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1.2 MARCO REFERENCIAL

1.2.3 Investigações da Atuação das Redes

A história da moderna investigação das redes sociais vem sendo contada a partir de fins do século XX através de autores como Alain Degenne e Michel Forsé (1994), Maurizio Gribaudi (1998), Stanley Wasserman e Katherine Faust (1999), John Scott (2000), Albert-László Barabási (2003), Martin Kilduff e Wenpin Tsai

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Auto=prefixo indicativo de próprio (por si próprio, por si mesmo). Poiein = produzir, ação de fazer, criar algo, criar pela imaginação. Sistema dotado de organização própria que são auto-reprodutores. (NT in MORGAN, 1996, p. 246) A organização autopoiética propõe que os seres vivos reproduzem continuamente a si próprios (MATURANA; VARELA, 2002, p. 52)

(2003), Marcus César Marinho da Silva (2003) e mais recentemente Linton C. Freeman (2004).

Enquanto esta tese estava sendo pensada, Silva (2003), também no NPGA da UFBA, relatava que sua dissertação havia sido inspirada no artigo “Redes Informais: a Empresa atrás do Organograma” na edição de julho/agosto de 1993 da Harvard Business Review, da autoria de David Krackhardt e Jeffrey Hanson. Como leitor assíduo da publicação, Silva verificou que o tema redes informais só voltou a ser abordado nove anos mais tarde, em seu número de junho de 2002 com um novo artigo, escrito por Rob Cross e Laurence Prusak. Considerando a importância da revista para a Administração, o episódio ilustra quão lentamente o tema vinha sendo abordado no campo até fins do século passado.

Os estudos sobre redes, no entanto, podem retroceder ao século XVII como será visto no próximo capítulo.

Para Scott três vertentes deram origem à atual teoria de redes sociais:

1) os analistas sociométricos, que nos anos 1930 trabalharam em pequenos grupos e produziram muitos avanços técnicos com métodos da teoria dos grafos; (2) os pesquisadores de Harvard, que também nos anos 1930 exploraram padrões de relações interpessoais informais e a formação de subgrupos; e (3) os antropólogos de Manchester, que usaram os conceitos das duas primeiras vertentes para investigar a estrutura de relações comunitárias em sociedades tribais e pequenas vilas. Estas três correntes foram reunidas novamente em Harvard nas décadas de 1960 e 1970 quando se forjaram as bases da moderna teoria de análise de redes sociais. (SCOTT, 2000, p. 22)

Esta moderna teoria (ver defesa do status de ciência no Cap. 2 da tese) tem sido denominada Social Network Analysis, SNA, ou Análise das Redes Sociais, ARS. Kackhardt (2003), Kilduff e Tsai (2003) e Freeman (2004) atribuem a origem da SNA aos trabalhos de Harrison White em Harvard e sua posterior disseminação pelos seus discípulos, inicialmente na América do Norte e posteriormente na Europa. Lazega (1998) concorda em atribuir a origem da SNA principalmente a Harrison White, na década de 1960 e 1970, e seus discípulos François Lorrain, Scott Boorman e Ronald Breiger. Para o autor, o desenvolvimento do campo nos últimos 30 anos, transformou a denominação sociometria em sinônimo de analyse de

No bojo das investigações sobre as redes, uma abordagem arrojada cabe à Sociologia da Comunicação, que assume o “desafio de contribuir para o desenvolvimento de modelos científicos que explicam a condução e regulação de sistemas sociais, nomeadamente organizações e instituições que vivem um período de mudanças aceleradas enquanto sistemas auto-organizados” (STOCKINGER, 2001a, p.105). Nesta ótica, compreende-se a rede como sujeito próprio de comunicação, com uma estrutura assemelhada a tecidos, formados por nós e fios, com diferentes texturas.

Na academia, a menção e o estudo das redes vão crescendo em paralelo com o desenvolvimento das tecnologias da informação e da comunicação, TICs. Diversos autores (SCOTT, 2000; LAZEGA, 1998; KILDUFF e TSAI, 2003; FREEMAN, 2004, MIZRUCHI, 2006) confirmam a disseminação contínua dos estudos sobre redes a partir da década de 1970 com os trabalhos de Harrison White em Harvard e seus discípulos, entre os quais destacamos Barry Wellman e Mark Granovetter, na Sociologia e estudos inter ou transdisciplinares. Na década de 90, tanto a expressão “redes” quanto o seu estudo estavam plenamente estabelecidos nas Ciências Sociais onde o conceito pode ser encontrado em várias disciplinas e no estudo de fenômenos diversos: i) na Antropologia estudam-se as redes primárias para indicar formas específicas de interação entre indivíduos de um agrupamento; ii) na Sociologia as redes sociais denominam as múltiplas relações tecidas a partir das ações coletivas; iii) na Geografia as redes urbanas indicam níveis de interdependência e de fluxos entre cidades (MOURA, 1997).

Na Administração o tema surgiu nas décadas de 1930 e 1940 com a sociometria, esteve implícito na abordagem dos sistemas na década de 1950 e vem crescendo de importância a partir da década de 1970 com autores que trabalham com a teoria das organizações e transversalmente, entre os quais Nohria e Eccles (1992), estudando as conexões em rede (network ties), Burt (1995), com os vazios estruturais, Granovetter (1985), com busca de emprego, Krackhardt e Brass (1994), Krackhardt e Hansen (1993) e Raider e Krackhardt (2002), sobre as redes intraorganizacionais, Mizruchi (1982, 1992, 2006). Mizruchi e Galaskiewicz (!993), Borgatti (1999) entre outros.. Para a Administração, mais precisamente para a Teoria das Organizações, o tema assume abordagens descritivas ou explicativas como também abordagens prescritivas, como acontecem em Baker (2000), autor

considerado um practitioner (praticante) pelos seus pares. No Brasil, as redes se estabelecem paulatinamente como campo de estudo; iniciativas, como a da REDESIST da UFRJ , em 1997, provocam pesquisadores na medida em que a práticas se propagam. No estudo crítico da teoria das organizações, Motta (2001, p. 84) evidencia a presença do estudo de redes, mais especificamente da SNA em 1980, como “uma nova vertente da análise funcionalista [que] se impôs nos Estados Unidos.”

Em 2006 a Revista de Administração de Empresas (RAE) publicou no seu n° 3, vol. 46, de julho a setembro de 2006 o primeiro fórum dedicado exclusivamente a redes. O XXIV Simpósio de Gestão da Inovação Tecnológica, na sua primeira edição junto à Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração – ANPAD adotou como tema central “Inovação em Redes & Redes de Inovação”. Cassiolato e Lastres (1999) discutem a inovação em redes locais em trabalhos patrocinados pelo governo federal e organismos internacionais e nacionais interessados no desenvolvimento econômico e social. Autores baianos publicam trabalhos sobre redes no âmbito da Administração (TEIXEIRA, 2005; BAIARDI e BASTO, 2004, 2005 e 2006). Estudos atuais no Brasil também assumem o caráter prescritivo como acontecem com aqueles conduzidos por Hastenreiter F° (2005) e Fialho (2005).

O mainstream do estudo sobre redes é compreendido como uma perspectiva estrutural, ou seja, aquela abordagem que se interessa pelas ligações entre os objetos de estudo, entre eles o fenômeno social. A tese reporta-se a revisões de literatura elaboradas por Scott (2000, sendo a primeira edição de 1991), Mizruchi (2006, publicado inicialmente em 1994), Lazega (1998), Kilduff e Tsai (2003) e Freeman (2004). Este último procura demonstrar que o campo reúne todos os requisitos para ser considerado “ciência normal” na concepção kuniana, enquanto Kilduff e Tsai propõem o reconhecimento do campo a partir do exame do corpo de contribuições próprias advindas da SNA e também lançam o desafio de ampliar a natureza da abordagem a partir de uma visão pós-estruturalista.

1.3 OBJETO DE ANÁLISE: A RETEX, GÊNESE DO APL DE CONFECÇÕES EM