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O plano estratégico para o desenvolvimento local

4.4. A formulação do perfil estratégico

4.4.4. A consolidação da visão estratégica

As estratégias desenvolvidas devem não só considerar os seus cenários específicos, mas também todos os demais estabelecidos para a localidade. Este conjunto de estratégias termina por dar uma visão única para a localidade e contempla os três aspectos de desenvolvimento: o

físico, o econômico e o social. Mesmo o modelo físico não sendo tema para o planejamento estratégico, visto que ele se desenvolve por ferramenta própria que é o plano diretor, ele precisa ser considerado, simultaneamente, ao que se propõe nos modelos econômico e social.

Encerradas as etapas de seu desenvolvimento, ocorre a consolidação da visão estratégica, com a identificação dos temas críticos, que são os principais obstáculos a serem superados, para se atingir a visão estratégica proposta e com afirmação geral dos princípios estabelecidos, sintetizados sob a forma de missão da comunidade.

A identificação dos temas críticos

O sucesso das proposições estabelecidas pela visão estratégica é dependente da identificação e ação sobre os temas críticos que afligem a comunidade. Os temas críticos são explicitações dos principais pontos de aparentes carências, presentes ou futuras, que a localidade apresenta com relação à meta maior que se propõe. Eles são os principais fatores que uma vez atendidos possibilitarão se alcançar a visão estratégica proposta. São eles que alavancarão as grandes mudanças necessárias para a localidade e por isso, na sua maioria, estão dirigidos para os componentes da oferta urbana.

A análise dos temas críticos é um processo que, após ouvir a comunidade, através de seus agentes ativos, permite, por meio de metodologias apropriadas e apoio de especialistas dos

vários assuntos, dar respostas a questões básicas, mostrando o distanciamento e suas razões, entre a situação atual e aquela que a localidade objetiva.

Conhecidos os principais temas, é necessário avaliar a importância relativa de cada um deles e com isto estabelecer, pelo menos inicialmente, a seqüência de prioridades estratégicas que será seguida. Na situação competitiva em que as cidades vivem, para a localidade almejar uma melhor posição relativa, é necessário que ela enfrente prontamente seus temas críticos.

No âmbito urbano Fernández Güell (2000) indica que um tema é crítico para uma localidade quando a atuação sobre uma questão determinada possibilita:

• Aumentar a competitividade para atrair e reter atividades econômicas; • Enfrentar problemas comuns a vários temas;

• Mais que resgatar os antigos procura antecipar a solução de problemas futuros; • Afetar uma grande parte da população, território ou atividade;

• Dar resposta, em tempo, às oportunidades.

A identificação dos temas críticos responde a uma reflexão ordenada da localidade sobre seus problemas. Para facilitar esse processo, Fernández Güell (2000) ainda aconselha o seguinte método:

a) Determinação dos requisitos impostos pela visão estratégica. Determinar aqueles requisitos críticos e obrigatórios para cumprir a visão estratégica. Por exemplo, se a visão estabelece a instalação de uma base industrial inovadora, será necessário dispor de avançada oferta urbana nas áreas de formação, inovação tecnológica e infra-estruturas produtivas.

b) Cruzamento com os requisitos de competitividade e habitabilidade. Deste cruzamento pode-se perceber as discrepâncias do ambiente interno atual com relação aos requisitos críticos derivados da visão estratégica.

c) Agrupamento das disparidades em atuações críticas. Detectados as principais deficiências da oferta urbana com relação aos requisitos críticos associados à visão estratégica, agrupam-se essas deficiências em famílias homogêneas, que constituirão os temas críticos. Estes deverão ser expressos de forma sucinta, preferencialmente em um único parágrafo.

Os temas críticos indicarão as áreas onde deverão estar concentrados os esforços da comunidade local, das quais decorrerão as metas estratégicas para alcançar a visão estratégica proposta para a localidade. Como exemplo, Fernández Güell (2000: 189) cita os temas críticos definidos para a cidade do Rio de Janeiro:

• Melhora da qualidade de vida e o saber viver do carioca.

• Fortalecimento do centro do Rio de Janeiro e da identidade de seus bairros. • Restauração da integração social

• Aperfeiçoamento dos sistemas de acessibilidade e logística de transporte. • Desenvolvimento das indústrias urbanas e os serviços avançados.

• Criação de empregos e formação de recursos humanos.

A consolidação dos princípios estratégicos: a missão da comunidade

A meta geral que deverá refletir o resultado da análise ambiental realizada e a visão do futuro desejável para a localidade é a missão que a comunidade assume para alcançar o desenvolvimento local.

• Missão é a confirmação geral, assumida pela comunidade, através dos agentes ativos, dos princípios estabelecidos pela visão estratégica para o plano estratégico de desenvolvimento local. Praticamente é decorrente de um acordo político-social emanado do processo do planejamento estratégico participativo e apresentada como descrição sintetizada da visão estratégica.

A missão, a nova missão estabelecida pelo plano e que a comunidade se propõe a assumir, é a meta geral que deverá refletir o resultado do processo de planejamento estratégico para o desenvolvimento da localidade. Ela, de modo geral, deverá responder as questões chaves da localidade, atender os anseios da comunidade e ser resultado do processo de discussão entre seus moradores. O conjunto de todas as forças organizadas da sociedade local, para alcançar o desenvolvimento pretendido, através de seus representantes, ou seja, os agentes ativos, assumirão como sua a missão definida pela comunidade e irão usá-la como estandarte de frente e como a própria razão de ser do plano estratégico.

A missão consolida os princípios estratégicos e desempenha a função de rumo perene, que ajuda garantir a continuidade das ações, serve ainda como referencial básico para a definição dos objetivos e estratégias. É a declaração ampla das diretrizes organizacionais que serve como lógica para alocar os recursos, estabelecer áreas amplas de responsabilidade, concentrar os esforços e evitar que a comunidade persiga propósitos conflitantes ou divergentes.

Como síntese de visão estratégica temos o exemplo citado por Fernández Güell (2000: 178) sobre a definição de princípios ou a missão da cidade Barcelona (Espanha):

• “Consolidar Barcelona como uma metrópole empreendedora européia, com incidência sobre a macrorregião, com uma elevada qualidade de vida, socialmente equilibrada e arraigada na cultura mediterrânea”.

A missão deve expressar uma mensagem clara onde deve constar o objetivo amplo da comunidade, o que ela pretende oferecer e para quem, de que forma ela irá alcançá-lo, em quais valores está baseada e por fim deve transmitir uma imagem confiante para a comunidade e de credibilidade para o público externo, tudo de forma sintetizada. Muitos dos “slogans” adotados pelas cidades são expressão de vontades que conseguem, em poucas palavras, expressar aquilo que está prescrito pela missão adotada.

• “Tornar o Rio de Janeiro uma metrópole com crescente qualidade de vida, socialmente integrada, respeitosa da coisa pública e que confirme sua vocação para a cultura e a alegria de viver. Uma metrópole empreendedora e competitiva, com capacidade para ser um centro de pensamento, de geração de negócios para o país e de sua conexão privilegiada com o exterior.” (Fernández Güell, 2000: 178).

Firmada de forma objetiva, como o alinhamento da comunidade com relação à percepção que se tem do futuro desejável, ou seja, aquele que se quer para a localidade, e o papel que os agentes ativos poderão ter nessa busca, a visão estratégica é a descrição da situação desejada para a comunidade, considerando as possíveis dificuldades para alcançá-la e os respectivos remédios para superá-las.

— É a intenção que se tem, é o futuro que se quer.

Feito isso, o rumo está definido. O norte que orientará todo o plano está estabelecido.