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CAPÍTULO 1 – ESPAÇO GEOGRÁFICO E CONFLITOS EM TORNO DA

1.5. NADA RESTOU AOS HERDEIROS DE CHICO PINTO

Em Siqueira Campos, a formação do Patrimônio da Igreja-Matriz, com 32 alqueires de terra, foi resultado da doação de Maria Romana Barbosa, viúva de José Caetano de Carvalho, e de seu filho Alberto Lino de Carvalho. A confirmação da área e das terras pertencentes à Siqueira Campos foi legitimada pela Secretaria de Obras e Colonização requerida por José Miguel Barbosa:

83 SOUZA, Joaquim Vicente de. Minha Terra e Minha Gente. História do município da Colônia e de Siqueira

Campos. Siqueira Campos: Secretaria de Estado da Cultura; p. 46, 1988.

84 Livro Tombo Nº. 1, Capela do Divino Espírito Santo da Colônia Mineira, Siqueira Campos – PR, 20 de

Sito na Comarca de São José da Boa vista, município de Tomazina, o Exmo. Sr. Governador do Estado proferi a seguinte – Sentença: - Vistos e examinados estes autos. Aprovo a presente medição. Expeça-se o competente título do requerente. – Publique-se. Palácio do Governador do Estado do Paraná, em 28 de novembro de 1900. Francisco Xavier da Silva – Arthur Pedreira Cerqueira.

Assim foi criada a fábrica, a origem e fonte das terras, ficando sob responsabilidade da Igreja o aforamento das datas de 22 por 33 metros, aos que desejassem construir no Patrimônio de Siqueira Campos, e aos que já haviam construído. É importante observarmos que esses terrenos pertenciam à Igreja e à Mitra Diocesana de Curitiba. A terra não era vendida, pois se arrendava e tudo que se arrecada va ia para os cofres da Igreja. No entanto, para Joaquim Vicente de Souza, no dia 23 de março de 1922, conforme a Lei N° 13, o prefeito de Siqueira Campos, Cel. Nên comprou o terreno do Patrimônio do Divino Espírito Santo. A Igreja recebia a escritura pública do frei Ricardo de Vescovana, em nome de Dom João Francisco Braga, Bispo de Curitiba. Foi lavrado o ato pelo Escrivão Boaneges Evangelista, cuja compra custou 10.000$000 (dez contos de réis), dinheiro que foi destinado à construção da casa paroquial e o restante às obras da ampliação da Igreja-Matriz de Siqueira Campos. 85

Após a morte do fazendeiro Chico Pinto, o Bispado de Jacarezinho exigiu oficialmente na justiça a imagem do santo assim como as terras doadas para o Bom Jesus. Entretanto, segundo reportagem exibida pela Folha de Londrina, no ano de 1981, o interesse da Mitra Diocesana de Jacarezinho contrariava o desejo do promotor público Rui Cunha. O Bispado não via razão para ser excluído do inventário do fazendeiro. Na versão desse jornal, o promotor concordava com a vontade do Bispo da Diocese de Jacarezinho, pois, do ponto de vista social e religioso, seria mais conveniente que a imagem do Bom Jesus ficasse numa das

paróquias da região. E como poderia o promotor negar o direito de posse a quem era o legítimo herdeiro e proprietário da imagem? Por outro lado, a Igreja não poderia ficar de fora da partilha dos bens. Desse modo, sem conseguir do Promotor de Justiça o direito à imagem do Bom Jesus, o Bispo Diocesano Dom Fernando Taddei recorreu ao Juiz que deliberou em favor da Mitra Diocesana de Jacarezinho. Após o recurso do Promotor no Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, o mesmo foi removido da Comarca em uma semana, tamanha era a influência política do Bispo. Para Dom Fernando Taddei, a imagem do Bom Jesus estava sendo utilizada para arrecadar dinheiro destinado ao pagamento do advogado e prefeito de Siqueira Campos, Antônio José Pereira, procurador de Zeca Pinto. O prefeito de Siqueira Campos se propôs a trabalhar mediante a arrecadação proporcionada pelos fiéis do santo no Patrimônio dos Murzilhos. 86

Para o Bispo Diocesano de jacarezinho, as paróquias da região ficavam vazias de fiéis e donativos, pois as dádivas reservadas ao Bom Jesus perfaziam quantias consideráveis deixadas aos pés da venerada imagem. Portanto, o santo passou a ser cobiçado pelas paróquias locais, quando já era herança de Zeca Pinto . Na reportagem narrada à Folha de Londrina, o sobrinho de Zeca Pinto argumentou:

Três mil alqueires, e eu aqui sem nenhum palmo de terra – se lamenta José Pinto [sobrinho de José Pinto de Oliveira, o “Zeca Pinto”], de 72 anos de idade, morando num barraco que ele próprio qualifica como ‘favela’. Vendendo as ‘coxinhas’ feitas da mandioca colhida no quintal, ele vive no distrito de Palmital, município de Boa Esperança, a 600 quilômetros da outrora Siqueira Campos, onde seu avô, o capitão “Chico Pinto” filho de Antônio de Paula de Oliveira Pinto, escriturou 35 alqueires ao Bom Jesus da Cana Verde, em 1902. 87

86 Esta passagem foi narrada à Folha de Londrina em 7/8/1981. Fonte : Museu Histórico de Siqueira Campos –

PR.

Segundo o sobrinho de Zeca Pinto, a doação de 35 alqueires de terra para o santo foi feita, mas a imagem representando o Senhor Bom Jesus não. Outro ponto importante: quem se dava ao capricho de doar 35 alqueires a uma imagem, certamente possuía muito mais, José Pinto fala em três mil alqueires. No ano de 1922, foram necessários 32 alqueires de terra para se construir o períme tro urbano da cidade de Siqueira Campos. As terras foram compradas pela Câmara Municipal da Igreja-Matriz por dez contos de réis. É quase todo o Patrimônio legado ao Bom Jesus pelo fazendeiro “Chico Pinto, no ano de 1902. Até a década de 1980 a Mitra Diocesana de Jacarezinho possuía terras no atual município de Siqueira Campos, mais precisamente na localidade denominada Marimbondo. 88

O fato é que o Patrimônio dos Murzilhos foi se pulverizando a partir da Revolução de 1930, após o Estado do Paraná ficar sob intervenção federal e o município da Colônia Mineira mudar de nome, passando a ser denominada Siqueira Campos, em homenagem a um dos 18 revoltosos do Forte de Copacabana e depois integrante da Coluna Prestes, o Tenente Antônio Siqueira Campos. O Patrimônio dos Murzilhos era uma simples Freguesia do município de São José da Boa Vista, tendo sido elevado à categoria de Distrito Policial, pelo Decreto Estadual n° 290, de 17 de agosto de 1901, com a denominação de Jaboticabal. Em 1907 foi criado o município de Jaboticabal, que mais tarde passou a se chamar Carlópolis, pela Lei Estadual n° 1943, de 20 de março de 1920. O município passou por uma divisão administrativa nos anos de 1933 e 1948.

Segundo reportagem do jornal “Folha de Londrina”, em 1929 o sobrinho de Zeca Pinto, José Pinto Neto, já estava morando na região aonde hoje é a atual cidade de Londrina, e estava fazendo uma posse, os irmãos e o pai também já haviam deixado o Arraial dos Pintos.

Tudo indica que a situação no Norte Pioneiro não era boa. Desse modo, só restou no Patrimônio dos Murzilhos Zeca Pinto, herdeiro do Bom Jesus. Porém, com a “expropriação” da imagem do santo, assim como das terras, e o falecimento de Zeca Pinto vítima dos ferimentos que recebeu naquele conflito, foi interrompida a ligação que havia entre a família Pinto e a região. 89 Sem um palmo de terra, dizia a Folha de Londrina José Pinto Neto e sua esposa, Maria das Dores, também idosa e doente, não se conformavam quando se recordavam de que a família tinha uma grande extensão de terras. “E o tio Zeca Pinto tinha um litro de moedas, libras esterlinas e diamantes, - a que estava recorrendo pouco antes de morrer”.90 José Pinto Neto concluiu seu relato ao jornal Folha de Londrina dizendo ser herdeiro de nada, após o Bispo Dom Fernando Taddei conseguir a imagem por meio de suas influências políticas na região. Os trinta e cinco alqueires de terra “doados” por Chico Pinto ao santo, assim como a imagem do Bom Jesus, foram parar nas mãos do Bispo de Jacarezinho.

Em seguida, o vigário da Igreja-Matriz de Siqueira Campos, frei Belino Maria de Treviso, conseguiu do Bispo um Decreto favorável para que a imagem do santo ficasse na paróquia de sua jurisdição. Com os alvoroços em torno da imagem do Bom Jesus, a Igreja- Matriz de Siqueira Campos recorreu à força policial para fazer a segurança durante a transferência da imagem. O Bom Jesus por algum tempo ficou acorrentado no altar da Igreja- Matriz para que ninguém viesse a praticar nenhum outro ato de esbulho. Porém, José Pinto Neto contestou na justiça a posse da imagem que foi doada pelo Bispo a Igreja-Matriz de Siqueira Campos. Para José Pinto Neto, a viúva de Zeca Pinto, dona Ana, conhecida na região por “Sinhana ”, foi “induzida pelo Bispo de Jacarezinho a assinar um documento transferindo o

89 Idem. 90 Idem.

Bom Jesus para o Bispo, e ficou em estado de pobreza. Quando ela deu o santo, teve que vender uma vaca de leite para amortalhar o marido !” 91

1.6. A conjuntura política, social e econômica do Paraná na década de 1930

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