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Ambiência Institucional

4 O CASO DA RETEX QUE SE TRANSFORMOU NO APL DE CONFECÇÕES: DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS

4.2 A FORMAÇÃO DO APL

4.2.2. Histórico do APL de Confecções

Os APLs destacam-se como ferramentas importantes na elaboração de estratégias da política industrial, pelo reconhecimento da dinamização desencadeada por estas formações empresariais, sendo na sua grande maioria, compostas por pequenas empresas. Trilhando a linha do fomento às pequenas e médias empresas, PMEs, o Governo Federal contemplou o conceito de APLs como estratégia de desenvolvimento no Plano Plurianual de Ações do Governo Federal, PPA, referente ao perío do de 2004 a 2007. Na Bahia, a oportunidade foi esposada pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação – SECTI – em conjunto com o SEBRAE e o próprio IEL.

Em 2003 a recém criada Secretaria de Ciência, Tecnologia e Informação, SECTI assumiu a liderança do programa de APLs tratando de identificar os arranjos em potencial no Estado da Bahia, com a consultoria de Cruz e Passos (2006); discute-se se o programa atendia ao movimento de aglomeração espacial, econômico / empresarial ou vontade política de alguns atores do governo. Este caso não discute a pertinência do programa; apenas constata a sua criação, que aguçou o interesse da participação de muitos atores – faculdades e universidades, inclusive – e que atiçou as empresas na busca de possíveis benefícios advindos do governo. Uma providência dentro do programa foi constituir a Rede de Apoio aos Arranjos Produtivos Locais do Estado da Bahia, com a concepção organizacional ilustrada na Figura 18.

Figura 18 - Organização da Rede de Apoio aos APLs do Estado da Bahia. (Fonte: SECTI, 2007)

A SECTI também contratou junto ao Núcleo de Política e Administração em Ciência e Tecnologia, NACIT, da Escola de Administração da UFBA um curso de especialização lato sensu com aproximadamente um ano de duração para formar agentes de desenvolvimento dos APLs, de modo a capacitar os diversos coordenadores dos arranjos. Segundo documentação disponível na SECTI a Rede de Apoio operou entre outubro de 2004 até dezembro de 2006, no Programa de Fortalecimento da Atividade Empresarial, para o qual previa a captação de um empréstimo do BID no valor de US$ 10 milhões com a contrapartida de US$ 6 milhões, entre recursos do SEBRAE Nacional e do governo do Estado. O contrato com o BID foi assinado em julho de 2006. Com a mudança do governo estadual em janeiro de 2007 iniciou-se a discussão da mudança da Rede de Apoio para a Secretaria de Indústria, Comércio e Mineração, que até junho do mesmo ano não estava definida. O site da Rede, que primou pela divulgação das informações, está parcialmente inativo desde novembro de 2006, com algumas atualizações em março de 2007.

O projeto APL de Confecções da Rua Direta do Uruguai, ou simplesmente APL de Confecções, surgiu em paralelo ao andamento dos trabalhos finais da RETEX. Esse projeto abraçou vários problemas que vinham sendo discutidos no

âmbito do Fórum de Desenvolvimento Sustentável, que tem uma área de

Fortalecimento dos Setores Produtivos para Geração de Trabalho e Renda. O

projeto compreendeu a realização de uma pesquisa para identificar a indústria de confecções na península de Itapagipe, incluindo a atividade informal e o artesanato. Os líderes da RETEX que optaram em participar do programa de APL acreditavam que o mesmo proporcionaria a entrada de novos atores na rede, dinamizando a sua ação. A Central de Compras, por exemplo, era uma iniciativa que necessitava de um número maior de empresas associadas para aumentar o poder de barganha. Por outro lado, havia pressões para a formalização da governança da RETEX, até então exercida pela liderança de projetos determinados pelo Plano de Ação do Planejamento Estratégico.

A formação da RETEX foi uma oportunidade para emergência de novas lideranças empresariais e de candidatos para re-localizar sua indústria no Condomínio Bahia Têxtil, na Rua Direta do Uruguai, em frente ao Outlet Center. Na região firmava-se uma liderança feminina no Outlet Center, que apoiou um estudo baseado em um modelo para caracterização de Arranjos Produtivos Locais, divulgado pelo MCT/FINEP, permitindo-se adaptações para o enfoque específico e particularidades da região do bairro do Uruguai.

Sob a inspiração daquela liderança, o APL da Rua do Uruguai foi o primeiro arranjo da Bahia a ser aprovado, por conta de uma liderança forte, esclarecida e bem articulada e também pela experiência empresarial exitosa com a formação da RETEX. O programa de APLs foi concebido para fortalecer a rede nascente com novos atores cuja ação articulada poderia beneficiar o cluster de vestuário / confecções na cidade. Foram convidados a participar: a Prefeitura Municipal, maior interessada no movimento de renovação urbana que já se fazia sentir através de associações de moradores e outras organizações; o SENAI, com amplas instalações na proximidade e cursos tradicionais voltados para formação de mão de obra para o setor; faculdades e universidades; bancos de fomento e comerciais, o governo federal através de dois ministérios, a Confederação Nacional das Indústrias, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, USAID, entre outras. O programa foi formalizado com a assinatura do Protocolo de Intenções para a Parceria Institucional que constituiu o APL de Confecções em abril de 2004. (ver Anexo C)

O programa cadastrou cerca de 80 organizações do setor35 entre pequenas e micro empresas, PMEs, cooperativas e “empreendedores de sobrevivência” atuando na informalidade. Em seguida realizou um trabalho de divulgação do APL, sensibilização das empresas para obter novas adesões, treinamento e desenvolvimento empresarial e formação de grupos de trabalho para estabelecer a governança e identificar um projeto estruturante para o APL, que afinal foi a Central de Design.

Na opinião da autora o maior pecado do programa foi permitir o descompasso no ritmo das atividades da RETEX que estava à mercê da “animação” e do apoio financeiro36 dos patrocinadores para dar andamento a vários itens do seu Plano de Ação, entre os quais o desenvolvimento do software para a Central de Compras. Na constituição do APL previa-se que: i) cada participante da RETEX estaria facilitando a “impregnação” de novos atores para a constituição do APL; ii) em contrapartida o programa de desenvolvimento e intervenções nas respectivas empresas, voltado para os antigos atores, integrantes da RETEX, avançaria, de modo que os “sócios” se constituíssem uma referência de capacitação no arranjo. Esta segunda ação ficou no plano das intenções.

A RETEX morreu de “morte natural”, mas deixou o APL de Confecções como herdeiro. Um herdeiro com preocupações mais amplas e perseverança como salientam Silva, Magalhães e Santos (2006, p. 10), analisando o desempenho do Fórum de Desenvolvimento Sustentável da Península de Itapagipe.

A área de Fortalecimento dos setores produtivos para geração de

Trabalho e Renda é uma das que permanece ativa durante todas as

edições do Fórum, inclusive com avanços e desenvolvimento de suas metas. A exemplo disso, em relação à formação de grupos produtivos, a meta “elaboração e negociação de projetos”, estabelecida em 2002, parece ser sobreposta pela meta “fortalecimento de projetos”, em 2004. Podemos ainda citar que a consolidação da APL de Confecções da Rua Direta Uruguai é um grande avanço nesta área, devido ao aproveitamento de uma vocação local, que desde o Plano Referencial, era visualizada como uma potencialidade de algumas áreas da Península.

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Discutiu-se inicialmente se a participação de empresas de fora (outros bairros) poderia ocorrer; se tal não ocorresse, vários integrantes da RETEX seriam excluídos. Hoje integram o APL empresas dos mais diversos bairros de Salvador e cogita-se a participação de empresas da cidade vizinha (Feira de Santana, a 108 km de distância) para compor a cadeia produtiva que na prática já existia.

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Em contrapartida às ações do Fórum a então gestora do APL, em carta de 28 de janeiro de 2005, convocava uma reunião do APL referindo-se ao Programa de Re-qualificação da Península de Itapagipe, do qual pretendia que os empresários participassem.

Em junho de 2007 a governança do APL estava indefinida: a liderança feminina havia renunciado à posição de Coordenadora do APL por conta da ação do SINDVEST que não considerava legítima a direção de uma comerciante em um APL que deveria se caracterizar primordialmente pela participação de indústrias.

4.3 AS REDES INTERORGANIZACIONAIS NO APL, INOVAÇÕES, MUDANÇAS