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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA BORRA OLEOSA PRODUZIDA NO ATP/ST

4.1.4 Análise das características orgânicas

A borra oleosa é o resíduo gerado durante o processamento primário dos fluidos produzidos num campo de petróleo, sendo composta de hidrocarbonetos e diversos produtos, com as mais diferentes características físico-químicas, que são incorporados ao longo do processo. Quando este resíduo é disposto sobre o solo provoca uma contaminação que, devido à diversidade de componentes, torna-se difícil de ser diagnosticada e controlada, uma vez que cada elemento é dissolvido num tempo diferente, sofrendo, também, a influência da composição do solo. Tais elementos, além de carcinogênicos, são persistentes no ambiente. É importante ressaltar que, conforme destaca Azambuja et al (2000), a contaminação humana se dá principalmente através da contaminação ambiental, que ocorre através da utilização de recursos naturais que estejam contaminados, uma vez que a contaminação não fica restrita ao local de depósito.

Quando atinge as águas superficiais e subterrâneas, a borra oleosa sofre uma separação de seus constituintes, a parte sólida impregnada de óleo se deposita no leito dos rios e oceanos contaminando o ambiente e causando uma alteração na fauna e flora local. O óleo que não está impregnado aos sólidos se espalha sobre a superfície da água, formando uma película que impede a troca de gases entre o ar e a água e a chegada de luz ao fitoplâncton, afetando, conforme cita Fellemberg (1980), as cadeias alimentares marinhas, trazendo a contaminação até o homem.

TABELA 9: Características inorgânicas na amostra bruta das borras oleosas coletadas nos SAO's das Estações de Santa Bárbara e de Nova Magalhães.

Localidade

Metais Nova Magalhães Santa Bárbara Limite NBR 10004 Listagem 9

Arsênio 4,5 mg/kg 6,1 mg/kg 1.000 mg/kg Selênio ND ND 100 mg/kg Berílio ND ND 100 mg/kg Vanádio 39 mg/kg 23 mg/kg 1.000 mg/kg Chumbo 130 mg/kg 100 mg/kg 1.000 mg/kg Cromo total 260 mg/kg 190 mg/kg - Mercúrio 8,4 mg/kg 0,3 mg/kg 100 mg/kg ND – não detectado

TPH’S e HPA’S

Os resultados das análises das características orgânicas da amostra bruta das borras oleosas (Tabela 10) visam avaliar e controlar o possível grau de exposição humana através do monitoramento dos níveis ambientais destas substâncias. De acordo com Pereira Netto et al (2000), vários componentes deste grupo são capazes de reagir diretamente, ou após sofrerem transformações metabólicas, com o DNA, tornando-se potenciais carcinogênicos e eficientes mutagênicos. Os dados relativos ao Benzo(a)pireno, único composto de HPA citado na Norma Brasileira, se encontram abaixo do LMP da NBR 10004 (ABNT, 1987a), que indica a concentração mínima para caracterizar o resíduo como perigoso.

A contaminação ambiental dos solos por hidrocarbonetos pode ser diagnosticada através das análises dos Hidrocarbonetos totais de petróleo (TPH), e os Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA). Hidrocarbonetos totais de petróleo (TPH) é um termo usado para descrever uma grande família de vários compostos químicos que são originários do petróleo, sendo que alguns podem afetar o nosso sistema nervoso, causando dores de cabeça e desmaios, além de contaminar o meio ambiente. A exposição aos compostos se dá a partir de variadas fontes, como bombas de gasolina, derramamento de óleo no pavimento e uso

TABELA 10: Características orgânicas na amostra bruta das borras oleosas coletadas nos SAO's das Estações de Santa Bárbara e de Nova Magalhães

Parâmetro Localidade

Nova Magalhães Santa Bárbara USEPA EPA 540/R-95/128 DAF-20

TPH’S total 50.000 mg/kg 70.000 mg/kg - HPA’S total 68 mg/kg 103 mg/kg - Naftaleno 13 mg/kg 37 mg/kg 84 mg/kg Acenaftaleno 1 mg/kg 1 mg/kg - Acenafteno 3 mg/kg 4 mg/kg 570 mg/kg Fluoreno 7 mg/kg 13 mg/kg 560 mg/kg Fenantereno 23 mg/kg 34 mg/kg - Antraceno 2 mg/kg 2 mg/kg 12000 mg/kg Fluoranteno 2 mg/kg ND 4300 mg/kg Pireno 4 mg/kg 3 mg/kg 4200 mg/kg Benzo(a)antraceno 3 mg/kg 1 mg/kg 2 mg/kg Criseno 4 mg/kg 4 mg/kg 160 mg/kg Benzo(b)fluoranteno 2 mg/kg 3 mg/kg 5 mg/kg Benzo(k)fluoranteno 1 mg/kg 1 mg/kg 49 mg/kg Benzo(a)pireno ND ND 8 mg/kg Indeno(1,2,3-cd)pireno 1 mg/kg ND 14 mg/kg Dibenzo(a,h)antraceno ND ND 2 mg/kg Benzo(ghi)perileno 2 mg/kg ND -

Valores em negrito estão acima dos limites permitidos pela USEPA (1996). ND – não detectado

químico em casa ou no trabalho. Alguns compostos químicos que podem ser encontrados no TPH são hexanos, combustíveis de jatos, óleo mineral, benzeno, tolueno, xileno, naftaleno e fluoreno, bem como outros produtos de petróleo e componentes da gasolina (ATSDR, 1999).

Os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) constituem uma família de compostos caracterizada por possuir dois ou mais anéis aromáticos condensados, apresentando baixa solubilidade em água e tendência a ser fortemente sorvidos ao solo e, portanto, são menos biodegradados, sendo persistentes ao ambiente, além de carcinogênicos e são encontrados como constituintes de misturas complexas em todos os compartimentos ambientais (Azambuja et al, 2000). Exemplos mais importantes de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos são o naftaleno, antraceno, fenantreno, pireno, fluoranteno, benzantraceno e benzopireno.

A legislação brasileira não apresenta limites para a presença de Hidrocarbonetos Totais de Petróleo (TPH’s) e Hidrocarbonetos Aromáticos Policíclicos (HPA’s) na amostra bruta de resíduos. Os valores encontrados foram comparados com os níveis de avaliação para solo, aplicados pela USEPA 540/R-95/128, apud CETESB (2001), para cenário residencial e via de exposição de migração para a água subterrânea – Fator de Diluição/Atenuação (DAF) 20. Este fator leva em conta um processo natural de atenuação e diluição dos contaminantes, reduzindo a quantidade destes que irão atingir o aqüífero, sendo o mais indicado para o cenário de exposição do dique de borras oleosas do alto do Morro de Jericó. Naquele local, o lençol freático se encontra a uma profundidade de mais de 30 metros. Esses valores-limites foram denominados Soil Screnning Levels (SSLs), e a sua ultrapassagem no solo não classifica a área como contaminada, apenas indica a necessidade de uma investigação detalhada ser implementada no local (USEPA, 1996). Apenas o Benzo(a)antraceno apresentou valor superior ao normativo, indicando que a borra oleosa não oferece risco de migração para a água subterrânea quando colocada sobre o solo (Tabela 10).