• Nenhum resultado encontrado

3.   AS CONDIÇÕES PRODUTIVAS E RENDA MONETÁRIA 114

3.2 COMENTÁRIO SÍNTESE

As condições estruturais, produtivas e o nível de ingresso de renda dos agricultores familiares levam a crer que está se consolidando um novo padrão de desenvolvimento agrário e agrícola de acordo com as ponderações de Buainain (2013c) e Buainain et al. (2014c) nas regiões pesquisadas. O padrão se expressa por estratégias de acumulação em que a produção para o mercado se apresenta como a principal opção geradora de excedentes econômicos. Esse modelo é caraterizado, especialmente, pela inserção do contexto schumpeteriano de competição concorrencial e a necessidade de intensificação tecnológica, que nas áreas de pesquisa ficaram concentradas nas UFs do PR e SC.

Outro aspecto característico é que o modelo em grande medida amplia o processo de seletividade social. Pelos dados levantados, cerca de 21,6% da amostra apresentam as condições que os permitem a “viver e prosperar na agricultura”, com VAB que varia de R$ 50.000,00 a R$ 480.000,00/ano. Esses produtores estão localizados especialmente nas UFs do PR e SC e são as UFs que mais contrataram serviços de ATER (37,8% do total da amostra, ou 63,9% dos que contrataram). Esses agricultores ostentam o maior nível de escolaridade, possuem maior número de máquinas (82,6%) e equipamentos tecnológicos, infraestrutura agrícola, acesso a mercados para a produção e são os que mais estão associados a cooperativas (25,1%). Grande parte desses agricultores estão conectados aos complexos de cadeias integradas agroalimentares (frango, suínos e soja). Esse é um setor dominado por um grupo reduzido de grandes empresas da indústria de alimentos, que em períodos recentes vem alocando investimentos de capitais no setor de forma intensiva.

Esses fatores combinados resultaram em níveis diferenciados da captura da renda produzida nos estabelecimentos. O argumento central que permeia essa síntese se ancora na perspectiva de que a agropecuária está sendo regida pela crescente mercantilização das atividades expressas na externalização e cientifização do processo produtivo, e por seu turno monetariza a vida social das famílias rurais e promove mudanças técnicas e nos comportamentos sociais. Do mesmo modo, está correto o enunciado de Abramovay et al. (2007), ao enfatizar que, via de regra, os recursos técnicos, econômicos e institucionais acabam por beneficiar quase sempre as famílias rurais, ou regiões, que apresentam as

168 melhores condições estruturais, produtivas e socioeconômicas.

Portanto, esse modelo mantem o padrão e a matriz geradora da desigualdade e da diferenciação social entre as famílias rurais. Além disso, o Estado prefere alocar esforços para as regiões rurais que possam responder com mais eficácia aos investimentos realizados, e que induzam crescimento econômico no curto prazo, pois essas regiões já possuem infraestrutura (rodovias, educação, saúde) instalada.

No tocante ao universo das famílias rurais, o novo padrão estimula o intercâmbio e a interação com o mundo do capital, e promove uma nova configuração ontológica dos indivíduos na busca de renda, embasados na sociabilidade nitidamente capitalista. Nessa perspectiva, as atividades agropecuárias passaram a exigir conduta racionalizada, e que visa preponderantemente o lucro. Essa racionalização se expressa nas habilidades do “homem econômico”, supostamente adormecida dos agricultores, e é instrumentalizada por um pequeno grupo de indivíduos, cuja supremacia subordina sobre os demais.

Há um grupo intermediário de estabelecimentos cujos VAB se situam entre R$ 25.000 e menos de R$ 50.000,00/ano. Representaram cerca de 13% da amostra investigada e que podem ser potencializados por meio de políticas indutoras de desenvolvimento rural (educação, saúde, ATER, crédito, seguro agrícola, acesso à mercados) com o objetivo de elevar os patamares produtivos, tecnológicos e socioeconômicos.

Por outro lado, os outros 56,2% de estabelecimentos pesquisados que demonstram estar vivendo sob condições abaixo de níveis mínimos de institucionalidade, e sendo são candidatos à exclusão. São os grupos cujos VABs dos estabelecimentos não ultrapassam a R$ 25.000,00/ano, considerando as necessidades de uma família composta, em média por 3,83 pessoas, e estão localizados nas UFs de SC, PA, PE e BA. Seus estabelecimentos apresentam expressivos entraves estruturais (terra, água, assistência técnica, etc.). Esses fatores os impedem de acessar crédito e de investir, e, consagra desse modo a diferenciação social entre as famílias rurais e entre as regiões rurais.

Pelo acima exposto e com base como nos dados empíricos apresentados verificamos que as condições estruturais, produtivas e socioeconômicas destinadas às necessidades de geração de renda monetária consolidam o desenvolvimento agrário e agrícola bifronte, de acordo como os pressupostos defendidos por Buainain et al. (2013c) e Buainain et al. (2014c). Isso ocorre na medida que apenas uma parcela de agricultores está credenciada positivamente a adequar seus estabelecimentos, por meio de um conjunto articulado de habilidades, competências, estrutura produtiva e na adoção de inovações (tecnológicas, administrativas e gerenciais) que os distanciam social, material e economicamente dos demais, apesar de estarem igualmente expostos a diversos riscos.

169 condições estruturais e socioeconômicas dos seus estabelecimentos se conduzem em situações de fragilidade para gerar renda monetária. Essas unidades de produção necessitam de políticas estruturantes de desenvolvimento rural de médio e longo prazos a fim de ampliar as possibilidades de reprodução social e material em cenários de crescente tensionamento concorrencial e seletivos. De forma geral, se configura a diferencial social entre os agricultores familiares e entre as regiões rurais investigadas. Tornam-se pertinente as preocupações de Helfand, Moreira e Júnior, (2014) Helfand e Pereira (2012) e Navarro (2016) sobre sua permanência como produtores no futuro, em espaços cada vez mais ampliados de mercantilização e monetarização da vida social, visando a atender as demandas de conquista de bens de consumo, acumulação econômica e ainda atender as exigências da sustentabilidade, tema a ser ampliado no próximo capítulo.

4

A MONETARIZAÇÃO DA VIDA SOCIAL, BENS DE CONSUMO E