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3.   AS CONDIÇÕES PRODUTIVAS E RENDA MONETÁRIA 114

3.1 ASPECTOS SOCIAIS E ECONÔMICOS – INFRAESTRUTURA PRODUTIVA

3.1.6 A composição da renda monetária dos estabelecimentos rurais

O novo padrão de desenvolvimento agrário e agrícola é radicalmente distinto de períodos anteriores, e está mudando as feições e o caráter das atividades agropecuárias e das regiões rurais brasileiras (BUAINAIN et al. 2013c). Desse modo, podemos referir que o quadro de crescente monetarização da vida social dos agricultores familiares transformou as mercadorias em geral e os produtos do esforço do trabalho em propriedade passível, ou adequada, de alienação e de possibilidade de troca mercantil (MARX, 1974).

A busca de ingresso de dinheiro na sociedade é a condição básica para compor as necessidades materiais da produção, reprodução e manutenção dos ativos e da família e da

159 unidade de produção. É um processo social ampliado que vem regulando os comportamentos sociais e, ao mesmo tempo, ao ser flexível, expressa a diversidade e a heterogeneidade caraterística e intrínseca do mundo rural. A sociabilidade nos termos propostos por Simmel (1983) se externaliza como um processo ampliado e interacional dos indivíduos com a estrutura social partilhada, em que os sujeitos dividem ações, sentimentos e valores baseados e construídos no convívio e na interação social.

A sociabilidade institui as condições básicas da reprodução sistemática de valores e crenças, os quais, o indivíduo vai sendo diuturnamente capturado, e esse processo possibilita a emergência de um novo “espírito”, segundo a concepção defendida por Boltanski e Chiapello (2009). A busca do lucro por meio da competição impessoal se transforma em fenômeno sociocultural desejado, compartilhado, cujas justificações e desejos permitem “[...] o consentimento dos dominados e que se reconheça que a maioria dos participantes no processo, tanto, os fortes como os fracos, apoiam-se nos mesmos esquemas para representar o funcionamento, as vantagens e as servidões da ordem na qual estão mergulhados” (BOLTANSKI; CHIAPELLO, 2009, p. 42).

Dessa forma, não deve se constituir em surpresa que as atividades agropecuárias sejam comandadas pelo mesmo “espírito”, qual seja, a busca de lucros que passa a ser o mentor-guia das mentalidades e dos comportamentos sociais dos agricultores familiares. Assim, a maior parte dos esforços (investimentos em benfeitorias, máquinas, equipamentos, capacitação técnica, etc.) é alocada em atividades com o objetivo de gerar renda monetária extraordinária. A produção agropecuária desse modo é apenas um dos tantos meios para produzir dinheiro, o que na visão e comportamento das famílias rurais é a condição imprescindível para garantir as possibilidades da reprodução social e material dos agricultores familiares, e igualmente na manutenção dos estabelecimentos rurais.

Milton Santos (1999, p. 3) concluiu que dessa maneira “O dinheiro aparece em decorrência de uma vida econômica tornada complexa, quando o simples escambo já não basta [...]”. Simmel (1999) menciona que o dinheiro, na moderna economia, decompôs constantemente a formação do pensamento, e possibilitou a emergência de anseios e intenções mais ocultas de desejos de posse dos indivíduos. A armadilha oculta no processo, entretanto, é dicotômica, pois da mesma forma que a busca do dinheiro se torna, por um lado, em elemento socializante, por outro lado exacerba o egoísmo e a competição entre os indivíduos, e é o instrumento que consagra a exclusão dos menos aptos.

Jean (1994, p. 2) é enfático ao afirmar que os “pequenos produtores” são capazes de reproduzir-se e permanecer mesmo na sociedade capitalista “[...] é um produto do próprio desenvolvimento da economia agrícola moderna”. Tornam-se de certa forma, funcionais ao modo de produção capitalista na medida em que subsidiam outros setores. Contudo, não há

160 evidências que comprovem a hipótese, de que os estabelecimentos menores estariam dispostos a auferir rendas inferiores aos maiores por considerarem a virtuosidade das suas explorações (VEIGA, 2012). Essa assertiva reporta à minha vida de menino sentado à mesa com meus irmãos, e meu pai solene na cabeceira segurando o queixo costumeiramente repetia: “Dez contos é muito dinheiro!” Chega a soar como um pueril delírio a visão defendida por alguns, de que os agricultores familiares não desejam acumular economicamente e prosperar materialmente. Essa visão desconsidera a realidade, em que entre tantas condições materiais necessárias (há muito tempo defendida, inclusive, por Marx) para garantir a sobrevivência, a manutenção da família e dos ativos duramente conquistados, uma delas se destaca, a necessidade contínua de dinheiro.

É oportuna a citação de Abramovay (2012, p. 37), ao afirmar que “Aquilo que era antes de tudo um modo de vida, parece óbvio que converteu-se numa profissão, numa forma de trabalho". Se for dessa forma, necessitam ser remunerados pelo trabalho. Cândido (2003) vislumbrou precocemente essa transformação ainda negada, apesar das evidências, que “A situação atual impõe um mínimo de racionalidade, manifestada pela previsão, a ordenação (por embrionária que seja) duma receita e duma despesa, pois a avaliação monetária se estende a setores cada vez mais numerosos” (CÂNDIDO, 2003, p. 211). A busca de “uma receita” se configura em motivo que induz, inclusive ao abandono dos agricultores que buscam alternativas que acenem com possibilidades mínimas que sejam de ingresso de renda, inclusive fora da unidade familiar. Esse tema será ampliado no Capítulo 5.

Navarro e Pedroso (2014) defendem que o abandono das regiões rurais pode ocorrer por duas razões. Uma delas advém em razão dos “fatores de sucesso” em regiões mais prósperas em que os agricultores familiares conseguiram construir condições materiais, e chances de acesso à educação e às novas profissões com melhores possibilidades que os induziram a desistência das atividades agrícolas. A outra razão, a mais comum e mais frequente nas regiões rurais empobrecidas, o abandono do campo pelos membros da faixa etária intermediária das famílias em idade de trabalho decorre de “fatores de insucesso”. Ou seja, pelas razões opostas em que a precariedade das condições produtivas e sociais dos chefes dos estabelecimentos rurais dificultou ou impediu ao acesso às condições de alguma prosperidade econômica e material aos demais membros da família.

A Tabela 17 mostra as causas de abandono dos estabelecimentos rurais por membros em idade em que possam trabalhar em outras atividades (fora da agricultura ou fora dos estabelecimentos). A principal causa de abandono se apresenta como alternativa de geração de renda para os membros da família que se evadem é a busca de trabalho e de renda regular e representa 13,2% da amostra. A insalubridade e a penosidade do trabalho agrícola aliada com a baixa renda é de 13,2%. As duas variáveis somadas representaram

161 26,4% da amostra e esse fator demonstra a preocupação dos agricultores em elaborar estratégias que possibilitem o ingresso de renda monetária regular por outras vias, e se mostram mais expressivas nas UFs da BA, 6,4%, e do PA, 8,2%. A idade avançada foi motivo para 1,9%, e em busca de casamento em 0,9% da amostra.

Outro fator explicativo é devido à oferta de mão de obra, por essas UFs terem taxas de fecundidade maiores do que na região Sul. De acordo com os dados da Pnad (2015) a taxa de fecundidade no PA é de 2,15 filhos por mulher, PE, 1,80, BA, 1,76, PR, 1,65 e SC ,1,57, a média nacional é de 1,74. Essa média não repõe a população rural que necessita de 2,1 (IBGE, 2015). Contudo, ao refletir sobre as causas estruturais da desistência de membros da família ante a necessidade premente de conseguir dinheiro para garantir a sobrevivência imediata do grupo familiar, pode significar o protelamento do processo de exclusão definitiva do processo produtivo. A necessidade de estudar é causa de 10,5% das respostas da amostra. Por outro lado, a deficiência na oferta dos serviços de saúde é a razão de abandono para 5,5% dos entrevistados e a necessidade de acompanhar os familiares (mudança de local de moradia) foi de 3,2% da amostra.

Ao contrário de muitos que imaginam, o meio rural ou a agricultura como uma atividade lúdica, ou mesmo um modo de vida romântico. O Romantismo quase sempre é retratado como um movimento artístico, cuja origem remonta às decepções não cumpridas pelo ideário das revoluções, especialmente da Revolução Industrial e Francesa. Expressa por assim dizer, a recusa e o sentimento de perda do mundo real e histórico ao apontar a coisificação e egoísmo do homem como traços perniciosos. Busca então, o reencantamento do mundo por meio da imaginação e fantasia para fugir da dura realidade cotidiana.

Essa tese não nega que existam outras concepções e formas de produzir na agricultura, mas afirma que diante dos cenários de mercantilização e monetarização da vida social, acirramento concorrencial, necessidade de gestão e de investimentos, a agricultura passa a ser uma atividade econômica como outra qualquer, em que o retorno exige trabalho duro e disciplinado e amparo estatal, mas que isso não representa garantia de sucesso na atividade. A busca de rendimentos funde os comportamentos sociais que são “fortemente ancorados na compreensão da atividade agropecuária como uma atividade econômica que requer uma rígida administração tanto do ponto de vista financeiro como de sua crescente complexidade operacional” (NAVARRO, 2016, p. 58).

Essa digressão foi necessária para destacar que na sociedade contemporânea a necessidade de renda monetária oriunda da troca mercantil, da mesma forma, tornou-se para os agricultores familiares uma condição de ocupar-se de viver, ou ocupar-se de desaparecer da exclusão do processo produtivo.

162 Tabela 17 – Razões de abandono dos estabelecimentos rurais.

Razões de abandono

Unidade da Federação

Total PR (3) SC (1) PA (3) PE (1) BA (2)

Busca de trabalho e de renda regular

N 3 3 9 4 10 29

% 1,4 1,4 4,1 1,8 4,6 13,2

Insalubridade e penosidade do trabalho agrícola e renda baixa

N 6 7 9 3 4 29

% 2,7 3,2 4,1 1,4 1,8 13,2

Necessidade de estudar

N 8 4 5 3 3 23

% 3,7 1,8 2,3 1,4 1,4 10,5

Deficiência na oferta dos serviços de saúde

N 5 0 3 0 4 12

% 2,3 0,0 1,4 0,0 1,8 5,5

Acompanhar os familiares (mudança de local de moradia)

N 0 1 6 0 0 7

% 0,0 ,5 2,7 0,0 0,0 3,2

Idade avançada (idosos)

N 1 1 0 0 1 3

% 0,5 0,5 0,0 0,0 0,5 1,4

Em busca de casamento

N 2 0 0 0 0 2

% 0,9 0,0 0,0 0,0 0,0 0,9

Não possuir terra própria

N 0 0 0 0 1 1 % 0,0 0,0 0,0 0,0 0,5 0,5 Não se aplica N 3 3 0 0 3 9 % 1,4 1,4 0,0 0,0 1,4 4,1 Violência N 0 0 1 0 0 1 % 0,0 0,0 0,5 0,0 0,0 0,5

Não sabe/não respondeu

N 22 31 17 15 18 103

% 10,0 14,2 7,8 6,8 8,2 47,0

Total

N 50 50 50 25 44 219

% 22,8 22,8 22,8 11,4 20,1 100 Fonte: Dados da pesquisa (2014).

163 A contribuição de Germer (2002) enfatiza “[...] o que se vende não é o “excedente” [...]”, pois, na medida em o que o se produz “[...] não o que se deseja consumir, mas o que pode ser vendido mais vantajosamente, segundo as determinações do mercado e dos meios de produção disponíveis [...]” (GERMER, 2002, p. 12). Significa ponderar que o objetivo principal das atividades agropecuárias é a produção para a comercialização em detrimento da produção para o autoconsumo familiar, que está sendo suprido por outros meios.

A primazia do dinheiro, reflexo da sociedade mediada pela sua circulação, repercute em mudanças na visão de mundo dos agricultores familiares na medida em que “[...] a necessidade de dinheiro para trabalhar a terra, para produzir e consumir levou a que houvesse uma conexão mais precisa do colono [agricultor familiar] com os produtos de maior aceitação comercial” (TEDESCO, 1999, p. 131). Dessa forma, ao buscar gerar renda, os agricultores almejam criar as condições estruturais e materiais mínimas para sobreviver, permanecer e prosperar quando possível a partir das atividades. Isso se dá primeiramente a partir das atividades desenvolvidas no estabelecimento e, na insuficiência dessas, pela adoção de um conjunto diversificado e articulado de outras receitas geradas pelos diversos membros da família, e que podem ser localizadas fora do estabelecimento e fora da agricultura, quando essas possibilidades se apresentam como alternativas e que os auxiliem a alocar adequadamente a mão de obra disponível.

A Tabela 18 mostra os estratos do Valor Agregado Bruto (VAB)5 descontando o Consumo Intermediário referente aos agricultores familiares, com as informações buscadas junto às 219 famílias rurais entrevistadas entre aos meses entre junho de 2012 a junho de 2013. O VAB é oriundo das atividades de exploração das lavouras temporárias e perenes, produção florestal, vendas de animais, transformação caseira, fruticultura, olericultura e produção de forragens. O VAB se refere aos valores resultantes das vendas provenientes do produto bruto de origem vegetal, do produto bruto do autoconsumo (vegetal e animal), e da venda do produto bruto de origem animal. As cifras cominadas aos produtos encontrados e cultivados nos estabelecimentos foram pesquisados em agências estaduais de comercialização agropecuária, buscando atribuir o valor comercial médio pago na praça local, e na ausência dessa, os preços praticados nos mercados agropecuários próximos.

A primeira informação importante a destacar é o VAB anual negativo de 8,6% do total da amostra, e localizada no estrato compreendido entre menos R$ 12.000,00 e R$ 0,00 com duas ocorrências em SC representando 0,9% da amostra, no PA foram 6, e 2,7%, em PE com 7 ocorrências, 3,2%, na BA com 4 e 1,8%. Para efeitos de análise, optamos em colocar

5 A definição do Valor Agregado Bruto (VAB) é dada pela diferença entre o Valor Bruto da Produção

(VBP) e o Consumo Intermediário (Cl). Isto é, o valor de todas as mercadorias que entram na produção de outras mercadorias é descontado do valor total das mercadorias produzidas. (FARIA, 1983, p. 110).

164 esses estratos em destaque a fim de caracterizar o VAB negativo desses estabelecimentos. O trabalho de campo não levantou a origem e os motivos que levaram esses estabelecimentos a se tornarem deficitários. Eles podem estar conectados a entraves estruturais, administrativos, gerenciais, sanitários ou ainda climáticos, fatores que podem se tornar decisivos na capacidade de gerar a produção e os possíveis excedentes.

O estrato de VAB compreendido entre R$ 0,01 e R$ 5.000,00 por ano representou 23,7% da amostra. Com o VAB anual entre R$ 5.001,00 a R$ 10.000,00, os resultados da amostra são de 15,5%. Esses dois estratos representaram 39,2% da amostra. Entre R$ 10.001,00 e R$ 15.000,00, e todas a UFs agrupadas representaram 5,5% da amostra. O VAB cujos estratos estão situados entre R$ 15.001,00 e R$ 20.000,00, 5,9%. No estrato situado entre R$ 20.001,00 a R$ 25.000,00 foi de 5,6% da amostra. Ao agrupar todos os intervalos dos estratos com VAB compreendido entre R$ 0,01 e R$ 25.000,00, nota-se que é o mais representativo com 56,2% do total da amostra. Em termos gerais a representação por UF, no PR foi de 6,4%, em SC 12,0%, no PA 16,8%, em PE 7,4% e na BA 13,6%.

O VAB anual médio auferido pelos estratos agrupados entre R$ 0,01 a R$ 25.000,00 (56,2% dos estabelecimentos da amostra) é de R$ 7.729,54 anuais. Isso representou R$ 644,13 mensais por estabelecimento. E se considerar o salário mínimo de 2013, tendo como referência o valor de R$ 678,00, esses estabelecimentos auferiram um VAB médio de 0,25 SM mensais por pessoa do estabelecimento. Ao considerar a média de 3,83 pessoas por estabelecimento rural encontrada na amostra investigada, isso representou R$ 168,18 mensais por pessoa. Dessa forma, é razoável aludir que essas famílias estão vivendo em condições de persistente vulnerabilidade social e pobreza material, sobrevivendo ainda em níveis institucionais insatisfatórios (NAVARRO, 2001). Esse público é o alvo preferencial de políticas de transferência sociais conforme os dados tabulados na Tabela 42. As UFs mais expressivas que acessam essa política são a BA com 18,7% e o PA com 17,4% da amostra.

Os estabelecimentos rurais intermediários situados entre os valores de R$ 25.001,00 e até R$ 50.000,00 representaram 13,0% do total pesquisado, e cujo valor do VAB anual médio foi de R$ 34.522,56, e representou R$ 2.876,88 mensais por estabelecimento. O valor médio auferido mensal por pessoa foi de R$ 711,14 (1,11 SM), sendo 4,6% desses estabelecimentos estão no PR, 4,1% em SC, 1,9%, no PA em PE 1,0% e na BA 1,4%.

O estrato situado entre o VAB de R$ 50.001,00 e R$ 100.000,00 representou 8,2% da amostra, de R$ 100.001,00 a R$ 200.000,00, perfazem 9,1%. E por último, os estabelecimentos rurais top de linha agricultura familiar com VAB entre R$ R$ 201.000,00 a R$ 480.000,00 representam 4,3% do total investigado.

165 Tabela 18 – Valor Agregado Bruto (VAB) anual. (Ano agrícola 2012-2013).

Estratos de VAB Unidades da Federação Total

PR (3) SC (1) PA (3) PE (1) BA (2) De R$ -12.000 a R$ 0,00 N 0 2 6 7 4 19 % 0,0 0,9 2,7 3,2 1,8 8,6 De R$ 0,01 a R$ 5.000 N 4 8 15 10 15 52 % 1,8 3,7 6,8 4,6 6,8 23,7 De R$ 5.001 a R$ 10.000 N 2 10 11 2 9 34 % 0,9 4,6 5 0,9 4,1 15,5 De R$ 10.001 a R$ 15.000 N 1 2 6 1 2 12 % 0,5 0,9 2,7 0,5 0,9 5,5 De R$ 15.001 a R$ 20.000 N 4 3 2 2 2 13 % 1,8 1,4 0,9 0,9 0,9 5,9 De R$ 20.001 a R$ 25.000 N 3 3 3 1 2 12 % 1,4 1,4 1,4 0,5 0,9 5,6 De R$ 25.001 a R$ 30.000 N 3 1 1 0 1 6 % 1,4 0,5 0,5 0,0 0,5 2,9 De R$ 30.001 a R$ 35.000 N 2 0 1 1 2 6 % 0,9 0,0 0,5 0,5 0,9 2,8 De R$ 35.001 a R$ 40.000 N 1 6 2 1 0 10 % 0,5 2,7 0,9 0,5 0 4,6 De R$ 40.001 a R$ 50.000 N 4 2 0 0 0 6 % 1,8 0,9 0,0 0,0 0,0 2,7 De R$ 50.001 a R$ 100.000 N 7 7 2 0 4 20 % 3,2 2,3 0,9 0,0 1,8 8,2 De R$ 100.001 a R$ 200.000 N 14 5 0 0 1 20 % 6,3 2,3 0 0 0,5 9,1 De R$ 200.001 a R$ 480.000 N 5 1 1 1 1 9 % 2,3 0,5 0,5 0,5 0,5 4,3

Não sabe/Não respondeu N 0 0 0 0 1 1

% 0,0 0,0 0,0 0,0 0,5 0,5

Total N 50 50 50 25 44 219

% 22,8 22,1 22,8 12,1 20,1 100

166 Ao sintetizar os grupos situados entre 50.001,00 a R$ 480.000 eles representaram 21,6% da amostra pesquisada e estão distribuídos da seguinte forma: no PR foram 11,8%, em SC, 5,1%, no PA,1,4%, em PE, 0,5% e na BA, 2,8%. Esses estabelecimentos auferiram um VAB anual médio de R$ 130.548,10, e R$ 10.879,01 mensal, e considerando a média de 3,83 pessoa por estabelecimento representa R$ 2.840,47 (4,19 SM) por pessoa.

Dessa forma, é possível afirmar que esses seletos estabelecimentos são os que realmente “vivem da agricultura”, e estão localizados majoritariamente nos UFs no PR e em SC que representaram 16,9% da amostra, e 78,24% dos estabelecimentos. Vale destacar que os 21,6% dos agricultores familiares “capitalizados” da amostra, são aqueles conseguem acessar os recursos do Pronaf com mais facilidade, pois são capazes de oferecer garantias aos agentes financeiros (denominados de Grupo Variável), ou seja, os 26% dos agricultores familiares brasileiros identificados pelo CA de 2006, (IBGE, 2006).

Há uma parcela de 8,6% de estabelecimentos rurais que estão em situação de insolvência (VAB negativo), sendo que no PR não teve nenhum caso, em SC 0,9% da amostra, PA 2,7%, PE 3,2% e a BA 1,8%. Os dados mostram que os casos de inadimplência são mais presentes nas regiões do NO e do NE.

Ao considerar o conjunto de dados mostrados na Tabela 18, no tocante a expressão do VAB dos estabelecimentos rurais podemos aludir o foi que aventado no capítulo teórico dessa tese, sobre a emergência e a consolidação do padrão de desenvolvimento agrário e agrícola de acordo com as proposições de Buainain et al. (2013c) e Buainain et al. (2014c). Há evidencia em afirmar que está se materializando a diferenciação social, econômica e produtiva entre os agricultores e entre as regiões rurais brasileiras, fenômeno igualmente expresso por outros autores (SCHNEIDER; WAQUIL, 2005; ABRAMOVAY, 2000).

A julgar pelos estratos reduzidos de VAB e juntamente com as condições estruturais e regionais em que esses agricultores familiares estão localizados, uma parte expressiva está sendo nitidamente encurralada (NAVARRO; CAMPOS, 2013). Desse modo, é procedente e razoável a preocupação de Helfand, Moreira e Júnior (2014) ao retomarem o debate sobre a questão da sobrevivência de uma parcela importante da agricultura familiar. A partir desses números é possível refletir sobre às possibilidades de reprodução social e material em cenários, em que as atividades agropecuárias estão imersas nos processos de mercantilização e monetarização. Primeiro, no aspecto econômico das atividades agropecuárias, os dados revelam um número expressivo de estabelecimentos que já operam com VABs negativos. E segundo, o aporte de VAB reduzido em um cenário em que a manutenção e a sobrevivência da família já estão monetarizadas.

A monetarização é o processo que orienta os desejos e as necessidades dos agricultores diante das demandas elementares e de consumo, qual seja a premência de

167 produzir dinheiro, na crença de que isso seja um quesito indispensável para a manutenção da família e dos ativos produtivos. Nas transformações das regiões rurais que vem ocorrendo de longa data “O dinheiro aparece em decorrência de uma vida econômica tornada complexa, quando o simples escambo já não basta [...]” SANTOS (1999, p. 3).