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Ambiência Institucional

2.1 A TEORIA DE REDES: DE PITÁGORAS, ARISTÓTELES, EULER E COMTE AOS DISCÍPULOS DE WHITE, UMA ABORDAGEM FLORESCENTE EM

2.1.4. A Consolidação da Social Network Analysis: Uma Nova Ciência?

[…] a way to make the invisible visible and the intangible tangible (CROSS; PARKER; BORGATTI, 2002)

Este item reúne argumentos favoráveis ao tratamento do campo SNA como nova ciência, tomando por base as defesas de Kilduff e Tsai e Freeman acrescidas das recomendações de Borgatti e Molina (2003) por uma ética própria, consolidando a idéia de identidade sugerida pelos primeiros autores. Não se pretende assumir qualquer defesa, mas apenas demonstrar uma linha de pensamento e ação identificada durante a pesquisa teórica.

Kilduff e Tsai (2003) propõem que o campo seja reconhecido como “ciência normal”, no sentido kuhniano, em apoio a Degenne e Forse (1994, p. 12 apud KILDUFF; TSAI, p. 35) que alegam haver detectado na abordagem “uma teoria

das estruturas sociais”. Sem aprofundar a discussão do que é ciência, os autores tomam como ponto de partida a expressão “theories of the middle range” e se apóiam nas contribuições próprias para as ciências sociais desenvolvidas no seio da SNA. Os autores encontram três grandes categorias de pesquisa e linhas de pensamento na SNA. Inicialmente as teorias importadas, como aquelas da matemática e psicologia social, entre outras, já comentadas neste trabalho. Em seguida as teorias endógenas ou teorias desenvolvidas “em casa” (home grown or

indigenous social network theories). Entre essas, duas contribuições são

indiscutíveis, quais sejam: i) heterophily theory, que trata do conceito da força dos laços fracos e vazios estruturais (structural holes), permitindo a previsão sobre o acesso a conhecimento e outros recursos de atores fora do seu círculo social mais próximo; ii) a teoria dos papéis estruturais, que inclui os conceitos de equivalência estrutural, coesão estrutural e equivalência de papéis, permitindo a previsão quanto à influência dos atores sobre atitudes e comportamentos de outros atores em uma rede. A última categoria é a exportação de idéias da SNA para a teoria organizacional, permitindo contribuições inovadoras e híbridas em pesquisas organizacionais, das quais os autores destacam os trabalhos de Baker, Burt, Uzzi, Hansen, Granovetter, DiMaggio e Powell, Cyert e March, Pfeffer e Salancik, entre outros. A defesa de Kilduff e Tsai do status de ciência normal da SNA apóia-se no impacto do ecletismo das abordagens das teorias endógenas uma vez exportadas para a teoria organizacional.

The eclecticism of social network approaches militates against unified programmatic theory of organizational networks. The challenge for research is to retain its distinctiveness of social network emphases on patterns of relations, multiple levels of analysis, and the integration of graphical and quantitative data. (KILDUFF; TSAI, 2003, p. 64)

Na trajetória de desenvolvimento do campo, Kilduff e Tsai (2003) demonstram: i) as possibilidades de superar a separação entre as abordagens individualistas e estruturalistas, explorando os campos da comunicação e da cognição, nos quais discutem como os conceitos de cognitive balance, cognitive

accuracy, mapas cognitivos e self-monitoring help explicam as conexões em rede e

a diferenciação das redes em organizações; ii) duas condições básicas na trajetória de redes e organizações ao longo do tempo, que denominam goal-directedness e

redes e organizações orientadas por objetivos e a segunda orientada pelas próprias relações entre os atores, identidades e outros elementos comuns, caso em que os objetivos podem ou não surgir ao longo do tempo, mas não são elementos definidores da trajetória da organização.

Em defesa similar do mesmo campo, Freeman (2004, Ibid., p.3) demonstra que a SNA na atualidade reúne todos os requisitos para ser considerado “ciência normal” na concepção kuhniana, porque está definida como um paradigma organizado para pesquisa, assim caracterizado:

1. Social network analysis is motivated by a structural intuition based on ties linking social actors,

2. It is grounded in systematic empirical data, 3. It draws heavily on graphic imagery, and

4. It relies on the use of mathematical and / or computational models. Recapitulando, o autor demonstra como as pesquisas estão sendo articuladas dentro desse paradigma; ou seja, i) são iniciadas com a motivação por uma intuição estrutural baseada em conexões entre atores sociais; ii) fundamentam- se em dados empíricos sistemáticos; iii) utilizam, sobretudo, imagens gráficas; e iv) estão apoiadas no uso de modelos matemáticos ou computacionais. Além disso, Freeman (Id.,Ibid.) registra o desenvolvimento da comunidade de pesquisadores no mundo, com publicações em diversos idiomas, creditando o sucesso da organização dos pesquisadores e practitioners à “imaginação e energia de Barry Wellman” (Id. Ibid., p. 164), da Universidade de Toronto, que promoveu os primeiros encontros, fundou a International Network for Social Network Analysis, INSNA, iniciou e editou o periódico Connections, coordenou a comunidade virtual EIES (Eletronic Information

Exchange System) e participa ativamente da rede virtual SOCNET16. Este esforço de

organização remete à colocação de Bruno Latour (1982, apud. BURRELL, 1997, p. 440):

[...] para o campo da ciência ser bem-sucedido, uma rede tem que ser desenvolvida, e se a área desenvolve ou não seu pleno gozo, na prática isso depende do trabalho árduo e do consenso político entre seus líderes referenciais.

16

A autora, que também participa da rede, confirma a animação e coordenação que Wellman promove.

Freeman registra criteriosamente o trabalho árduo dos líderes referenciais da área e até o consenso, identificando apenas uma tensão entre as comunidades de cientistas sociais e de físicos que estudam o fenômeno do “mundo pequeno”.

Outro argumento contundente da identidade do campo é o crescimento das publicações regulares sobre o assunto, ilustrado na figura a seguir.

Figura 7 - Número de artigos sobre redes sociais listados em Social Abstracts, de 1974 a 1999 (Fonte: FREEMAN, 2004, p. 167; gráfico cedido pelo autor)

A popularidade do campo confirma-se com Borgatti e Molina (2003) que, tratando da crescente popularidade da SNA entre pesquisadores acadêmicos e consultores defendem o desenvolvimento de uma ética própria para o campo, argumentando que o poder de análise e previsão da abordagem cria condições de vulnerabilidade para os atores envolvidos. A natureza estratégica dessa defesa para o desenvolvimento da SNA, sugere a identidade do campo como prática; se não atesta, pelo menos sugere um adensamento do campo, como área de conhecimento específico e com status de reconhecimento.

2.2 O FORMATO REDE E OS INSIGHTS PARA ANÁLISE E AÇÃO