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Os regimentos dos oficiais e do serviço da pessoa régia ao tempo de D João IV

As últimas décadas do chamado «período filipino», que durou quase sessenta anos, foram marcadas pela adoção de um conjunto de medidas por parte da coroa espanhola que contribuíram para o crescimento de um mal-estar generalizado na sociedade portuguesa.

Foi durante o ministério do valido de Filipe IV de Espanha, o conde-duque de Olivares, D. Gaspar de Guzmán, que estas tensões se manifestaram de um modo particular. Por um lado, decretou um forte aumento do controle e da pressão fiscal, com a imposição de novos impostos, o que conduziu a levantamentos anti fiscais no final da década de 1620. Por outro lado, além de promover uma política de controlo das instituições portuguesas166, Olivares ponderou alterar o estatuto jurídico político independente de Portugal, ideia que, apesar de não concretizada, foi recebida com grande desagrado por parte das elites lusitanas.

Com efeito, não obstante a política de atração da fidalguia portuguesa levada a cabo pela monarquia hispânica, começou a verificar-se, nos últimos anos da governação filipina, um gradual afastamento desta, cada vez mais insatisfeita por se ver privada das mercês e benefícios. A situação agravou-se com Miguel de Vasconcelos, secretário de estado da vice- rainha Margarida de Mântua, a última representante de Filipe IV em Portugal.

Em 1640, o descontentamento contra a política madrilena levou à revolução de 1 de dezembro, data a partir da qual Lisboa voltou a ser Corte régia. Durante o período de governação filipina, manteve-se, como sublinhámos, a estrutura da Casa Real167, mas esta

não estivera “ativa” ao serviço de um monarca, pelo que se tornava necessário não só tratar da sua disposição e da sua organização.

Assim, não é de estranhar todo o empenho efetuado no reinado de D. João IV com vista à regulação da casa régia. Era ele o primeiro monarca português após a governação filipina, era, pois, a ele quem cabia esta tarefa.

Nesse sentido, foi necessário fazer um esforço de recompilação de instruções, regulamentos e definições de cargos, recorrendo à memória e a textos de outrora. Por outro

166 Cite-se a criação da Junta da Fazenda que passou a intervir em áreas jurisdicionais até aí exclusivas dos

tribunais portugueses e a substituição do Conselho de Portugal por duas juntas.

167 Como ficou consignado na carta patente de 15 de Novembro de 1582, LABRADOR ARROYO, Félix – La

Casa Real Portuguesa de Felipe II y Felipe III […], volume 1, pp. 30-31. Filipe II preferiu manter, na sua maioria,

os oficiais da casa de D. Sebastião, escolhendo entre os oficiais do cardeal-rei aqueles que se tinham manifestado a favor da causa filipina.

lado, também se aproveitaram os moldes do serviço ducal da Casa de Bragança – ainda que a orgânica interna desta não contasse com um mordomo-mor, o lugar de topo da estrutura régia –, ele próprio inspirado no da Casa Real da dinastia de Avis, como demonstrado no incontornável estudo de Mafalda Soares da Cunha168.

Foi, pois, neste reinado que se produziram importantes textos referentes à organização do espaço curial, entre os quais o conhecido Regimento dos Ofícios da Casa

Real d’el rei Dom João IV, título com que foi publicado em algumas obras.

Contudo, em rigor, este título não condiz com o teor do texto, tratando-se sim do modo de serviço do monarca. Aliás este documento, tantas vezes copiado169, corresponde

na íntegra, ainda que com uma organização diferente, ao célebre, e muitas vezes citado, manuscrito intitulado Cerimonial da Corte de D. Pedro II170, depositado na coleção Reservados da Biblioteca Nacional de Portugal. Na realidade, trata-se do mesmo texto,

168 Ver CUNHA, Mafalda Soares da – A Casa de Bragança (1560-1640). Práticas Senhoriais e Redes

Clientelares; IDEM – A Casa de Bragança (Séculos XIV-XVIII). Permanência, plasticidade e participação política.

In Anais do Seminário Internacional 'D. João VI Um Rei Aclamado na América'. Rio de janeiro: Museu Histórico Nacional, 2000, pp. 276-289; IDEM – Cortes señoriales, Corte regia y clientelismo. El caso de la Corte de los Duques de Braganza. In BRAVO LOZANO, Jesus (ed.) – Espacios de Poder: Cortes, Ciudades y villas (s. XVI-

XVIII). Atas do Congresso de 4-6 de Outubro de 2001. Madrid: Universidade Autónoma de Madrid, 2002,

volume 1, pp. 51-68; IDEM – A casa de Bragança e a expansão (séculos XV-XVII). In Atas do Congresso

Internacional A Alta Nobreza e a Fundação do Estado da Índia. Lisboa: Centro de História de Além-Mar –

Universidade Nova de Lisboa, 2004, pp. 303-319, entre outros trabalhos da mesma autora.

169 Chamada de atenção para o facto de estas cópias que a seguir localizamos serem praticamente

coincidentes, com alteração de uma palavra ou outra, sem prejuízo do teor do texto. Algumas contêm anotações à margem que nos permitem perceber quando foram feitas. É o caso da cópia existente no livro 632 do Ministério dos Negócios Estrangeiros que num dos pontos tem ao lado a indicação de uma resolução de 1687, logo de D. Pedro II, ajustando um pormenor sobre o lugar do recém-nomeado cardeal na Capela Real. Esta é a versão que aparece publicada nas Provas da História Genealógica da Casa Real Portuguesa. Ver SOUSA, António Caetano de – ibidem. Edição revista por M. Lopes de Almeida e César Pegado. Coimbra: Atlântida, 1946-1954. Tomo IV, pp. 738-754.

Identifiquem-se algumas das várias versões que encontrámos, conscientes, porém, de que não se trata de uma lista exaustiva e de que muitas outras cópias se encontram espalhadas pelos arquivos e bibliotecas. Na sua versão manuscrita, destacamos BNP, mss. 135, nº 14, sem título; ANTT, Coleção de São Vicente, vol. 20, fls. 1- 6, sem título; ANTT, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Livros de Protocolo, livro 632, fólios não numerados, identificado como Regimento dos ofícios da Casa de Sua Majestade.

Na versão publicada, surge em SILVA, José Justino de Andrade e (compilação e anotação) – Coleção

Cronológica da Legislação Portuguesa, 1640-1647. Lisboa: Imprensa de F. X. de Souza, 1856, pp. 166-176, com o

título Regimento dos Ofícios da Casa Real d’el rei Dom João IV, o mesmo que nas Provas da Casa Real, tomo IV.

170 BNP, cód. 8810, fls. 1-26, sob o título Cerimonial da Corte de D. Pedro II/Programa da Corte de D. Pedro

identificado no interior, de forma mais correta em nosso entender, como «Regimento sobre o modo como deve ser servida a pessoa real».

De facto, partindo da leitura deste regimento, é possível verificar que estipula o serviço quotidiano do rei, podendo-se aqui colher informações várias sobre como se processava o seu dia-a-dia.

O texto começa por referir como se dispunha o acompanhamento dos cortesãos quando o rei ia assistir à Missa na Capela Real, nos dias de semana e nos dias públicos, especificando-se como eram feitas as ofertas em dias especiais, bem como as procissões, os lugares que cada um ocupava na Capela, quem tinha direito a entrar na Tribuna do rei, entre outras disposições. Faz-se ainda menção às missas a que o monarca assistia noutras igrejas ou mosteiros (parágrafos 1 a 38).

Em seguida, pormenoriza-se a forma como decorria o despacho régio, com referência à disposição dos oficiais nas várias casas do palácio durante este período. Regulava-se, depois, as audiências régias, o modo como os oficiais e a restante nobreza ali assistiam, como eram dadas as entradas, com especial atenção para as audiências particulares e para aquelas que o rei concedia na sua câmara (parágrafos 39 a 51).

Continuando a seguir o dia-a-dia régio, uma vez terminadas as funções devocionais e os deveres do reino, o soberano almoçava171. Toda a organização da comida em público e

«ordinária» é descrita com minúcia, conferindo destaque para os oficiais que a esta área estavam mais ligados, como sejam o vedor, o guarda-reposta, o servidor da toalha, o trinchante, o manteeiro, o copeiro-mor, entre outros. Previa-se ainda como o serviço seria conduzido quando o monarca estivesse doente. (parágrafos 52 a 72).

O despacho com os tribunais ou despacho com o secretário do expediente ocupam os parágrafos seguintes (73 a 74), para depois se dedicar à forma como o rei era acompanhado quando saía do paço, a pé, de coche, ou a cavalo, de dia ou de noite, e até mesmo dentro do paço, na passagem de uns quartos para outros (parágrafos 74 a 81). Por fim, o parágrafo 82 menciona, um pouco mais detalhadamente, como se processava o serviço dentro da câmara régia, o vestir e o despir do soberano, e as preeminências dentro deste espaço, sem, todavia, ser exaustivo.

Ora, como se pode concluir, o objetivo do texto não era propriamente o de definir os ofícios da Casa Real, embora aqui se possam colher algumas informações parcelares sobre o que faziam e como faziam, principalmente no que respeita ao serviço da mesa.

De todas as cópias manuscritas e impressas que conhecemos, não há uma única menção à data em que foi produzido. D. António Caetano de Sousa, na sua obra História

Genealógica, não é muito claro nesta matéria apenas referindo que D. João IV «restituiu o

Paço à sua Real autoridade no exercício dos oficiais da sua Casa, do Reino, Corte, e Casa, ordenando um Regimento do modo de servirem a sua Real pessoa»172. Não indica o ano em

que este surgiu e, na realidade, quando o publicou nas Provas da História Genealógica fê-lo sem precisar a data.

De igual modo, na obra Índice Cronológico Remissivo da Legislação Portuguesa173

coordenada por João Pinto Ribeiro, o regimento não está datado. Na Coleção Cronológica da

Legislação Portuguesa, compilada e anotada por José Justino de Andrade e Silva, foi

publicada a versão das Provas da História Genealógica, mas ainda que João Pinto Ribeiro não lhe tenha atribuído uma data, localizou-a no ano de 1643.

Como já deixámos escrito, ao fim de algum tempo de trabalho e ao confrontar fontes e as diferentes versões do Regimento dos Ofícios da Casa Real Portuguesa, começámos a colocar em dúvida a data em que este surgiu. A hipótese de 1643 começou, cada vez mais, a parecer-nos improvável.

O primeiro documento que nos despertou para este assunto foi o aviso de Pedro Vieira da Silva, datado de 27 de novembro de 1649, altura em que se realizaram as exéquias de D. Duarte e no qual este dizia:

«No ano de 1649 por não estar feito ainda regimento pelo senhor rei D. João IV veio em dúvida nas exéquias do senhor infante D. Duarte a precedência entre os duques e o mordomo»174.

172 SOUSA, António Caetano de – História Genealógica da Casa Real portuguesa. 2ª edição, M. Lopes de

Almeida e César Pegado (org.). Coimbra: Atlântida, 1949-51, Tomo VII, p. 108.

173 RIBEIRO, João Pedro (org.) – Índice Cronológico Remissivo da Legislação Portuguesa Posterior à

Publicação do Código Filipino com um Apêndice. 2ª Impressão. Lisboa: Tipografia da Academia Real das

Ciências de Lisboa, 1805. 1º volume, p. 189.

«Na ocasião das exéquias […] não resolveu S. Majestade o senhor rei D. João que santa glória haja a questão da precedência entre os Duques e o Mordomo-mor, e por essa razão os escusou de lhe assistirem naquela ocasião, como a V. Majestade será presente por esse escrito que o Secretário Pedro Vieira da Silva escreveu em 27 de novembro do ano de 649.

Depois desta ocasião quando o Senhor Rei Dom João que Santa Glória haja fez novo regimento em que dispôs largamente de todo o governo da Casa Real, tratando dos acompanhamentos na ocasião que saísse fora do seu aposento acompanhado dos títulos, oficiais da casa, e mais fidalgos […]»175.

Assim, a julgar pelo teor destes trechos citados, o Regimento dos Oficiais da Casa – que passaremos, por uma questão prática, a denominar de Regimento da Casa Real – seria posterior a 1649. De facto, como justificar que não estava resolvida a questão das precedências entre os oficiais da casa e os títulos se tal estava explicitado nos parágrafos 3º e 4º do regimento?

«Os títulos irão da parte direita, e esquerda por suas precedências, distância de três ou quatro passos diante de S. Majestade, e diante da pessoa de Sua Majestade o mordomo-mor com sua cana na mão que tomará antes que Sua Majestade saia, e ainda que não seja título irá neste mesmo lugar, e nesta mesma forma, e será o último de todos os que acompanham diante que saia pela porta, ainda que acompanhem Duques, que sairão primeiro, exceto os Infantes diante dos quais há o mordomo-mor de passar.

Aonde acabarem os títulos, irão os três oficiais da cana, que são o porteiro- mor no meio, o vedor da banda direita, e o mestre-sala da esquerda»176.

É óbvio, por outro lado, que isto não significava que em 1649, na ocasião das exéquias de D. Duarte, não tivessem surgido querelas de precedências que tivessem colocado em causa o disposto no Regimento, como tantas vezes aconteceu durante os reinados

175 BNP, PBA 653, fl. 430.

176 Regimento dos Ofícios da Casa Real D’el Rei D. João IV. In Provas da História Genealógica da Casa Real

seguintes. Contudo, a frase «não estar feito regimento» leva-nos a deixar esta hipótese de lado.

Foi num documento que nos dá conta de uma dessas dúvidas de precedência ocorrida em 1656 que encontrámos mais alguns dados que, julgamos, ajudam a clarificar a questão da data do Regimento da Casa Real.

A 12 de julho de 1656, na ocasião em que o rei foi a Santa Engrácia, surgiram algumas incertezas quanto aos lugares a tomar no acompanhamento entre o camareiro-mor e o estribeiro-mor. A queixa do camareiro-mor deu entrada na Secretaria de Estado e Pedro Vieira da Silva, secretário de estado naquela altura, respondeu o seguinte:

«Sua Majestade que Deus guarde para tirar a dúvida que na ocasião do acompanhamento de Santa Engrácia se ofereceu entre Vossa Senhoria e o Estribeiro- mor vendo que o Regimento que tem feito haverá três anos dispõe sobre ela me manda dizer a Vossa Senhoria da sua parte […]»177.

À luz desta informação, o Regimento da Casa Real poderá ser de 1653. Contudo, este foi o único documento que conseguimos localizar que se refere ao ano de produção do regimento e, como é possível verificar, não precisa com detalhe a data, recorrendo a uma expressão algo vaga: «haverá três anos». Apesar disso, pelo que as fontes nos sugerem e pelas razões apontadas, somos levados a afirmar, com segurança sustentada documentalmente, que é posterior a 1649.

A admitirmos a hipótese de 1653, cabe questionar-nos se o regimento surgiu no contexto dos primeiros funerais da família real em Lisboa já que neste ano desapareceram o sucessor da coroa, D. Teodósio, bem como a infanta D. Joana. Mas, uma vez mais, faltam- nos dados que permitam esclarecer melhor este assunto, ainda que não seja de menosprezar a importância destes dois momentos para a imagem da dinastia brigantina.

Em face do que foi exposto, consideramos, todavia, que continua válido o argumento da premência do rei restaurador em instituir a disposição da Casa Real178. Basta para isso reparar no esboço de regimento de definição das atribuições dos cargos-mores de 1641, no

177 BA, 51-VIII-26, fl. 113. Aviso que fez o Secretário Pedro Vieira da Silva ao conde camareiro-mor que Deus

tem. 12 de Julho de 1656.

178 CARDIM, Pedro – O Poder dos Afetos. Ordem amorosa e dinâmica política no Portugal do Antigo

regimento do estribeiro-mor de 31 de janeiro deste mesmo ano, bem como nas adendas ao regimento de porteiro-mor e mestre-sala, ainda de dezembro de 1640.

Referimos que D. João IV tentou fazer um regimento em 1641. É sabido que o monarca ordenou aos oficiais da casa que colocassem por escrito as suas competências e jurisdições para que depois todos os oficiais as conferissem e fizessem os seus comentários, se necessário.

Assim, preparava-se, verdadeiramente, um regimento dos ofícios em que tudo o que «tocava» a cada um estava estipulado, com o intuito de definir competências, jurisdições, «próis e percalços» de cada um dos oficiais maiores da Casa.

Este regimento, porém, acabou por não ser concluído por causa dos «embaraços da guerra e outros negócios [que] embaraçaram a resolução»179.

Mas se o regimento dos oficiais da casa não foi acabado, a verdade é que nos foi possível localizar um papel que reunia algumas disposições dos cargos-mores. Trata-se da resposta, datada de 1646, do reposteiro-mor, Bernardim de Távora e Sousa, ao documento que lhe fora enviado por Pedro Vieira da Silva e que incluía as informações recolhidas «Do papel do mordomo-mor» e do «livro de Sua Majestade», bem como anotações à margem com dúvidas e sugestões180.

Muito embora a resposta do reposteiro-mor seja de 1646, acreditamos que esta compilação de informações sobre os cargos terá começado em 1641, como teremos oportunidade de demonstrar.

Apesar de não se ter prosseguido com o regimento, as fontes sugerem que, ao longo do seu reinado, D. João IV voltou a tentar cumprir o seu intento. É provável que o tenha feito posteriormente, principalmente no contexto das várias dúvidas que surgiram entre o

179 BNP, PBA 653, fl. 431.

180 ANTT, Coleção de São Vicente, vol. 23, fls. 21-31v, Ofícios da Casa.

«Recebi o escrito de V.M. com o papel que nele vinha incluso sobre as coisas tocantes a este meu ofício de Reposteiro-Mor. E porque trata de fazer uma informação mais larga do que me toca, e pertence por razão do dito ofício, como também de ajuntar os papéis e documentos em que se há-de justificar como V.M. me avisa que ordena S.M. que Deus guarde me pareceu adverti-lo e lembrado neste a V.M. como faço para que assim não estranhe V.M. a tardança que nisto houver, nem entenda que me posso conformar eu com o que no dito papel se encontra com o meu direito e preeminência assim com o que nele está como com o que nele falta. Guarde Deus a VM como desejo. De casa, 12 de Novembro de 1646 = Snr. Pedro Vieira da Silva.

mordomo-mor e o camareiro-mor, o estribeiro-mor e o guarda-mor, todas em 1648, grande parte delas vistas e analisadas no Desembargo do Paço181.

Mas regressemos à questão do regimento dos ofícios. De facto, acreditamos que desde 1640, D. João IV tentava reunir informações e textos fundamentais para a organização da casa e de tudo o que a esta estrutura dizia respeito. Pedro Cardim salienta o significado desta opção, assinalando que a estabilização da nova dinastia era inseparável da definição da estrutura doméstica da nova família real182.

A julgar por um texto depositado na coleção de Manuscritos da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, terá, muito provavelmente, existido um regimento de 1641 e que até poderá ter servido de base ao posterior «regimento dos oficiais da Casa Real».

Trata-se de um documento com perguntas e respostas sobre «o regimento de 1641»183 e que parece clarificar algumas das dúvidas que este texto teria levantado.

Esta situação leva-nos a algumas conclusões. Por um lado, a de que o regimento dos oficiais da casa foi, de facto, uma prioridade, situando-se esse objetivo ainda em finais de 1640, início de 1641, anterior, portanto, ao regimento do serviço da Casa.

Por outro, a de que esse regimento de oficiais terá efetivamente existido, ainda que provisório. Foi, pois, analisado e comentado pelo 1º conde de Aveiras, D. João Telo de Meneses, pelo 1º conde da Torre, D. Fernando Mascarenhas, pelo 6º visconde de Ponte de Lima, D. Lourenço de Lima, pelo bispo inquisidor geral, D. Francisco de Castro184, pelo 1º

181 Sobre o Desembargo do Paço, ainda que para um período posterior, é incontornável o trabalho de

SUBTIL, José – O Desembargo do Paço (1750-1833). Lisboa: UAL, 2011. Reimpressão da edição de 1996, resultado da Tese de Doutoramento em História Política e Institucional (sécs. XV a XVIII), na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 1995.

Ver, do mesmo autor – O Terramoto Político (1755-1759). Memória e Poder. Lisboa: UAL, 2007, que apesar do título recua a D. João V e pontualmente aos primeiros Bragança.

182 CARDIM, Pedro – A Casa Real e os órgãos centrais do governo no Portugal da segunda metade de

Seiscentos. In op. cit., p. 20.

183 A julgar pelo documento que localizámos na BGUC, ms. 537, fls. 219, perguntas e respostas sobre o

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