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Rede 39 - Família 7. Impacto Hidrelétrica. Triângulo. Guajará-Mirim

2 O SENTIDO CULTURALMENTE CONSTRUÍDO CONDUZINDO ÀS

3.4 A CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS NAS PAISAGENS OBSERVADAS E A

A proposta de conhecer sentidos, percepções e representações sociais em comunidades amazônicas para (re)conhecer as lógicas dessas comunidades exigiu a presença da pesquisadora e seu envolvimento com a cultura a ser analisada. Com esse intuito, fizeram-se: visitas às comunidades, confecção do diário de campo, entrevistas, gravações de narrativas, elaboração de mapas mentais, tratamento e análise dos dados.

Com a finalidade de se alcançar o objetivo traçado, desenvolveram-se encontros com associações, cuja finalidade foi identificar as lideranças e participar do dia a dia dessas comunidades por dezoito (18) meses, de setembro de 2012 a março de 2014. Com esse envolvimento, fizeram-se visitas aos colaboradores, adquirindo-se a confiança e troca de conhecimento.

Após o fortalecimento das relações, fez-se uma primeira visita, em outubro de 2013, com o interesse em explicar este estudo aos colaboradores já escolhidos entre lideranças, dando-se a preferência às pessoas mais velhas ou pessoas que realmente fizeram, com seus atos e sua voz, a diferença para a construção e desenvolvimento de cada uma das comunidades. Outras visitas (outubro, novembro, dezembro e janeiro/2013) foram feitas a cada colaborador, num primeiro momento, para identificar o trabalho proposto e propor novos encontros (muitas vezes após segundo e terceiro encontro, os próximos foram marcados e desejados pelo próprio colaborador).

Nesses encontros, havia sempre um clima de cordialidade e amizade, com a oferta de frutas, almoço e outras gentilezas por parte do colaborador. Com o

caminhar deste estudo, houve o amadurecimento das relações e o refinamento do olhar, enquanto geógrafa que proporcionou à analista a construção, especialização e reavaliação de sentidos e valores para a correta compreensão da paisagem cultural observada.

Para a aproximação necessária com as pessoas do lugar, optou-se pela coleta de dados por meio de entrevistas não estruturadas e mapas mentais, uma metodologia que direciona a análise para uma codificação essencialmente indutiva que conduziu aos sentidos culturalmente construídos desses colaboradores.

Essa preferência se deu pela compreensão de que, por meio das entrevistas não estruturadas e imagens, o colaborador encontraria o espaço necessário para expor os sentidos e significados culturais e, com as narrativas e a elaboração de mapas mentais, daria o sentido cultural às suas experiências vividas, sentidos construídos numa relação de vida com a água amazônica, ou seja, o sentido buscado no decorrer deste estudo.

Para desvendar os sentidos e percepções através das imagens, solicitou-se a elaboração de mapas mentais a duas pessoas de cada comunidade. Em todo o decorrer da pesquisa, na relação com os sujeitos das comunidades analisadas, uma grande dificuldade encontrada foi quanto à disposição dos colaboradores à elaboração desses mapas mentais. Acredita-se que essa falta de disposição se deve ao fato de que os colaboradores já adultos, não gostam de desenhar, pois, em sua maioria, a desculpa ouvida foi: “Não, eu não sei desenhar.” No entanto, com o fornecimento do material, lápis, papel A4 e borracha, cinco (05) mapas foram elaborados. Portanto, por encontrar a negativa de muitos colaboradores à elaboração desse mapa, só com 05 deles dialoga-se neste estudo.

Para a elaboração desse mapa mental, antes do contato com os informantes, elaborou-se uma pergunta para ser respondida em forma de mapa. A pergunta, propositalmente elaborada, pela qual se buscou resposta - O que é sua

comunidade para você? - teve o objetivo de observar a presença ou não da água

no imaginário, na memória e na percepção de cada um através do seu mapa mental, ou seja, a presença da água no mundo vivido desse homem/mulher amazônico. Ressaltando que, nesse diálogo proporcionado pelo mapa mental e sua decodificação, não se procurou por superficialidades ou resolução de problemas.

Na interpretação e compreensão desses mapas, levou-se em conta que as construções sígnicas encontradas estão inseridas em contextos sociais, espaciais e

históricos coletivos, referenciando particularidades e singularidades das paisagens culturais dessas comunidades pesquisadas. Portanto, para essa interpretação/decodificação, utilizou-se a Metodologia Kozel (2007) tendo como aporte o Dialogismo proposto por Bakhtin/Volochinov (1999) que permite analisar os sinais, símbolos ou signos representados nos mapas mentais, como enunciados.

Para a análise das narrativas obtidas, seguiu-se, inicialmente, o tratamento proposto por Meihy (2005), com a gravação digital, transcrição e textualização de cada narrativa para, a seguir, utilizar a metodologia Grounded Theory com a utilização do software ATLAS/ti.

Tanto as palavras, quanto os mapas mentais são vistos neste estudo como modos de comunicação que transmitem visões de mundo e modos de vida. Para a compreensão e análise dessas imagens, os sentidos culturalmente construídos pela pesquisadora na(s) cultura(s) observada(s) foram essenciais.

Para a compreensão de cada narrativa e análise desses dados, buscou-se, sob um olhar fenomenológico, compreender o ser humano amazônico como parte integrante da paisagem observada, sua forma de pensar, modificar e ver, com esse fim, procurou-se o apoio teórico, principalmente, em Edmund Husserl (1996, 2002) e Alfred Shutz37 (1979), Paul Claval (2010; 2009; 2007; 2004; 2002; 2001), Dardel (2011), e Yu Fu Tuan (2012), Moscovici (2011), Bakhtin/Volochinov (1999), Berger e Luckmann (2012) e Heidrich (2013).

A gravação das narrativas foi realizada no momento mais propício apontado pelos entrevistados com ritmo e temporalidade própria. As interferências do entrevistador só ocorreram como forma participativa de interação. Para a escolha dos colaboradores, como já exposto, levaram-se em conta dois principais critérios: homens e mulheres com mais tempo no lugar, ou pessoas que tiveram relevância na vida social dessas comunidades.

Com a entrevista, cada colaborador expôs a sua forma de expressar seu mundo; com a gravação, foram registrados os fragmentos de memórias que refletiram tanto o individual quanto o coletivo. Para atingir a representação social de cada comunidade, tornou-se necessário, também, um processo de construção da narrativa. Com esse conjunto de narrativas, procurou-se compreender o viver do colaborador, sua cultura, seu grupo social. Para isso, esse colaborador teve a

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A temática social a partir de uma concepção fenomenológica concebe o homem como sujeito ativo, interativo e participante.

oportunidade de rever sua entrevista, a correção em conjunto e aprovação do texto final.

Na fase da transcrição, o som foi traduzido para a grafia, procurando manter a reprodução fiel da fala e o ritmo narrativo do colaborador. Terminada essa fase, iniciou-se a textualização, momento em que a fala do entrevistador ausenta-se do texto e é realizada uma reorganização do discurso para, com isso, torná-lo mais compreensível e agradável (MEIHY, 2005). Nessa reorganização do discurso, procurou-se pela compreensão do colaborador com seus sentidos e significados, com a compreensão também de suas percepções e das representações sociais de sua comunidade.

3.5 O TRATAMENTO DOS DADOS