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3. Os cargos-mores da Casa Real Portuguesa no século XVII

3.1 Mordomo-mor

Ao falar dos ofícios da Casa Real, é incontornável que o primeiro a ser referido seja o do mordomo-mor. De facto, figura no topo da maior parte das obras e autores para este período230 e praticamente todos são unânimes em defini-lo como o primeiro ofício da Casa

Real231, tanto no reino como noutras cortes europeias232, e a quem pertencia o governo da

Casa. O predomínio do mordomo-mor na estrutura da casa era, pois, evidente233.

D. Manrique da Silva, 1º marquês de Gouveia, desempenhou esta função com D. João IV até 1647, ano em que renunciou ao cargo, passando então a ser ocupado pelo filho deste, D. João da Silva, 2º marquês de Gouveia, 6º conde de Portalegre.

Como já ficou assinalado, uma das primeiras preocupações do rei restaurador foi a de recuperar a organização da Casa Real e dos seus ofícios. Ora, se a memória que se trazia do serviço da Corte brigantina estava bem presente, a verdade é que nesta não existia mordomo-mor, cabendo parte das responsabilidades deste cargo ao vedor da Casa.

Daqui se percebe o pedido que o novo monarca endereçou a todos os oficiais da Casa para reunirem por papel as suas competências, prerrogativas e privilégios. Temos a sorte de conhecer dois papéis produzidos por D. Manrique. O primeiro, com as informações que ele coligiu e que foi dado a ver ao rei e em Conselho de Estado, como já referimos. Em resposta às dúvidas e pedidos de clarificação, o 1º marquês de Gouveia redigiu um segundo papel que encontramos no esboço de Regimento dos ofícios de 1641.

230 Exceção feita às edições da obra Nobiliarquia Portuguesa. Tratado da Nobreza Hereditária, e política,

de António de Vilas Boas e Sampaio, publicadas ao tempo de D. João V. Nestas o primeiro lugar é dado ao capelão-mor, ao contrário do que sucede com a de 1676 onde o mordomo-mor figura em primeiro lugar.

231 ANTT, Manuscritos da Livraria, lv. 548, copiador de correspondência do Marquês de Fronteira, fls. 15v-

16v.

232 Cf. com a descrição do cargo de Mordomo-mor na Corte castelhana por NUÑEZ DE CASTRO, Alonso –

Libro historico politico: Sólo Madrid es Corte y el cortesano en Madrid, pp. 196-198.

233 Tal constituía uma originalidade das cortes ibéricas anteriores ao século XIV que Sánchez-Albornoz

identificou com uma influência ultrapirenaica. Cit. por GOMES, Rita Costa – A Corte dos reis de Portugal na

De acordo com D. Manrique, o cargo de mordomo-mor era o maior ofício que havia na Casa Real e o de mais preeminência, mantendo-se «nesta reputação» sempre com os antecessores reis do reino.

Neste texto lembra-se ainda que o mordomo-mor ocupava, de igual modo, o lugar cimeiro na casa «de todos os outros Reis da Cristandade». Descrição semelhante encontramos em António de Vilas Boas Sampaio que, em 1676, escrevia que este ofício era de entre todos o mais superior, a quem estavam sujeitos os outros oficiais e criados da Casa Real, por cuja ordem se pagavam as suas moradias. Admitia ainda «os vassalos» a diferentes foros e graus de nobreza no paço dos reis234.

Assim, ao mordomo-mor tocava preceder a todos os oficiais da Casa Real, pertencendo-lhe ainda todo o governo e superintendência desta e o provimento de todos os ofícios dela, bem como os filhamentos235.

D. Manrique considerava que fazia parte das suas competências dar ordens aos outros oficiais da casa, fazendo cumprir as disposições que o rei mandara, e ainda pôr em marcha o mais conveniente ao serviço régio. Neste ponto, constituíam exceção o camareiro-mor e o estribeiro-mor, que respondiam diretamente ao monarca no que tocava aos seus ofícios.

Esta matéria, ainda que supostamente estipulada, será motivo de vários problemas, mesmo em relação ao camareiro-mor e ao estribeiro-mor, uma vez que o mordomo-mor tentará, frequentemente, impor-se a estes.

Daqui se depreende que eram três os cargos de topo na estrutura da Casa Real, o mordomo-mor, o camareiro-mor e o estribeiro-mor, ou seja, aqueles que estavam dependentes do soberano.

O mordomo-mor mandava passar cartas a alguns dos oficiais maiores da casa dos seus ofícios e dar-lhes posse. Era este o caso do porteiro-mor, do estribeiro-mor, do mestre-sala e dos trinchantes.

234 SAMPAIO, António de Vilas Boas – Nobiliarquia portuguesa, 1676, pp. 130-137.

Confronte-se com a definição de «mordomo-mor» dada em Bluteau: «Entre os ofícios titulares da Casa Real, tem o primeiro lugar, & lhe estão sujeito outros ofícios, & criados, que por ordem sua são pagos de suas moradias, & são admitidos os vassalos a diferentes foros, & graus de nobreza no paço dos Reis». BLUTEAU, Rafael – Vocabulário Português.

Nas cerimónias públicas, comidas e audiências, assistia com o seu bastão ou cana – umas das insígnias do seu cargo – na parede do dossel, à mão direita do monarca, o mais chegado à pessoa régia.

Nos acompanhamentos de pé e de cavalo ia diante do rei, sem que ficasse pessoa alguma entre o mordomo-mor e o soberano, com exceção para as ocasiões em que o condestável desempenhava a sua função, assistindo com o estoque. E, de acordo com o Regimento da Casa Real, ia sempre coberto, ao contrário dos restantes oficiais da cana236.

Quando o rei saía de coche, o mordomo-mor ia num dos estribos junto ao rei, naquele que o monarca lhe ordenasse.

Na Capela Real tinha uma cadeira que ficava junto à cortina do rei, no primeiro lugar da grade para fora, mesmo que não fosse título, «pela preeminência do ofício». Contudo, não sendo título, a cadeira que lhe poriam seria rasa de couro preto.

A seguir ao mordomo-mor sentavam-se os marqueses, em cadeiras rasas de veludo com almofadas e depois o assento dos condes cobertos com espaldeira de rás. Por seu turno, os duques ficam da grade para dentro, junto à cortina do rei e os embaixadores também da grade para dentro, em cadeiras rasas de veludo defronte da cortina do monarca.

Esta resolução ficou registada nos capítulos 3º, 11º, 12º e 13º do Regimento da Casa Real. Sublinhe-se, ainda, que o mordomo-mor desempenhava no dia de Páscoa uma função de destaque, dando a vela ao rei, aquela que ele levaria na procissão desta ocasião solene237.

Na Capela Real, assim que o monarca saía da cortina, o mordomo-mor acompanhava- o, juntamente com os três oficiais da cana – o vedor, o porteiro-mor e o mestre-sala – até aos degraus.

Ao mordomo-mor pertencia o despacho de todos os filhamentos. Nos dos fidalgos que pediam o foro que tivera o seu pai, ou o seu avô paterno, sem bastardia, despachava de imediato, sem fazer alvarás para consulta.

236 Regimento dos Ofícios da Casa Real d’el rei Dom João IV. In SOUSA, António Caetano de – Provas da

História Genealógica da Casa Real Portuguesa. Tomo IV, p. 739.

Tinha também autonomia para dar filhamento às pessoas que pretendessem os foros de seus pais ou avôs paternos, fossem estes de escudeiros da casa e cavaleiros, moços da câmara, da guarda-roupa do número, e do serviço do Paço, ou escudeiros e cavaleiros fidalgos, com as mesmas moradias destes. Se ilegítimos, à moradia era-lhe retirada a terça- parte.

Existindo algum «defeito no sangue» ou se tivessem sido oficiais mecânicos, não podia o mordomo-mor admitir a filhamento de cavaleiro fidalgo, escudeiro fidalgo, nem moço da câmara, sem primeiro consultar o monarca.

Tinha que conferir com o rei também nas petições de pessoas que pretendessem foro de fidalgo, mas que não lhes pertencesse por seu pai ou avô. Mesmo que tivessem direito de pertença por parentesco, o monarca avaliava a situação no caso de serem ilegítimos e de não pedirem para ir servir à Índia.

Consultava ainda com o monarca os pedidos de foro de moço fidalgo, não tendo os seus pais ou avôs tido o dito foro, «se não sendo logo tomados por fidalgos acrescentados no foro de fidalgo escudeiro ou cavaleiro», bem como nos que pretendiam acrescentamentos de moradias e os que pediam «moradia do conselho».

Viam em conjunto as petições dos que pretendiam foro de escudeiros e cavaleiros fidalgos com moradia superior à ordinária, mas só nos que não respeitavam aos filhamentos da Índia que, por serem muitos, não eram vistos pelo rei, salvo se houvesse defeito do peticionante. Nesta mesma lógica, não consultava os pedidos dos fidalgos que eram bastardos «ou naturais» dos foros dos pais ou avôs, para irem servir à Índia.

Contudo, eram consultados pedidos dos que pretendiam acrescentamentos de moradias ou suprimentos nos filhamentos «que têm condições de irem à Índia ou outra conquista».

As competências do mordomo-mor permitiam-lhe mandar fazer alvará de fidalgos capelães aos que passavam a este foro, sendo antes clérigos, e de fidalgo aos que se dava o dito foro de capelães fidalgos por serem filhos ou netos de fidalgos do rei, ou, ainda por mercê nova.

Passavam ainda pelas mãos do mordomo-mor as renúncias de ofícios e os alvarás de lembrança de mercê, após consulta com o monarca. Dos livros das mercês e da matrícula podia mandar riscar os alvarás que continham informações erradas ou os que o rei mandasse retirar.

Às pessoas que vinham da Índia e que requeressem a moradia que tinham vencido do tempo da viagem, mandava o mordomo-mor passar ordens para que a Casa da Índia passasse a respetiva certidão.

Era, nestas matérias, auxiliado pelo escrivão da matrícula238 e pelo escrivão dos filhamentos, tendo liberdade para o escolher e a quem ordenava fazer a folha das compras do que era necessário para os oficiais da Casa Real.

Cada 3 meses, o mordomo-mor reunia com o escrivão da matrícula e com os apontadores de cada foro para se fazer um ponto de situação das pessoas que tinham vencido as suas moradias daquele quartel. Fazia-se então o rol das moradias que depois ia ao rei para este assinar, «com vista do mordomo-mor», o qual, em seguida, ordenava ao tesoureiro das moradias o pagamento «que há-de fazer nos róis grandes depois de pagos os da Casa e mistura por não bastar o dinheiro que está consignado para se poderem pagar por inteiro os ditos róis».

Daqui se vê que a prioridade de pagamento era pois, primeiro aos oficiais da Casa, depois aos de mistura e, finalmente, as moradias.

Mandava igualmente passar certidões em forma das moradias que ficavam por pagar. O mordomo-mor aposentava também os oficiais da casa e foros contínuos do serviço dela, quando por eles eram requeridas as suas aposentadorias. Dava conta ao rei das razões que invocavam, e, quando algumas pessoas pediam para receber as moradias dos seus foros sem embargo de viverem onde não as podiam vencer ou por terem ofício que o impedisse ou outra causa, o mordomo-mor consultava o monarca.

Conferiam ainda em conjunto as consultas das petições dos fidalgos que estudando nas Universidades de Coimbra ou Évora pretendiam receber as moradias de seus foros enquanto estudavam. Se o rei lhes concedia tal mercê, as moradias eram pagas no Tesoureiro da Obra Pia, para o que o mordomo-mor passava portaria e por ela se lhe passava provisão pelo escrivão dos filhamentos para que os vedores da fazenda as pagassem.

No que respeita à administração financeira da Casa, mandava tomar conta de todos os oficiais da Casa que tinham funções de recebimento, como o estribeiro-pequeno, tesoureiro

238 Nos Livros da Matrícula não se registavam alvarás, provisões ou cartas sem antes dar vista ao mordomo-

das moradias, tesoureiro do tesouro, guarda-reposte, tesoureiro da tapeçaria, cevadeiro- mor, comprador e tesoureiro da capela. Neste sentido, nomeava um contador e um provedor dos contos para as tomarem e através dos seus despachos e ordens se faziam todas as despesas.

As contas eram fechadas por ordem do mordomo-mor, sem ter parte a mesa do despacho dos contos, nem o vedor da fazenda, ou o contador-mor, porque só o mordomo- mor dava despacho no que a estas respeitava, pondo despacho para o procurador da fazenda haver vista do que as partes requeriam.

Ao mordomo-mor cabia «dar esperas das dívidas das contas da casa» e pelos seus despachos se faziam as execuções destas nos ditos contos.

Na gestão da casa, reuniam-se em si as informações do que era necessário à casa para que mandasse prover. A título de exemplo, o guarda-reposte dizia quanta cera, açúcar e conservas eram precisas, ao passo que o cevadeiro-mor referia quanta palha era necessária para os cavalos. De facto, competia ao mordomo-mor mandar pagar a cevada aos oficiais e foros da casa que a tinham por direito.

Assim como sabia de tudo o que era preciso para o serviço da casa, o mordomo-mor estava a par também de tudo o que se despendia e tudo o que havia naquele espaço, nomeadamente quantas tapeçarias.

No que aos ofícios da Casa Real respeita, era o mordomo-mor quem provia os lugares de moços da câmara do número do serviço do Paço (que eram quarenta), bem como podia dar licença a alguns que eram do número para servirem no paço sem capa.

Além destes provia também os porteiros da câmara, os reposteiros da câmara, os reposteiros da câmara do estrado, reis de armas, arautos e passavantes, charamelas, trombetas, tangedor de harpa, músicos da câmara e atabaleiros e os moços da estribeira, tanto os do número como os extravagantes. Todavia, esta questão do provimento dos moços da estribeira não será pacífica.

A título de exemplo, a 12 de janeiro de 1668, António Galvão de Andrade referia-se às dúvidas do mordomo-mor com o estribeiro-mor no que tocava às portarias para se dar de vestir aos moços da estribaria, tanto os do número como não. Desde D. João IV, era o estribeiro-mor que passava as portarias para os tesoureiros da consignação da Casa Real, depois conferido pelo mordomo-mor. Mesmo no que tocava à licença de aposentadoria, era o estribeiro-mor quem dava a portaria para depois o mordomo-mor passar a licença, com

ordenado e vestiarias, ordenando o seu pagamento por Manuel Leitão ou que fosse lançada nas moradias239.

Em 1689, novamente este assunto voltou a ser debatido. Com efeito, se o estribeiro- mor tinha jurisdição sobre a estribaria e tudo o que a ela respeitava, não fazia pois sentido que o provimento dos moços da estribaria estivesse a cargo do mordomo-mor, dúvida que aliás ficou anotada à margem pelos Conselheiros de Estado, em 1641240.

Na realidade, as competências do mordomo-mor eram muito abrangentes e por vezes colidiam com as áreas de outros oficiais. Continue-se com o exemplo do cargo do estribeiro- mor a cuja responsabilidade estava o governo da estribaria e de tudo o que a ela dizia respeito. Ora, era o mordomo-mor quem mandava chamar o cevadeiro-mor para saber da palha e cevada necessárias para as cavalgaduras das estribarias, lembrando, em seguida, aos vedores da fazenda que ordenassem a compra de palha e de cevada necessária para todo o ano. Era depois o estribeiro-mor quem assinava as despesas, em conjunto com o escrivão das cevadarias. Como se pode imaginar, a complexidade deste processo gerava confusões.

Voltando às funções do lugar cimeiro da Casa Real, este provia também os oficiais mecânicos, como o ourives da prata e do ouro, o barbeiro, o sercieiro, livreiro, confeiteiro, boticário «e os mais desta qualidade», assim como o mestre de ensinar a dançar as damas, o bailador da mourisca, caçador «de cão da mostra», os físicos e cirurgiões do número e extravagantes.

Consultava com o rei os ofícios de escrivão da matrícula, tesoureiro das moradias, tesoureiro do tesouro, guarda-reposte, tesoureiro da tapeçaria, meirinho do paço, prestes do serviço do paço, estribeiro pequeno, como já assinalado, copeiro pequeno, uchão, manteeiro, os 4 servidores da toalha, comprador das compras e moços das compras, cevadeiro e mariscal, apontadores das moradias – que seriam 6, número que diminui para 4 em 1686 –, escrivães do tesoureiro das moradias, do guarda-reposte, e tesoureiro da casa, da tapeçaria e da cevadaria e da mesma maneira consultava os ditos ofícios quando os pediam os proprietários em sua vida para seus filhos, sobrinhos ou outras pessoas que

239 BA, 52-X-10, fls. 8v-9. 12 de janeiro de 1668.

240 Na parte dedicada ao estribeiro-mor, escreveu-se : «Deve averiguar-se com mais certeza se lhe toca o

fossem que pretendessem os ditos ofícios, e todas as serventias deles tocava ao mordomo- mor provê-las quando vagavam.

Mandava também fazer todos os alvarás de moços do monte e monteiros de cavalo por portarias do monteiro-mor, e dos caçadores por portarias do caçador-mor e dos outros reposteiros de cavalo por portarias do reposteiro-mor, a quem tocava o provimento deles, mas só quanto aos reposteiros da câmara do número. Ora esta situação, tal como com a já acima referida do estribeiro-mor, levantará problemas pois a tendência será a de o monteiro-mor e o reposteiro-mor reivindicarem para si o provimento dos moços do monte, dos monteiros de cavalo e dos reposteiros da câmara, respetivamente. No caso do caçador- mor, este ofício desaparece com D. João IV, como teremos oportunidade de indicar.

Ainda em ocasiões de maior solenidade nomeava, por exemplo, os moços fidalgos para levaram o jarro e prato de água às mãos do rei, em vez do copeiro-mor241, como sucedeu em

1646.

A jurisdição do mordomo-mor estendia-se ao espaço da Capela Real, provendo os capelães que não eram do número de entre aqueles que serviam, ainda os capelães e ministros dela e os pregadores, podendo mandar fazer alvarás por portarias do capelão-mor. Ainda mandava tomar conta ao tesoureiro da Capela Real e por sua ordem era feita a receita e despesa de tudo o que havia no tesourado, e por suas ordens se lhe levava em conta o que se dava ou gastava.

Por fim, recue-se a textos anteriores para registar as informações sobre a origem deste cargo.

Como já ficou dito, várias vezes encontramos a referência ao regimento dos «ofícios- mores do reino» que D. Afonso V mandou Gomes Eanes de Zurara fazer242. Este texto começa por referir que o maior ofício da Casa Real era o de mordomo-mor «como se vê do seu nome» porque tanto vale de «maior domus» como «maior da casa».

Faz menção que em outras partes chamavam a este cargo Senescal «como se disséramos o maior ou Presidente das Contas» por a seu ofício pertencer tomar todas as

241 ANTT, Manuscritos da Livraria, lv. 168, fl. 224.

242 João Baptista de Castro sugere a possibilidade de ter sido Martim Afonso de Melo a fazê-lo. CASTRO,

rendas e despesas do rei. Porém, Cipião Amirato, historiador italiano de finais de século XVI, afirmava que o senescal era o «architicle» no antigo e que o ofício de Mordomo-mor teve origem no reino de França, o qual foi o supremo de todo ele, assim das coisas do governo como da fazenda. Daqui derivou para outros «príncipes cristãos», nomeadamente para Espanha, onde era «assaz antigo», e cresceu tanto o poder deste cargo naquela província que os mordomos «lançaram os reis fora do seu estado, e ficaram senhores deles». Entre os romanos, o mordomo-mor teria sido «Propositus Sacricubiculi».

Neste reino, o cargo de mordomo-mor teria começado com o conde D. Henrique, de acordo com este manuscrito243, «porque em tempo de el-rei D. Afonso seu filho assina já

muitas vezes» doações a Gonçalo Rodrigues, mordomo-mor.

Certo é que o ofício andou sempre nos principais senhores de Portugal. D. Dinis deu-o

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