• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 1 – ESPAÇO GEOGRÁFICO E CONFLITOS EM TORNO DA

1.3. A REINTEGRAÇÃO DA IMAGEM DO BOM JESUS

A reintegração da imagem do santo ao procurador de Zeca Pinto só foi possível após a solicitação do Juiz às Forças Armadas do Estado do Paraná para conter qualquer ameaça de tumulto, revolta e violência armada que viesse a ocorrer. Em seguida, o herdeiro do Bom Jesus, por seu procurador e advogado, moveu um auto de ação sumária por esbulho contra o

69 Idem Ibidem. 70 Idem.

zelador da Igreja do Distrito de Salto do Itararé. Ao reintegrar a posse do santo a Zeca Pinto, como medida preliminar da respectiva ação, ocorreu, contudo, o perigo de haver reação por parte do esbulhador e de seus companheiros do Salto do Itararé. O procurador de Zeca Pinto requisitou do Juiz da Comarca de São José da Boa Vista uma medida preventiva. Requisitando ao senhor “Tenente Delegado Especial desta cidade, a necessária força armada a fim de acompanhar os oficiais da diligência que procederam à reintegração”. 71

O Juiz de Direito Augusto Guimarães Cortes, responsável em resolver o impasse da reintegração de posse, designou aos oficiais de justiça que se deslocassem para o distrito de Salto do Itararé, mais especificamente à casa de Rodrigo de Carvalho, zelador da Igreja- Matriz. Assim, os oficiais em cumprimento da ordem dada, dirigiram-se para o local. Chegando à casa do zelador da Igreja, Rodrigo de Carvalho, citaram- no por ter esbulhado violentamente Zeca Pinto a mando do vigário desta paróquia. Para o Juiz, a ação praticada não tinha base em direito que a legitimasse. Depois de requerida a posse da referida imagem do Bom Jesus pelos oficiais de justiça, com base no artigo 372 do Código Civil e Comercial do Estado do Paraná, foi intimado “o esbulhador da reintegração e citado para vir à primeira audiência deste Juízo, post-citationem [...] ficando desde logo citado para todos os demais termos da ação, até final satisfeita as formalidades legais”. 72

O Juiz de Direito, diante da alegação de Zeca Pinto e de Antônio José Pereira, determinou ação sumária contra o zelador da paróquia do Distrito de Salto do Itararé, Rodrigo de Carvalho, em 15/3/ l933. Desse modo, Rodrigo de Carvalho foi notificado por determinação da presente ordem para que na primeira audiência deste Juízo, depois de

71 Nestes termos, como é de direito e de justiça, São José da Boa vista, sete de junho de 1933. Cf. Processo Nº

197.

notificado a ordem aos oficiais de justiça desta Comarca, o zelador da paróquia de Salto do Itararé, incontinentemente entregasse o “referido santo que se acha em seu poder [...] O que cumpram. Dado e passado nesta cidade de São José da Boa Vista, aos sete dias do mês de junho de mil novecentos e trinta e três. Eu, Doutor Augusto Guimarães Cortes”. 73

A reintegração de posse da imagem do Bom Jesus foi feita pelo zelador da paróquia do Salto do Itararé somente mediante a presença da força policial e judicial do Estado. Tanto a imagem quanto a multa a ser paga pelo réu foi à revelia. Pois, somente com a presença da polícia do Estado, junto com os oficiais de justiça designados pelo Poder Judiciário , foi cumprido o mandado de reintegração de posse da imagem ao procurador de Zeca Pinto. Assim, em 8/6/1933, foi intimado Rodrigo de Carvalho para entregar a imagem do Bom Jesus, tendo o oficial de justiça, Júlio Domingues dos Santos oferecido contra fé para o citado, o qual aceitou. O cumprimento do mandado ocorreu na sede do Distrito de Salto do Itararé perante os oficiais de justiça que, reintegraram a Zeca Pinto a posse do Bom Jesus. O presente auto foi lavrado pelo oficial de justiça.74 No dia 15 de junho de 1933, na cidade de São José da Boa Vista, perante o Juiz de Direito, foi aberta a audiência por Júlio Domingues dos Santos. Compareceu à cessão Antônio José Pereira como procurador e advogado de Zeca Pinto na ação por esbulho contra o zelador Rodrigo de Carvalho. Nesta cessão foi expedido o mandado de reintegração de posse em favor de seu constituinte.

O réu foi intimado pelo Juiz Augusto Guimarães Cortes no artigo 372 do Código Civil e Comercial do Estado, dando prazo legal para contestação do réu. Prosseguiu o Juiz de Direito nos termos da ação até o seu final, sob pena de revelia. O meritíssimo Juiz mandou

73 Idem Ibidem.

74 “Salto do Itararé, oito de junho de 1933. Júlio Domingues dos Santos; João Baptista Nogueira. Aos 15 dias do

mês de junho de 1933 junto a estes autos a cópia da audiência como se segue. Do que faço este termo. Eu, Mário Siqueira Antunes. Escrivão o Escrevi”. Cf. Processo N° 197.

aplicar a pena combinada na inicial de folhas, se por acaso Rodrigo de Carvalho viesse a turbar a posse do proprietário novamente. Não havendo ninguém presente para a defesa do zelador da Igreja do Distrito de Salto do Itararé, Augusto Guimarães Cortes deferiu o requerimento dando a citação por feita e acusada. O prazo dado pelo Juiz ao réu Rodrigo de Carvalho para sua contestação foi de três dias, uma vez se assim o queira sob pena da Lei. E não havendo mais quem quisesse requerer, mandou o Juiz de Direito encerrar a audiência em que assinou com o requerente. Registrou o Escrivão Mário Siqueira Antunes as assinaturas de Augusto Guimarães Cortes, Antônio José Pereira e Júlio Domingues dos Santos. “Nada mais se continha em dita audiência que bem e fielmente extrai a presente cópia do protocolo das audiências e dou fé. Eu, Mário Siqueira Antunes, Escrivão a datilografei”.75 No dia 20/6/1933,

os autos foram concluídos. O oficial de justiça fez a conclusão dos autos ao excelentíssimo Juiz de Direito. 76 “Faço estes autos conclusos ao Excelentíssimo Snr. Dr. Juiz de Direito. Do que faço este termo. Eu, Mário Siqueira Antunes. Escrivão o escrevi. Encerrado e concluído. Em 20 /06/1933. Augusto Guimarães Cortes”. 77

Entretanto, o conflito armado que ocorreu no Arraial dos Pintos não foi o suficiente para por um fim na disputa pela imagem do Bom Jesus. Com a morte de Zeca Pinto, seu neto, João Pinto de Oliveira, registrou o óbito de seu avô, no dia 19 de fevereiro de 1935, junto ao Cartório Civil do Distrito de Salto do Itararé. João Pinto de Oliveira compareceu junto de outras duas testemunhas, Eduardo Francisco da Costa e Rodrigo José Carvalho. João Pinto de Oliveira alegou que havia deixado de fazer o registro de óbito de seu avô no dia 26/11/1933.

75 Idem Ibidem.

76 “Conclusão: aos 20 dias do mês de junho de 1933. Faço estes autos conclusos ao excelentíssimo senhor doutor

juiz de direito. Do que faço este termo. Eu, Mário Siqueira Antunes. Escrivão o escrevi. Encerrado e concluído em 20 de junho de 1933. Augusto Guimarães Cortes”. Cf. Processo N° 197.

Para o neto de Zeca Pinto, seu avô veio a falecer vítima dos ferimentos que recebeu no conflito pela imagem do Bom Jesus. Desse modo, o neto de “Zeca Pinto” pediu uma averbação78 para lançamento. Seu avô era brasileiro, com setenta e cinco anos de idade, cor branca, natural de Itapetininga, Estado de São Paulo, e residia no distrito de Salto do Itararé.

O neto de Zeca Pinto registrou na certidão de óbito de seu avô que, José Pinto de Oliveira era filho legítimo de Francisco de Paula Oliveira Pinto e Dona Gertrudes Maria de Jesus, ambos falecidos a muitos anos. Era casado com Dona Ana Lopes Ferreira, de setenta e oito anos de idade, mais ou menos. Deixaram desse matrimônio os herdeiros e netos João Pinto de Oliveira, com dezoito anos de idade, José Pinto Neto, com quatorze anos de idade e Maria Luiza de Oliveira com dez anos. Eram filhos do finado Manuel Pinto de Oliveira que, não havia deixado testamento, porém deixou alguns bens a inventaria. Zeca Pinto foi sepultado no cemitério Bom Jesus dos Pintos. O presente Termo foi lavrado com o declarante, José Pinto Neto, e as testemunhas Eduardo Francisco da Costa, Rodrigo José de Carvalho perante o escrivão João Lino de Moura.79 No entanto, por meio de uma procuração concedida por Zeca Pinto, ainda em vida, ao seu advogado Antônio José Pereira, ficou outorgado todos os seus direitos para que o prefeito de Siqueira Campos viesse a obter a imagem do santo. Dessa forma, a disputa pelo poder simbólico foi travada entre a Mitra Diocesana de Jacarezinho, sob ordens do Bispo Dom Fernando Taddei, e os herdeiros de “Zeca Pinto”. Essa disputa também envolveu questões materiais, pois estavam também em disputa as terras da família.

78 “Declaração à margem de um documento ou de um registro; nota marginal; Certidão de casamento, com

averbação do óbito de um dos cônjuges.” CEGALLA, Domingos Paschoal. Dicionário escolar da língua

portuguesa. São Paulo: Companhia Editora Nacional; 2005, p. 106.

Documentos relacionados