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A CONSTRUÇÃO DE UMA PROPOSTA

No documento Anais do evento (4.053Mb) (páginas 137-141)

O Câmpus Porto Alegre, vinculado ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), através da parceria educacional com a Escola do

PROFISSIONAL E TECCOLÓGICA

Grupo Hospitalar Conceição (Escola GHC), construiu o curso de Higienizadores em Serviços de Saúde, com vistas a atingir os objetivos especificados no Programa Mulheres Mil.

Projetamos, então, um curso que tem como foco especial impulsionar a autonomia de mulheres em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Acreditamos que tal autonomia passa pela aquisição do conhecimento por parte das mulheres de seu papel enquanto cidadãs e, consequentemente, da exigência dos seus direitos, da escolarização, da profissionalização, da busca de estratégias de enfrentamento da violência através de uma cultura da paz, da apropriação da linguagem, da arte, da cultura e da sustentabilidade. Estes são alguns dos tópicos de conhecimento que propusemos na tentativa de que os mesmos sejam dispositivos capazes de criar uma relação afirmativa da mulher consigo e com seu entorno, de modo que ela possa apropriar-se de suas escolhas.

A equipe que atua no programa é composta por profissionais das mais diversas áreas, como a equipe técnica e docente da área da saúde pertencente à Escola GHC, a equipe técnica do Câmpus Porto Alegre constituída por psicólogas, assistente social, técnico em assuntos educacionais, além de docentes com formações nas diferentes áreas do conhecimento, a saber, letras, geografia, meio ambiente, administração, turismo, fotografia e informática. Além desses profissionais, a equipe é constituída por estudantes vinculados ao curso de Licenciatura em Ciências da Natureza, bem como colaboradores voluntários da área de ciências sociais e da pedagogia. Compôs-se, assim uma equipe multiprofissional enriquecida por diversos saberes, deslocando os territórios disciplinares previamente constituídos.

Nesse sentido, a proposta foi a da construção de um projeto de curso que - para além de visar oferecer uma educação e profissionalização de qualidade - teve o cuidado de oferecer a estas estudantes a possibilidade de reflexão sobre as possibilidades de apropriação de suas vidas, a resignificação os modos de olhar a si e ao mundo. Ou seja, a proposta primordial é a da emancipação.

A trajetória que o projeto de curso propõe dialoga com a história das mulheres na sociedade e com a história de vida destas mulheres-mães-esposas-amantes- trabalhadorasestudantes. Através de Paulo Freire, entendemos a importância da compreensão da história para construção do futuro (Freire, 1985). Dessa forma, acreditamos ser necessária a apropriação e a reflexão sobre as diferentes histórias para construirmos com estas mulheres ferramentas para a criação de novas possibilidades de vida.

O curso foi construído então com a pretensão de ser um disparador de novos movimentos para a vida destas mulheres. Para além de um curso de profissionalização, nos desafiamos a criar um “curso-intervenção”.

Estruturalmente, o curso de Higienizadores em Serviços de Saúde tem uma organização tradicional, disciplinar. Estas disciplinas, no entanto, foram construídas de modo coletivo e foram planejadas no encontro dos saberes da equipe de trabalho. Uma das disciplinas, “Linguagem, arte e cultura” tem a fotografia como componente curricular. Porque esta disciplina?

Como já foi dito, o curso que criamos é um curso-intervenção. Assim, com a preocupação de prover ferramentas para enfrentar um dos grandes problemas deste público – a vulnerabilidade econômica – lançou-se mão de uma formação profissional na área de higienização. No entanto, sabemos que as vulnerabilidades extrapolam a questão financeira e estendem-se para diversos aspectos da vida destas mulheres. A arte, em especial a fotografia, mostra-se como potente dispositivo para refletir sobre a vida neste tempo e neste espaço.

No início do curso, as alunas são convidadas a trazer uma fotografia e um objeto que possam ajudá-las a contar a própria história de vida. Um exercício inicial que tem como objetivo olhar para o passado e entender alguns percursos que constituíram o presente.

Ao longo do curso, as alunas são convidadas a aproximar-se mais da fotografia, também como fotógrafas: o uso de câmeras digitais e o exercício de fotografar e ser fotografada compõem o dia a dia da sala de aula. Após, no entanto, há um “passo atrás” na tecnologia e cada aluna recebeu uma câmera fotográfica analógica e um filme de 27 fotografias. E estas foram levadas para sua comunidade para fotografar.

CONCLUSÃO

Nestes exercícios, a intenção é provocar deslocamentos no olhar. Procurar cenas do seu cotidiano que “mereçam” ser fotografadas, que possam ser mostradas em sala de aulas. Trazer e enriquecer as aulas com imagens que constituem suas realidades e seus mundos. Olhar o entorno, olhar com cuidado, escolher cenas, escolher pessoas, escolher paisagens e poses. E, considerando que trata-se de câmeras analógicas, exercitar a escolha, tendo em vista a limitação do número possível de fotografias. Experimentar a espera para ver os resultados, já que as fotografias somente serão vista quando reveladas. Compartilhar estas imagens umas com as outras, refletir sobre as escolhas de cada uma, sobre os lugares e pessoas escolhidas. Por que essas imagens pediram passagem e foram escolhidas? Os efeitos que estes exercícios podem gerar, para nós e para as estudantes, são imprevisíveis. A fotografia possibilita contar a própria história. Barthes nos diz que a Fotografia partilha a história do mundo, que a fotografia rompe com a resistência de acreditar no passado, na História (Barthes, p. 130).

Assim, parte-se das próprias fotografias, da própria história para a apropriação do presente e criação dos próprios registros fotográficos, prevendo ainda a contemplação destes registros, de modo exercitar a criação de novos sentidos de si e do mundo a partir das imagens.

REFERÊNCIAS

1. BRASIL, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional de Assistência Social. Política Nacional de Assistência Social. Brasília, 2004.

2. BRASIL, Ministério da Educação. Portaria nº 1.015, de 21 de julho de 2011, 2011.

3. BARTHES, Roland. A câmara clara: nota sobre a fotografia. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1990.

4. FREIRE, Paulo. Educação e mudança. Paz e Terra, 1985.

5. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Guia metodológico do sistema de acesso, permanência e êxito do Programa Mulheres Mil. 2011.

6. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Mapa do Analfabetismo no Brasil. Disponível em

http://www.publicacoes.inep.gov.br/arquivos/%7B3D805070-D9D0-42DC-97AC-

5524E567FC02%7D_MAPA%20DO%20ANALFABETISMO%20NO%20BRASIL.pdf.

Acesso em 23 de setembro de 2013.

7. OBSERVATÓRIO DA CIDADE DE PORTO ALEGRE. Porto Alegre em Análise. Sistema de Gestão e Análise de Indicadores. Disponível em

http://portoalegreemanalise.procempa.com.br/?regioes=5_8_0. Acesso em 20 de setembro de 2013.

No documento Anais do evento (4.053Mb) (páginas 137-141)