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No dia-a-dia temos usado diferentes tipos de indicadores para os mais diversos propósitos. A pressão arterial, a temperatura do nosso corpo, o PIB, as taxas de inflação e de desemprego e a umidade relativa do ar, nos dão informações importantes e diversas sobre a economia, a nossa saúde e o clima. Tradicionalmente, os indicadores vêm enfocando aspectos mais simples da comunidade e sendo medidos tão somente em termos monetários. O interesse mundial em avaliar a passagem para o desenvolvimento sustentável fez surgir a necessidade de desenvolver indicadores que permitam observar a situação do meio ambiente, o impacto e as conseqüências dos processos de desenvolvimento sobre os recursos naturais e as funções ecológicas, além das inter-relações entre os diferentes fatores do desenvolvimento (PNUMA- CIAT, 1996).

Os cientistas e técnicos ainda encontram problemas para fornecer informações confiáveis e compreensíveis aos políticos, decisores, planejadores e ao público em geral, relativas aos benefícios, custos e impactos do processo de desenvolvimento. A maior parte das evidências da pressão do desenvolvimento sobre o meio ambiente e os impactos que elas geram sobre as funções ecológicas e os recursos naturais se baseiam em evidências empíricas. Os indicadores ambientais e de sustentabilidade surgem como ferramentas indispensáveis à continuação e à definição das políticas, ações e estratégias que levam a um desenvolvimento sustentável e à análise de seus custos e benefícios (Segnestam, 2000).

Os indicadores representam um instrumento eficaz para sintetizar e transmitir informações de maneira significativa, dentro do processo de tomada de decisões. Um indicador pode também ser entendido como uma relação matemática que mede, numericamente, atributos de um processo ou de seus resultados, com o objetivo de comparar esta medida com metas numéricas, pré-estabelecidas (FPNQ, 1995).

As instituições a nível nacional e regional que têm gerado dados e estatísticas sobre os recursos naturais, não o fazem de forma sistematizada ou padronizada, pois não estão

trabalhando de forma coordenada. A falta de uma estrutura conceitual comum e uma metodologia padronizada traz como resultado a divulgação de dados incompatíveis e de qualidade duvidosa, inacessíveis aos seus usuários de caráter institucional e demais interessados. Estes fatores aumentam a dificuldade de tornar acessíveis e válidas as informações ambientais, que são cada vez mais necessárias para a tomada de decisões, o planejamento e a elaboração de políticas e estratégias de desenvolvimento (PNUMA-CIAT, 1996).

Cendrero Uceda (1997) afirma que é muito difícil medir de forma precisa o “grau de sustentabilidade” de uma política de desenvolvimento ou de utilização do meio natural. O desenvolvimento, para ser verdadeiramente sustentável, deve ser ambientalmente realista, socialmente justo, economicamente viável e politicamente aceitável. A dificuldade em definir em termos quantitativos o desenvolvimento sustentável e estabelecer metas claras para o seu alcance, demonstra a necessidade de se dispor de indicadores adequados. Os indicadores representam uma ferramenta para sintetizar e transmitir informação de maneira significativa, dentro do processo de tomada de decisões, e para que sejam realmente aplicáveis têm que ser claros, simples e universais.

Um indicador pode ser um número ou uma classificação descritiva de uma grande quantidade de dados que precisam ser interpretados. É um parâmetro ou valor derivado de parâmetros usados para medir ou comparar as condições reais (Indicadores Descritivos), com as condições de referência (Indicadores Normativos) (Amaral, 2002).

Os indicadores de sustentabilidade são um conjunto de indicadores que consideram o meio ambiente, a saúde e a economia. A definição de indicadores no Brasil e em todo o mundo ainda passa por um processo de amadurecimento, se apresentando como um desafio a tarefa de especificar e quantificar parâmetros para traduzir o grau de sustentabilidade de uma política de desenvolvimento. Apesar de todos os esforços, os indicadores atualmente em uso ainda não podem ser considerados indicadores de sustentabilidade, porque as três dimensões (social, ambiental e econômica) são tratadas individualmente, ou, no máximo, em pares, como os indicadores de ecoeficiência, os quais buscam relacionar a dimensão econômica e a ambiental. Os verdadeiros indicadores de sustentabilidade resultarão da integração e o cruzamento dos parâmetros econômicos, sociais e ambientais (Almeida, 2002a).

2.5.1 Indicadores ambientais para avaliação de impactos

A qualidade de vida do ser humano, segundo Jimenez-Beltran (2000), é determinada pelo seu nível de renda, suas condições de vida e de trabalho e pela qualidade ambiental do local onde vive. O nível de renda mede as necessidades primárias da sociedade, como alimentação, moradia, vestuário, escola, etc. As condições de vida e trabalho medem as características dos ambientes de trabalho, como ruído, iluminação, riscos, etc, e seus impactos no comportamento social. A qualidade ambiental é o marco humano e mede o grau de conservação dos ecossistemas e os serviços que o ambiente presta ao desenvolvimento social, como a pureza do ar, a qualidade da água, a conservação do solo e as condições do cenário urbano. A qualidade de vida depende da qualidade do ambiente para chegar a um desenvolvimento equilibrado e sustentável (Leff, 2001).

A qualidade ambiental expressa a capacidade do meio para suportar o desenvolvimento sustentável, considerando que a utilização de insumos de recursos renováveis deve ser igual ou inferior à taxa de renovação destes, as atividades devem utilizar o espaço sem ultrapassar a capacidade de suporte do território e as emissões de diversas fontes não devem ultrapassar a capacidade de assimilação dos receptores (Jimenez-Beltran, 2000).

Os indicadores de desenvolvimento sustentável podem servir para estruturar e homogeneizar os processos de elaboração de informações, facilitar a integração dos aspectos ambientais, econômicos e sociais da sustentabilidade e promover uma utilização equilibrada dos conceitos do meio como fonte, sumidouro e suporte para as atividades humanas, que representa, na verdade, um fator limitante primordial para o desenvolvimento (Cendrero Uceda, 1997).

A escassez do ‘capital natural’ é, em muitos casos, uma limitação que pode ser mais importante do que o capital monetário, trazendo sérias conseqüências negativas para o desenvolvimento humano. As atividades humanas estabelecem uma série de ‘demandas’ sobre o meio, que, por sua vez, proporciona uma certa ‘oferta’ de bens e serviços. É evidente que as atividades humanas serão tanto mais sustentáveis quanto mais se ajustem suas demandas à oferta do meio (Jimenez-Beltran, 2000). Os indicadores ambientais auxiliam na análise da qualidade ambiental, que pode ser boa ou má, a depender de como a pressão humana vem se impondo no meio ambiente.

À medida que a humanidade aumenta a utilização dos recursos naturais, aumenta também a consciência e a necessidade de dispor de ferramentas que permitam a integração e o monitoramento das variáveis ambientais, dentro do processo de tomada de decisões, visando a elaboração de políticas e estratégias de desenvolvimento de forma sustentável (PNUMA- CIAT, 1996).

Os indicadores ambientais possuem uma função de comunicação e uma função de gestão. Para facilitar a comunicação, os indicadores devem ser em número reduzido e de fácil compreensão. Para facilitar a gestão de um tópico ambiental específico, os indicadores devem estar estreitamente alinhados com as questões políticas e, preferivelmente, desagregados por região e setor, de forma a que os progressos obtidos pelos agentes econômicos envolvidos possam ser controlados e influenciados (ECOTEC, 2001).

2.5.2 Reporting e indicadores ambientais

Gestores, investidores, clientes, governos e sociedade civil pressionam as empresas por maior transparência no fornecimento de informações sobre o seu desempenho, pois não basta uma empresa se declarar ecoeficiente e socialmente responsável, é preciso provar. A resposta das empresas tem sido, cada vez mais, o recurso ao reporting ambiental: uma designação genérica que descreve várias formas de divulgação de informação sobre as atividades ambientais. O termo reporting engloba toda a divulgação de informação, seja ela voluntária ou obrigatória (Almeida, 2002a).

As empresas devem adotar indicadores, medi-los e apresentá-los em relatórios destinados aos tomadores de decisão e stakeholders. O conceito de stakeholders tem vindo a alargar-se significativamente, englobando, além das pessoas interessadas e envolvidas, outras novas categorias, como os clientes, decisores, políticos, organizações não governamentais, comunicação social, comunidades locais e instituições financeiras (Gaspar, 2001).

Promover a comunicação é o objetivo essencial que determina a utilização de qualquer indicador. Os indicadores ambientais, em particular, fornecem informações sobre fenômenos considerados significativos para a evolução da qualidade ambiental, resultando na expressão simples de uma realidade complexa. Os indicadores ambientais são essenciais ao reporting ambiental de qualquer organização, em particular à elaboração de relatório de ambiente de empresas. Os indicadores ambientais podem assumir muitas formas e servir a propósitos

muito diversos, não existindo um sistema consensual para a sua classificação. Na gestão ambiental, a utilização de indicadores é essencial à monitoração do progresso das empresas. Embora muitas empresas e organizações já façam seus relatórios de sustentabilidade, esses documentos raras vezes são comparáveis, pois os dados são inconsistentes, incompletos ou de difícil verificação. Numa tentativa de ultrapassar esta dificuldade, diversos esforços e iniciativas foram tomados para estabelecer uma metodologia em comum, conforme apresentado na Tabela 2 (Gaspar, 2001).

TABELA 2: Iniciativas de normalização de indicadores e práticas de reporting ambiental