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Ambiência Institucional

AUTO ORGANIZAÇÃO

3.3 A SOCIAL NETWORK ANALYSIS COMO INSTRUMENTAL

A abordagem qualitativa da SNA é uma abordagem estruturalista, que conta com o suporte “quantitativo” dos métodos utilizados, especialmente os sociogramas, grafos ou gráficos. Permite ao pesquisador capturar a relação do ator, grupo ou organização com o conjunto a que ele pertence. Uma vez capturada e até ilustrada essa relação associa-se a análise estrutural a análises qualitativas pertinentes.

Silva (2003) propõe dois passos para compreender a abordagem: a matemática das redes e os conceitos de análise. Na matemática das redes é necessário compreender os critérios de representação, mensuração, tratamento e visualização dos dados, uma tarefa que excede ao limite deste trabalho. Nesta etapa ainda é necessário considerar o caráter dos dados coletados, como lembra Scott (2000). Dentre os conceitos de análise o autor destaca para fins de aprendizado inicial:

• O ator, que pode ser uma pessoa, um grupo ou uma organização, a depender do nível de análise adotado. Na rede interorganizacional de pequenas e micro empresas o ator é o (a) líder empresarial. Lazega (1998) lembra que a rede é considerada um ator coletivo.

• Ligações conectam os atores. Silva (2003) recorre a Wasserman e Faust (1999, p.18) para listar alguns exemplos de ligações estudadas em análise de redes:

o Avaliação de uma pessoa por outra (por exemplo, expressa em amizade, gostar de, ou respeito);

o Transferências de recursos materiais (por exemplo, transações comerciais, emprestar ou tomar bens emprestados);

o Associação ou filiação (participar juntamente de um evento social, ou pertencer ao mesmo clube social);

o Interações comportamentais (conversar, mandar mensagens); o Movimentação entre lugares e status (mobilidade física e social); o Conexão física (estrada, rio, ponte conectando 2 pontos ou local

de trabalho);

o Relações formais (autoridade, hierarquia);

o Relacionamentos biológicos (parentesco ou descendência).

• Subgrupos são subconjuntos de atores, juntamente com suas ligações, entre as quais se destacam as díades (dois atores) e as tríades (três atores).

• Grupo, que é o conjunto de atores.

• Relação, que é o conjunto de ligações entre os atores.

Do ponto de vista da análise, Lazega (1998, p. 6) propõe que o método estrutural e a SNA sejam utilizados como sinônimos. Silva (2003) sugere a metáfora da fotografia para analisar as redes e, em seguida, detalhar a análise:

As redes sociais podem ser analisadas sob o ponto de vista de suas características estruturais ou morfológicas. Há duas abordagens possíveis para a análise estrutural de uma rede social. A primeira examina a estrutura da rede como um todo. A segunda desce ao nível dos atores e de suas ligações. Se for feita uma analogia com as lentes de uma câmara fotográfica, a primeira abordagem seria uma grande angular e a segunda, um zoom (SILVA; 2003, p. 54).

Redes Sociais

Nível Metafórico Nível Analítico/Formal

Redes como um todo (lente grande angular)

Redes centradas em egos (lente zoom)

Posicional Estrutural Relacional Cent ralidade

Equivalência s Estruturais

Teoria

dos Grafos Coesão

Figura 12 - Abordagens possíveis para análise de redes sociais (Adaptado de Silva; 2003, p. 54).

Lazega (1998), no entanto, propõe a análise das redes sob três pontos de vista; usando a mesma metáfora da câmara fotográfica, o fotógrafo passa a mudar o ângulo de posicionamento da câmera, além de ajustar a lente:

• Da morfologia: com os procedimentos de construção / reconstrução da estrutura ou morfologia do sistema de ação e de trocas;

• Do posicionamento: com os procedimentos de posicionamento dos atores na estrutura no sistema social;

• Da associação entre posições e comportamento dos atores.

A escolha da SNA para a realização deste trabalho ocorreu na medida em que se descortinava a consistência do instrumental disponível para analisar a complexidade da organização de uma rede empresarial e suas relações interorganizacionais. Inicialmente houve a intuição do problema estrutural; mapeadas as relações observou-se o valor dos grafos para interpretar o posicionamento, associação e comportamento dos atores nas estruturas resultantes e, sobretudo, para intervir no grupo e promover a criação ou mudança de mapas mentais quanto às possibilidades de multilideranças entre os atores envolvidos na rede.

Este procedimento foi realizado em dois momentos distintos, o primeiro em maio de 2003, no início dos encontros para elaboração do planejamento estratégico (PE), e o segundo em agosto de 2003, na conclusão do PE.

Para a coleta de dados e posterior análise foram elaborados questionários do tipo “votação simulada”27, sendo que no primeiro foi solicitado dos respondentes apenas um voto para cada situação. Cada votação resultou em matrizes que foram transformadas em gráficos/ sociogramas. O questionário inicial aplicado continha seis situações distintas voltadas para evidenciar lideranças em áreas específicas de atuação, tais como representação política, concorrência pública, transmissão de conhecimentos, exportação e certificação de qualidade, de modo a conduzir os futuros projetos da rede, antecipando uma organização processual em lugar de uma nova entidade.

Os questionários específicos para a elaboração das redes foram construídos com base na proposição de Krackhardt e Hanson (1993) para identificação das redes informais e foram: i) Apêndices B e C respondidos por vinte e cinco integrantes, representando treze empresas distintas. Na ocasião dezoito empresas estavam inscritas para participação no projeto e havia a perspectiva de mais cinco inscrições. ii) Apêndice D, respondidos por aqueles integrantes das empresas, denominadas Ativa e Campeã. As respostas obtidas foram analisadas através da SNA, utilizando o software UCINET (BORGATTI; EVERETT; FREEMAN, 2002), que dispõe da ferramenta Netdraw onde os dados lançados em matrizes são transformados em gráficos que podem ser trabalhados para fins de análise e interpretação, que foram enriquecidas com as observações dos consultores e de alguns integrantes das redes.