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Ambiência Institucional

4 O CASO DA RETEX QUE SE TRANSFORMOU NO APL DE CONFECÇÕES: DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS

4.1 O HISTÓRICO DA CONSTITUIÇÃO DA RETE

4.1.1 As Primeiras Redes Interorganizacionais e seus Resultados

Considerando que construção da rede era o objetivo da consultoria, durante a terceira fase do processo buscou-se mapear as relações entre os integrantes dos grupos, identificar as lideranças e obter outros subsídios por meio do método Social Network Analysis, SNA. Destacam-se nas Figuras 13, 14 e 15, a seguir, aquelas proposições que resultaram em redes de configuração bem distintas, possibilitando por meio da análise ego centrada a identificação de lideranças que pudessem contribuir com as ações envolvidas no processo de formação da rede de cooperação. Em outras palavras, o levantamento tinha por objetivo inicial identificar lideranças que pudessem facilitar a estruturação da rede, daí a análise ego centrada.

Figura 13 - Proposição: “Quem é o integrante da rede que você mais admira?”29

O mapeamento original das redes foi feito com o nome dos seus participantes; em seguida obteve -se a permissão para divulgar as redes com cada ator devidamente identificado aos demais, o que foi muito útil para a consolidação da rede interorganizacional30. Para fins de divulgação externa cada ator recebeu um codinome.

Em resposta à primeira questão surgiram três blocos de relações revelando a fragmentação do grupo no estágio inicial da formação da rede; estava claro á esta altura que os integrantes da rede pouco se conheciam. Por outro lado este mapeamento já permitiu identificar desde então lideranças - que é o objetivo da análise ego centrada - em Ativo, com cinco votos e Lisa e Ponto, com quatro votos cada. Considerando a representação de várias pequenas empresas, uma configuração dessa natureza sugere também a existência de vazios estruturais (structural holes) (BURT, 1995) que proporcionam oportunidades para a construção de relações, como parcerias, joint ventures, alianças, etc.

Com a questão seguinte, buscou-se a confirmação das lideranças formais, conceituadas aqui como aquelas reconhecidas para a representação política.

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Permitiu-se votar em integrantes do grupo que estavam ausentes; assim há pelo menos um integrante que recebeu votos, mas não votou.

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Figura 14 - Proposição: “Supondo que você precise encaminhar uma reivindicação ao governo, quem você escolheria para representar a rede?”

A resposta à questão, ilustrada na Figura 14, confirmou as lideranças conhecidas na representação política, de Ativo e de Rico. É interessante notar que os dois líderes escolhem-se mutuamente. Trata-se de uma situação experimentada no sindicato patronal, SINDVEST e vivenciada pela maioria dos integrantes. O sociograma confirma a legitimidade das lideranças que se apóiam. A liderança de Lisa, que foi evidenciada na rede anterior, seria considerada então uma liderança informal.

A proposição seguinte buscou identificar uma situação não experimentada pelo grupo na sua totalidade.

Figura 15 - Proposição: “Supondo que a rede seja convidada para participar de uma concorrência pública, quem você escolheria para elaborar a proposta?”

Nessa situação nova para o grupo – participação em concorrências públicas -, o sociograma sugere a formação de “correntes” entre seus integrantes; o encadeamento contínuo pode significar possibilidade de atuação de multilideranças. Em outras palavras, os integrantes do grupo enxergam nos seus pares a possibilidade de exercer um novo papel ou liderança para atuar em uma nova área31.

As demais proposições pesquisadas – não ilustradas no caso - trataram de exportação e programas de qualidade. Em ambas situações, as redes revelam como líderes aqueles integrantes de reconhecida competência / experiência em cada área, confirmando que o critério de seleção das lideranças era o bom desempenho empresarial.

A rede afinal constituiu-se com dezessete empresas e uma cooperativa de costureiras. Foi elaborado um primeiro planejamento estratégico para a rede com o apoio de consultoria externa. O plano de ação resultante teve como iniciativa mais destacada a Central de Compras, uma central virtual para realizar compras cooperadas dos vários insumos e equipamentos de reposição.

A proposta de melhorar a competitividade do Setor de Confecções e Vestuário do Estado da Bahia, fomentando a formação de uma rede, encontrou um terreno fértil entre os integrantes do grupo. Isso porque na primeira quinzena da sua atuação para formação da rede, quando foi aplicado o questionário para o estudo, os integrantes já identificavam suas competências distintas e também legitimavam as lideranças “aparentes” através dos votos “formais”. A observação qualitativa da atuação do grupo, desde o preenchimento do questionário até o final da elaboração do planejamento estratégico, confirmou algumas previsões sobre o comportamento do grupo e até as extrapolou na medida em que vários negócios já estavam sendo feitos de forma cooperada. Quanto às previsões, verificou-se que:

1) O grupo escolheu denominar seus integrantes de “sócios”, traduzindo nessa designação a idéia de coesão;

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2) Os cinco objetivos escolhidos no planejamento estratégico –objetivos operacionais ligados às várias áreas de atuação das empresas - tiveram lideranças e engajamento de sócios que aparecem claramente nos sociogramas estudados e outros que despontaram no processo e foram consolidando a liderança ao longo do tempo.

Em paralelo observou-se o desenvolvimento de novos negócios, sob a forma de integração horizontal (complementaridade) produtiva ou comercial. Uma fábrica deixou de produzir camisa pólo, que é especialidade de uma “sócia”; em contrapartida passou a vender a camisa pólo que a “sócia” fabricava, eliminando um problema de produção da primeira e ampliando o canal de vendas da segunda inclusive através da venda on line.

Em agosto de 2003 a rede reuniu-se para finalizar o PE 2003 / 2004. Na ocasião foi feita nova votação simulada na tentativa de identificar as redes informais com base na proposição de Krackhardt e Hanson (1993): a) a rede “afetiva”; b) a rede de confiança; c) a rede de aprendizagem e d) a rede de troca de informações. Permitiu-se que cada sócio votasse em uma ou mais pessoas.

Diferentemente do estágio inicial, quando tanto os integrantes quanto os consultores estavam em fase de reconhecimento mútuo e cada voto representava, sobretudo, uma posição pessoal e não a posição de uma empresa32, neste momento as respostas já refletiam o pensamento dominante dos empresários e ajudavam a construir os mapas mentais. Esta construção possivelmente ocorreu com a divulgação dos grafos entre os participantes da rede e ajudaram a legitimar as lideranças, que por sua vez eram necessárias para conduzir os diferentes projetos ou processos que a rede necessitava. Ou seja, rede previa fortalecer a estrutura de cada uma das empresas com a realização de atividades cooperadas por integrantes de outras empresas, dando oportunidade àqueles que mais se destacavam com determinadas competências. No entanto ha via certa hesitação ou resistência para assumir esses projetos ou processos entre os líderes ou aqueles mais competentes. Associa-se a redução dessa resistência à divulgação dos grafos.

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Os primeiros questionários foram respondidos por empresários e participantes dos trabalhos que não faziam parte da direção

A seguir destacam-se as redes de aprendizagem (Figura 16) e a rede de confiança na ocasião (Figura 17).

Figura 16 - Proposição: Quais os integrantes da RETEX que você considera mais competentes?

A proposição procurou investigar os atores com os quais os empresários aprendem, através das referências (benchmark) quanto à competência. Nessa primeira circunstância observa-se que a rede já se configurava como uma totalidade; não existiam mais os subgrupos como na configuração da proposição na Figura 13. Atores que polarizaram determinados votos nas configurações anteriores estão efetivamente fora do grupo (auto-exclusão). O ator Rico, considerado um líder para a representação política (Figura 14), obteve apenas dois votos como ator competente após a fase de amadurecimento do grupo, quando os atores puderam conhecer melhor uns aos outros e respectivas empresas. Este resultado pode ter decorrido da participação limitada de Rico nos trabalhos realizados no período33. Confirmaram-se duas lideranças – Ativo e Lisa -, outras duas lideranças foram fortalecidas – Fala e Ponto - e duas novas lideranças emergiram – ML e EQ.

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Mais tarde verificou-se que Rico abandonou a representação política também, para cuidar da sua empresa, compensando o tempo anterior dedicado à representação dos empresários.

Figura 17 - Proposição: Em quem você confiaria caso estivesse precisando se aconselhar para resolver uma situação difícil na sua empresa?

Mais uma vez observa-se a tendência para a formação de uma rede mais integrada em relação à Figura 13. Os diversos sociogramas foram discutidos com as principais lideranças identificadas e entre os consultores. Todos concordaram que as representações das relações nos diversos sociogramas correspondiam à realidade, fortalecendo a legitimidade das lideranças emergentes.