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A constituição da casa do infante D Pedro

Pouco tempo antes de largar a regência, D. Luísa de Gusmão, aconselhada por «ministros de maior suposição», constituiu casa para D. Pedro através de um regimento datado do ano 1662, no qual se estipulava não só a forma do serviço, bem como se havia de processar o seu dia-a-dia, assunto que foi debatido no Conselho de Estado507.

Em 1656, pouco tempo depois da morte do rei restaurador, D. Luísa conferira poderes a António Cavide para tomar posse das saboarias das províncias de Entre-Douro-e-Minho e Trás-os-Montes pertencentes a D. Pedro508 e atribuía 60 mil rs. para um oficial que havia de lhe assistir na ocupação com os papéis do serviço do infante509.

Completando os 14 anos de idade, D. Pedro passava a habitar o palácio dos Corte-Real, que lhe fora dado por seu pai, a 10 de agosto de 1644, como bem de morgado, e passava a ter os seus próprios servidores.

Ainda que o regimento não seja preciso quanto à altura do ano em que foi feito, poderemos, contudo, apontar a constituição da casa para alturas de maio, considerando o ofício de Pedro Vieira da Silva para D. Rodrigo de Meneses, no qual referia que o rei «tem resoluto dar casa ao Sereníssimo Infante D. Pedro, e tem feito mercê a V.S. de o nomear por um dos seus gentis-homens da câmara510», de 14 de maio de 1662. Dado que D. Pedro

passou para o seu palácio a 4 de junho de 1662, faz todo o sentido que a sua casa fosse constituída com algum tempo de antecedência.

Conforme o regimento511, D. Pedro teria para seu serviço, pelo menos, 2 coches a 6

mulas: um para o infante, o qual seria acompanhado do gentil-homem da semana e do estribeiro, precedendo este ao outro por desempenhar o ofício de estribeiro-mor; o segundo

507 Vide ANTT, Coleção de São Vicente, vol. 23, fls. 93-98. Proposta que se fez ao Conselho de Estado sobre

a educação do infante D. Pedro, filho de el-rei D. João o 4º. Trata-se da instituição da casa por D. Afonso VI para o irmão, com o regimento da casa.

508 BA, 51-VI-15, fl. 118. Lisboa, 25 de Novembro de 1656. 509 BA, 51-X-16, fl. 51. Lisboa, 14 de Dezembro de 1656. 510 BA, 54-IX-24, nº 248 (7).

511 BA, 51-II-15, fls. 1-3. O mesmo documento existe também em ANTT, Coleção de São Vicente, vol. 23, fls.

93-98; BNP, cód. 11206, fls. 12-14; BNP, PBA 687, fls. 142-145v (note-se, aliás, que o códice 11206 e PBA 687 da Biblioteca Nacional de Portugal são iguais).

coche seria para uso dos restantes gentis-homens. Além destes, teria uma liteira, quatro azémolas e até uma dúzia de cavalos.

A casa de D. Pedro era constituída por 6 gentis-homens «com chaves negras», um fidalgo clérigo – «que lhe dê a água benta» –, um confessor, um mestre de latim «e da lição dos livros», 4 moços fidalgos, 3 capelães, 2 moços da capela, 1 porteiro da câmara, 2 porteiros da cana, 3 moços da câmara da guarda-roupa, 6 moços da câmara do serviço, 4 reposteiros. Além destes, teria criados menores «que não é necessário nomear», 20 soldados da Guarda – que se retirariam do serviço da Casa Real –, e 24 oficiais da estrebaria para que o acompanhassem quando saísse, suprindo a falta da guarda pública512.

O mestre escolhido foi Francisco Correia de Lacerda, recomendado pelo seu amigo D. Francisco de Melo e Torres, 1º marquês de Sande, o que leva Theresa Schedell a afirmar que D. Luísa de Gusmão começou a preparar todo este processo antes da partida de D. Catarina para Londres, cujo séquito Sande acompanhou513.

Ao longo dos dois anos seguintes, a composição da casa foi sendo completada514.

Saliente-se, entretanto, que é a partir deste momento da constituição da casa do infante, que as posições na Corte se começaram a dividir. Até então, os textos coevos, tanto da parcialidade afonsista, como da pedrista, referem que entre os irmãos havia uma união que ter-se-ia mantido pouco tempo mais após a saída de D. Luísa da governação.

Na realidade, a qualidade dos gentis-homens que compuseram a casa do infante era inegável, mas por a nomeação ter partido da regente e não do rei, e, sobretudo, pelo facto de D. Afonso VI não ter sido consultado sobre o assunto, levantou alguns desconfortos.

Com efeito, a acreditarmos no texto da Catástrofe515, ter-se-ia ponderado inclusive a atribuição de um aio para o infante D. Pedro, o que rapidamente encontrou a oposição dos partidários de D. Afonso VI, argumentando que esse cargo estava reservado ao futuro rei. Se

512 BA, 51-II-15, fls. 1-v.

513 BRANCO, Theresa Schedell de Castelo – Vida de D. Francisco Mello Torres, 1º conde da Ponte –

Marquês de Sande, p. 440.

514 Entram ao serviço o ourives da casa, BA, 51-VI-15, fl. 156; o fanqueiro, idem, fl. 157; moço da câmara da

guarda-roupa; idem, fl. 160, entre outros.

515 FARIA, Leandro Dorea Cáceres e [Francisco Correia de Lacerda] – Catástrofe de Portugal na deposição

d’el-rei D. Afonso o sexto e subrogração do príncipe D. Pedro. Em Lisboa: a custa de Miguel Manescal

essa ideia acabou por cair, optando-se então pelo serviço dos gentis-homens516, certo é que, uma vez mais, arranjava-se novo motivo de discórdia e argumentos para se levantar a suspeita de que D. Luísa preparava a casa de um futuro rei e não de um infante.

Em recentes estudos foram analisadas propostas de interpretação quanto à intencionalidade da constituição desta casa. Maria Paula Lourenço, lembrando que em tudo o que tocou à casa de D. Pedro as normas vigentes à época foram cumpridas, questiona se terá sido vontade deliberada de D. Luísa, ao compor a casa de D. Pedro fora do espaço do palácio da Ribeira, impedir que o infante se tornasse o principal valido do irmão, e, simultaneamente dotar os seus dois filhos de uma clara supremacia face aos demais senhores da Corte517.

Neste passo, interessa destacar os nomes dos principais elementos da casa que D. Pedro recebeu aos 14 anos, os gentis-homens da casa do infante:

1 – Martim Afonso de Melo, 2º conde de S. Lourenço por casamento com a sua prima D. Margarida da Silva, um dos quarenta aclamadores de D. João IV. Morreu a 31 de julho de 1671. Era do Conselho de Estado, Vedor da Fazenda repartição África e governador das armas da Província do Alentejo e Algarve.

2 – D. João da Costa, 1º conde de Soure. Foi um dos aclamadores de D. João IV, do seu Conselho de Guerra, general da Artilharia, mestre de campo general da província do Alentejo e governador das Armas daquela província por volta de 1656. Foi embaixador extraordinário a Luís XIV em 1659 e depois presidente do Conselho Ultramarino e gentil- homem da câmara do infante D. Pedro. Desterrado em 1662, no governo de D. Afonso VI518, morreu a 22 de janeiro de 1664.

3 – D. Rodrigo de Meneses, filho de D. Pedro de Meneses, 2º conde de Cantanhede e irmão do 1º marquês de Marialva, D. António Luís de Meneses. Foi regedor da Casa da Suplicação, da Junta dos Três Estados, governador da Relação do Porto.

516 FARIA, Leandro Dorea Cáceres e [Francisco Correia de Lacerda] – Catástrofe de Portugal na deposição

d’el-rei D. Afonso o sexto, p. 49.

517 LOURENÇO, Maria Paula Marçal – D. Pedro II. O Pacífico (1648-1706). Pp. 36-37.

518 BA, 51-VI-20, nº 18, fls. 30-30v. Carta da Rainha [D. Luísa de Gusmão] para sua filha [D. Catarina] sobre a

mudança do governo e o desterro do Conde de Soure [D. João da Costa] e do Conde de Pombeiro [D. Pedro de Castelo Branco]. [1662].

4 – João Nunes da Cunha, 1º conde de S. Vicente, título criado a 2 de abril de 1666519 quando foi enviado por vice-rei da Índia. Foi deputado da Junta dos Três Estados, gentil- homem da câmara do príncipe D. Teodósio e governador da sua casa, do Conselho de Guerra, do Conselho de Estado de D. Afonso VI e do regente D. Pedro. Gentil-homem da câmara de D. Pedro. Faleceu em 1668 na Índia.

5 – Rui de Moura Teles, presidente do desembargo do paço, conselheiro de estado, vedor da fazenda, senhor de Póvoas e Meadas. Foi vedor da casa e estribeiro-mor de D. Luísa de Gusmão520, estribeiro-mor de D. Maria Francisca de Saboia, e desempenhou vários

cargos na administração. Morre em 1676.

6 – Jorge de Melo, do Conselho da Guerra e General das Galés521, um dos aclamadores

de D. João IV e seu mestre-sala. Servia-o desde Vila Viçosa. Comendador de St.ª Maria de Gualfar na ordem de Cristo.

A estas nomeações, Theresa Schedell – que estudou o arquivo particular dos Condes da Ponte – acrescenta a de D. Jerónimo de Ataíde, 6º conde de Atouguia, que contudo não aceitou por estar «amuado»522 com a rainha. Recorde-se que o conde de Atouguia

participou no golpe de Alcântara que levou ao afastamento da regente e fez parte do triunvirato que, numa primeira fase, deteve o poder com D. Afonso VI.

519ANTT, Registo Geral de Mercês, D. Afonso VI, liv.8, fl.381v.

520 Veja-se em ANTT, Chancelaria de D. Afonso VI, livro 2, fls. 100v-101: «tendo respeito aos serviços de Rui

de Moura Teles do meu Conselho de Estado me tem feito antes da restituição deste reino na recuperação da Bahia no governo do terço da armada no lugar de conselheiro da junta da guerra que se formou para defesa do reino e depois no posto de coronel de um dos terços da infantaria com que juntamente teve a seu cargo a administração de um baluarte da fortificação que se intentou fazer nesta cidade, sendo um dos eleitos pela nobreza para o pedido que se fez no cargo de governador e capitão geral de Mazagão donde serviu passante de 3 anos e voltando a este reino no de vedor da casa da rainha mãe e senhora que santa glória haja e depois de seu estribeiro mor, que atualmente está servindo nos cargos de vedor da fazenda em que foi reconduzido e promovido ao de presidente do desembargo do paço assistindo de mais do referido à pessoa do Sereníssimo Infante D. Pedro em todos os atos e funções públicas e secretas nos conselhos de estado e guerra achando-se em todas as cortes que se celebraram no tempo que não esteve ausente sendo um dos 30 eleitos pela nobreza no que tudo me serviu com a satisfação que é bem notória e tendo outrossim respeito a perda da fazenda que o dito Rui de Moura Teles teve com as guerras de Castela e desejar por todas as razões referidas por quem o dito Rui de Moura é e pela estimação que lhe tenho fazer-lhe mercê muito conforme a seus serviços [...] fazer- lhe mercê de todos os ofícios de sua vila da Póvoa». 23 Dezembro de 1666, confirmado pelo príncipe a 2 de Fevereiro de 1668.

521 MENESES, D. Luís de (3º conde da Ericeira) – História de Portugal Restaurado, 1662, p. 53.

522 BRANCO, Theresa Schedell de Castelo – Vida de D. Francisco Mello Torres, 1º conde da Ponte –

Destes nomes, o 2º conde de S. Lourenço, Martim Afonso de Melo, e o 1º conde de Soure, D. João da Costa, eram de fações opostas. Com efeito, no seguimento de uma quezília entre o conde de Soure e o conde de Penaguião, D. Luísa de Gusmão, atuando como regente do reino, ordenou que D. João da Costa saísse da Corte, acabando por ser substituído enquanto mestre-de-campo general e governador das Armas do Alentejo pelo conde de S. Lourenço523.

D. João da Costa foi ainda embaixador em França, em 1659. Próximo deste era o conde de S. Vicente, João Nunes da Cunha.

Era esta uma tentativa de conciliação de diferentes interesses e forma de arranjar compromissos entre os diversos fidalgos, satisfazendo várias partes524? Não é de desprezar,

neste contexto, a conhecida postura de D. Luísa de Gusmão em tentar satisfazer grupos opostos, inserindo-se estas duas nomeações perfeitamente neste objetivo.

A registar ainda que todos eles pertenciam aos órgãos do governo, como apontado para cada um, o que parece indiciar uma vontade em rodear D. Pedro de pessoas informadas e com posições relevantes na gestão do reino.

Para sumilher de D. Pedro foi nomeado D. Rodrigo da Cunha Saldanha, chantre da Sé de Lisboa e Deputado do Santo Ofício, tendo desempenhado antes o mesmo ofício na casa do príncipe D. Teodósio. António de Sousa Tavares, do Conselho do Rei, desembargador do Paço e secretário da Casa de Bragança, foi indicado para secretário. Para mestre foi destacado Francisco Correia de Lacerda, em substituição do Dr. Nicolau Monteiro também ele mestre de D. Afonso VI, e para confessor o padre António Vieira525. Contudo, além desta informação da nomeação, não temos mais outra que ateste que António Vieira tenha continuado ao serviço da casa do infante.

Após o golpe de Alcântara, D. Afonso VI assumiu o governo e um triunvirato, composto por D. Luís de Vasconcelos e Sousa, D. Jerónimo de Ataíde e Sebastião César de Meneses, tomou conta do poder. D. Antónia Maurícia da Silva, dama de D. Luísa de Gusmão e prima do 1º marquês de Sande, descreveu o ambiente que se viveu naqueles primeiros tempos:

523 ZÚQUETE, Afonso Eduardo Martins – Nobreza de Portugal e do Brasil. 2ª edição, 3 volumes, Lisboa e Rio

de janeiro, Editorial Enciclopédia, 1989. 3º volume, pp. 399-402.

524 É esta a leitura de XAVIER, Ângela Barreto e CARDIM, Pedro – D. Afonso VI, o Vitorioso, p. 110.

525 PAIVA, José Pedro (coord. científica) – Padre António Vieira, 1608-1697: bibliografia. 1ª ed. Lisboa:

«Lhe direi a Vossa Excelência o que cá vai do novo governo, porque a fim de informá-lo [ao primo, o 1º marquês de Sande] com toda a certeza o escrevo em primeiro lugar. Nós não temos mais Rei que o conde de Castelo Melhor a quem tudo obedece, de sorte que já tem desterrado o duque de Cadaval, o conde de Soure, o monteiro-mor, o conde de Pombeiro, Manuel de Melo e seu filho Luís de Melo, e diz que não parará só nestas partes».

Dava conta ainda do afastamento de Pedro Vieira da Silva, substituído por António de Sousa de Macedo «mas que não exercitem os secretários mais que obedecer ao da Puridade»526.

Dos elementos que compunham a casa do infante, D. Afonso VI, ou melhor o 3º conde de Castelo Melhor, deu ordem de desterro ao 1º conde de Soure, D. João da Costa, a 25 de agosto de 1662, para Loulé. A 1 de outubro de 1662, era a vez de Rui de Moura Teles. Os motivos para este afastamento, aparentemente voluntário, não são muito claros, «por mais política que motivo»527, nas palavras de António Caetano de Sousa. A crer nas informações de António de Sousa de Macedo, foi o próprio Rui de Moura Teles que, a 1 de outubro de 1662, se «despediu do serviço do Infante», decidindo, no entanto, o rei mantê-lo na presidência do Desembargo do Paço. Ao que tudo indica, o infante ter-lhe-ia dirigido «palavras ásperas» por ter mandado fechar «certa porta falsa pela qual dizem, saía Sua Alteza ou lhe entrava alguém»528.

O 2º conde de S. Lourenço, Martim Afonso de Melo saiu do serviço do infante por causa do seu compromisso enquanto vedor da fazenda.

526 Carta de D. Antónia Maurícia da Silva ao 1º marquês de Sande, datada de 3 de Setembro de 1662.

Arquivo dos Condes da Ponte 547-74, citado por BRANCO, Theresa Schedell de Castelo – Vida de D. Francisco

Mello Torres, 1º conde da Ponte – Marquês de Sande, p. 448.

527 SOUSA, António Caetano de – História Genealógica da Casa Real Portuguesa, vol. VII, p. 245.

D. Martim Afonso de Melo, 2º conde de S. Lourenço Morreu em 1671 D. João da Costa, 1º conde de Soure Morreu a 22 de janeiro de 1664 D. João Nunes da Cunha, 1º conde de S. Vicente Faleceu em 1668 na Índia Rui de Moura Teles, Presidente do desembargo do paço, Conselheiro de Estado, Vedor da Fazenda, senhor de Póvoas e Meadas Morreu em 1676 D. Jorge de Melo, do Conselho da Guerra e General das Galés, um dos aclamadores de D. João IV e seu mestre-sala D. Rodrigo de Meneses, filho de D. Pedro de Meneses, 2º conde de Cantanhede e irmão do 1º marquês de Marialva O conde de S. Lourenço, Martim Afonso de Melo saiu do serviço do infante por causa do seu compromisso enquanto vedor da fazenda em data não apurada Desterrado a 25 de agosto de 1662, para Loulé Desterrado a 11 de fevereiro de 1663 Afastado a 1 de outubro de 1662 Mantém-se Mantém-se

Tabela 3 – Da constituição da Casa do Infante às primeiras modificações

Dos 6 gentis-homens nomeados inicialmente, restavam 3: João Nunes da Cunha, D. Jorge de Melo e D. Rodrigo de Meneses.

A 18 de outubro de 1662, conheceram-se as nomeações de D. Fernando de Meneses, conde da Ericeira529, do Conselho de Guerra, de Pedro César de Meneses, do mesmo Conselho, de D. Diogo de Meneses, de António de Miranda Henriques530, de Rui de

529 Foi 2º conde da Ericeira, D. Fernando de Meneses, que nasceu em Lisboa a 27-11-1614 e morreu a 22-6-

1699, filho de D. Henrique de Meneses, 5º senhor do Louriçal, e de sua mulher, D. Margarida de Lima, filha dos 4ºs condes de Atouguia.

Sobrinho-neto e herdeiro do 1º conde, D. Fernando foi 6º senhor do Louriçal, comendador de Casável, de S. Pedro de Elvas e de Santa Cristina de Serzedelo, conselheiro de Estado e da Guerra, gentil-homem da câmara do infante D. Pedro, deputado da Junta dos Três Estados, vereador do Senado de Lisboa e regedor da Casa da Suplicação.

Ficou para a história como um homem de grande cultura e com uma superior educação científica e literária.

Figueiredo de Alarcão531, um dos conjurados da Restauração, e de Rui Fernandes de Almada, Provedor da Casa da Índia, para servirem como gentis-homens da câmara do Infante D. Pedro532.

D. Fernando de Meneses, 2º conde da Ericeira, era assim recuperado na Corte por D. Afonso VI, depois de D. Luísa ter ordenado o seu desterro por se recusar a acompanhar a infanta D. Catarina de Bragança até Inglaterra533.

Ora, se tinham saído 3 dos gentis-homens iniciais, com estas nomeações significa que D. Pedro ficou, no final de 1662, com 9 gentis-homens ao seu serviço.

Se é certo que a 11 de fevereiro de 1663 foi desterrado para o Porto o conde de S. Vicente, João Nunes da Cunha534, na mesma altura em que António de Sousa de Tavares,

secretário do Infante, recebeu ordem de prisão para a Torre de Outão, continuavam ao serviço de D. Pedro 8 gentis-homens, o que nos levanta algumas questões.

A ideia que estas 6 nomeações de 18 de outubro de 1662 deixam transparecer é de que se tentava modificar por completo a composição da casa do infante. Ter-se-á ponderado afastar D. Afonso de Melo e D. Rodrigo de Meneses?

531 De acordo com recente trabalho, Rui de Figueiredo de Alarcão tomou parte na conjura de 1 de

Dezembro de 1640, tendo depois sido escolhido para cargos de relevo sobretudo na Guerra da Restauração. O seu desempenho na guerra durante o reinado de D. João IV e ainda na regência de D. Luísa de Gusmão foi importante para a consolidação da posição dos Figueiredos dentro do grupo nobiliárquico. Apesar de ter sido camarista do infante, Rui de Figueiredo de Alarcão, quando D. Pedro tomou o poder, não obteve um cargo de maior relevância. Para tudo isto ver, SOUSA, Maria João d’Orey de Figueiredo Cabral da Câmara Andrade e – Da

Linhagem à Casa: estratégias de mobilidade num grupo familiar no Portugal Moderno (séculos XVI/XVII).

Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 2006. Dissertação de Mestrado. p. 133.

532 MACEDO, António de Sousa de – D. Afonso VI segundo um manuscrito da Biblioteca da Ajuda, p. 80. 533 Semelhante destino tiveram Luís Teles da Silva, o conde de Unhão e Manuel Teles da Silva ao igualmente

se recusarem a conduzir D. Catarina até à Corte inglesa. MENESES, D. Luís de (3º conde da Ericeira) – História

de Portugal Restaurado. Tomo IV, parte II, livro VII, p. 82; CARDIM, Pedro, D. Afonso VI (1656-1668). A

«privança» do Conde de Castelo Melhor. In MATTOSO, José (dir.) – História de Portugal. Vol. VIII, HESPANHA, António Manuel (coord.) – O Antigo Regime. Rio de Mouro: Lexicultural, 2002, pp. 261-262.

534 DANTAS, Vinícius Orlando de Carvalho – O conde de Castelo Melhor. Valimento e razões de Estado no

D. Fernando de Meneses, conde da Ericeira, do Conselho de Guerra Pedro César de Meneses, Conselho da Guerra D. Diogo de Meneses António de Miranda Henriques Rui de Figueiredo de Alarcão Rui Fernandes de Almada, Provedor

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