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Ambiência Institucional

4 O CASO DA RETEX QUE SE TRANSFORMOU NO APL DE CONFECÇÕES: DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS

4.5 ANÁLISE DA IMPREGNAÇÃO E VAZIOS ESTRUTURAIS NAS REDES INTERORGANIZACIONAIS

Esta análise foi feita em momentos distintos em níveis distintos dentro da RETEX e, posteriormente, do APL, a partir da Rede de Apoio, utilizando também as contribuições oriundas da pesquisa de Freitas (2006).

Na RETEX foram observados no momento inicial três grupos distintos e ao final dos trabalhos determinada coesão: vários integrantes da rede passaram a fazer parte do corpo diretivo do SINDVEST e determinadas empresas estavam fazendo negócios em parceria, em especial o grupo de empresas fabricantes de fardamento. A avaliação qualitativa da impregnação (embeddedness) foi observada na superposição de determinadas relações: parceiros de negócio, amigos e até

vizinhos, em dois casos. Não foram observadas relações de parentesco nas redes interorganizacionais, mas apenas nas redes intra-organizacionais; as empresas mais sólidas eram familiares e dirigidas pela segunda geração, sendo que uma delas já procurava preparar sucessores na terceira geração. Novos laços de amizade foram estabelecidos; os novos amigos tornaram-se parceiros em negócios. Algumas queixas quanto à baixa participação de algumas empresas foram registradas; os desejos expressos com mais veemência eram: i) atração de novos “sócios” da rede que aportassem maiores contribuições; ii) continuidade do apoio do Governo para os projetos em pauta; e iii) eventual envolvimento de novos atores para o fortalecimento da rede, como fornecedores, bancos de fomento, agentes de exportação e entidades de ensino.

Na realização das primeiras entrevistas, patrocinadores e gestores do programa revelaram que as universidades participaram de um diagnóstico inicial, porém não conseguiram se engajar adequadamente ao programa. Antes da criação do APL uma universidade já havia implantado um curso seqüencial de Gestão e Design de Moda; este curso se manteve; não se tem conhecimento de novos cursos ou atividades criadas especificamente para atender as demandas do APL. A participação do SENAI era notória - grande parte dos encontros e treinamentos aconteciam em suas instalações – bem como a do SEBRAE, que também patrocina o programa de APLs.

A pesquisa realizada por Freitas (2006) revelou a forte impregnação de uma organização governamental como principal “fonte de informação preferencial” para os empresários, situação que tanto pode ser promotora como inibidora para as inovações. Analisando as relações em geral a pesquisa revelou entre as 36 empresas respondentes da pesquisa uma rede “desconexa”, atribuindo como uma das causas o número excessivo de atores participantes do APL.

Um vazio estrutural que começou a ser preenchido foi o da relação entre os atores com os bancos. Representantes da agência de desenvolvimento estadual, DESENBAHIA, do Banco do Nordeste, da Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil e até de bancos comerciais foram convidados a participar de eventos promovidos pelo APL. Isso favoreceu a aproximação entre os representantes dessas organizações e os empresários; aqueles inexperientes com os bancos passaram a se apresentar como “amigos do seu cliente fulano de tal”. Nesta fase da pesquisa os

autores analisaram a atuação da DESENBAHIA que se destacou entre os demais atores do segmento e que buscou sistematizar e divulgar a sua experiência.

Em 2003 a DESENBAHIA39 promoveu um curso de longa duração na própria agência, com participantes dos diversos setores da organização, no sentido de formar seis equipes capacitadas para lidar com os seis APLs previstos para o Estado: confecções, fruticultura irrigada, flores tropicais, turismo, plástico e automotivo40. Após cerca de um ano de trabalho, a DESENBAHIA lançou o Programa de Apoio Creditício aos Arranjos Produtivos Locais do Estado da Bahia - CrediAPL em novembro de 2004, direcionado ao APL do Uruguai como piloto do Programa. Lima e outros (2005) relatam com propriedade todo o processo de concepção de políticas, aprendizagem sobre o setor e transformações do crédito que foram necessárias para a implantação do Programa, dentro do conceito de “finanças de proximidade”. Os autores revelam que “[...] a criação do CrediAPL foi precedida por 19 operações [...] que proporcionaram o desenvolvimento de relações entre a Agência e algumas das principais empresas do APL” (2005, p. 27). Ressalta-se aqui o papel da “impregnação” nas relações entre agente financeiro e empresas para a concessão do crédito.

Entre os principais méritos do CrediAPL estão a preocupação com a eliminação de barreiras que dificultam o acesso ao crédito, principalmente por se tratar de empresas de micro e pequeno porte, e o conseqüente fortalecimento do capital social que o Programa caba por incitar, ao estimular o adensamento das relações produtivas em torno das empresas-núcleo (LIMA e outros, 2005, p. 43).

Outro destaque do programa de APL observado diretamente foi a criação da RedeNÓS - Rede Norte/Nordeste de Inclusão Social e Redução da Pobreza - pelo Banco Mundial em parceria com o Banco do Nordeste, governos estaduais e instituições da sociedade civil no Norte e Nordeste, cuja missão declarada é “funcionar como uma teia de pessoas e instituições voltada para gerar e disseminar conhecimento sobre pobreza e desigualdade, e aumentar a interação e a capacidade de diálogo entre pesquisadores e instituições nessa área” (RedeNÓS, 2005). A Rede constituiu um fórum sobre a temática dos APLs. Primeiro, por meio de seminários temáticos realizados em diversas capitais do Nordeste sob a forma de

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A autora agradece a Maria Gabriela Seixas e João Paulo R. Matta pelas informações disponibilizadas.

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uma combinação de eventos transmitidos por videoconferências, discussões on line e atividades presenciais. Dessa forma a RedeNÓS recuperou e difundiu conhecimentos sobre clusters / aglomerações, redes, políticas públicas e assuntos correlatos, constituindo, através do seu site, uma memória das exposições, debates e trabalhos publicados sobre o tema, catalisando a criação de comunidades de prática até 2005 quando lançou um prêmio para incentivar trabalhos sobre APL. Em 2006 não foram registradas participações na RedeNÓS e a última notícias veiculada no site foi em maio de 2007, sugerindo assim, mais uma descontinuidade nas políticas públicas. Nesse caso a descontinuidade de uma animação oportuna para a discussão dos APLs e da sistematização do conhecimento sobre o assunto.

Por fim vale salientar que a dependência das organizações governamentais de apoio é grande. A rede composta das empresas pesquisada por Freitas (2006), com a retirada das organizações de apoio ilustrada na Figura 30 revelou grandes vazios estruturais, ou oportunidades para construir novas relações, tanto para o governo como para os próprios empresários na trilha da auto- organização.