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Mapa 6 Fluxos migratórios dos pais dos alunos

3. Inquérito aos estudantes universitários

3.3. Análise e comentários das respostas

3.3.2. b Expectativas quanto ao futuro profissional

A questão seguinte incidia sobre as expectativas dos alunos relativamente ao seu futuro profissional. Designadamente, colocámos duas questões precisas: “O que pensa fazer profissionalmente quando concluir o seu curso de Estudos Portugueses na UCAD” e “o que gostaria de fazer quando terminar o seu curso de Estudos Portugueses”; ou seja, quisemos distinguir entre o que os alunos realmente gostariam de fazer e aquilo que, de modo realista, pensavam estar ao seu alcance. Os resultados foram os seguintes:

Quadro 27 – Ambições e expectativas dos alunos quanto ao seu futuro profissional

Ordem de prefe- rência

O que gostaria de fazer após a conclusão dos estudos

n O que pensa fazer após a conclusão dos estudos

n

Professor universitário 78 Estudos portugueses no

estrangeiro

90

Estudos portugueses no

estrangeiro

54 Professor universitário 58

Professor de liceu 31 Professor de liceu 48

Outra profissão ligada à Língua

Portuguesa

24 Investigador 25

Outros estudos no estrangeiro 20 Outros estudos no estrangeiro 21

Investigador 16 Outra profissão ligada à Língua

Portuguesa

11

Ter outras profissões 7 Estudos portugueses no Senegal 6

Estudos portugueses no Senegal 3 Outros estudos no Senegal 3

Outros estudos no Senegal 3 Ter outras profissões 1

Em primeiro lugar, verifica-se que um número significativo de alunos não quis, ou não soube, responder: 78 alunos não escreveram o que gostariam de fazer e 31 não referiram o que pensam fazer; ou seja, uma parte dos alunos já não tem, ou não refere, um ideal profissional…

A carreira docente universitária beneficia claramente de uma imagem positiva entre os alunos de Português da UCAD; no universo das escolhas possíveis para os alunos que escolheram estas licenciatura e mestrado, ser professor universitário representa um posto de trabalho vitalício e fixo, em Dacar, relativamente prestigiado (embora a sociedade senegalesa seja materialista), com uma remuneração superior à

média dos funcionários e viagens ao estrangeiro para congressos e serviços – bem remunerados – de interpretação. Naturalmente, nem todos os alunos que gostariam de seguir essa carreira pensam que o vão conseguir, mas, ainda assim, cerca de 20% dos alunos considera que a mesma está ao seu alcance.

Ao contrário, o número de alunos que gostaria de ser professor liceal é pouco mais de metade daqueles que pensam vir a seguir essa carreira; ou seja, esta constitui uma segunda escolha, plausível e realista, para muitos alunos (30%).

Curiosamente, são mais os alunos que pensam poder prosseguir estudos Portugueses no estrangeiro do que aqueles que, a priori, gostariam de o fazer. Confessamos que ficámos surpreendidos com este dado. Com efeito, a pulsão para a emigração é uma realidade patente em todo o Senegal, sejam quais forem as habilitações literárias dos jovens; ora, seria, a nosso ver, de esperar que os alunos desejassem emigrar, mas que, em menor número, esperassem consegui-lo, atendendo aos exigentes critérios de concessão de vistos de estudo – e outros – nas missões consulares estrangeiras. A única explicação credível assenta na sensação de que não há saídas profissionais para os alunos no Senegal, pelo que estes desejarão tentar a sorte no estrangeiro. O estrangeiro já não surgiria, assim, pelo menos a este nível social, como um “El-dorado”, mas sim como um mal necessário para uma parte significativa dos alunos. Por outro lado, deve ser tida em conta a recente vaga de emigração clandestina por via marítima que começou a ganhar amplitude precisamente no ano de realização do inquérito, em 2005, e que foi vista, num primeiro tempo e por muitos candidatos à emigração, como um expediente de resultado quase garantido, tanto mais que o então recém-empossado Governo espanhol acabara de legalizar 700 mil imigrantes em situação irregular. Por outro lado, a escolha dessa nova rota marítima é mais barata do que as vias “clássicas” de tentar comprar passaportes, vistos falsos ou adulterados e influências, o que, numa sociedade pauperizada, tem óbvia importância.

Deste universo de alunos, 8% gostaria de “ter uma profissão ligada à Língua Portuguesa”, mas apenas 3,6% acreditam que o poderão conseguir. Assinale-se que pedimos aos alunos que identificassem a referida profissão, e, no total das duas questões, 12 responderam diplomata, 6 hospedeiro e 3, intérprete.

Ao contrário e, também, surpreendentemente, são mais os alunos que consideram possível ser investigador, do que aqueles que mencionam esse desejo. Para esta situação não temos qualquer explicação, pois não temos conhecimento de carreiras ligadas à investigação nacional senegalesa (os poucos investigadores presentes no

Senegal são, em geral, mestrandos e doutorandos, ou funcionários e agentes contratuais do CNRS – Centre National de Recherche Scientifique – francês).

As restantes categorias têm uma frequência praticamente irrelevante, mas vale a pena observar as respostas obtidas sob um outro ângulo, somando as pontuações atribuídas pelos alunos às diversas alternativas de respostas (de 1 ponto para a primeira preferência até 10 pontos para a última). Deste modo, não focamos apenas a primeira preferência que, em muitos casos, pode não constituir uma opção clara e evidente na mente dos alunos:

Quadro 28 – Somatório das pontuações obtidas pelas respostas dos alunos sobre o que gostariam de fazer após a conclusão dos estudos

Profissão

O que gostaria de fazer após a conclusão dos estudos

Ser professor universitário 760

Continuar os estudos portugueses no estrangeiro 874

Ter uma profissão ligada à Língua Portuguesa 1015

Ser investigador 1025

Ser professor no liceu 1043

Prosseguir outros estudos no estrangeiro 1144

Continuar os estudos portugueses no Senegal 1294

Ter outras profissões noutros países 1340

Ter outras profissões no Senegal 1394

Prosseguir outros estudos no Senegal 1453

Quadro 29 – Somatório das pontuações obtidas pelas respostas dos alunos sobre o que pensam fazer após a conclusão dos estudos

Profissão

O que pensa fazer após a conclusão dos estudos

Continuar os estudos portugueses no estrangeiro 741

Ser professor universitário 811

Ser professor no liceu 1046

Ser investigador 1058

Prosseguir outros estudos no estrangeiro 1083

Ter uma profissão ligada à Língua Portuguesa 1228

Continuar os estudos portugueses no Senegal 1486

Prosseguir outros estudos no Senegal 1498

Ter outras profissões noutros países 1518

Ter outras profissões no Senegal 1585

Nos quadros 28 e 29, quanto mais baixo é o valor, maior é a preferência. Assim, mantêm-se, em geral, a ordem das preferências do quadro 27, sobre o que gostariam e o

que pensam fazer os alunos após a conclusão dos seus estudos e sobre o que pensam realmente fazer.

No que se refere ao que os alunos gostariam de fazer, mantém-se a docência universitária no cimo das preferências e o prosseguimento de outros estudos no Senegal, em último. A única diferença relevante é a descida da profissão de professor liceal para quinto lugar, embora as diferenças com os terceiro e quarto, “ter uma profissão ligada à Língua Portuguesa” e “ser investigador”, sejam pouco significativas.

No que se refere ao que os alunos pensam fazer após a conclusão dos estudos, a ordem das escolhas é idêntica. Assim, confirma-se que os alunos vêem na possibilidade de prosseguir os Estudos Portugueses no estrangeiro uma perspectiva mais exequível do que ser professor universitário o que, se por um lado é mais realista (poucas serão, previsivelmente, as aberturas de vagas na UCAD); por outro lado surpreende, atendendo à dificuldade, por todos conhecida, de obter vistos e bolsas de estudo no estrangeiro, pelo que se afigura, de algum modo, uma “fuga em frente”, na qual a emigração é vista como a solução para as incertezas do futuro.