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A Construção da Identidade Profissional: ser educador reflexivo

No documento RELATÓRIO DE ESTÁGIO DE MESTRADO (páginas 38-42)

Capítulo I – Enquadramento Teórico

1.3 A Construção da Identidade Profissional: ser educador reflexivo

O processo de construção da identidade profissional de um educador de infância é extenso e com diversas fases, distintas entre si. Sendo um processo meramente sociológico, o educador estará envolvido num processo de construção e desconstrução dos seus valores perante a educação, tendo como variável as mudanças exteriores e interiores à sua pessoa (Cardona, 2008).

Considerando a perspetiva de Caldeira e Rego (2004, p. 304) “a identidade profissional resulta da crença que ele detém acerca da influência do seu papel no processo de educabilidade e dos valores e dos objetivos que define para nortear a sua acção.” Para esta construção, concorre ainda a percepção e avaliação que o educador faz de si, ao se comparar com o seu ideal de educador e com o seu grupo de pares. Todos estes julgamentos acerca de si próprio são integrados com necessidades, princípios morais, códigos sociais e axiológicos e conhecimento científico-pedagógico (Caldeira & Rego, 2004).

Salienta-se que uma profissão é uma atividade socialmente relevante e remunerada, que se distingue por um saber-fazer-bem e que é a distinção de uma profissão de outra, o que lhe confere a sua identidade. Neste caso, questionamo-nos: O que faz um educador de infância? Pode-se caracterizá-lo como um profissional da educação, isto, porque exerce nas suas crianças uma influência global, tanto maior quanto menor for a sua idade. O educador é também um profissional da comunicação, visto que a educação envolve a comunicação de valores, informações, sentimentos, atitudes, capacidades, entre outros, primordial para estruturar e desenvolver a personalidade da criança. Deste modo, o seu saber-fazer-bem consiste em comunicar pedagogicamente, o que é perceptível através do desenvolvimento das crianças (Monteiro, 2001).

Roldão (1998) considera, ainda, que pensar na atividade profissional do educador, enquanto docente, envolve analisar quatro aspetos definidores da profissão: a função, o saber, o poder e a flexibilidade. No que diz respeito à função, o docente é aquele que ensina, o que tem a difícil competência de gerar e gerir formas de fazer e aprender, mesmo se, por vezes, não o consegue com sucesso. Isto porque “aprender é um processo complexo e interactivo que se torna necessário um profissional” (Roldão, 1998, p.82) de educação. Na profissão docente, se se pensar no seu saber específico e qual o saber que permite ao profissional exercer a função que dele se espera, verifica-se que esta é uma área complexa, porque a profissão docente demanda um leque diversificado de conhecimentos, que não se fica meramente pelo domínio de saberes científicos de conteúdos, nem é reduzido aos conhecimentos científicos e metodológicos do campo de ciências da educação, ainda que os exija. “O saber educativo consiste na mobilização de todos esses saberes em torno de cada situação educativa concreta no sentido da consecução do objectivo definidor da acção profissional” (Roldão,1998, p.82).

Para Cardona (2008) o processo de desenvolvimento profissional de um educador está, intimamente ligado a diversos factores, tais como: a imagem da sua própria infância; o meio onde desenvolve a sua prática educativa; a ideologia institucional; autonomia e condições de trabalho e o próprio estatuto atribuído à profissão. Estes múltiplos factores influenciam um educador, tanto a nível pessoal, como profissional.

Para o educador deduzir se as suas intenções foram benéficas para o grupo de crianças, é imprescindível que este tome uma atitude de reflexão perante o seu próprio trabalho, que como refere Schon ( citado por Teixeira, 2007, p. 49) “a atitude de prática reflexiva traduz-se numa reflexão na ação, numa reflexão sobre a ação e numa reflexão sobre a reflexão na ação.” Esta atitude reflexiva não se deve iniciar aquando do desenvolvimento da carreira docente, mas sim, aquando da formação inicial de docentes. Para Formosinho (2001) uma prática pedagógica, na formação inicial de educadores de infância, acompanhada, orientada e refletida irá proporcionar ao aprendiz um desempenho profissional íntegro no contexto real. Desenvolve competências adquiridas nas componentes curriculares do curso, que depois serão transformadas em saberes profissionais, aplicados na sua prática e que são imprescindíveis para uma prática eficaz.

Não obstante, importa ressalvar também que nenhuma profissão pode ser exercida na sua plenitude sem contemplar a possibilidade, a necessidade e a capacidade do

profissional reflectir sobre a função que desempenha, analisar as suas práticas à luz dos saberes que possui e como fontes de novos saberes, questionar-se e questionar a eficácia da acção que desenvolve no sentido de aprofundar os processos e os resultados, os constrangimentos e os pontos fortes, a diversidade e os contextos da acção, reorientando-a, através da tomada fundamentada de decisões (Roldão, 1998, p.83).

Oliveira e Terça (1991, citado por Teixeira, 2007, p.61) afirmam que o principal objetivo da prática reflexiva na carreira docente é promover a “análise aprofundada de questões fundamentais que estimulem o pensamento sobre os fundamentos do acto educativo.” Considerando a perspetiva reflexiva e avaliativa da sua prática irá auxiliar o educador na articulação de aprendizagens, quer seja na continuação da sua formação académica quer seja no contexto profissional real.

Assim, é essencial que cada educador reflita sobre todos aspetos inerentes à educação pré-escolar, tendo como base toda a legislação e documentação estabelecida

para esta etapa e as sucessivas investigações e estudos relacionados com o desenvolvimento da criança, de forma a promover os interesses da mesma.

A identidade profissional do educador, também, se desenvolve em torno de leis que regem a sua ação e, ao mesmo tempo, estes fundamentam a sua prática nessas mesmas leis como forma de proteção enquanto profissionais da educação. Deste modo, a integração do currículo, de acordo com Decreto-Lei nº 240/2001, de 30 de Agosto, mais concretamente no tópico III, afere que o educador deve mobilizar conhecimentos e competências para o desenvolvimento curricular nas distintas áreas. Neste contexto, em 2001, ficou regulamentado o Perfil Específico de Desempenho Profissional do Educador de Infância (PEDPEI), através do Decreto-Lei nº 240/2001, de 30 de Agosto; e recentemente, presenciou-se à reformulação do Estatuto da Carreira Docente (ECD) do Ensino Básico, através do Decreto-Lei nº15/2007, de 19 de Janeiro, e à regulamentação da Avaliação de Desempenho Docente (ADD), com o Decreto Regulamentar nº2/2008, de 10 de Janeiro. Estes documentos têm como pressuposto de elevar a qualidade do desempenho dos educadores e promover, como resultado da sua aplicação, a (re)construção das identidade(s) no desenvolvimento profissional e na carreira docente (Herdeiro & Silva, 2009).

No documento RELATÓRIO DE ESTÁGIO DE MESTRADO (páginas 38-42)