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CAPÍTULO 1 – ESPAÇO GEOGRÁFICO E CONFLITOS EM TORNO DA

1.6. A CONJUNTURA POLÍTICA, SOCIAL E ECONÔMICA DO PARANÁ

1882, e norte-americana de 1884, fez com que o sistema mundial moderno se restabelece e os preços do café tendessem a se elevar consideravelmente. Isso favorecia a aquisição de terras por parte dos produtores, no vas terras eram cobiçadas na Província do Paraná. Se no primeiro momento os mineiros foram os responsáveis pela (re) ocupação das terras no Norte Pioneiro, agora aparecem os paulistas nos últimos anos do século XIX e início do século XX. As ligações desse grupo com o sistema financeiro por meio das casas bancárias favoreciam o financiamento e a abertura de fazendas. Por outro lado, deixavam suas terras esgotadas e compravam terras novas no Norte Pioneiro. Começavam a surgir novos núcleos urbanos, tais como: Jacarezinho ex- Nova Alcântara (1888), Santo Antônio da Platina (1890), Carlópolis, ex- Jaboticabal, (1900), Cambará (1904), Ibaiti (1909), Quatiguá (1909) e Joaquim Távora (1915).

Com a Proclamação da República em 1889 e a Constituição de 1891, o poder de legislar sobre as terras passou para as mãos do governo provincial que de imediato promoveu uma política em “proveito dos paranaenses”. Assim, “A lei nº. 68 de 20 de dezembro de 1892 firmou o princípio de que as terras devolutas só deveriam ser alienadas a quem estivesse em condições de cultivá - las ou torná- las úteis, uma troca de serviços que produzam benefício

geral”.92 A intervenção do Estado no Norte do Paraná foi compulsória e suprimiu os direitos que antes os posseiros tinham em suas propriedades. A intervenção estatal em terras de grileiros e posseiros estava relacionada aos interesses da Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP). A Magna Carta compreende a expropriação da propriedade privada caso esta não atenda ou não cumpra algum tipo de função social. In facie do disposto nos artigos 5º, XXIII (atendimento à função social), e 5º, XXII (garantia do direito de propriedade), da Constituição Federal do Brasil. A intervenção também pode ser proporcionada pelo artigo 5º, XXV, da Lei Maior do Brasil, que assegura o uso da propriedade privada pelo Estado Brasileiro nas situações de iminente perigo público, assegurando a indenização ulterior ao proprietário. 93

O benefício social ipso facto94 da propriedade privada para “todos” os paranaenses

tinha como objetivo aumentar as rendas do Estado por meio da produtividade dos produtos agrícolas, principalmente o café, que passaram a ser tributáveis. Assim como aumento dos impostos e das receitas. Em 1893, o governo do Paraná baixou um Ato Institucional nº. 35. Esse Ato Institucional transformou as terras devolutas na Província estabelecendo os preços em que estas deveriam ser comercializadas. No dia 11 de junho de 1907, foi editado o Decreto 218 que definiu as bases para a colo nização em terras paranaenses. O imigrante europeu foi um dos beneficiários na formação das colônias agrícolas. A Lei nº. 1147 de 1912 elevou

92 CANCIÁN, Nadir Apparecida. Cafeicultura paranaense (1900 -1970): estudo de conjuntura. São Paulo, 1977.

Tese (Doutorado) – Departamento de História, Universidade Federal do Paraná, p. 115.

93 Cf. MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Forense, 1997,

p. 280; CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. Rio de Janeiro : Lúmen Júris, 2005.

94 Sobre o poder de polícia do Estado visando o interesse público Cf. DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Servidão

administrativa. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais; 1978, p. 29. Para Di Pietro cabe ao proprietário in casu

de haver abuso de autoridade, postular em juízo indenização, além de colocar-se em posição de desacordo quanto à limitação que foi feita em cima de sua propriedade. Sobre arrendamento forçado da propriedade da terra ver SALLES, José Carlos de Moraes. A desapropriação à luz da doutrina e da jurisprudência. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais; 2000, p. 763.

consideravelmente o preço da terra e criou uma barreira para a apropriação das terras irregulares. Com a força militar do Estado, puniu quem se beneficiou num primeiro momento desse processo; “em seguida disciplinou o acesso a terra por meio do mecanismo da compra, o que iria abrir caminho para o desenvolvimento capitalista no contexto do espaço geográfico paranaense. 95

O Departamento de Terras do Estado no Paraná se viu obrigado a tratar de assuntos referentes às terras no Norte Pioneiro, pois, as “confusões, incongruências, redundâncias e arcaísmos encerram as infindáveis leis e regulamentos sobre terras e colonização. Inestimável serviço público é a consolidação, concatenação [...] dessa legislação, ora iniciadas sob os auspícios do Departamento”. 96 Assim, o Paraná “Honrando as tradições ordeiras do Estado,

vem atravessando período de absoluta paz, tendo tido o governo decidido apoio das classes conservadoras e proletárias”. 97 Para José de Souza Martins “o camponês brasileiro é um desenraizado, é migrante, é itinerante. A história dos camponeses-posseiros é uma história de perambulação”.98 Antes da “expropriação” do Bom Jesus e das terras da família Pinto, o contexto político do país instaurou-se sob a ameaça da grande crise internacional de 1929, havia também a “ameaça” de outubro de 1930. São mudanças significativas a nível federal, estadual e local. O interventor do Estado do Paraná, Manoel Ribas, promoveu uma política

95 SERRA, Elpídio. Processos de ocupação e a luta pela terra agrícola no Paraná. Rio Claro, 1991. Tese

(Doutorado em Geografia) – Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP, campus de Rio Claro; Ver também Nono comissariado: Agrimensor Alfredo Mosconi, municípios de Jaguariaíva, São José da Boa Vista, Tomazina, Jaboti, Santo Antônio da Platina, Joaquim Távora, Siqueira Campos, Carlópolis e Ribeirão Claro.

Departamento de Terras do Estado do Paraná. Curitiba: Arquivo Público do Estado do Paraná; 1933, p. 315 -7. Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Eurípides Garcez do Nascimento pelo Tem. Cel. Silvério Van Erven em 31 de dezembro de 1933 . Curitiba: A rquivo Público do Estado do Paraná; 1933, p. 04.

96 Idem Ibidem, Nono comissariado: Agrimensor Alfredo Mosconi, Departamento de Terras do Estado do

Paraná. Curitiba: Arquivo Público do Estado do Paraná; 1933, p. 315-7.

97 Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Eurípides Garcez do Nascimento pelo Tem. Cel. Silvério Van Erven,

31 de dezembro de 1933. Curitiba: Arquivo Público do Estado do Paraná; 1933, p. 04.

98 MARTINS, José de Souza. Os camponeses e a política no Brasil: as lutas sociais no campo e seu lugar no

pública de terras com doações de propriedades a amigos e conhecidos, com um simples pedido às instâncias burocráticas do governo. Também havia uma simbiose entre o governo do Estado, a Igreja Católica e a iniciativa privada no tocante à questão agrária.

A política imposta por Manoel Ribas no Estado do Paraná, aliado dos grupos tradicionais e ligado às classes dominantes paranaenses, pode ser deduzida sem rupturas no

status quo. “A análise dos ocupantes da Secretaria de Justiça revela que entre dez deles, oito

pertenciam às famílias históricas paranaenses, com ascendentes e redes de parentescos estabelecidas no poder desde o século XVIII”. 99 A Igreja também exerce um papel importante na manutenção desse status quo “conservador” e “ordeiro”. Quando Dom Ático Euzébio da Rocha foi escolhido Bispo Metropolitano de Curitiba, por indicação de Manoel Ribas e amigo deste e de Getúlio Vargas, a presença do baiano no Paraná “revela as preocupações políticas e as ligações de Ribas com a esfera religiosa tradicional”. 100

A política de terras devolutas do Estado facilitou a venda por preços estabelecidos em Lei. Quem desejou tornar-se proprietário rural deveria observar as restrições e condições impostas pela legislação vigente. Também “pôde” tornar-se proprietário aqueles que tinham possuído terras públicas antes de 15 de novembro de 1889. No entanto, seus direitos sobre a terra tinham que ser legitimados pelo Estado de acordo com a “procedência” Constitucional. Uma vez “satisfeitos dão direito ao posseiro de obter os títulos definitivos de propriedade, os que sendo senhores legítimos por títulos legais, queiram medir e demarcar suas terras, para revalidação facultativa do seu domínio, perante o governo do Estado”.101 As transações

99 OLIVEIRA, Ricardo Costa de. “Notas sobre a política paranaense no período de 1930 a 1945”. IN: A

construção do Paraná moderno: políticos e política no governo do Paraná de 1930 a 1980. OLIVEIRA, Ricardo

Costa de. (org). Curitiba: SETI; 2004, p. 20.

100 Idem Ibidem, p. 20-21.

101 Departamento de Terras do Estado do Paraná. Curitiba: Arquivo Público do Estado do Paraná; 1933, p. 303-

comerciais no Estado do Paraná neste momento efetivavam-se com o Estado de São Paulo, por meio de pequenos portos localizados às margens do rio Itararé, principalmente em São José do Rio Pardo e Piraju. Isso trouxe sérios prejuízos para a receita do Estado paranaense, pois, com as trocas comerciais sendo feito diretamente entre os produtores do Paraná com São Paulo, o Estado paranaense deixou de arrecadar uma grande quantidade de taxas por meio de impostos, prejudicando seriamente sua economia.

A questão social no Estado do Paraná, nas primeiras décadas do século XX, foi bastante tumultuada, denúncias de chacinas contra os indígenas, violência contra caboclos e sertanejos foram evidentes e constantes. O jornal Estado de S. Paulo denunciou o massacre contra os índios Kaingáng do município de Santo Antônio da Platina. O inquérito se encerrou com 14 bugreiros sendo denunciados pelo conflito. Diz a promotoria pública que “os felizes proprietários querem a ferro e fogo esbulhar os silvículas de seus legítimos domínios”.102 Também havia o medo de um conflito por terras, assim como ocorreu durante a Guerra do Contestado.

Os contornos da política paranaense e das oligarquias regionais durante a Revolução de 1930 confirmaram a continuidade das famílias tradicionais no poder do Estado paranaense. Em Castro, “onde quase houve conflagração com as tropas de São Paulo, foi nomeado Otávio Novaes, neto de Manoel Inácio do Canto e Silva, um dos maiores latifundiários escravistas do Paraná”.103 Essas ligações entre as famílias tradicionais paranae nses já eram denunciadas na

102 TOMMAZINO, Kimiye. A história dos Kaingáng da bacia do Tibagi: uma população Jê Meridional em

movimento. São Paulo: Departamento de antropologia da Universidade de São Paulo; Tese (Doutorado), 1995, p. 121-2.

Para o antropólogo Darci Ribeiro, na América ocorreu dois tipos de colonização: a Ibero -Americana e a Anglo- Saxã com dois estilos culturais distintos. O Barroco na América-Latina e o Gótico no Norte europeu. “Ao apartheid dos nórdicos opunham o assimilacionismo dos caldeadores”. RIBEIRO, Darci. O povo brasileiro: evolução e sentido de Brasil. São Paulo: Companhia d as Letras; 1995, p. 69-70.

época por Luís Carlos Prestes. Contudo, a indicação do Interventor no Estado do Paraná por Getúlio Vargas foi “meticulosamente pensada por Vargas, recaindo na figura de Manoel Ribas, que tomou posse no dia 30 de janeiro de 1932. Ribas conseguiu reunir a confiança de Vargas e o apoio de importantes setores das classes dominante e trabalhadora do Paraná”. 104

Esse político da região dos Campos Gerais (Ponta Grossa) representava tanto as oligarquias regionais como a cooperativa dos trabalhadores da estrada de ferro do Sul do país. “Esse conjunto de fatores ajudou a explicar a sua continuidade à frente do Poder Executivo paranaense de 1932 a 1945”. 105

Manoel Ribas estava intimamente ligado à própria formação da sociedade oligárquica paranaense. O parentesco do Interventor no Estado do Paraná abrange: “Lupion, Fontana, Macedo, Oliveira Franco, Hauer, Erichesen, Maciel, Lacerda e Guimarães [...] O seu substituto no comando do Exército estadual durante certo período foi João de Oliveira Franco”. 106 Outro foi Rivadávia Fonseca de Macedo “interventor interino em 1932 e Secretário de Fazenda, sendo posteriormente Presidente do Banco do Estado do Paraná”. 107 No campo simbólico, a Igreja Católica se posicionou conservadora em favor da “ordem” e do “progresso”. Colaborando com o status quo vigente, a Igreja oficial tinha na figura de seu Bispo Metropolitano de Curitiba, amigo de Ribas e de Vargas, Dom Ático Euzébio da Rocha. Esse Bispo tinha a função de nacionalizar o clero estrangeiro no Paraná.

Desse modo, a posição do Estado do Paraná em julho de 1932 foi favorável ao governo Vargas em detrimento do movimento Constitucionalista de 1932. O Promotor público de São

104 OLIVEIRA, Ricardo Costa de (Org.). A construção do Paraná Moderno. Políticos e política no Governo do

Paraná de 1930 a 1980. Curitiba: SETI; 2004, p. 19.

105 Idem Ibidem. 106 Idem. 107 Idem.

José da Boa Vista, Lindolfo Pessoa da Cruz Marques, filiado ao partido URP – que “polarizava setores políticos do antigo regime e do velho Partido Republicano Paranaense”. 108 Os partidos políticos do Paraná representavam as oligarquias dominantes no Estado. Tanto o PSD, quanto o PSN e o URP possuíam diferenças que “vinculavam mais a interesses políticos que a determinações socioeconômicas. Apoiar ou não Vargas era o divisor de águas. No governo de Ribas, vários políticos que trabalhavam no regime deposto pela Revolução de 1930 voltaram a cargos de poder”.109 Somente o irmão do ex- presidente Afonso Alves Camargo, Dr. Marins Camargo, possuía metade das terras do Paraná.

Manoel Ribas seguia as orientações do palácio do Catete. O programa de Ribas atendia fielmente os interesses do governo federal, tais como a infra-estrutura, “a principal novidade foi a construção de Estrada do Cerne, ligando Curitiba com o norte do Estado, até Jacarezinho e daí a Londrina. Um dos principais empreiteiros foi Antônio Lacerda Braga, pai do futuro governador Ney Braga”.110 O futuro Banestado – então Banco do Estado do Paraná, comprou terras em grandes quantidades junto a famílias “falidas” e, em seguida, as vendeu para o grupo Klabin. Nesse período também ocorreu a estatização da Companhia Férrea São Paulo -Paraná. No tocante a colonização das terras no Norte paranaense, ocorreu a “revisão e implantação de uma nova política agrária e de colonização fundiária. Algumas concessões do período anterior foram revistas. A concessão de terras à Companhia de Terras Norte do Paraná e ao Engenheiro Beltrão também foram mantidas”.111 A política marcante do Estado Novo de Vargas e de sues interventores estatais foi marcada pela perseguição aos oposicionistas do governo. Também havia um controle severo às comunidades de imigrantes. “O outro grande desafio foi a

108 Idem, p. 22. 109 Idem, p. 25. 110 Idem, p. 27. 111 Idem, p. 27.

ocupação das terras cafeeiras do Norte do Paraná, que abriu a perspectiva para a política do Paraná tradicional conviver e integrar as novas populações migrantes dentro da identidade e da política do Paraná”. 112

A região denominada de Norte Pioneiro viu surgir uma nova classe social em detrimento da burguesia da erva- mate. Concomitante a essa nova “burguesia” paranaense, surgiu o trabalhismo inaugurado pela era Vargas. A gestão do trabalho como um bem para o “Estado natural”, preservou o status quo, a família e a propriedade através dos dogmas da ideologia cristã ocidental. É importante lembrar que o cenário mundial ficou caracterizado no Brasil durante a Era Vargas como peculiar, de um lado a luta contra o capitalismo judeu, de outro a disputa contra os comunistas e socialistas. Desse modo, instaurou-se no Brasil uma ideologia de justiça social, e não de igualdade social. Ambiente predominantemente católico, a virtude e a caridade. “Nesse espírito, o cultivo da tradição cristã católica seria um valor indispensável para reunião do povo sob a égide desse modelo nacional-sindicalista”. 113

O prestígio da família tradicional no Paraná identificou-se com a figura do pai de família, trabalhador e de baixa renda. A função da mulher na sociedade estava restrita ao lar, a família e a criação dos filhos. Na Península Ibérica e nos países latino-americanos o trabalho da mulher era considerado como “missão da mulher na família tradicional. O trabalho por conta alheio e fora do lar era considerado prerrogativa do varão”.114 A Igreja, o Estado e a

sociedade na Ibero-América surgiram da doutrina do jusnaturalismo e do neotomismo

112 Idem, p. 28.

113 NUNES, Cláudio Pedrosa. O nacional sindicalismo espanhol: Estado, família e trabalho no regime de

Francisco Franco. Salamanca: Universidade de Salamanca; 2009, p. 6.

católico.115 Podemos concluir esse capítulo dizendo que ocorreu no espaço e no tempo uma característica cultural medieval estranha na década de 1930. Se no passado o Império estava unido ao Trono, agora a Igreja estava de mãos dadas com o Estado.

Esse momento histórico em que vivia o Paraná, e que antecede a implantação do Estado Novo de Vargas, foi marcado por uma crise política, de hegemonia e ideologia “cujas origens estão na raiz da Revolução de Trinta, evoluindo ao longo das duas primeiras fases do governo Vargas”.116 Os conflitos entre as oligarquias regionais contribuíram para o rompimento da oligarquia agroexportadora que dava sustentação ao modelo político existente dentro da estrutura cafeeira. Essa crise política produz um conjunto de instabilidade que age como “novo fator de pressão no sentido de uma mudança de regime político: o fortalecimento do Executivo aparece como condição de preservação da ordem e, portanto, de sobrevivência dos grupos dominantes”.117 Uma forma de proteção aos grupos econômicos tradicionais regionalmente.

A região Norte Pioneiro era constantemente atacada pelo cangaceirismo de Maroto e seu bando. O sertão paranaense estava repleto de bandoleiros que assaltavam as fazendas praticando cenas de “barbaria”. O jornal Gazeta do Povo, em 1933 denunciava esses ataques às propriedades da região. Agindo como de costume, Lampião invadia diversas fazendas. “Muitos dos pequenos grupos de bandoleiros agem em municípios bem próximos às cidades servidas por estradas de ferro onde passam diariamente de quatro a cinco comboios que dão

115 O plano de estabilização econômico espanhol foi “essencial no esforço de fazer sair a Espanha do túnel do

subdesenvolvimento a que a havia condenado as destruições da guerra e a política autárquica”. MORLINO, Leonardo. Franquismo. Dicionário de Política. Brasília: Editora da Universidade de Brasília; 1998, p. 526-7.

116 DINIZ, Eli. “O Estado Novo: estrutura de poder e relações de classes”. Em: O Brasil Republicano . Sociedade

e Política (1930-1964). Rio de Janeiro: Bertand Brasil; 2003, p. 83.

provas da civilização”.118 Chefiados por Maroto, José Ares Galvão e Jacob Elias extorquiam dinheiro dos proprietários e fazendeiros “impondo o terror entre os munícipes [...] É de esperar que a esforçada autoridade a quem compete pela ordem no Estado, envie policiais para a citada zona”.119 A viabilidade política dentro da estrutura de poder consistiu em canalizar as

disputas e interesses para dentro da máquina estatal. Foi em meio a esse contexto político, econômico, social e religioso que ocorreu a história do Senhor Bom Jesus da Cana Verde.

CONCLUSÃO

Esse conflito religioso significou mudanças nos padrões tradicionais da comunidade religiosa. Após a “expropriação” da imagem, os cultos e rituais em torno do Bom Jesus ficaram sob o olhar institucional dos vigários locais. Nos núcleos urbanos, as irmandades religiosas estavam sendo cada vez mais controladas pelo poder oficial do clero católico. O Norte Pioneiro estava marcado por mudanças sociais profundas por meio do processo de romanização do clero e, também, com a introdução de novas relações sociais no campo. A secularização do Estado após a Proclamação da República exigiu a separação entre poder secular e poder religioso no Brasil. Essa transformação estrutural no país acabou destituindo a Igreja de seus privilégios políticos e sociais. No entanto, a Igreja oficial logo se reestruturou por meio de um novo clero que passou a atuar em um novo contexto. Em conseqüência dessas mudanças, ocorreram conflitos entre o poder religioso oficial e o catolicismo popular. No tocante ao espaço e ao tempo, ocorreu também uma procura por novas terras com objetivos econômicos voltados para a produção de suínos, agricultura e principalmente para a produção

118 Gazeta do Povo, Curitiba, sexta-feira, 5/5/1933, p. 8. 119 Idem Ibidem.

de café. Porém, os donos do capital tiveram que expulsar os posseiros e grileiros que eram os proprietários dessas terras.

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