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ORGANIZAÇÃO DOCUMENTO

2.5.3 A construção de indicadores ambientais

Indicadores são ferramentas úteis para a identificação das questões prioritárias de qualquer local, servindo não só como subsídio para a formulação de políticas públicas, mas como parâmetro de orientação e fortalecimento da ação de fiscalização dessas políticas e também para elaboração de alternativas. Porém, os indicadores são instrumentos limitados, porque refletem aspectos parciais da realidade, que é muito mais complexa e incomensurável. O desafio é construir séries históricas que mostrem a evolução ao longo do tempo do impacto da ação humana sobre o meio ambiente, buscando mensurar a capacidade de carga do ecossistema local, bem como as assimetrias – desigualdades espaciais, sociais, temporais – no uso dos recursos da natureza (Luz, 2002).

Os indicadores representam ferramentas importantes para a comunicação de informação técnica e científica, já que podem facilitar o acesso à mesma por parte de diferentes grupos de usuários, permitindo transformar a informação em ação. Desta forma podem desempenhar uma função ativa na melhoria dos processos de formulação de políticas. Todavia, as iniciativas para desenvolver indicadores, assim como a geração de dados para justificá-los ao longo do tempo, requerem uma condição apropriada, para produzir o grupo de informações que os usuários procuram (Segnestam, 2000).

Construir instrumentos seguros, desenvolver métodos confiáveis de medida, são objetivos que não podem divorciar-se dos esforços de entendimento desses indicadores dentro do quadro mais geral de seus determinantes. Isto é, os indicadores só são expressivos, só são inteligíveis quando no contexto dos vários elementos que compõem a totalidade. Trata-se, assim, de reconhecer que os indicadores só são capazes de, efetivamente, descrever a realidade, quando esta for tomada como totalidade articulada e em movimento (Paula, 1997).

O desenvolvimento de ferramentas fáceis de usar e o emprego de uma estrutura conceitual comum para o desenvolvimento de indicadores facilitam não só a transformação dos dados em informação útil, como também a formulação de estratégias para a elaboração de políticas e planejamentos. De acordo com Segnestam (2000), os passos que comumente se dão na elaboração de indicadores e de informação são os seguintes:

1. Elaboração de uma estrutura conceitual que permita organizar os indicadores; 2. Definição de critérios de seleção dos indicadores, discussão dos indicadores versus

índices de desenvolvimento sustentável e métodos ou ferramentas analíticas; 3. Estabelecimento de uma rede consultiva para garantir que os resultados sejam

empregados e que a iniciativa seja sustentável;

4. Procura de dados e desenvolvimento de base de dados para os conjuntos de indicadores e de ferramentas analíticas;

5. Desenvolvimento de capacidades e ferramentas para visualizar a informação e analisar as relações de causa e efeito;

6. Estudos de caso para a validação da estrutura conceitual, os indicadores e os índices;

O processo de definição de uma estrutura conceitual pressupõe um delicado equilíbrio entre a validade científica, a aceitabilidade política e a factibilidade técnica, sendo a flexibilidade a característica mais importante a ser considerada. A estrutura conceitual deve apresentar três elementos: o que se quer monitorar (os componentes do desenvolvimento sustentável, os temas da sustentabilidade rural e as categorias de indicadores); os diferentes níveis analíticos (regional, nacional e local); e os indicadores e os índices para abordar o monitoramento dos aspectos importantes nos níveis pertinentes (Segnestam, 2000).

Os indicadores e os índices devem se apoiar na existência de uma base de dados, que venha justificar a sua validade. A mensuração ou a apuração quantitativa de um dado pode não identificar se isso significa crescimento, estagnação ou decréscimo. Em geral, os parâmetros refletem os interesses concretos que se colocam para o avaliador naquele momento histórico. Os parâmetros são limites idealizados por seus propositores que representam o nível ou a condição em que o sistema deve ser mantido para que seja sustentável (Deponti et al, 2002).

2.5.3.1. O modelo Pressão-Estado-Resposta

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) propôs, em 1993, uma estrutura conceitual para a seleção de indicadores que utiliza as categorias de Pressão-Estado-Resposta (PER), sendo, provavelmente, o método mais aceito em nível mundial devido a sua simplicidade, facilidade de uso e possibilidade de aplicação em diferentes níveis, escalas e atividades humanas. Implica em elaborar, de maneira geral, uma progressão causal das ações humanas que ocasionam uma pressão sobre o meio ambiente e os recursos naturais que levam a uma alteração no estado do meio ambiente, à qual a sociedade responde com medidas ou ações para reduzir ou prevenir o impacto.

O PNUMA-CIAT (1996) ampliou as categorias do modelo Pressão-Estado-Resposta (PER), desenvolvido pela OCDE, possibilitando determinar o tipo e a natureza das relações sociedade-meio ambiente, utilizando o modelo Pressão-Estado-Impacto-Resposta (PEIR). Os indicadores de pressão monitoram as causas dos problemas de sustentabilidade; os indicadores de estado fazem o acompanhamento das condições, práticas e atividades relacionadas com a sustentabilidade na região; os indicadores de resposta fazem o acompanhamento das medidas e das respostas da sociedade ao impacto causado à

sustentabilidade. Finalmente, se agrega uma categoria de indicadores de impacto para conhecer melhor o impacto e o efeito da atividade humana na sustentabilidade e vice-versa. A estrutura conceitual denominada Modelo Pressão-Estado-Impacto-Resposta (PEIR) inclui todas as áreas do desenvolvimento – social, econômica e ambiental, além de todas as atividades pertinentes a essas áreas, já que pretende analisar o desenvolvimento sustentável. O objetivo principal deste modelo é permitir ao usuário separar todas as possíveis causas que dariam a explicação básica de todos os impactos observados. Outra vantagem do modelo é a possibilidade de sobrepô-los a outros dos grupos de indicadores (Segnestam, 2000).

Um aspecto importante no levantamento de indicadores considerados importantes (pelo público envolvido com o objeto a ser monitorado), é que podem ser apontados não indicadores e sim descritores, pelo fato de serem genéricos, qualitativos e, portanto, não passíveis de mensuração. Esses descritores necessitarão ser traduzidos em itens mensuráveis, quantificáveis, ou seja, em indicadores (Deponti et al, 2002).

De Camino e Muller (1996) afirmam que, para cada elemento significativo de cada variável, é necessário escolher descritores e indicadores. Os descritores são características significativas de um elemento de acordo com os principais atributos de sustentabilidade de um determinado sistema. Para cada descritor relacionado como relevante, se deve definir um ou vários indicadores. Os indicadores são uma medida do efeito da operação do sistema sobre o descritor. Se o sistema é sustentável, tem um efeito positivo sobre o descritor, e um efeito negativo se não é sustentável. Para que um indicador seja útil e possa ser uma ferramenta para tomada de decisões, ele precisa fornecer uma resposta imediata às mudanças ocorridas em um dado sistema; ser de fácil aplicação (custo e tempo adequados); permitir um enfoque integrado relacionando-se com outros indicadores; ser dirigido ao usuário; ser útil e significativo aos seus propósitos; ser compreensível; ser claro, simples e universal.

De acordo com Segnestam (2000), uma vez escolhida a estrutura conceitual para organizar os indicadores, o passo seguinte é selecionar os indicadores com os quais se fará o acompanhamento da sustentabilidade da prática do desenvolvimento em determinado local. Para evitar demasiados indicadores com excesso de detalhes, devem-se seguir os critérios de seleção abaixo relacionados:

1. Avaliação dos dados coletados através dos seguintes critérios de seleção: alta qualidade e confiabilidade dos dados, disponibilidade dos dados, escala espacial e temporal apropriada e custos de compilação dos dados;

2. Características dos indicadores identificados através dos seguintes critérios: mensurabilidade, pertinência, representatividade, sensibilidade a alterações, especificidade, conexões causais claras e custo de elaboração dos indicadores;

3. Utilidade para o usuário através dos seguintes critérios: validade, quantidade limitada, definição clara, aplicabilidade, não redundância, retrospectividade-predição.

Dentro da estrutura conceitual definida, o objetivo final do processo de seleção é desenvolver um conjunto de indicadores para as categorias do modelo Pressão-Estado- Impacto-Resposta. Para isso, deve-se definir, com base nas áreas ou temas prioritários e problemas, as variáveis necessárias que permitam medir até que ponto o sistema tenha sido afetado pelo processo de desenvolvimento. Para cada uma das variáveis se devem identificar e selecionar indicadores correspondentes a cada uma das categorias do modelo adotado, de maneira a explicitar as relações causais e analisar com que outras variáveis se encontram relacionados (PNUMA-CIAT, 1996).

2.5.4 Indicadores ambientais para a gestão de resíduos sólidos oleosos na indústria de