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Rede 39 - Família 7. Impacto Hidrelétrica. Triângulo. Guajará-Mirim

2 O SENTIDO CULTURALMENTE CONSTRUÍDO CONDUZINDO ÀS

3.1 PAISAGENS PORTOVELHENSES

Com uma paisagem marcada pelos ambientes naturais, Porto Velho teve, inicialmente, a apropriação de seus espaços por trabalhadores, em sua maioria estrangeira, para dar lugar à construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré. Começava, pois, a surgir uma cidade, no ponto inicial da estrada de ferro (FERREIRA, 1982).

A partir daí, a paisagem natural começa a dar lugar aos ambientes humanizados e, com o decorrer da evolução social, desponta a cidade de Porto Velho que, durante toda sua formação, tem recebido pessoas de regiões variadas em ciclos migratórios bem marcados, tais como: ciclo da borracha, da cassiterita, da distribuição de terras pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, do ouro e, atualmente, o ciclo da construção das Usinas Hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau.

Porto Velho passou a ser município em 02 de outubro de 1914, pela Lei nº 757, primeiramente, sob a jurisdição do Estado do Amazonas. Em 13 de setembro de 1943, passou a capital do Território Federal do Guaporé, posteriormente, denominado Território Federal de Rondônia. Com a condição de Território Federal elevado à categoria de Estado, em 04 de janeiro de 1981, essa cidade teve sua condição de capital preservada (FONSECA, 2012).

Com uma população de cerca de 480.000 habitantes32, esse município abriga três Terras Indígenas e catorze Unidades de Conservação, que incluem reservas ecológicas, florestas nacionais, florestas sustentáveis e outras categorias. Complementarmente, o Município dispõe ainda de um Zoneamento Sócio-Econômico-Ecológico, produzido pela Secretaria de Estado do Planejamento e Coordenação Geral – SEPLAN.

Por sua condição de Capital do Estado, Porto Velho tem sua economia fortemente baseada no setor terciário. O comércio é forte e diversificado, por atender a uma extensa região sob sua área de influência e, juntamente com o setor de serviços, constituía a maior fonte geradora de empregos, situação que mudou a partir do início da construção das Usinas Hidréletricas do rio Madeira.

A hidrelétrica de Santo Antonio está localizada no Rio Madeira, a uma distância de cinco (05) quilômetros do centro de Porto Velho, para geração inicial de

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R$3.150 MW de energia (2.218 MW de energia média), ao custo inicial de R$15,1 bilhões. A hidrelétrica de Jirau está sendo construída a uma distância de cento e trinta e cinco (135) quilômetros do centro dessa capital (medidos ao longo do rio) para geração inicial de R$3.300 MW de energia (1.975 MW de energia média), ao custo inicial de R$13,5 bilhões. Ambas as construções já tiveram seus projetos iniciais modificados e investem na expansão de suas gerações (PLATAFORMA DHESCA BRASIL, 2011).

A paisagem carrega a marca da cultura, da atividade produtiva dos homens e de seus esforços para habitar o mundo, adaptando-o as suas necessidades (MACHADO, 2007, p. 139). A paisagem natural da cidade de Porto Velho, formada pelos rios e pelas matas, tem sido constantemente modificada. Essa paisagem cultural, diariamente construída, reconstruída e remodelada, é o que interessa a este estudo. Ademais, os ambientes humanizados diversos, presentes nessa cidade, com paisagens culturais desenhadas por sua história, forneceu a esta pesquisa a observação de entidades subjetivas e objetivas com extrema diversidade e multiplicidade.

Na margem direita do rio Madeira, onde o urbano se apresenta, o Bairro Triângulo nos forneceu sentidos e significados específicos na comprovação de que as estruturas das sociedades influenciam decisivamente nas estruturas dos indivíduos; molda suas personalidades que emergem, não só do contexto social, mas de um contexto social específico. Um mundo onde o urbano encontra-se com a água e fornecem paisagens, algumas vezes encantadoras, outras assustosas aos olhos de quem as observa.

Na margem esquerda, onde o rural prevalece, quatro comunidades integrantes da paisagem de Porto Velho forneceram os dados a este estudo. São elas: Agrovila, uma comunidade nova, construída para os moradores desalojados do entorno da Usina de São Antônio, a 5‟ minutos da Comunidade de São Sebastião; a comunidade São Sebastião, localizada à frente da área central de Porto Velho; a comunidade Maravilha, localizada ao lado da ponte sobre o Rio Madeira, a 25‟ minutos do centro de Porto Velho; e a comunidade Niterói, a 45‟ minutos de barco do centro urbano dessa Capital (figura 10).

Comunidades que, em seu conjunto, possuem intensos problemas ambientais que se originaram com o garimpo nas águas do Rio Madeira e hoje se intensificam com a construção das usinas hidrelétricas e colocam em risco a manutenção da vida desses seres humanos.

A observação da paisagem nessas comunidades evidenciou que a forma de ser de homens/mulheres de uma determinada cultura apresenta características comuns, que as tornam semelhantes entre si e, ao mesmo tempo, diferentes de homens/mulheres de outras culturas. Comunidades próximas do centro urbano que, por seu modo específico de vida, assim como as demais comunidades beradeiras33

localizadas ao longo do rio Madeira, possuem costumes e valores próprios.

Sentidos construídos, em sua grande maioria, em culturas nordestinas diversas, trazidos à região com o deslocamento de seus antepassados à Amazônia para o trabalho nos seringais que, repassados aos seus descendentes, foram especializados na cultura amazônica. Com pequena estrada que dá acesso às comunidades, as quais, até final de setembro de 2014, faziam a travessia com auxílio de pequenos barcos ou balsa e hoje a fazem pela ponte sobre o Madeira, em um espaço ainda sem ruas. O rio e o silêncio fazem parte dessa paisagem onde a cortesia dos moradores integra seus atrativos.

Com a condução da pesquisa, verificou-se que o ser humano amazônico encontrado nessas comunidades portovelhenses difere das comunidades ribeirinhas descritas e recitadas por outros autores, seja pela proximidade com o centro urbano ou pelo acesso ininterrupto de informações, encontrou-se, nessas paisagens, seres humanos diferenciados que, além de viver às margens de um rio, mantêm uma organização social particularizada, com sua sobrevivência econômica baseada em atividades diversas (serviços públicos e privados), mas também com a manutenção da pesca e da pequena produção agrícola.

Sociedades organizadas que deixam claro que não basta somente morar às margens de um rio ou igarapé para ser considerado ribeirinho. Segundo Silva (2007), essa seria uma classificação simplória diante da diversidade da forma de viver da população amazônica. De acordo com esse autor, há nessas paisagens um viver que integra o homem e as águas e não se enquadra enquanto conceituação do urbano nem do rural.

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