveitos. As grandes riquezas que os portugueses obtinham do comércio que faziam na África ocidental provocaram sobretudo a cobiça dos franceses e dos ingleses.

Desde então, a actividade dos corsários franceses contra a navegação e os domínios portugueses intensificou-se. Naturalmente, perante os prejuízos causados, a Coroa portuguesa reagiu a esses ataques. E, por exemplo, no tempo do rei D. João III de Portugal e do rei Francisco I de França, houve necessidade de negociações entre os dois países que levaram à assinatura do acordo de 14 de Julho de 1536 – o “Tratado de Lião”. Este tratado mostra a relação de forças que se estabelecia entre estas duas nações europeias, os interesses que as guiavam e os conflitos que existiam. Mediante este acordo, o rei de França permitia que o rei de Portugal vigiasse a acção dos piratas e dos corsários nos portos de França e que, se necessário fosse, efectuasse o sequestro dos seus navios. Além disso, a França comprometia-se a castigar os seus súbditos que se apoderassem de navios ou de territórios pertencentes a Portugal.

Apesar dos termos deste tratado, no sentido de se respeitar o comércio português em África, os corsários franceses continuaram a atacar a navegação portuguesa:

“Os sucessivos monarcas franceses, Henrique II, Francisco II, Carlos IX e Henrique III, prosseguiram na mesma política de publicarem cartas patentes proibindo aos seus vassalos os ataques aos domínios e ao comércio de Portugal e consentindo, sub-repticiamente, na actividade dos corsários franceses. (...)”118

E os franceses continuaram a ameaçar os domínios e as viagens dos portugueses ao longo de todo o século.

Também no século XVI, no reinado de D. Sebastião, os ingleses atacaram os domínios portugueses em África e a acção deste monarca português, com a ajuda das suas frotas, evitava sucessivos assaltos dos corsários:

“ Os corsários ingleses continuavam entretanto a visitar a costa da Guiné, o que motivou nova reclamação do embaixador português contida numa memória dirigida à rainha Isabel em 25 de Junho de 1562. Os navios de guerra portugueses, por outro lado, apresavam e metiam a pique os navios ingleses que encontravam na Costa da Mina e no Golfo da Guiné, tratando-os como piratas, como aconteceu com o navio Mignon da expedição de William Rutter. (…)

A resposta do governo inglês foi feita nos moldes das respostas anteriores, dizendo que a rainha proibira aos seus súbditos visitar as terras de África que pagavam

tributo a Portugal, mas que, em relação às restantes, não via razão para decretar tal proibição.”119

Só na sequência de vários ataques à soberania portuguesa se compreende que o rei de Portugal, D. Sebastião, dirigisse uma mensagem de um tal teor, e tão definitiva, à rainha de Inglaterra, dizendo-lhe:

“ (...) que se os ingleses julgavam que lhes seria lícito invadir o território

português e como corsários cometer actos de pirataria, roubando os vassalos portugueses, era lícito a estes repelir e punir tais atentados e ultrajes, o que não podia ser considerado como um crime pelos príncipes que julgavam com justiça, tanto mais que não devia causar admiração que os portugueses suportassem sem indignação que estrangeiros se apossassem do que eles haviam conquistado com tanto trabalho e à custa de tanto sangue, para gozarem do fruto de suas fadigas.120

Apesar deste grave aviso, a Inglaterra continuava a emanar documentos contra os portugueses e a manter um posicionamento ambíguo em relação a Portugal. Por isso, a dada altura, o rei D. Sebastião colocou todos os meios à sua disposição em defesa da sua nação e dos territórios ultramarinos que lhe pertenciam, impedindo o comércio dos ingleses em todos os lugares possíveis. Noutros momentos, em Março de 1569, privou os ingleses das propriedades que possuíam em Portugal e fortificou a cidade de Lisboa. Impediu o comércio dos ingleses em todos os portos de mar e reforçou a defesa em África, principalmente em Ceuta e Tânger. E para evitar os assaltos aos navios portugueses vindos das Índias, enviou vinte navios para os Açores. Estes são apenas alguns dos exemplos mais significativos que podemos recolher sobre iniciativas incisivas dos reis de Portugal em defesa dos interesses da nação, contra a cobiça dos estrangeiros europeus que agiam impunemente e fora de qualquer contexto legal, atacando pessoas e bens, não olhando a meios para atingir os seus objectivos, assinando, apenas, em último recurso e sem verdadeira intenção de cumprir, acordos com Portugal para restabelecer uma ordem que mais tarde não reconheceriam.

Estas acções de D. Sebastião tiveram como efeito imediato a interrupção do comércio dos ingleses com Portugal. E os prejuízos foram tão elevados que os negociantes apelaram repetidas vezes à rainha para que a situação se modificasse.

119 J. C. MAGALHÃES (1990), Op. Cit., pp. 51

120 VISCONDE DE SANTARÉM, Quadro Elementar, vol XV, p. CXXIII, citado por J. C. Magalhães